segunda-feira, 26 de julho de 2010

VALOR DAS LAVOURAS NO PIB RURAL QUADRUPLICA

Em dez anos, renda bruta da agricultura passa de R$ 23,3 bilhões para R$ 108,1 bilhões, mostra análise da FGV 

A participação da agricultura
no valor bruto da produção do campo, incluindo silvicultura, saltou de 45,4% para 75,1% em dez anos. Ao analisar os dois últimos censos da agropecuária brasileira - 1996 e 2006 -, economistas da Fundação Getúlio Vargas concluíram que, em termos absolutos, o valor nominal das lavouras mais do que quadruplicou no período: era de R$ 23,3 bilhões em 1996 e passou para R$ 108,1 bilhões em 2006. Destaque para o milho que, em dez anos, perdeu 5,9% da área plantada, mas teve 65% de aumento na produção. A pecuária, porém, teve aumento relativo bem menor na década: de R$ 18,3 bilhões para R$ 28,8 bilhões. E a participação do setor na produção rural caiu de 35,6% para 20% no mesmo período. (Págs. 1 e Economia B1)

Mecanização. Durante a década,
a venda de máquinas agrícolas cresceu a um ritmo anual de 8,7%



LAVOURA TOMA ESPAÇO DA PECUÁRIA
Autor(es): Fernando Dantas
O Estado de S. Paulo - 26/07/2010
A participação da agricultura no valor bruto da produção do campo, incluindo silvicultura, saltou de 45,4% para 75,1% em dez anos. Ao analisar os dois últimos censos da agropecuária brasileira - 1996 e 2006 -, economistas da Fundação Getúlio Vargas concluíram que, em termos absolutos, o valor nominal das lavouras mais do que quadruplicou no período: era de R$ 23,3 bilhões em 1996 e passou para R$ 108,1 bilhões em 2006. Destaque para o milho que, em dez anoS, perdeu 5,9% da área plantada, mas teve 65% de aumento na produção. A pecuária, porém, teve aumento relativo bem menor na década: de R$ 18,3 bilhões para R$ 28,8 bilhões. E a participação do setor na produção rural caiu de 35,6% para 20% no mesmo período.
Participação da agricultura na riqueza do campo aumentou de 45% para 75% entre 1996 e 2006; a da pecuária caiu de 35% para 20%
A participação da lavoura na riqueza do campo no Brasil deu um grande salto entre 1996 e 2006, saindo de 45,4% para 75,1% do valor bruto da produção rural. O dado inclui a silvicultura. Já a participação da pecuária recuou de 35,6% para 20% no mesmo período.
Em termos absolutos, o valor nominal da lavoura mais do que quadruplicou em dez anos, saindo de R$ 23,3 bilhões em 1996 para R$ 108,1 bilhões em 2006. A pecuária, por sua vez, teve um aumento bem menor no período, de R$ 18,3 bilhões para R$ 28,8 bilhões.
Esses números fazem parte de análise dos economistas Mauro de Resende Lopes, Ignez Vidigal Lopes e Daniela de Paula Rocha, do Centro de Economia Agrícola (CEA)da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base em dois estudos por eles realizados em cima dos Censos Agropecuários de 1995/1996 e de 2006."O que deu uma força muito grande para a produtividade na lavoura foi a combinação dos avanços da tecnologia biológica e mecânica", diz Mauro Lopes.
Entre 1996 e 2006, a área plantada total de grãos no Brasil teve um aumento de 24,2%, de 38,5 milhões para 47,9 milhões de hectares, enquanto a produção cresceu 95,9%, de 73,6 milhões para 144,1 milhões de hectares. Esse aumento de produtividade fica muito claro em algumas culturas, como a do milho, na qual houve um recuo de 5,9% na área plantada entre as safras 1995/1996 e a estimativa para 2009/2010, mas com um aumento de 65% na produção de 32,4 milhões para 53,5 milhões de toneladas.
Lopes cita diversos avanços na agricultura brasileira nas últimas décadas, que impactaram produtos como soja, algodão, arroz, feijão e cana-de-açúcar.
Já no caso da pecuária, Lopes observa que, "apesar de grandes avanços na genética e no manejo, a taxa de abate, ligada à produtividade, quase não aumentou". A taxa de abate mede a relação entre os animais abatidos e o total do rebanho. Segundo tabela elaborada pelo Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a taxa de abate brasileira foi de 20,25% em 1996, e de 20,56% em 2006, permanecendo quase inalterada.
O pesquisador destaca que está havendo um aumento muito expressivo no confinamento dos bois, o que reduz a idade média dos animais abatidos e aumenta a produtividade. Ele nota, porém, que os bois confinados ainda correspondem a menos de 10% das cerca de 40 milhões de cabeças que são abatidas anualmente no Brasil. "Não dá um impacto muito grande na taxa de abate", diz Lopes.
O Centro de Economia Agrícola produziu, para a CNA, duas versões do estudo Quem Produz o Que no Campo: Quanto e Onde, com base nos microdados do Censo Agropecuário.
O primeiro, realizado em 2004, foi baseado no Censo de 1995/1996. O segundo, divulgado este ano, é baseado no Censo de 2006.


