segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ações brasileiras serão negociadas em Hong Kong

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/12/acoes-brasileiras-serao-negociadas-em-hong-kong
Tecnologia e regulação limitam maior integração
Autor(es): Por Graziella Valenti e Fernando Torres, de São Paulo
Valor Econômico - 12/07/2010

A Bolsa de Hong Kong é a segunda maior do mundo em capitalização, com valor de mercado de US$ 17 bilhões
Em janeiro de 2012, as companhias brasileiras listadas da BM&FBovespa poderão também ter suas ações negociadas na Bolsa de Hong Kong, e vice-versa. Desde o mês passado, as bolsas brasileira e asiática trabalham conjuntamente para criar "dois centros de liquidez simultânea", conforme o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.
O objetivo é a listagem efetiva das companhias e não a negociação dos papéis por meio de recibos. Portanto, segundo Pinto, não serão BDRs (recibos brasileiros) das empresas listadas em Hong Kong, mas as próprias ações.


A parceria entre a BM&FBovespa e a Bolsa de Hong Kong servirá como um piloto para o estudo de modelos de negociação simultânea. Edemir Pinto, presidente da bolsa brasileira, disse ao Valor que no momento não há nenhuma avaliação para se replicar tal estrutura com outra bolsa. "Depois que colocarmos esse modelo funcionando, vamos amadurecer bem o processo. Daí então, pensarmos em outros passos."
O presidente da BM&FBovespa acredita que o futuro dos mercados é de integração cada vez maior. Contudo, sabe que os desafios para isso são enormes, especialmente no campo regulatório.
Hüseyin Erkan, membro da Federação Mundial de Bolsas (WFE, na sigla em inglês) e presidente da Bolsa de Istambul, acredita que no futuro os investidores poderão a partir de uma só tela, de um único sistema, negociar todos os ativos de todas as bolsas do mundo. "Não importará mais onde o investidor está, mas onde está o melhor preço. Entretanto, há uma larga avenida a ser percorrida até lá, com destaque para as questões tecnológicas."
Seguindo a lógica da internacionalização e da facilitação do trânsito do capital, a BM&FBovespa também está trazendo para o Brasil as principais ações das companhias listadas na bolsa americana, mas desta vez por meio de recibos, os BDR nível 1 não patrocinados.
O Deutsche Bank ganhou a primeira concorrência e as negociações deverão ocorrer a partir de agosto. O banco de origem alemã trará para cá papéis da Apple, Google, Bank of America, Arcelor Mittal, Goldman Sachs, Billiton, Wal Mart Stores, Exxon Mobil, Mc Donald " s e Pfizer. O Citibank ganhou a segunda concorrência, segundo Edemir Pinto, mas ainda não divulgou quais empresas trará.
Erkan destacou que a BM&FBovespa está avançada nas iniciativas de internacionalização de sistemas, na comparação com as demais bolsas.
São Paulo recebeu, na última semana de junho, o encontro dos dirigentes da WFE. Thomas Krantz, secretário-geral da organização, disse ao Valor que aposta na internacionalização, mas vê limites para a consolidação das bolsas. "Antigamente eu acreditava em um só mercado por continente. Hoje já não penso mais assim", afirmou ele.
Apesar de não apostar numa excessiva concentração das bolsas, Krantz acredita que o melhor cenário para o trânsito de capitais e a segurança do mercado é uma convergência das regulamentações. Contudo, sabe que se trata de algo muito difícil e praticamente improvável.
O que as bolsas mais têm pensado, aliás, são formas de padronizar sistemas e regras. "Não temos muitas respostas, mas temos boas perguntas. É uma época de pensamentos muito profundos. Os mais profundos, talvez, dos últimos 30 ou 40 anos."
A motivação para tantas análises ficou ainda maior em 6 de maio, o fatídico dia em que as bolsas internacionais afundaram praticamente sem explicação e que algumas empresas viram suas ações passarem de dezenas de dólar em valor unitário para centavos.
"Sabemos que a credibilidade do mercado foi abalada pelo 6 de maio", disse Krantz. Para ele, o culpado, contudo, não foram os "algotraders", sistemas de negociação automática que estão se multiplicando mundo afora, mas sim a fragmentação dos mercados.
Nos Estados Unidos, em especial, é possível realizar negociações fora de bolsa, apenas entre os bancos, por meio das chamadas piscinas escuras (as "dark pools"). Nesses mercados paralelos, não existem as mesmas regras que nas bolsas, mas a formação de preços é uma só. Krantz, contudo, não defende o fim desses ambientes, apenas a centralização da compensação e da liquidação dos contratos por meio das "clearings".
No Brasil, segundo o presidente da BM&FBovespa, não há espaço para as "dark pools", pois a regulamentação criada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige que qualquer ambiente de negociação, para funcionar, tenha que ser registrado como bolsa e, portanto, seguir as mesmas regras de transparência e segurança.
Krantz contou que a regulação brasileira vem despertando forte atenção no mercado internacional, pelos mecanismos de segurança e transparência. Ele chamou atenção, por exemplo, para a questão da venda a descoberto, considerada uma das vilãs da crise financeira. No Brasil, há limites claros para essas operações - que apostam na queda das ações. Além disso, a CVM consegue ver todas as operações.
Edemir Pinto disse que, embora a bolsa já tenha mecanismos de segurança, há outras iniciativas em estudo, para situações de fortes baixas. Atualmente, a bolsa tem o sistema de paralisação de segurança ("circuit braker") para o Índice Bovespa, quando a perda alcança 10%, e também o leilão automático, de cinco minutos, quando a baixa de alguma ação é superior a 3%. Agora, a BM&FBovespa estuda adotar um "circuit braker" por papel, de 15 minutos, quando a desvalorização chegar a 15% em relação ao preço de abertura.

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