André Barrocal
Economia| 04/01/2012 | Copyleft
BRASÍLIA – A Secretaria do Tesouro Nacional, que gerencia a trilionária dívida pública brasileira com o sistema financeiro, informou nesta quarta-feira (4) ter concluído a venda de US$ 825 milhões em títulos aos “mercados” de Europa, Estados Unidos e Ásia, com um custo para os cofres do país (juro ao comprador do papel) de 3,4%. É a menor taxa já paga pelo Brasil em uma operação do tipo.
O negócio, que envolve papéis a vencer em dez anos, chamados de Global 21, é mais um exemplo de que, ao contrário do que se via nos anos 70 e 80, décadas em que o país era assombrado pela dívida externa e seus credores estrangeiros, há algum tempo que o principal “inimigo” das contas públicas é o “mercado” brasileiro.
São os bancos, os fundos de investimentos e de pensão e as seguradoras instalados dentro do Brasil, os responsáveis por uma ciranda que hoje custa de 10% a 11% de juros ao Tesouro. Essa tem sido a taxa que, nos últimos tempos, o governo paga nos leilões semanais no “mercado” brasileiro de venda do papel mais transacionado hoje, em que o comprador sabe o lucro de antemão (pré-fixado) até 2014.
O juro médio dos papéis pré-fixados vendidos internamente é o triplo do embutido na operação do Global 21 no exterior. E mais: a taxa aceita pelos estrangeiros vale para um papel que vai vencer em uma década, enquanto os pré-fixados negociados dentro do país, a um juro três vezes maior, vencem em 2014.
Em novembro de 2011, o Tesouro também fez uma operação no exterior que igualmente explicitara a diferença do comportamento rentista do “mercado” brasileiro e do “mercado” externo. Vendera US$ 1,1 bilhão nos mesmos “mercados” do Global 21 (Europa, EUA e Ásia) em títulos que só vencem em 30 anos, o Global 2041. Taxa de juros: 4,69%.
Essas operações no exterior servem de referência para o que seria juro um juro razoável e compatível com padrões internacionais e pesam pouco no total da dívida pública brasileira, também ao contrário do que se via nas décadas de 70 e 80. Segundo os últimos dados disponíveis no Tesouro, referentes a novembro de 2011, a dívida brasileira com o “mercado” era de R$ 1,833 trilhão, mas só 4% eram dívida externa.
Estrangeiro 'interno'
A política do Tesouro de “usar” estrangeiros para explicitar a diferença no rentismo deles frente ao dos brasileiros e para melhorar o que se chama em linguagem técnica de “qualidade” da dívida começou em 2006. Na época, o ex-presidente Lula assinou medida provisória (MP) dando isenção de imposto de renda para estrangeiro que viesse ao Brasil comprar título público.
Mesmo que o título esteja nas mãos de estrangeiros, esse tipo de transação é formalmente dívida interna, porque os valores estão em reais, não em dólares. Também segundo os dados mais recentes do Tesouro, estrangeiros controlam 11% da dívida total, embora cobrando juros não como fazem no exterior, mas de forma mais parecida com os brasileiros. E, mesmo assim, também há diferenças.
Os estrangeiros que lucram com a dívida interna têm 80% de seus papéis atrelados a juro pré-fixado. Só 4% estão vinculados à taxa do Banco Central (BC). Do ponto de vista da gestão da dívida, o Tesouro considera que é melhor evitar papéis ligados à Selic porque, como o BC pode mexer nela a qualquer momento, a dívida torna-se mais imprevisível.
Como comparação: 54% dos títulos de posse dos fundos de investimentos são “selicados”; 28% dos papéis de posse dos bancos, também.
Quando se observam os prazos de vencimento da dívida, também se nota que os estrangeiros contribuem para torná-la um pouco melhor. Eles ajudam a deixá-la mais longa, o que nos manuais dos gestores de dívida é considerado algo positivo. Dos papéis que controlam, 40% têm prazo superior a três anos, mais que bancos (30%) e fundos de investimento, de 35%.
O negócio, que envolve papéis a vencer em dez anos, chamados de Global 21, é mais um exemplo de que, ao contrário do que se via nos anos 70 e 80, décadas em que o país era assombrado pela dívida externa e seus credores estrangeiros, há algum tempo que o principal “inimigo” das contas públicas é o “mercado” brasileiro.