O que houve de novo com o Brasil

Autor(es): Kátia Abreu
O Estado de S. Paulo - 26/07/2010
O Brasil orgulha-se hoje de ser uma economia estável e forte, que consegue crescer de modo sustentável a taxas elevadas e ao mesmo tempo distribuir renda, incorporando largos contingentes de população ao mercado de consumo e a padrões mais civilizados de bem-estar material. Olhando para trás, para tantas décadas de instabilidade, de surtos breves e logo frustrados de crescimento, temos de reconhecer que vivemos uma grande transformação.


O que tornou possível essa transformação? Tivemos vários momentos de crescimento, que não duravam muito. Após poucos anos, o crescimento provocava inflação, pois a oferta interna, especialmente de alimentos, não era capaz de acompanhar o aumento da demanda induzida pelo crescimento da renda. Mais grave era o outro problema, o cambial.


Diante da inflação sem controle e do desequilíbrio cambial, a única política possível era conter o processo de crescimento, para aliviar as pressões sobre os preços e sobre o déficit externo. Assim, voltávamos à estagnação econômica, embora a população continuasse crescendo e a imensa maioria vivesse na pobreza.


Para crescer sem interrupções seria necessário superar o limite de nossa capacidade para importar. Financiar indefinidamente o déficit cambial com financiamento externo não seria sustentável. Por termos tentado este caminho, incorremos em várias crises de endividamento e chegamos à moratória. Era preciso encontrar um meio realista de elevar a receita cambial.


Como sabemos hoje, no Brasil só a agricultura e a pecuária podiam realizar essa tarefa. Mas ninguém pensava nisso seriamente. Afinal, a produção rural brasileira crescia pouco e não éramos, de fato, até 1970, sequer capazes de atender ao abastecimento interno. Além do mais, a sabedoria convencional de então ditava que o desenvolvimento econômico significava o aumento da produção industrial e o encolhimento relativo da produção rural.


Apesar disso, a partir dos anos 70, teve início uma silenciosa revolução no campo brasileiro. Novas gerações de produtores rurais começaram a emergir, muitos deles abrindo novas fronteiras agrícolas ou transformando os modos de produzir nas fronteiras já estabelecidas. Esses novos agricultores romperam com as formas tradicionais de produção, apropriaram-se do conhecimento acumulado nas universidades rurais e na nova Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e trouxeram para a produção rural a disposição de assumir riscos e a compulsão do crescimento.


A ação destes novos empreendedores transformou em pouco tempo a produção rural brasileira, tornando-a em poucas décadas a segunda maior do mundo em escala e diversidade de produção e a primeira e única grande agricultura em área tropical.


Os números dessa revolução são impressionantes. Em 1965, antes do início desse processo, a produção brasileira de grãos era de 20 milhões de toneladas, para uma população de 80 milhões de habitantes, portanto, uma produção de 250 kg de grãos por habitante. Em 2008 a produção de grãos chegou a 144 milhões de toneladas, para uma população de 190 milhões de habitantes, o que representa uma produção per capita de 758 kg. A produção total cresceu 7 vezes, mas a área de plantio, que era de 21 milhões de hectares em 1965, passou para apenas 48 milhões de hectares em 2008, apenas 2,5 vezes mais. A produção de carnes, em 1965, era de 2,1 milhões de toneladas, o equivalente a 25 kg por habitante por ano. Em 2006 a produção alcançou 20 milhões de toneladas, o equivalente a algo como 100 kg por habitante/ano. A produção total aumentou dez vezes, mas as áreas de pastagens cresceram apenas 15%.


