segunda-feira, 12 de julho de 2010

Espaço para inovação tecnológica na agroindústria

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/12/espaco-para-inovacao-tecnologica-na-agroindustria

Autor(es): Mauro Zanatta, de Brasília
Valor Econômico - 12/07/2010
Não estranhe se a argamassa usada na reforma da casa contiver bagaço de cana-de-açúcar, os pães e as massas do domingo forem conservados com extrato de própolis e o biodiesel dos caminhões tiverem a proteção antioxidante do óleo da castanha de caju. Daqui a um ano e meio, o brasileiro deve esbarrar em produtos "exóticos", compostos de matérias-primas agrícolas em busca da cobiçada inovação tecnológica industrial.




As pesquisas, já em andamento, são parte de uma extensa lista de quase 200 projetos patrocinados pelos serviços de apoio à indústria nacional em parceria com empresas e o governo federal. Os mais recentes projetos de inovação selecionados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), cujo desenvolvimento será apoiado com R$ 34,4 milhões em 18 meses, usam como base alguns produtos do agronegócio. "Buscamos a geração de ideias com aplicação prática e incorporação tecnológica na vida das empresas", diz o gerente-executivo de Tecnologia Industrial do Senai, Orlando Clapp Filho. "A inovação tem que chegar à ponta, e não ficar nos laboratórios".
Em seu sexto ano, o programa "Edital Senai-Sesi de Inovação", que exige contrapartidas das empresas e emprega 100 bolsistas em seus projetos, recebeu 336 projetos de 18 Estados. Um quarto das 77 propostas aprovadas vieram do setor de alimentos e bebidas.
São pesquisas aplicadas para o uso de soro de leite de cabra em bebidas lácteas fermentadas, fabricação de alimento funcional a base de trigo, sorgo e cogumelo, além de farinha especial de feijão e barra de cereais com fibras do Pantanal. De 2004 até hoje, 42 projetos foram concluídos com "taxa de sucesso" de 52%. "Como o país não tem modelos de comparação, não sabemos se é muito ou pouco", diz o gerente de Inovação Tecnológica do Senai, Marcelo de Carvalho.
Criada em 1995 para beneficiar calcário, a Brasil Química, de Mossoró (RN), decidiu usar o bagaço de cana para substituir o cimento da argamassa. Atrás de redução de custos, a empresa já usa calcário no lugar da areia. "Usamos menos areia e agora vamos poupar cimento, além de aumentar o rendimento, tirar o bagaço do ambiente e evitar a queima do resíduo", diz o empresário Marcelo Rosado Batista. A tonelada do cimento, disse, passou de R$ 280 para R$ 350 em dois anos. Mesmo vindo de 300 km, o bagaço é mais barato. "O frete é baixo e não temos competição com energia de biomassa".
Do outro lado do país, a paulistana Novo Mel, fundada a partir do apiário da família Rehder, já começou as pesquisas para desenvolver a biotecnologia e uma linha de máquinas para extrair da própolis, resina retirada de plantas pelas abelhas, um poderoso conservante para padarias e panificadoras. A própolis mantém as colmeias livres de fungos e bactérias e serão usadas para prolongar a vida de pães nas prateleiras. "Vamos usar insumos naturais para melhorar a cadeia industrial e aumentar a produtividade na extração do produto", diz o empresário Carlos Pamplona Rehder. Hoje, usa-se aditivos químicos ou térmicos como conservantes. "Teremos um apelo orgânico e funcional".
A Vegeflora Extrações do Nordeste, braço piauiense da indústria Centroflora, de Botucatu (SP), também prepara sua pequena revolução. Estuda como transformar um subproduto da castanha de caju em antioxidante para proteger biodiesel feito de soja. Líder sulamericana em extratos vegetais para alimentos, farmacêuticos, cosméticos, a empresa busca retardar o processo de rancificação do biodiesel. Hoje, o aditivo é importado.



Educação, ciências e o futuro do Bric

Autor(es): Ben Sangari
O Estado de S. Paulo - 12/07/2010

Foi notícia no Estadão: a produção científica brasileira ultrapassou a da Rússia e pode superar também a da Índia, consolidando-se como a segunda maior no Bric (grupo de economias emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia e China). Em produção científica no bloco, em relativamente pouco tempo, o Brasil ficará atrás apenas da China, segundo levantamento da divisão de pesquisas da Agência Thomson Reuters, que analisou as 10.500 mais importantes revistas científicas do mundo.

