http://www.beefpoint.com.br/fertilizante-estatizante_noticia_61338_15_117_.aspx
O governo federal andou insistindo na ideia de criação de uma empresa estatal de produção e comercialização de fertilizantes no Brasil. Os dois argumentos centrais em defesa dessa empresa estatal seriam a necessidade de reduzir a dependência brasileira do mercado internacional, uma vez que 74%, 49% e 92% do nitrogênio, do fósforo e do potássio, respectivamente, utilizados no Brasil na produção de fertilizantes são importados; e a necessidade de promover maior concorrência no mercado, tendo em vista que a produção de fertilizantes é um oligopólio no Brasil e no mundo. Os dois argumentos mostram que o tema é sensível. Os produtores rurais, como esperado, estão preocupados com o assunto porque são eles que pagam a conta de fertilizantes mais caros. Viabilizar o aumento da produção brasileira e promover maior concorrência na produção fazem parte de um diagnóstico correto. Já o remédio, a estatal dos fertilizantes, está mais para adoecer o paciente do que para curá-lo. O fundamental nesse debate é entender que o bom objetivo de estimular concorrência no fornecimento de nutrientes básicos à produção de fertilizantes não será resolvido com a criação de uma estatal. O buraco, na realidade, é mais embaixo. A constatação de que a produção das matérias-primas básicas dos fertilizantes (nitrogênio, fósforo e potássio) no Brasil não tem acompanhado a crescente demanda é um tema superado. A relação entre a produção nacional e a importação de fertilizantes intermediários se movimenta em favor das importações, que vêm ganhando fatia de mercado no decorrer do tempo. Os dados da evolução por nutriente mostram a mesma tendência. No caso do nitrogênio, a produção doméstica representava, em 2002, 47% do mercado e em 2008 representou 26%. No caso do fósforo, esse movimento foi de 57% para 51% e, no caso do potássio, de 12% para 8%. Não somente a produção nacional tem menor participação na oferta total, com exceção do fósforo, como também não tem conseguido acompanhar a demanda. Além disso, comparando o Brasil com o resto do mundo, os números também chamam a atenção. O Brasil é o terceiro maior importador mundial de nitrogênio, atrás apenas dos EUA e da Índia, é o maior importador de fósforo e o segundo maior importador de potássio, também atrás dos EUA. A dependência de importações, no entanto, é uma questão capenga quando não analisada em conjunto com a estrutura de formação de preços dos fertilizantes no Brasil. A questão-chave a ser respondida aqui é a seguinte: os preços domésticos de fertilizantes pagos pelos produtores no Brasil seguem os preços mundiais? Se seguem, o problema dos elevados preços está no mercado mundial. Se não seguem, há razões para se pensar em políticas de estímulo a maior concorrência. Para responder a essa pergunta desenvolvemos um estudo analisando os preços internacionais e os preços pagos pelos produtores. Nossa conclusão foi a seguinte: os preços domésticos são determinados pelos preços mundiais, mas, com exceção da ureia, fertilizante à base de nitrogênio, as variações nos preços ao produtor do superfosfato simples e do cloreto de potássio são explicadas apenas em parte pelas oscilações dos preços internacionais, sugerindo que maior concorrência seria salutar para o produtor rural. Vamos entender o que essa conclusão quer dizer. Quando são analisados os preços internacionais da ureia, da rocha fosfática e do cloreto de potássio e são comparados aos preços de importação do Brasil e aos preços dos produtos equivalentes praticados no mercado doméstico (aqui utilizamos os preços em dólar para eliminar oscilações cambiais), observamos que, para cada linha de produto - nitrogênio, fósforo e potássio -, os preços andam absolutamente juntos. Como grande parte da oferta brasileira é feita a partir de matéria-prima importada (74%, 49% e 92%, respectivamente), a conclusão de que os preços internacionais determinam os preços domésticos era esperada. Aliás, essa constatação demonstra que a concentração na produção doméstica não é forte o suficiente para impedir o mercado de funcionar. Ao contrário: na formação dos preços, o mercado está funcionando bem. Essa conclusão tem uma implicação: como os preços internacionais são determinantes dos preços domésticos, o produtor brasileiro estará sempre sujeito aos movimentos de mercado na Rússia (nos três produtos), na China, no Canadá, na Alemanha, no Marrocos, na Tunísia, na Ucrânia e nos EUA (em pelo menos um produto), a menos que o Brasil reduza sua dependência de importações. A oferta, como se vê, é concentrada. Aliás, não poderia ser diferente, porque, sendo um setor muito intensivo em capital, demandante de elevados investimentos e com ganho de escala, a produção de nutrientes, em qualquer lugar do mundo, será sempre concentrada. Superado o problema da formação dos preços, fizemos a análise da influência dos preços internacionais nas oscilações dos preços domésticos. A pergunta aqui é a seguinte: quando os preços domésticos oscilam - aliás, eles fazem isso o tempo todo -, quanto dessas variações pode ser explicado por oscilações nos preços internacionais e/ou por variáveis associadas ao mercado doméstico, tais como demanda e, por que não, concentração da produção? Quando esse valor é muito elevado, como no caso da ureia, é sinal de que os movimentos no mercado doméstico refletem integralmente os do internacional. Já no caso do superfostato simples e do cloreto de potássio, cujos valores encontrados foram menores, fatores associados à estrutura da indústria têm peso elevado nos movimentos de mercado doméstico. Neste caso, estimular competição na indústria será benéfico para os produtores rurais e é isso que o governo deveria estar perseguindo, em vez de advogar a volta do capital estatal ao setor.
