|
Tamanho da fonte | A - | A + |
ANTÔNIO MÁRCIO BUAINAIN, PEDRO ABEL VIEIRA E PEDRO LOYOLA
A agricultura brasileira tem sido celebrada, com razão,pelo dinamismo e competitividade, que se baseiam antes de mais nada na qualificação, no empreendedorismo e na tenacidade dos agricultores, características que contradizem a imagem distorcida que parcela da sociedade ainda tem do produtor rural.
Sem reduzir os méritos do agricultor, uma avaliação da trajetória recente revela que o acaso tem dado uma mãozinha, ora prejudicando ora evitando crises cujo risco deveria ser afastado por um planejamento setorial e políticas agrícolas consistentes. Basta examinar os movimentos de preços, taxa de câmbio e clima para intuir o papel do azar no processo. Em momentos críticos, em que a valorização do real poderia ter inviabilizado segmentos importantes do agronegócio, os preços internacionais alcançaram níveis recordes que permitiram a remuneração do produtor e compensaram a pesada ineficiência sistêmica que onera o sistema produtivo brasileiro.
Em outros, a desvalorização do real ajudou a evitar o pior. Trata-se de um jogo perigoso, em particular em se tratando de um setor estratégico para a economia brasileira.
A estiagem que afeta os países do Mercosul já provocou grandes e irreversíveis prejuízos para a produção agrícola brasileira. São 655 municípios em situação de emergência, aproximadamente 3 milhões de pessoas atingidas, com perdas da produção de soja, milho, feijão, leite,frutas e hortigranjeiros estimadas em R$ 10 bilhões. A situação do Rio Grande do Sul assume o grau de catástrofe, com 65% dos municípios em situação de emergência e mais de R$ 6 bilhões em prejuízos imediatos e que deverão se propagar pelas economias locais nos próximos anos.
No Paraná as perdas demais de 4 milhões de toneladas de soja,milho e feijão serão minimizadas pela adesão dos produtores rurais aos mecanismos de proteção contra perdas climáticas, o seguro agrícola privado voltado para os médios e grandes produtores ou o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), destinado aos pequenos produtores. Vale lembrar que a estiagem que castigou a safra paranaense de 2005/06 (quebra de 5 milhões de toneladas de GRÃOS) é equivalente à atual, mas naquele ano os produtores não contavam com o seguro agrícola e foram obrigados a absorver a maior parte do prejuízo e renegociar as dívidas em bancos. Foi a última grande crise do setor.
O seguro agrícola privado só é viável pelo aporte do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural, que cobre 50% do custo das apólices. No Paraná, em torno de 45% dos produtores de milho e 75% dos produtores de soja tiveram acesso ao seguro e a adesão só não foi total porque o governo federal, por miopia, pifou no cumprimento do orçamento do programa, liberando só R$ 252 milhões dos R$ 406 milhões previstos para 2011. No Rio Grande do Sul a cobertura é bem menor e logo assistiremos às renegociações de dívidas dos produtores rurais impossibilitados de pagar os financiamentos, às quais aderemos oportunistas e têm elevados custos para o Tesouro Nacional e para a própria imagem dos produtores rurais.
Apesar da reconhecida importância do seguro, o futuro do programa continua incerto.A Lei Orçamentária Anual (LOA) aprovou apenas R$ 174 milhões para 2012, um retrocesso que representa um dos menores valores dos últimos anos e que cobriria apenas 6% da área agrícola do País. O governo parece alimentar a expectativa de que os preços internacionais elevados compensem a perda da safra, previsão que pode ser frustrada por causa da crise internacional.
No mercado doméstico, preços agrícolas mais altos não garantem a remuneração do produtor, mas pressionam a inflação e os custos de produção, com efeitos negativos para a competitividade e os consumidores.
Tudo indica que as ineficiências sistêmicas da agricultura brasileira poderão vir à tona neste 2012. Já é mais que hora de reduzir o papel do acaso no futuro da agricultura brasileira e levar a sério os riscos previsíveis.
