segunda-feira, 12 de julho de 2010

Plataformas em mãos estrangeiras

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/12/plataformas-em-maos-estrangeiras

Estrangeiros dominam plataformas
Autor(es): Kelly Lima, Nicola Pamplona
O Estado de S. Paulo - 12/07/2010

Lula criticou o volume de encomendas feitas fora do País, mas a indústria naval ainda depende de compras no exterior. Novas plataformas têm só casco nacional.

Oito anos depois do então candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva ter reclamado em campanha das compras de plataformas de petróleo no exterior, a qualidade das encomendas à indústria naval nacional permanece praticamente a mesma. Embora tenha havido aumento do volume de contratos locais, com a reabertura de estaleiros, o porcentual de conteúdo nacional em cada plataforma não avançou.

De 2002 a 2010, a Petrobrás encomendou a construção de 15 plataformas de produção, sendo que em sete delas o casco foi executado no Brasil. No mesmo período, a estatal afretou no exterior outras 15 plataformas. O afretamento é uma espécie de contrato de aluguel.
O Brasil continua apenas fornecendo produtos básicos e atuando na montagem das plataformas, deixando para fornecedores estrangeiros os equipamentos de maior complexidade tecnológica. "As encomendas cresceram em valor absoluto e não em valor relativo", diz o diretor de Petróleo e Gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado.
Segundo especialistas do setor, apesar de a Petrobrás divulgar que o conteúdo nacional das suas plataformas chega a 60% ou até a 70%, são excluídos deste cálculo os módulos de compressão de gás, geração de energia e até mesmo a conversão ou construção do casco das plataformas, que são feitos fora do Brasil. Somente estas encomendas, segundo técnicos do setor, representam em torno de 30% do investimento em uma unidade.
Se consideradas todas as etapas da construção, o conteúdo nacional cairia para algo em torno de 40%. "Na prática temos a linha de montagem aqui no Brasil. É muito pouco e é preciso avançar muito mais", diz o diretor de Tecnologia da Coppe/UFRJ, Segen Estefen, um dos líderes da campanha em 2002 para que as plataformas da Petrobrás fossem feitas no Brasil.
Na época, a polêmica sobre as encomendas de plataformas no País dividiu o setor entre os que acreditavam ser possível a construção de uma unidade aqui com conteúdo de até 80%, e os que defendiam ser melhor afretar plataformas no exterior, por ser mais viável economicamente.
No governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobrás privilegiou o afretamento de plataformas e as poucas unidades compradas foram construídas fora do País, com conteúdo local máximo de 30% a 40%, considerando toda a obra. A última unidade a ser encomendada no governo passado, a P-50, teve seu casco convertido em Cingapura. No fim da obra, na gestão Lula, a estatal divulgou que a plataforma chegou a obter conteúdo local de quase 60%.
Quando assumiu o governo, Lula cancelou dois editais que estavam licitando as plataformas P-51 e P-52, para acrescentar a exigência de conteúdo nacional mínimo de 65% na construção e de 75% na montagem.


Petrobrás só encomenda 10% ao setor de máquinas

Autor(es): Kelly Lima, Nicola Pamplona
O Estado de S. Paulo - 12/07/2010

Nos anos 80, setor de petróleo respondia pela metade dos pedidos, diz Abimaq
Na década de 80, no auge das encomendas feitas à indústria naval brasileira, o setor de petróleo respondia por 50% do volume de negociações de máquinas e equipamentos fabricados no País. Hoje responde por menos de 10%. A informação é do diretor executivo dos segmentos de Petróleo e Gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado,