Esses gigantescos aumentos de produção e de produtividade mudaram a história da economia brasileira. Essa agricultura altamente produtiva e de grande escala conquistou os mercados externos e passou a gerar grandes superávits no balanço de pagamentos, dada a sua pequena dependência de importações. Entre 1994 e 2009, o agronegócio acumulou um saldo comercial com o exterior de US$ 453 bilhões. No mesmo período, o saldo comercial total do Brasil foi de US$ 255 bilhões. Significa que, sem a contribuição das exportações do agronegócio, o Brasil teria incorrido num déficit comercial de US$ 198 bilhões, praticamente o valor das reservas cambiais do País no final do ano passado. Não fora a contribuição do agronegócio, o País estaria vivendo gravíssima crise cambial e a história do nosso crescimento recente teria sido muito diferente.


Outro efeito dessa revolução no campo foi a persistente queda no custo da alimentação no mercado interno. Os professores José Roberto Mendonça de Barros e Juarez Rizzieri mostraram, em pesquisa, que o custo no varejo de uma ampla cesta de alimentos na cidade de São Paulo caiu pouco mais de 5% ao ano, em termos reais, entre 1975 e 2005. Uma queda dessa dimensão só foi possível pelos aumentos impressionantes da produção e da produtividade no campo. E, em decorrência, as classes de renda média e baixa não apenas puderam consumir mais e melhores alimentos, como elevaram seu poder de compra de produtos industriais. Assim, o efeito da queda dos preços agrícolas é mais importante que as transferências de renda para explicar a melhoria do padrão de vida das populações mais pobres.


O Brasil que se desenvolve hoje e se projeta no mundo como uma economia dinâmica e moderna é um País construído a partir da agricultura e da pecuária. E continuará sendo, no futuro, sem estar por isso condenado ao atraso e à pobreza, como vaticinavam no passado. Mas para isso é necessário que o Brasil valorize o agricultor e o pecuarista, que foram os agentes dessas transformações, dando-lhes o realce merecido e poupando-os dos preconceitos que sobrevivem às evidências da realidade.

SENADORA DA REPÚBLICA (DEM-TO), É PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA)

Avanços tecnológicos dão impulso às lavouras no País

O Estado de S. Paulo - 26/07/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/26/avancos-tecnologicos-dao-impulso-as-lavouras-no-pais

Um dos principais avanços, ele observa, foi a chamada "soja tropical" da Embrapa, que permitiu que o seu cultivo se espraiasse a partir do norte do Paraná, chegando ao cerrado do Centro-Oeste e Amazônia




 Uma série de avanços técnicos, abrangendo os principais produtos agrícolas brasileiros, contribuiu para que as lavouras quadruplicassem o valor nominal da sua produção de 1996 a 2006, e aumentassem a sua participação na riqueza do campo. Além disso, houve um grande aumento dos preços das principais commodities agrícolas na última década, puxado pela demanda chinesa e asiática.


Mauro Lopes, pesquisador do Centro de Economia Agrícola (CEA) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, nota que a venda de máquinas agrícolas cresceu a um ritmo anual de 8,7% durante dez anos, enquanto a área cultivada expandiu-se a uma taxa de 1,2% ao ano. Essa mecanização intensa combinou-se com diversos avanços biológicos para, na visão dele, criar "uma das agricultura mais competitivas do mundo".


Um dos principais avanços, ele observa, foi a chamada "soja tropical" da Embrapa, que permitiu que o seu cultivo se espraiasse a partir do norte do Paraná, chegando ao cerrado do Centro-Oeste e hoje já atingindo a Bahia, o Maranhão, Piauí e as bordas da Amazônia. O pesquisador nota ainda que a variante transgênica, ao trazer redução de custo de defensivos agrícolas, "salvou a soja no Rio Grande do Sul".


Outra conquista da Embrapa foi a adaptação do algodão ao cerrado. Com isso, como explica Ignez Vidigal Lopes, esposa de Mauro Lopes, e também pesquisadora do CEA, "o algodão mudou de fronteira, saindo do Sul e indo para o Centro-Oeste".