São os bancos, os fundos de investimentos e de pensão e as seguradoras instalados dentro do Brasil, os responsáveis por uma ciranda que hoje custa de 10% a 11% de juros ao Tesouro. Essa tem sido a taxa que, nos últimos tempos, o governo paga nos leilões semanais no “mercado” brasileiro de venda do papel mais transacionado hoje, em que o comprador sabe o lucro de antemão (pré-fixado) até 2014.
O juro médio dos papéis pré-fixados vendidos internamente é o triplo do embutido na operação do Global 21 no exterior. E mais: a taxa aceita pelos estrangeiros vale para um papel que vai vencer em uma década, enquanto os pré-fixados negociados dentro do país, a um juro três vezes maior, vencem em 2014.
Em novembro de 2011, o Tesouro também fez uma operação no exterior que igualmente explicitara a diferença do comportamento rentista do “mercado” brasileiro e do “mercado” externo. Vendera US$ 1,1 bilhão nos mesmos “mercados” do Global 21 (Europa, EUA e Ásia) em títulos que só vencem em 30 anos, o Global 2041. Taxa de juros: 4,69%.
Essas operações no exterior servem de referência para o que seria juro um juro razoável e compatível com padrões internacionais e pesam pouco no total da dívida pública brasileira, também ao contrário do que se via nas décadas de 70 e 80. Segundo os últimos dados disponíveis no Tesouro, referentes a novembro de 2011, a dívida brasileira com o “mercado” era de R$ 1,833 trilhão, mas só 4% eram dívida externa.
Estrangeiro 'interno'
A política do Tesouro de “usar” estrangeiros para explicitar a diferença no rentismo deles frente ao dos brasileiros e para melhorar o que se chama em linguagem técnica de “qualidade” da dívida começou em 2006. Na época, o ex-presidente Lula assinou medida provisória (MP) dando isenção de imposto de renda para estrangeiro que viesse ao Brasil comprar título público.
Mesmo que o título esteja nas mãos de estrangeiros, esse tipo de transação é formalmente dívida interna, porque os valores estão em reais, não em dólares. Também segundo os dados mais recentes do Tesouro, estrangeiros controlam 11% da dívida total, embora cobrando juros não como fazem no exterior, mas de forma mais parecida com os brasileiros. E, mesmo assim, também há diferenças.
Os estrangeiros que lucram com a dívida interna têm 80% de seus papéis atrelados a juro pré-fixado. Só 4% estão vinculados à taxa do Banco Central (BC). Do ponto de vista da gestão da dívida, o Tesouro considera que é melhor evitar papéis ligados à Selic porque, como o BC pode mexer nela a qualquer momento, a dívida torna-se mais imprevisível.
Como comparação: 54% dos títulos de posse dos fundos de investimentos são “selicados”; 28% dos papéis de posse dos bancos, também.
Quando se observam os prazos de vencimento da dívida, também se nota que os estrangeiros contribuem para torná-la um pouco melhor. Eles ajudam a deixá-la mais longa, o que nos manuais dos gestores de dívida é considerado algo positivo. Dos papéis que controlam, 40% têm prazo superior a três anos, mais que bancos (30%) e fundos de investimento, de 35%.
País capta com a menor taxa da história
Tesouro capta pela menor taxa da história |
Autor(es): Por Fernando Travaglini | De São Paulo |
Valor Econômico - 04/01/2012 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/1/4/pais-capta-com-a-menor-taxa-da-historia |
O Brasil, por meio do Tesouro Nacional, realizou ontem a primeira operação em dólares do mercado internacional do ano, com a reabertura do bônus de 10 anos, o Global 2021, e pagou a menor taxa da história (3,449% ao ano), captando US$ 750 milhões. O prêmio da emissão, porém, ficou um pouco superior ao da reabertura anterior do mesmo papel. Em julho de 2011, foram captados US$ 550 milhões com esse bônus, com um "spread" sobre o título americano de 105 pontos básicos. Ontem, o prêmio foi de 150 pontos. A explicação é que hoje os prêmios de risco estão altos para todos os países e os títulos do governo americano estão em patamares muito baixos. Além disso, o Brasil tem conseguido as melhores taxas entre os emergentes Sem depender das captações externas para financiar a dívida - como ocorria no passado - e com as contas fiscais em ordem, o governo brasileiro tem se destacado no segmento de dívida soberana. Ontem, o Tesouro Nacional realizou a primeira operação em dólares do mercado internacional do ano, com a reabertura do bônus de 10 anos, o Global 2021, e pagou a menor taxa da história (3,449% ao ano) para um papel já emitido pelo Tesouro. O prêmio da emissão, no entanto, ficou um pouco superior à reabertura do mesmo papel feita no ano