A notícia, sem dúvida, merece celebração, mas também dá margem a ponderações. Primeiro, a celebração. A produção científica brasileira deu salto de 3.665 para 30.021 artigos publicados entre 1990 e 2008, aponta a pesquisa. No mesmo período, a produção russa, considerada por muito tempo uma das mais avançadas do mundo, permaneceu estável, com 27.603 artigos em 1990 e 27.605 em 2008. O avanço brasileiro impressiona e, mantido esse ritmo de crescimento na produção científica em todos os países do bloco, o Brasil poderá superar a Índia nos próximos anos. Trata-se de um ótimo indicador do desenvolvimento do País.
Outro indicador positivo: segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Brasil está investindo em 2010 o equivalente a 1,5% do produto interno bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento, o maior nível de investimento dos últimos 11 anos nesse setor.
Agora, as ponderações. Se, por um lado, é positivo o fato de o Brasil se destacar em produção científica no Bric e aumentar investimentos na área, por outro, convém observar que o País ainda não é um player de primeira linha nesse campo. A média brasileira de 0,92 pesquisador por grupo de mil trabalhadores está muito abaixo da média de 6 a 8 do G-7, o seleto clube dos países mais industrializados. Dentro do próprio Bric, o Brasil ainda perde para a China. O levantamento da Reuters indica que a produção científica chinesa saltou de 8.581 artigos em 1990 para 112.318 em 2008! Também cabe lembrar que o Brasil ainda forma menos doutores que os colegas de Bric, Índia, Rússia e China.
É evidente que nenhum membro do Bric quer ficar para trás, seja em relação aos parceiros do bloco ou às demais nações. Assim é que a educação vem conquistando cada vez maior espaço na agenda governamental desses países. E não necessariamente a educação superior, a maior responsável pela produção científica, mas, sobretudo, a fundamental, onde tudo começa. Para a maioria dos integrantes do Bric, o gargalo está justamente nos primeiros anos escolares.
A China, por exemplo, acaba de aprovar seu Plano Nacional de Desenvolvimento e Reforma Educacional de Médio e Longo Prazo (2010-2020), que estabelece, entre outras metas, chegar a 2012 investindo 4% do PIB em educação (em 2008 essa média era de 3,48% e no Brasil já supera os 4%). O plano também prevê qualidade em educação como "política fundamental", acompanhada de mais recursos para áreas carentes. As reformas no país comunista pretendem estimular até organizações privadas e indivíduos a desempenhar maior papel no sistema educacional. Na China, como se sabe, as decisões políticas do poder central são efetivamente cumpridas.
Na Índia, a Lei do Direito à Educação, recém-promulgada, inclui o país no grupo das 135 nações onde a educação fundamental gratuita e compulsória tem garantias legais. Espera-se que a iniciativa alavanque a formação das crianças indianas, uma vez que milhões delas ainda não têm acesso a uma educação adequada. O Ministério do Desenvolvimento indiano, que engloba o Departamento de Educação e Alfabetização, deflagrou processo de consulta pública para desenhar um modelo de parceria público-privada para a área educacional. Disposto também a garantir equidade e inclusão, lançou no final de 2009 o Programa Saakshar Bharat, que prevê a alfabetização de 70 milhões de indianos, 60 milhões deles mulheres.
A Rússia, por sua vez, apesar do elevado nível educacional de expressiva parcela de sua população (a taxa de alfabetização no país é de 99%, segundo a ONU), está preocupada com a qualidade de seus professores. No início deste ano, reunião do conselho do Ministério da Educação e da Ciência russo debateu questões como o nível das aulas, ações para atrair jovens para o magistério (só de 8% a 12% dos professores têm menos de 30 anos de idade no país) e a capacitação dos docentes em geral. O governo está disposto a elevar o nível de seus educadores para lidar com os novos padrões que o ensino russo vem adotando desde o Plano Nacional de Prioridades para a Educação, de 2006, o qual inclui, entre suas prioridades, a inovação e a modernização na formação dos estudantes daquele país.
É a partir de ações fundamentais, esboçadas em planos e metas, que os países do Bric esperam elevar seu padrão educacional e se tornar mais competitivos entre si e na arena global. Afinal, as disparidades persistem dentro e fora do bloco.
Nessa corrida contra o relógio para lançar a educação a patamares desejáveis no século 21 e incrementar a produção científica, o Brasil já deu a largada, como o comprova a pesquisa da Reuters, graças à implementação de programas de incentivo à educação. Agora o País necessitará de novo fôlego, ou seja, uma política consistente e sustentável, acima dos interesses partidários momentâneos, para alcançar e se manter entre os primeiros lugares. É preciso também que a proposta de uma política de Estado para a ciência e a tecnologia, a principal proposta da 4.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília no final de maio, se concretize e estimule o mesmo para a área de educação. Com isso o Brasil garantirá mais facilmente o tal almejado espaço entre as grandes potências do planeta.