Os pesquisadores citam também, como desenvolvimentos importantes da agricultura brasileira, a "safrinha", a segunda safra anual de milho, plantada em fevereiro, e que hoje já é maior que a safra de verão em Mato Grosso; o arrozlongo-fino irrigado do Rio Grande do Sul, que permitiu se passar de 5 mil para 8 mil quilos por hectare, e o pré-germinado, que chega a dez mil quilos por hectare; o milho saracura de raiz profunda, mais resistente à seca; o aumento de produtividade da cana, que saiu de 85 para 140 toneladas por hectare em São Paulo; e o feijão irrigado com pivô central; entre outros.


Agricultura familiar


O trabalho "Quem Produz o Que no Campo: Quanto e Onde II", que teve como principais pesquisadores Ignez, Mauro e Daniela de Paula Rocha, do CEA, [/TEXTO]e foi divulgado este ano, mostra ainda que a agricultura familiar perdeu participação nos principais produtos agrícolas.


A pesquisa, com base no Censo Agropecuário de 2006, mostra que 3,3 milhões de propriedades rurais no Brasil podem ser consideradas de agricultura familiar, como base nos critérios de enquadramento no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Os estabelecimentos não enquadráveis são 1,6 milhão, perfazendo um total de 4,9 milhões de propriedades rurais no Brasil.


As propriedades enquadráveis no Pronaf são responsáveis por 19,5% da produção rural, e as não enquadráveis, por 80,1%. 


A participação da agricultura familiar (enquadrável) na produção, entre os Censos Agropecuários de 1995/1996, caiu de 22,5% para 20% em grãos; de 42,2% para 36,1% na horticultura; de 73,2% para 48,7% na mandioca; de 23,7% para 19,5% na batata; de 19,8% para 0,5% no algodão; de 14,4% para 8% na laranja; e de 86,3% para 74% no fumo. 


A participação aumentou no período de 4,3% para 4,5% na cana; e de 4,8% para 8,5% na silvicultura.


Os desembolsos do Pronaf quadruplicaram entre as safras 2002-2003 e 2009-2010.

Relatório disponível em
http://www.faerj.com.br/downloads/QuemProduzoQuenoCampo_2010.pdf


Excertos:

Quem é o maior responsável pelo Valor Bruto da
Produção nacional?

Se os estabelecimentos enquadráveis [nos PRONAF's] são dominantes em termos do contingente, o mesmo não se verifica em termos de sua contribuição
para Valor Bruto da Produção. De um valor total de R$ 143,8 bilhões, que inclui tudo o que foi produzido nos estabelecimentos (lavouras, pecuária,
indústria rural e atividades extrativistas), apenas 22,9% foram gerados pelos enquadráveis. A maior parcela (76,3%) é de responsabilidade
dos não enquadráveis, cuja contribuição representa pouco mais de três vezes a dos enquadráveis.


Com relação aos grandes agregados, os não enquadráveis foram responsáveis por 80,1% do Valor Bruto da Produção das lavouras/silvicultura e
por 65,8% do valor da pecuária. Em relação à pesquisa anterior, elevaram moderadamente sua posição relativa na atividade de lavouras e silvicultura
(era de 77,9%), mas perderam posição na atividade pecuária (81,6% para 65,8,1%).


Contribuição de cada grupo, subgrupo e estrato no Valor Bruto da Produção
Em relação aos não enquadráveis, destaca-se a contribuição dos médios e grandes estabelecimentos (com mais de quatro módulos), que representam 6,5% dos estabelecimentos do País. Foram responsáveis por 65% dos R$ 109,76 bilhões gerados pelos não enquadráveis e por 49,6% dos R$ 143,8 (total Brasil). Os médios, que representam apenas 4,6% do total
de estabelecimentos, contribuem com 15,7% para o Valor da Produção agropecuária nacional.
Os pequenos estabelecimentos (com até quatro módulos), pertencentes aos não enquadráveis, excluídos da agricultura familiar por não atenderem
simultaneamente aos critérios previstos nas Resoluções do Pronaf, tiveram uma participação significativa na contribuição dos não enquadráveis,
gerando 26,7% do Valor Bruto da Produção total Brasil. Esse grupo representa 24,4% do número total de estabelecimentos. Essa contribuição
superou em valor a contribuição dos enquadráveis.

