http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/16/para-stuhlberger-brasil-tenta-criar-moto-continuo-tropical
Autor(es): Por Luciana Monteiro, de São Paulo |
Valor Econômico - 16/07/2010 |
O Brasil está tentando criar o moto-contínuo tropical. É assim que Luís Stuhlberger - um dos gestores mais conhecidos do mercado brasileiro e responsável por R$ 8 bilhões aplicados na badalada família de fundos Verde - descreve a tentativa do governo brasileiro de fazer a economia crescer por auto-alimentação, sem as reformas necessárias. A análise está no relatório sobre o desempenho da carteira em junho, enviada aos clientes do Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG). Stuhlberger lembra que o conceito do moto-contínuo nasceu durante a Renascença. Seria uma máquina de movimento perpétuo que reutilizaria indefinidamente a energia gerada por seu próprio movimento. As leis da física, no entanto, provaram que isso é impossível. Ele compara essa definição com algumas visões de integrantes do governo. A primeira delas, de que é possível turbinar a demanda sem criar condições para ampliar a oferta. É o primeiro teorema a ser provado: a demanda gera sua própria oferta, ironiza o gestor. A segunda crítica é sobre a tese de que quanto mais servidores públicos e benefícios sociais houver, melhor para o país. "A seguridade social deixou de ser um passivo para ser um ativo", dispara o gestor. Ele ataca a ideia de que uma carga tributária de 35% do PIB não é problema, o que, segundo ele, seria o mesmo que dizer que "carga tributária em excesso e de má qualidade não geram problemas de competitividade". E critica também a máxima de que o pré-sal "será a redenção" do nosso déficit externo. Outra teoria que o gestor contesta é a de que a dívida pública bruta pode atingir 80% do PIB porque "o ativo é de boa qualidade: BNDES, Petrobras, Eletrobrás, Caixa, Banco do Brasil etc". Assim, esse ativo poderia ser usado para financiar e multiplicar o crescimento do PIB do país, o que significaria dizer, na visão do gestor, que "o moto-contínuo existe e Deus é Brasileiro". Para o gestor, "este é o moto-contínuo tropical". "Desde a idade média, como vimos, ninguém conseguiu inventar um. Terá havido uma solução tupiniquim para o problema?", desafia. Analisando o mercado externo, Stuhlberger chama a atenção para o fato de o primeiro semestre ter surpreendido negativamente os analistas, já que os ativos não se comportaram da maneira otimista esperada pela maioria. E acrescenta: "Acreditamos que a deflação é um fenômeno que veio para ficar nas economias desenvolvidas, e podemos ver juros até mais baixos que as atuais". Para ele, "Estados Unidos e Europa devem cada vez mais se parecer com o Japão." O comportamento da economia chinesa, observa, também pegou muita gente de surpresa. "Seis meses depois, as óbvias dificuldades de gerenciar o maior estímulo fiscal e monetário do mundo ficaram evidentes, e o governo chinês vem tentando controlar a economia para evitar uma bolha de "real state"", lembra Stuhlberger. "Fica a lição para os investidores brasileiros: crescimento do PIB nem sempre equivale a bons retornos de ações." Já no caso da Europa, "a débâcle da Grécia representa o fim de uma ideia e o colapso de um modelo", escreve o gestor, lembrando que cada vez mais se discute o fim da moeda única. "Continuamos a esperar que o Sul da Europa traga mais volatilidade para os mercados, estendendo a queda do euro", acrescenta. O fundo multimercado CSHG Verde apresentou rentabilidade de 1,94% em junho, acumulando no primeiro semestre do ano 4,62%, para 4,28% do CDI. |
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