Por uma agência nacional de inovação

Autor(es): Glauco Arbix
O Estado de S. Paulo - 12/07/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/12/por-uma-agencia-nacional-de-inovacao

O Brasil hoje vive um momento especial. O País elevou seu patamar de crescimento, é fato. Mas as perspectivas de sua sustentação ainda seguem imersas em brumas. Não se trata de mais uma vez registrar o rol de conhecidos obstáculos à permanência do crescimento, mas de apontar e equacionar o desafio mais importante colocado para o País.

A economia brasileira precisa de um choque de inovação.
O necessário aumento do investimento, a melhoria da infraestrutura, a execução de uma boa gestão macroeconômica, capaz de manter domesticada a inflação, e o equacionamento no longo prazo da alta carga tributária e da dívida pública, por fundamentais que sejam, não podem turvar a visão de nossos governantes para a urgência de se promover um salto no padrão de qualidade da atividade econômica. Para isso, mais do que aumentar o investimento, é preciso melhorar o seu foco e sua qualidade, de modo a dinamizar e diversificar a economia e superar a crônica dependência brasileira do universo das commodities.
Esse é o maior desafio, que está longe de se limitar à esfera econômica. Desde o ciclo desenvolvimentista o Brasil procura repensar e modificar sua ossatura institucional, recriar sua arquitetura legal e repensar seus dispositivos políticos para se adaptar às transformações que sacudiram o mundo. O País deu passos enormes nessa direção. Mais importante ainda, caminhou rumo ao estabelecimento de um novo equilíbrio nas relações entre Estado e mercados, distante do velho desenvolvimentismo e da ortodoxia econômica que fez sucesso nos anos 90. Fato é que, sem a combinação de uma economia de mercado com um novo ativismo de Estado - sem estatismo -, dificilmente seria possível combater mazelas crônicas, como as desigualdades e a pobreza.
A sintonia entre esforço pelo crescimento e forte investimento social é a grande responsável pelo momento positivo que o País vive atualmente: ao acionar mecanismos sociais sutis, liberou energias por todos os poros da sociedade, com impacto no conjunto da economia.

Sabemos que as estratégias são mais cristalinas no papel, pois no mundo real são recheadas de ambiguidades e conflitos. Mesmo assim, é forçoso constatar que o País amadureceu e conseguiu diminuir a distância que o separa das nações mais avançadas, ainda que o caminho a percorrer seja longo.

O Brasil está hoje mais preparado para lidar com o novo lugar ocupado pelas atividades intensivas em conhecimento, que tornaram, mundialmente, os processos de reprodução da vida material, social e cultural mais complexos, dinâmicos e integrados. Essa constatação, porém, não nos leva a afirmar a inevitabilidade do sucesso. A economia está numa encruzilhada: ou as empresas evoluem, alteram seu metabolismo, dinamizam sua gestão, valorizam os recursos humanos como estratégia e buscam elevar seu padrão tecnológico e ligar-se às cadeias mundiais de alto valor agregado ou, mais uma vez, o fôlego será curto para manter o crescimento.

É essencial, por isso, que hábitos e costumes sejam alterados dentro das empresas. Mas o País só ganhará dinamismo com um esforço conjunto do setor público e do privado, capaz de envolver as universidades, o Legislativo, o Judiciário e demais instituições sociais.

A inovação no Brasil deve tornar-se regra, não exceção. Debates sobre a necessidade dessa evolução são cada vez mais frequentes e foram retomados com intensidade durante a 4.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília em maio. Mais de 4 mil participantes mostraram que a reflexão sobre os rumos do País da parcela da elite brasileira mais diretamente envolvida com a produção de ciência e tecnologia atingiu um novo patamar.

Se conseguisse potencializar inquietações desse tipo, ainda que parcialmente, o debate eleitoral ajudaria a semear o futuro. Esperança vã?

Não custa convidar os candidatos a se pronunciarem sobre a proposta de criação de uma agência nacional de inovação, ligada diretamente à Presidência da República. Essa proposta constava do documento original preparatório à conferência e também fez parte das recomendações entregues pela Confederação Nacional da Indústria aos atuais candidatos presidenciais.

Uma agência nacional com peso, recursos e legitimidade para alavancar significativamente o investimento em inovação é essencial para diminuir a pulverização de recursos, a burocracia, a morosidade da máquina pública e manter o foco de suas atenções onde é preciso.