passado. Em julho de 2011, o governo brasileiro captou US$ 550 milhões com esse mesmo bônus, pagando um "spread" sobre o título americano de mesmo vencimento de 105 pontos bases. Desta vez, o prêmio foi de 150 pontos. A justificativa é que hoje os prêmios de risco estão mais altos para todos os países e os papéis do governo americano estão em patamares muito baixos, devido à política de afrouxamento monetário do país. Além disso, na comparação com outros emergentes, o Brasil tem conseguido as melhores taxas. O México, por exemplo, também realizou uma operação de 10 anos, ontem, mas pagando um prêmio superior ao brasileiro (180 pontos básicos de spread). O desempenho dos bônus nacionais nos mercados secundários também tem sido positivo. O retorno para o investidor (yield) do bônus de 10 anos brasileiro - Global 2021 - caiu de 4,6%, no início do ano, para 3,38% hoje. Vale lembrar que o cupom desse título (remuneração de face) é de 4,875% ao ano. A estratégia do governo brasileiro tem sido a de aproveitar janelas de mercado para fechar operações pontuais, mas na melhor condição possível. Com isso, o Tesouro tem feito lançamentos com taxas sempre decrescentes, conseguindo reduzir seu custo de captação de 10 anos no exterior em mais de 100 pontos básicos ao longo de 2011, mesmo com a piora da crise financeira internacional. A consequência indireta dessa estratégia é a melhora da condição de captação também para as empresas. Afinal, as condições de captação do Tesouro servem de referência também para operações do setor privado. A queda do prêmio sobre os papéis brasileiros contrasta com o custo pago pelas grandes economias europeias. A Itália, por exemplo, tem emitido dívida soberana com juros próximos a 7% ao ano para títulos de dez anos, enquanto a reabertura do bônus da República do Brasil com vencimento em 2021, ontem, pagou metade disso. A transação superou as expectativas. Na abertura do negócio, na manhã de ontem, o Brasil pretendia captar US$ 500 milhões, pagando um spread em torno de 160 pontos básicos. A emissão foi liderada pelos bancos BNP Paribas e Itaú BBA, com coliderança da BB Securities. A demanda pelo papel brasileiro também surpreendeu e chegou a US$ 3,6 bilhões. Ainda assim, o Tesouro Nacional preferiu captar apenas US$ 750 milhões para garantir a qualidade da operação e ter um melhor desempenho dos papéis do secundário - importante para garantir que empresas brasileiras aproveitem o momento para também captar a taxas baixas. Durante a madrugada, o Brasil realizará uma nova rodada no mercado asiático (green shoe), que deve atingir o total esperado de mais 10% do volume já captado (US$ 75 milhões), levando o total captado para US$ 825 milhões. Essa estratégia é possível pois o país não depende desses recursos para financiar sua dívida. A necessidade de financiamento no exterior está atrelada apenas ao papel institucional de abrir mercados e estabelecer patamares de juros (a chamada curva de juros) para balizar operações de empresas brasileiras. As obrigações do Tesouro no mercado externo somam menos de US$ 50 bilhões, com vencimentos neste ano bastante reduzidos, da ordem de US$ 2,8 bilhões. O governo se beneficiou ontem, também, de um dia bastante positivo para os mercados, com forte alta das bolsas e queda do dólar frente as moedas internacionais. A menor aversão ao risco foi puxada por dados melhores do que o esperado da atividade das principais economias do mundo: Estados Unidos, China e Alemanha. Nesse ambiente e com o sucesso da captação brasileira, a expectativa é de que as companhias nacionais aproveitem o atual momento de otimismo do mundo para buscar recursos no exterior, antes que novas notícias negativas elevem novamente a aversão ao risco. Entre as candidatas estão a Petrobras e a Vale, além dos grandes bancos brasileiros. Emissões de países emergentes também são esperadas para os próximos dias, como Colômbia, Peru, Rússia e Filipinas. Mas a janela continua restrita, a exemplo do que aconteceu no segundo semestre do ano passado, às empresas de primeira linha e ainda limitado ao apetite de risco dos investidores internacionais. Os investidores iniciaram o ano bastante desalavancado, depois de um fim de ano bastante negativo e a atual janela deve se prolongar pelos próximos dois dias, na expectativa dos dados de novas contratações da economia americana (payroll), que será divulgado na sexta-feira. Se os dados saírem positivos como apontam os analistas, o período de estabilidade pode se estender por mais uma semana. |
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