Investidor pessoa física tira R$ 7,8 bi da bolsa em 2011 |
Autor(es): Por Luciana Monteiro | De São Paulo |
Valor Econômico - 04/01/2012 |
Pelo terceiro ano consecutivo, os investidores pessoas físicas tiraram mais dinheiro da Bovespa do que aplicaram. No ano passado, o saldo líquido (compras menos vendas) da pessoa física encerrou negativo em R$ 7,8 bilhões. Com isso, nos últimos três anos o total de recursos retirados pelos pequenos investidores da bolsa soma R$ 25,2 bilhões. O número de pessoas físicas na bolsa cresceu muito em 2006 e 2007, auge das aberturas de capital. O mercado vivia uma fase de liquidez farta e era comum uma empresa abrir capital e sua ação se valorizar já no primeiro dia de pregão. "Isso atraiu muitos investidores oportunistas, que ganhavam dinheiro comprando qualquer coisa", diz Paulo Levy, diretor do home broker da Icap. Agora, "o que se vê são muitos desses investidores deixando o mercado acionário" Num ano em que o risco político predominou trazendo muita incerteza ao mercado, o investidor pessoa física sucumbiu às pressões de baixa e resolveu sair das aplicações de renda variável. Só para se ter ideia, esse grupo de aplicadores foi o que mais sacou recursos da bolsa em 2011. E o pior: foi o terceiro ano consecutivo em que os pequenos investidores retiraram mais dinheiro de ações do que aplicaram. Dados da BM&FBovespa mostram que, no ano passado, o saldo líquido (compras menos vendas) da pessoa física encerrou negativo em R$ 7,825 bilhões, dos quais R$ 659,345 milhões somente em dezembro. Com isso, nos últimos três anos, desde a crise de 2008, o total de recursos retirados pelos pequenos investidores da bolsa soma R$ 25,273 bilhões. Interessante notar que, mesmo em 2009, quando o Índice Bovespa registrou alta de 82,66%, o saldo líquido da pessoa física somou R$ 9,783 bilhões. Para muitos analistas, isso reforça a tese de que a grande maioria dos pequenos aplicadores compra quando o mercado está em alta - e as ações, caras - e vende na baixa. O que manda é a emoção, e a emoção da perda é muito mais intensa do que a do ganho, diz Paulo Levy, diretor do home broker da Icap. "É muito difícil, num momento de muito pessimismo, conseguir deixar o coração de lado e seguir com a razão", afirma ele, ressaltando que esse é um comportamento visto, inclusive, entre operadores experientes do mercado financeiro. No ano passado, os problemas de alto endividamento de alguns países da Europa se transformaram em crise. Já nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama foi testado inúmeras vezes pelo Congresso americano. E os investidores perceberam, principalmente após o primeiro semestre, que o crescimento global não estava ocorrendo como o inicialmente estimado e, a partir daí, os aplicadores passaram a desconfiar se os países desenvolvidos conseguiriam pagar suas dívidas. O número de pessoas físicas com conta na bolsa cresceu muito principalmente durante 2006 e 2007, auge das aberturas de capital. Naquela ocasião, o mercado vivia um momento de euforia, de liquidez farta, e era praticamente regra uma empresa abrir capital e ver suas ações se valorizarem acentuadamente já no primeiro dia de pregão. "Isso atraiu muitos investidores oportunistas, que ganhavam dinheiro comprando qualquer coisa", diz Levy. "Depois que a brincadeira acabou, o que se vê são muitos desses investidores deixando o mercado acionário." O temor das pessoas físicas com o mercado acionário acaba trazendo impacto também para os investidores institucionais. Nesse grupo, estão fundações, seguradoras e fundos de investimento. Quando o investidor saca de suas aplicações, o gestor precisa vender os papéis que mantém em carteira para honrar os resgates. Dados da bolsa mostram que os institucionais também retiraram mais recursos do que aplicaram em ações no ano passado. Segundo a BM&FBovespa, o saldo desse grupo de aplicadores fechou negativo em R$ 4,696 bilhões em 2011, embora em dezembro as compras tenham superado as vendas em R$ 359,634 milhões. Já o fluxo de recursos dos investidores estrangeiros na bolsa no ano passado foi o pior desde 2008. Os aplicadores externos fecharam 2011 com saldo negativo de R$ 1,351 bilhão. Esse resultado foi turbinado pela saída de R$ 2,421 bilhões somente em dezembro. O saldo dos estrangeiros no acumulado de 2011 só é menor que a retirada de R$ 24,629 bilhões realizada por esses agentes no auge da crise, em 2008. A saída de recursos do aplicador externo no ano passado contrasta com os bons resultados verificados tanto em 2010 quanto em 2009. Em 2010, por exemplo, o saldo fechou positivo em R$ 5,958 bilhões e, em 2009, somou nada menos que R$ 20,596 bilhões. Mas se a aversão ao risco dos investidores cresceu, trazendo perdas para o mercado acionário, as empresas aproveitaram o momento para recomprar suas ações a preços mais baratos. O saldo líquido das companhias encerrou 2011 positivo em R$ 12,829 bilhões. Já as instituições financeiras, por sua vez, fecharam 2011 com saldo positivo de R$ 1,346 bilhão. A categoria "outros" terminou o ano com saldo negativo em R$ 301,504 milhões. Para 2012, as perspectivas dos analistas não são muito animadoras para o investimento em bolsa. Isso, principalmente, até o primeiro semestre do ano. Os economistas esperam, no entanto, que a bolsa ganhe ritmo a partir do segundo semestre, à medida que o cenário externo fique menos nebuloso. "Não vejo, no entanto, um aumento significativo na base de clientes para este ano", afirma Levy. Segundo ele, o que tem acontecido é um verdadeiro jogo de "rouba-monte" entre as corretoras no que se refere à pessoa física. |
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Pessoa física tira R$ 7,8 bi da Bovespa
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