Uma agência desse porte, criada a partir da fusão de instituições como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi), por exemplo, com orçamento renovado e representatividade institucional dada pela ligação estreita com os principais planos e metas da Presidência da República, pode ajudar o País a se conectar com o futuro.

Que as esperanças por um debate de qualidade sobre os alicerces de um novo Brasil não se frustrem mais uma vez.

COORDENADOR DO OBSERVATÓRIO DE INOVAÇÃO DO INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA USP, É MEMBRO DO CONSELHO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


No forno, o antibiótico nacional

Valor Econômico - 12/07/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/12/no-forno-o-antibiotico-nacional
Josimar Henrique da Silva é um homem de muitas palavras. Daqueles que interrompem a toda hora o interlocutor, sem pedir licença, para atender ao celular. Depois se desculpa, todo matreiro, ensaia uma falsa timidez, para em seguida, voltar a falar ao telefone. As interrupções telefônicas orbitam em torno dos negócios. Josimar, como é conhecido no mercado, é presidente e fundador da Hebron Farmacêutica, um laboratório instalado em Pernambuco, região de pouca tradição nesse segmento. Mas ele quer fazer história. "Vou ser o primeiro a lançar um antibiótico genuinamente brasileiro."
Um grupo de cientistas foi contratado pelo empresário em abril para dar início às pesquisas do primeiro antibiótico biotecnológico nacional. "Dei um prazo de dois anos para que os trabalhos avancem", afirma, mostrando uma grande ansiedade. "Você acredita que não temos nenhum antibiótico brasileiro?", destaca.
Josimar tem razão. Há algumas pesquisas em curso tocadas por empresas e universidades do país, mas até o momento os princípios ativos são importados. E isso vale também para uma boa parte dos medicamentos consumidos no Brasil - são poucos os remédios com bandeira verde-amarela.
Nessa equipe da Hebron estão médicos, químicos, biólogos e farmacêuticos, um total de 14 pesquisadores debruçados entre pipetas e microrganismos com o objetivo de ser a primeira empresa a desenvolver o antibiótico nacional. "Não será um antibiótico pela tradicional rota química. Estamos pesquisando pela rota biotecnológica [insumos biológicos]", afirma.
Aos 59 anos de idade, o pernambucano Josimar já fez de tudo um pouco até cair de vez no setor farmacêutico. Na infância ajudava seu pai, que era vendedor de sapatos e sandálias na tradicional feira de Caruaru. Também foi vendedor de tecidos e locutor de rádio. Aos 18, decidiu "tomar prumo na vida" e foi estudar contabilidade. Isso foi um passaporte para trabalhar em um banco, considerado pela sua família um bom rumo profissional. Mas a carreira "promissora" não durou muito. Três anos depois virou propagandista do laboratório nacional Aché, onde permaneceu por 12 anos, dando início à sua trajetória nesse setor.
A decisão de ter seu próprio laboratório pode até soar ideológica, pelo seu determinismo em explorar novos medicamentos, mas Josimar é bem pragmático. Quis ter seu próprio negócio e ser bem-sucedido. Fundada em 1990, a Hebron Farmacêutica é considerada uma companhia de médio porte, mas com grande presença em medicamentos fitoterápicos (à base de plantas). O empresário reivindica para sua empresa o primeiro lançamento de produtos fitoterápicos do Brasil. E essa tem sido a sua principal bandeira desde então. Apesar de focado em fitoterápicos, a empresa também desenvolve medicamentos químicos, além de cosméticos e alimentos funcionais.
Com atuação bem focada no início dos anos 90 no mercado nordestino, a Hebron tem dado passos largos para se nacionalizar. A empresa chegou em 1992 à região Sudeste, com o Rio de Janeiro como porta de entrada. A escolha pelo Rio, antes de um mercado maior, como São Paulo, reflete sua importância - responde por 15% do consumo de medicamentos no país. Depois a Hebron fincou os pés em Minas Gerais e Espírito Santo. Em 2006, a empresa passou a comercializar seus produtos no interior de São Paulo. A expectativa é de que até setembro deve colocar os pés na capital paulista. >>> Do NORDESTE À NAÇÃO
Em 2004, Josimar decidiu que era hora de a empresa caminhar para a "internacionalização". Ele escolheu o mercado peruano para comercializar seus produtos, uma vez que o país integra o Pacto Andino (Peru, Venezuela, Colômbia, Equador e Brasil), o que permite que o registro sanitário dos integrantes seja válido entre eles. A empresa também tem representação nos EUA. >>> DA NAÇÃO AO MERCOSUL