RESPECTIVAMENTE, PROFESSOR DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP, PESQUISADOR DA EMBRAPA NEGÓCIOS AGROPECUÁRIOS E ECONOMISTA DA FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DO PARANÁ
A agricultura brasileira tem sido celebrada, com razão,pelo dinamismo e competitividade, que se baseiam antes de mais nada na qualificação, no empreendedorismo e na tenacidade dos agricultores, características que contradizem a imagem distorcida que parcela da sociedade ainda tem do produtor rural.
Sem reduzir os méritos do agricultor, uma avaliação da trajetória recente revela que o acaso tem dado uma mãozinha, ora prejudicando ora evitando crises cujo risco deveria ser afastado por um planejamento setorial e políticas agrícolas consistentes. Basta examinar os movimentos de preços, taxa de câmbio e clima para intuir o papel do azar no processo. Em momentos críticos, em que a valorização do real poderia ter inviabilizado segmentos importantes do agronegócio, os preços internacionais alcançaram níveis recordes que permitiram a remuneração do produtor e compensaram a pesada ineficiência sistêmica que onera o sistema produtivo brasileiro.
Em outros, a desvalorização do real ajudou a evitar o pior. Trata-se de um jogo perigoso, em particular em se tratando de um setor estratégico para a economia brasileira.
A estiagem que afeta os países do Mercosul já provocou grandes e irreversíveis prejuízos para a produção agrícola brasileira. São 655 municípios em situação de emergência, aproximadamente 3 milhões de pessoas atingidas, com perdas da produção de soja, milho, feijão, leite,frutas e hortigranjeiros estimadas em R$ 10 bilhões. A situação do Rio Grande do Sul assume o grau de catástrofe, com 65% dos municípios em situação de emergência e mais de R$ 6 bilhões em prejuízos imediatos e que deverão se propagar pelas economias locais nos próximos anos.
No Paraná as perdas demais de 4 milhões de toneladas de soja,milho e feijão serão minimizadas pela adesão dos produtores rurais aos mecanismos de proteção contra perdas climáticas, o seguro agrícola privado voltado para os médios e grandes produtores ou o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), destinado aos pequenos produtores. Vale lembrar que a estiagem que castigou a safra paranaense de 2005/06 (quebra de 5 milhões de toneladas de GRÃOS) é equivalente à atual, mas naquele ano os produtores não contavam com o seguro agrícola e foram obrigados a absorver a maior parte do prejuízo e renegociar as dívidas em bancos. Foi a última grande crise do setor.
O seguro agrícola privado só é viável pelo aporte do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural, que cobre 50% do custo das apólices. No Paraná, em torno de 45% dos produtores de milho e 75% dos produtores de soja tiveram acesso ao seguro e a adesão só não foi total porque o governo federal, por miopia, pifou no cumprimento do orçamento do programa, liberando só R$ 252 milhões dos R$ 406 milhões previstos para 2011. No Rio Grande do Sul a cobertura é bem menor e logo assistiremos às renegociações de dívidas dos produtores rurais impossibilitados de pagar os financiamentos, às quais aderemos oportunistas e têm elevados custos para o Tesouro Nacional e para a própria imagem dos produtores rurais.
Apesar da reconhecida importância do seguro, o futuro do programa continua incerto.A Lei Orçamentária Anual (LOA) aprovou apenas R$ 174 milhões para 2012, um retrocesso que representa um dos menores valores dos últimos anos e que cobriria apenas 6% da área agrícola do País. O governo parece alimentar a expectativa de que os preços internacionais elevados compensem a perda da safra, previsão que pode ser frustrada por causa da crise internacional.
No mercado doméstico, preços agrícolas mais altos não garantem a remuneração do produtor, mas pressionam a inflação e os custos de produção, com efeitos negativos para a competitividade e os consumidores.
Tudo indica que as ineficiências sistêmicas da agricultura brasileira poderão vir à tona neste 2012. Já é mais que hora de reduzir o papel do acaso no futuro da agricultura brasileira e levar a sério os riscos previsíveis.
RESPECTIVAMENTE, PROFESSOR DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP, PESQUISADOR DA EMBRAPA NEGÓCIOS AGROPECUÁRIOS E ECONOMISTA DA FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DO PARANÁ
Nenhum comentário:
Postar um comentário