A indústria de máquinas como um todo movimentou US$ 32 bilhões em 2009 e o setor de petróleo faturou cerca de US$ 2,8 bilhões. Considerando que 30% dos US$ 40 bilhões investidos anualmente pela Petrobrás são destinados a máquinas e equipamentos, Machado estima que a indústria nacional de equipamentos de petróleo e gás poderia receber encomendas de US$ 6 bilhões anualmente.
Para o diretor de Tecnologia da Coppe/UFRJ(Universidade Federal do Rio de Janeiro), Segen Estefen, a situação tende a ficar ainda mais delicada com a encomenda das sondas de perfuração, que nunca foram construídas no Brasil. A Petrobrás abre nesta semana os envelopes comerciais na concorrência para a construção de até 28 unidades, total estimado em US$ 22 bilhões. Em uma rodada anterior, a estatal encomendou 12 unidades com estaleiros estrangeiros. Mesmo destino terão 13 contratos de afretamento em licitação atualmente.
Sondas. "Se o Brasil não tem fornecedores de tecnologia avançada para a construção de plataformas de produção, tem muito menos para as sondas. Corremos o risco de ficar com um conteúdo nacional ainda menor se não houver um programa atrativo para fornecedores de equipamentos desta linha", disse o professor, alertando para o fato de que a China está na corrida para se qualificar para ser uma grande construtora de sondas de perfuração. "Temos que correr para não ficarmos restritos apenas a ser meros montadores", disse o diretor da Coppe, que anunciou o lançamento de quatro núcleos de tecnologia naval no País até o final deste ano.
Um dos maiores gargalos está na construção das turbinas de geração de energia, módulo que representa quase 20% do total do custo de uma plataforma. Poucas empresas fazem esse tipo de obras no mundo e apenas a encomenda de um volume de unidades cinco a seis vezes maior do que o atual justificaria a atração de investimentos para o país nesta área.
Há, porém, complementos industriais em que o Brasil pode capacitar mão de obra e ter condições de fabricação, desde que haja um investidor externo com experiência no setor e interesse de se instalar no País.
"Não é só o volume de encomendas internas que darão à indústria naval escala de produção para justificar novos investimentos. É preciso que a indústria naval local esteja preparada para atender à demanda estrangeira e para isso ainda há uma longa caminhada", disse Estefen.
"Foi necessária uma primeira fase com subsídios para alavancar a recuperação da indústria naval, mas agora está na hora de o Brasil saber o que quer. A construção naval é eminentemente política e se não houver uma decisão sobre o que fazer, vamos sucumbir aos concorrentes internacionais", analisou Estefen.
Petrobrás. Indagada sobre o tema, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), criada para fomentar as contratações de máquinas e equipamentos no Brasil, preferiu não se pronunciar, alegando que aguarda estudo encomendado a uma consultoria internacional para avaliar a competitividade dos fornecedores locais. A Petrobrás também não comentou o assunto.
Segundo técnicos do setor de petróleo, a petroleira mantém como estratégia o afretamento de unidades de menor porte ou mesmo as que vão atuar temporariamente em alguns campos, enquanto é construída a unidade que vai operar definitivamente no local.
Desta forma, a Petrobrás acelera a produção de petróleo em alguns campos, colocando-os em operação mais rapidamente do que se fosse aguardar os três anos que levam para a construção de uma unidade.

PARA LEMBRAR
Em campanha, Lula teve atrito com a estatal
Em 2002, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva gravou no estaleiro Verolme o primeiro filme de sua campanha eleitoral. Em meio a imagens desoladoras do canteiro abandonado, reclamou da encomenda de plataformas da Petrobrás no exterior e disse que o presidente da República "deveria ameaçar o presidente da Petrobrás de demissão, caso ele insistisse em construir plataformas no exterior".
O episódio se transformou em um bate-boca público com o então presidente da Petrobrás, Francisco Gros, que reagiu, dizendo que as declarações eram absurdas e chegou a tentar sem sucesso obter direito de resposta durante a propaganda eleitoral do PT na TV. Segundo ele, a Petrobrás convidava também empresas estrangeiras, mas não havia tecnologia no País para construir equipamentos tão complexos.
"São plataformas especializadas, só existem cinco delas no mundo", argumentou. Os críticos dessa política da Petrobras afirmavam que as unidades eram especializadas porque os projetos desenvolvidos para construí-las eram feitos em sua maioria por empresas norueguesas. Nos últimos 8 anos, ganharam força projetos desenvolvidos pelo Cenpes, o Centro de Pesquisa da Petrobrás, e estratégias como a clonagem de unidades já existentes ou simplificação de projetos para reduzir custos.

Alerta
SEGEN ESTEFEN DIRETOR DE TECNOLOGIA
DA COPPE/UFRJ
"A construção naval é eminentemente política e se não houver uma decisão sobre o que fazer, vamos sucumbir"


Navios e embarcações de apoio viabilizaram 2 estaleiros

Autor(es): Kelly Lima, Nicola Pamplona
O Estado de S. Paulo - 12/07/2010

Apesar do baixo nível de tecnologia nacional nas plataformas, programa da Transpetro reativou a construção naval
Embora o aspecto tecnológico na construção de embarcações não tenha apresentado avanços desde o início do programa de conteúdo naval no setor de petróleo, os maiores volumes de encomendas no País foram suficientes para garantir a reabertura de estaleiros abandonados e a construção de novos canteiros. Mais do que as plataformas, navios e embarcações de apoio à produção de petróleo, tiveram grande peso nesse movimento.

