sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Setor de máquinas vê estagnação


Autor(es): Gerson Freitas Jr. | De São Paulo.
Valor Econômico - 06/01/2012
 

A perda de fôlego das vendas para a agricultura familiar e as incertezas em relação à economia pesaram sobre o mercado de máquinas agrícolas em 2011 e sinalizam resultados pouco auspiciosos também em 2012.
De acordo com relatório divulgado ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas no mercado doméstico caíram 4,7% no ano passado, para 65,31 mil unidades. Prejudicadas pelas barreiras impostas pela Argentina, as exportações também diminuíram, em 4,2%, para 18,37 mil unidades. O cenário menos favorável levou a indústria a colocar o pé no freio. Em 2011, a produção de máquinas amargou uma queda de 7,9%, para 81,8 mil máquinas.
O vice-presidente da Anfavea, Milton Rego, admite que os números ficaram abaixo do que a entidade previa no início de 2011, mas considera o resultado positivo. "Esperávamos uma estabilidade nas vendas domésticas, mas a queda de 4,7% nos mantém próximos do nível de 2010, que foi extraordinário". Naquele ano, as montadoras negociaram mais de 68,5 mil tratores e colheitadeiras, um recorde.
Rego observa que a queda concentrou-se no mercado de tratores, que encolheu 7,3%, para 52,29 mil máquinas negociadas. As vendas de colheitadeiras, destaca, cresceram 17,3%, para 4,5 mil unidades. "Em 2011 o produtor agrícola priorizou a compra de colheitadeiras, que é uma aquisição mais difícil de adiar que a de tratores", explica.
O executivo observa ainda que as vendas para agricultores familiares, grande responsável pela recuperação do setor a partir de 2009, perderam força no ano passado. Segundo ele, a fatia de máquinas vendidas para o segmento caiu pela metade, de 30% para 15%, entre 2010 e 2011 - em 2009, foi de quase 50%. "Começa a haver uma saturação das vendas para os setores mais tradicionais e estruturados da agricultura familiar, típicos da Região Sul", diagnostica.
Para Rego, esse foi o segmento que mais rapidamente respondeu aos estímulos dados pelo Programa Mais Alimentos (PMA), lançado em 2008 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, que ofereceu condições de financiamento diferenciadas aos pequenos produtores. "O PMA não está esgotado, mas precisa ser adaptado a uma nova realidade, que é a da agricultura familiar em regiões mais pobres e desestruturadas, como nos Estados do Nordeste, onde muitas vezes o produtor não tem nem a posse da terra".
Segundo ele, o governo deve anunciar ainda no primeiro trimestre medidas que deem segurança aos bancos interessados em financiar a aquisição de máquinas nessas regiões. Entre as propostas está a da criação de um fundo garantidor de crédito, possivelmente com recursos do Tesouro, para cobrir eventuais perdas. "O governo vai atacar essa questão, pois está no cerne da política de combate à pobreza", aposta.
De todo modo, o prognóstico do mercado de máquinas para 2012 é, nas palavras de Rego, "conservador". Segundo ele, as vendas devem ficar estagnadas nos níveis de 2011. "Apesar da queda recente nos preços de algumas commodities e do aumento de custos, os agricultores terão um bom ano. O problema é o curto prazo. As turbulências na economia deixam todo mundo com um pé atrás", afirma.
O executivo diz que a situação preocupa porque as vendas de tratores no Brasil ainda estão em níveis muito abaixo do necessário para assegurar a renovação e a expansão da frota a fim de sustentar o crescimento da produção agrícola nos próximos anos. Só a agricultura empresarial, calcula, precisaria adquirir 52 mil novos tratores por ano ao longo da próxima década. "Se considerarmos ainda as necessidades da agricultura familiar, esse número chega a 70 mil", afirma Rego.

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