São Paulo, quarta-feira, 04 de janeiro de 2012 |
ALEXANDRE SCHWARTSMAN Se todo novo emprego fosse tomado por trabalhador já ocupado, a geração líquida de empregos seria zero Parece haver um paradoxo no mercado de trabalho: a geração líquida de empregos formais (já ajustada pelo padrão sazonal) nitidamente se desacelerou no segundo semestre de 2011, vindo de 160 mil/170 mil postos de trabalho mensais para 100 mil/110 mil. Por outro lado, a taxa de desemprego, também sazonalmente ajustada, caiu no período, atingindo em novembro o nível mais baixo desde 2002.Esse padrão poderia ser reconciliado caso um número expressivo de pessoas desempregadas tivesse abandonado a busca por trabalho. Sob tais circunstâncias, seria concebível que a taxa de desemprego se mantivesse reduzida a despeito da baixa geração de emprego. Entretanto, um exame mais atento dos dados do mercado de trabalho sugere não ser esse o caso. Nos últimos meses, a proporção das pessoas em idade ativa trabalhando ou buscando trabalho (taxa de participação) tem se mantido razoavelmente estável e próxima da sua média. É verdade que na primeira metade do ano a taxa de participação se achava algo acima da média. Todavia, a redução no segundo semestre é insuficiente para explicar o comportamento discrepante da geração de empregos vis-à-vis a taxa de desemprego. O paradoxo aparente, porém, pode decorrer de uma suposição implícita na análise acima, qual seja, que a desaceleração do ritmo de criação líquida de postos de trabalho refletiria apenas da moderação da demanda por trabalho, fruto da expansão mais lenta do produto. Há, contudo, ao menos em tese, a possibilidade de que isso decorra também de limitações pelo lado da oferta. Quando há um elevado contingente de desempregados e a demanda por trabalho se expande rapidamente, é razoável esperar que a geração líquida de empregos se traduza em redução da taxa de desemprego. Todavia, à medida que nos aproximamos de uma situação em que parcela crescente da mão de obra capacitada se encontra empregada, a geração líquida deve se desacelerar, pois agora um novo posto de trabalho não é obrigatoriamente ocupado por alguém previamente desempregado; passa a haver chance cada vez maior de tal posto ser tomado por alguém que já estava empregado. Num caso extremo, irreal, mas que ajuda a ilustrar o problema, se todo novo emprego fosse tomado por um trabalhador previamente ocupado, a geração líquida de empregos seria zero, mas a taxa de desemprego permaneceria inalterada e baixa, como verificado no Brasil. Dito isso, se o problema resultar da oferta de trabalho, deve haver reflexo nos salários. Caso só seja possível preencher uma nova vaga com um trabalhador já empregado, o salário oferecido ao novo candidato deverá ser superior ao que recebia anteriormente, isto é, o salário de admissão deve não apenas subir, mas também crescer mais do que o salário de demissão. Segundo os dados do Ministério do Trabalho, é precisamente isso que temos observado. O ritmo de crescimento do salário médio de admissão se acelerou na segunda metade do ano, de 9% para 11% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Além disso, tem também superado a velocidade de crescimento do salário de demissão nessa mesma base de comparação. Essa evidência é consistente com a hipótese de limitações de oferta de trabalho terem desempenhado um papel mais relevante na moderação do ritmo de criação de empregos formais do que o observado até recentemente. Como a tesoura, a análise do mercado precisa de duas lâminas. Embora essa não seja necessariamente a única razão por trás da desaceleração verificada na segunda metade de 2011, chega a ser surpreendente que essa hipótese tenha sido até agora ignorada. A identificação da natureza dos movimentos em qualquer mercado não pode deixar de lado a evidência pertinente aos preços, muito menos no caso do mercado de trabalho. Isso só reforça minha impressão de que, quando a análise já parte da conclusão, a lógica do argumento fica irremediavelmente prejudicada. |
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