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Cartas do leitor
Senhores, Muito boa a análise técnica e visiológica. Vale lembrar que dentro de um prazo de 3 anos (final de 2012) estará sendo inalgurado uma nova fábrica de NH3 e ureia no Centro oeste. Investimento firme. Assis
Acredito que o setor do agronegocio, pelo menos os que significativamente são responsável pelo pib nacional, já é suficiente independente na questão de aquisição de fertilizantes no mercado, ainda que, na sua maior parte seja oriundo de importações,repassando em seus produtos finais o custo desta aquisição.Na minha opinião o governo deveria oferecer mais opções neste quesito à agricultura familiar, que tem menos mecanismos a disposição quando da aquisição de fertilizantes, dando ao pequeno agricultor condições mais favoráveis ao invés de aventurar num processo que é exclusivamente do setor privado.
Parabens, essa questao é fundamental para o futuro do crescimento do agronegocio. E as decisoes do governo brasileiro preocupam os fornecedores externos.
Não vejo nenhum problema em o Estado querer fomentar a produção nacional de fertilizantes. Reconheço que o viés ideológico do articulista é muito bem fundamentado; entretanto não tenho nenhum pre-conceito da formação de indústria nacional com capital estatal. A produção agricola é fundamental na formação do PIB e portanto deve ter, se não uma empresa mista, orgãos que regulem a formação de preços no mercado nacional.
Se o governo criar essa estatal, com certeza acontecerá, das duas , uma : 1º -ou será uma estatal deficiente (com um sindicalista na direção), que terá seus déficits suportados pelo tesouro nacional, e mais tarde teremos mais uma estatal vendida por preço abaixo do que vale, como foi o caso das outras privatizações, ou então; 2º - veremos um aumento brutal no preço dos fertilizantes, em razão da histórica incompetência do setor público em gerenciar qualquer atividade. Não terá a empresa estatal a eficiência necessária para apresentar preços mais reduzidos que os paraticados hoje pelo mercado, e que force os concorrentes a diminuirem seus preços. Antes sim, pela sua incompetência ( preço mais alto) propiciará aos concorrentes, ambiente favorável para aumento de preços.
A análise foi muito interessante, mas vejo um viés preconceituoso quanto à participção do Estado na Economia, inclusive dos comentaristas que me precederam. Não é mais verdade que a administração das estatais seja ineficiente, nem no Brasil nem em muitos outros países. O artigo reconhece que, pelo menos em parte, há um oligopólio, sim, que torna os preços mais altos do que meramente refletindo os preços internacionais. Por outro lado, o aumento da oferta, por si só, já deverá resultar numa queda de preços. A alternativa de "estimular competição na indústria", na prática, quer dizer o quê? Por quê a iniciativa privada não se interessou até hoje pelo segmento? Aliás, quem está construindo plantas de uréia é a estatal Petrobras.
Oxalá uma empresa estatal pudesse operar milagres: 1-Explorar potássio debaixo do Rio Madeira, em território protegido de indio, com solução econômica para dispor o cloreto de sódio remanescente após separação do KCl. 2-Superar a localização de Anitápolis em meio a montanhas de dificil acesso sem infre-estrurura próxima, cercada de mata Atlântica venerada pelos ecologistas. 3-Dispor de gás natural ao custo obtido nos paisea árabes para fabricar uréia a preços competitivos. A iniciativa privada vem ha muitos anos quebrando a cabeça para resolver esses problemas. Será que o Governo detem a varinha de condão?
Concordo integralmente c/ o sr. Renato Pita Maciel de Moura. Volto a repetir(não sei porque não publicaram as minhas observações do dia 22/03): os argumentos dos articulistas são bem fundamentados, mas vejo um viés ideológico nas fundamentações. Por que não termos uma empresa pública ou mista tentando regular o mercado e disponibilizando mais oferta de produtos? Por que temos que depender do mercado externo, que nos atenderá na medida das suas (deles) prioridades. Esse viés privatista é coisa do passado, temos exemplos recentes no primeiro mundo. C/o diz um jornalista: ou só quando dá errado recorremos a "viúva"? |
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