Em 2010 o avanço da Hebron poderá ganhar novos contornos geográficos. Josimar planeja investir na construção de seu segundo laboratório no país. As instalações deverão ser no Rio de Janeiro, mais precisamente em Macaé, onde o governo quer criar um parque industrial forte, com o objetivo de reduzir a dependência do petróleo. Os aportes devem ser de R$ 70 milhões, números bem modestos, se comparados aos investimentos das companhias farmacêuticas de grande porte. O projeto ainda está em andamento e deverá ser definido nas próximas semanas.
Além da nova fábrica, o grupo pretende avançar para a região Sul a partir do ano que vem. O planejamento estratégico é chegar ao fim de 2012 com receita superior a R$ 200 milhões e passar a investir pelo menos R$ 20 milhões anuais - cinco vezes mais que atualmente - no desenvolvimento de medicamentos. A empresa possui 115 produtos lançados, com destaque para clínica médica, pediatria e ginecologia. Este ano, a expectativa é fechar com faturamento de R$ 140 milhões. Se confirmadas as estimativas, será um crescimento de 30% sobre o ano passado (de R$ 108 milhões).
Josimar pode não estar à frente de um grande laboratório farmacêutico, no quesito produção e faturamento, mas é respeitado no setor, mesmo sem ainda ter "descoberto" o primeiro antibiótico biotecnológico brasileiro. Atualmente participa do conselho da Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais). Para bancar seus projetos, boa parte com recursos próprios, já teve de se desfazer de importantes marcas de seus medicamentos. Mas esse é um assunto tabu para Josimar.
O empresário diz que não deve aderir à atual tendência do mercado global das indústrias farmacêuticas, que está cada vez mais voltado para o segmento de genéricos. E não descarta, contudo, firmar parcerias com empresas para promover sua expansão dentro e fora do país.
Embora ainda não tenha planos de "pendurar as chuteiras", Josimar está preparando seus três filhos para assumir os negócios no futuro. O empresário não tem medo de ficar com a pecha de gerir uma companhia familiar. "Todos eles trabalham comigo. Um deles é responsável pela diretoria financeira, outro pela fábrica e minha filha pela área de marketing", diz. "Eles foram os únicos que estudaram para ser alguém na vida", brinca.
Neste ano, a Hebron passou a fazer parte do anuário da Fundação Bill e Melinda Gates, organização constituída por parte da fortuna de Bill Gates, principal acionista da Microsoft, e com pesados recursos do megainvestidor Warren Buffet. Essa entidade tem como objetivo a melhoria das condições de vida na área da saúde e a luta contra a pobreza. A fundação incluiu a Hebron em seu anuário sobre os laboratórios que fazem pesquisas sobre doenças negligenciadas. "Fomos incluídos no anuário, mas não recebemos recursos. Isso é um reconhecimento pelo nosso esforço em pesquisas para combater a leishmaniose."
Nos últimos dois anos, a Hebron se comprometeu com o Ministério da Saúde em pesquisar algumas das doenças "esquecidas". O foco do laboratório está na leishmaniose, uma das sete epidemias reconhecidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Cerca de dois milhões de pessoas são afetadas por essa doença, todo ano, no mundo. O Brasil está entre os cinco países com maior número de casos dessa epidemia transmitida pela picada do mosquito flebótomo, conhecido popularmente por mosquito prego ou birigui.
Josimar lembra que até hoje o medicamento usado para combater a doença tem quase 70 anos. O empresário argumenta que esse produto é injetável, tóxico e prejudica coração, rins, fígado e é prescrito somente após muitas considerações.
A Hebron tem pesquisado duas substâncias. Uma, semissintética, testada nos Estados Unidos, e outra de origem biológica, desenvolvida nos laboratórios da Hebron - a pesquisa, em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie, está agora em fase adiantada com acompanhamento junto a pacientes em um hospital de referência no tratamento da epidemia no Nordeste. Ambas as substâncias foram testadas com sucesso em animais e, agora, são transportadas para testes em humanos. A expectativa da Hebron é doar 24 meses de tratamento a todos os casos brasileiros.
A Hebron tem mantido o Ministério da Saúde informado do andamento das pesquisas, diz Josimar. E o fato de integrar uma rede internacional envolvendo a OMS e a Fundação Bill e Melinda Gates é motivo de orgulho para o empresário, que desde pequeno foi acostumado a vender produtos. Não tem vergonha de sua origem humilde e de ter acompanhado seu pai desde cedo na tradicional feira de Caruaru. Entre um telefonema e outro, fala de negócios, mas mantém seu bom humor. "Eu vou como Deus manda."

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