"É inegável que houve uma evolução no setor. A indústria naval estava praticamente parada e agora experimenta grande volume de encomendas", comentou o diretor de tecnologia da Coppe/UFRJ, Segen Estefen. Nos últimos anos, o Programa de Modernização e Expansão da Frota de Petroleiros da Transpetro (Promef) contratou 46 navios de grande porte, que viabilizaram, até agora, a construção de pelo menos dois novos estaleiros: o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), já em operação, e a nova unidade do Promar, que será construída em Recife (PE).
Além disso, praticamente todos os estaleiros existentes no País passaram por reformas e se modernizaram para se qualificarem a participar das licitações da Transpetro. Atualmente, há planos para a construção de pelo menos mais cinco estaleiros.
Praticamente todos os grandes canteiros brasileiros têm obras do programa, que deve ter uma terceira fase anunciada ainda este ano com a perspectiva de encomendar de uma só vez mais de 50 navios, desta vez de porte maior, para dar cabo do escoamento do petróleo que deverá ser produzido no pré-sal. O petróleo será levado para refinarias que serão erguidas no Ceará e no Maranhão e exportado.
Até o momento, dois navios do Promef já foram entregues à Transpetro, um pelo EAS e outro pelo Mauá. A companhia admite que teve que pagar mais caro pelos primeiros navios construídos no Brasil, mas alega que o sobrepreço era necessário para garantir a retomada da indústria naval.
Desde que assumiu a Transpetro, em 2002, o presidente da empresa Sérgio Machado, lembra que é preciso mudar o paradigma do setor que "se acostumou" nos anos anteriores a fazer os afretamentos de navios petroleiros em vez de construir embarcações próprias. "O Brasil ficou mais de 20 anos sem construir um petroleiro", diz Machado.
Quando assumiu, a frota da Transpetro tinha 50 navios próprios e 50 afretados. Hoje, apesar de todos os esforços na construção local, a companhia teve que atender ao crescimento da demanda interna por logística no transporte de combustíveis com mais navios afretados. No total, passam de cem as embarcações que pagam aluguel diário e representam mais de US$ 6 bilhões em divisas anualmente.
Em 2002, a indústria naval brasileira chegou a um piso de 2 mil empregados. Hoje emprega cerca de 45 mil pessoas.



O petróleo é nosso, mas não os equipamentos

O Estado de S. Paulo - 13/07/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/13/o-petroleo-e-nosso-mas-nao-os-equipamentos
 
O petróleo é nosso, porém os equipamentos que ajudam a extraí-lo em geral não o são, como mostrou o levantamento que fizemos em nossa edição de ontem.
Cada país tem uma atividade-chave que impulsiona o setor industrial. No Brasil, nos últimos anos, esse papel foi desenvolvido pela construção civil, que apresentou no primeiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período de 2009, um crescimento de 14,5%, ante 9% do PIB.
Poder-se-ia pensar que os grandes investimentos da Petrobrás, calculados em US$ 40 bilhões por ano, dariam a essa empresa o papel de impulsionar a indústria. Mas não é o que se verifica, pois a Petrobrás vem exibindo uma balança comercial deficitária em virtude das suas encomendas de equipamentos no exterior. Na década de 80, a Petrobrás tinha um papel mais importante do que hoje nas compras à indústria nacional.
Sem dúvida, a Petrobrás se destaca no mundo pela exploração de petróleo em águas profundas, desenvolveu uma tecnologia toda especial e formou técnicos especializados nesse tipo de exploração.
No entanto, parece ter-se esquecido de estimular a indústria nacional no fornecimento dos equipamentos necessários a essa atividade.
Entre 2002 e 2010 a Petrobrás encomendou 15 plataformas no exterior, das quais 7 tiveram seu casco produzido no Brasil, com equipamentos importados. Alugou 15, num período em que era particularmente difícil encontrar plataformas a preço razoável, e os compressores de gás e geradores de energia sempre foram importados.

Essas importações são estranhas num país como o Brasil, que há muitos anos constrói geradores gigantes para suas usinas hidrelétricas. O caso das sondas é pior, pois todas são importadas, e a Petrobrás explica que os equipamentos produzidos no Brasil são mais caros e não respondem às exigências técnicas.
Pode-se entender que a Petrobrás se mostre exigente em relação à qualidade que esses equipamentos devem apresentar, mas é lícito perguntar se se pensou em desenvolver no País, que produz todos os tipos de aços especiais, uma tecnologia nacional não apenas para economizar divisas estrangeiras, mas também para colocar o Brasil em condições de oferecer produtos de alta qualidade no mercado externo.
A dependência externa para a produção de petróleo - ainda mais no caso de uma empresa tão nacionalista como a Petrobrás - ilustra com clareza o problema da falta de planejamento de nossa economia.

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