Entre os enquadráveis na agricultura familiar, o subgrupo AF, que representa 9,9% do total de estabelecimentos, foi o que agregou mais valor
(R$ 21,2 bilhões) para os R$ 32,9 bilhões do Valor Bruto da Produção dos estabelecimentos enquadráveis. O que é justificável, uma vez que
o limite de enquadramento desse grupo está no intervalo de renda de R$ 6.000,00 até R$ 110.000,00. Já o subgrupo B, o mais numeroso
(2.435.080 estabelecimentos), somou apenas R$ 9,5 bilhões ao valor bruto total geral pelos enquadráveis.
Ao se considerar o Valor Bruto da Produção por estabelecimento, os valores medianos da renda gerada pelos diversos grupos de agricultores
familiares deixam claro que esses grupos derivam sua importância do enorme contingente de produtores que abrangem e menos pela renda
que geram.
No caso do subgrupo B, o mais numeroso, deve-se ressaltar que a metade dos estabelecimentos (cerca de 1.077.436) gerava renda de até
R$ 1.325,00 por ano, em valores de dezembro de 2006, muito inferior a meio salário mínimo por mês, considerando-se o salário mínimo da
época (R$ 350,00). Os valores da produção agropecuária sugerem um quadro de imensa pobreza, sobretudo se considerada a renda per capita
(Tabela A.8 do Anexo).
A visão do conjunto de estabelecimentos da agricultura familiar não muda muito de figura. A metade dos estabelecimentos que informaram
renda agropecuária (1.497.019) gerava renda bruta agropecuária anual de até R$ 2.185,00 e a renda média alcançou R$ 10.978, em valores de
dezembro de 2006.
A renda mediana do conjunto de agricultores não enquadráveis na agricultura familiar sugere que a metade deles (801.214 estabelecimentos5) geram valor
bruto anual de até R$ 3.050,00. A renda média, de R$ 69.242,00, é compatível com uma contribuição mais robusta para a produção agropecuária. Esses
resultados sugerem que esse grupo é bastante heterogêneo.

Contribuições dos estabelecimentos enquadráveis e não enquadráveis nos valores brutos desagregados da
produção
A considerável contribuição para o Valor Bruto da Produção das lavouras dos estabelecimentos não enquadráveis pode ser atribuída à sua elevada
participação no valor da produção do algodão (99,5%), cana-de-açúcar (95,4%), laranja (92,0%), fruticultura (84,4%), batata (80,1%), grãos (79,2%),
café (77,5%) e horticultura (61,9%). Deste conjunto de produtos, os pequenos estabelecimentos não enquadráveis lideram nas participações percentuais da
fruticultura (59,9%), horticultura (48,7%), mandioca (42,2%) e café (35,4%).


As maiores contribuições em algodão (95,2%), cana-de-açúcar (75,6%), silvicultura (51,2%), grãos (46,0%), batata (41,5%) e laranja (34,3%) são provenientes dos
grandes estabelecimentos. Deve-se enfatizar que não são insignificantes as contribuições dos médios estabelecimentos em laranja (26,4%), café (25,3%), batata
(22,0%) e grãos (19,1%) e dos pequenos em laranja (31,4%) e silvicultura (27,0%).


Os enquadráveis foram os que mais contribuíram para os valores brutos da produção de fumo (74%), feijão fradinho (61,3%) e feijão preto (55,8%).
O valor da produção destes produtos corresponde a apenas 3% do valor da produção agropecuária nacional. O valor da produção de mandioca foi praticamente
o mesmo para os estabelecimentos enquadráveis e não enquadráveis.

Para os produtos da pecuária, predomina também a contribuição do grupo dos não enquadráveis, com participações percentuais de ovos (89,8%,), aves (73,9%),
suínos (63,7%) e bovinos e bubalinos (61,3%). Para o Valor Bruto da Produção de leite, as participações dos não enquadráveis também foram maiores (52,5%),
mas bastante próximas às dos enquadráveis. Para todos os produtos da pecuária, as maiores contribuições são dos pequenos estabelecimentos, seguidos pelos
médios estabelecimentos em leite, suínos, aves e ovos; e dos grandes em bovinos e bubalinos.

Detalhamento por macrorregião.
Comparativo.
A análise das regiões brasileiras, mostra que a maior parcela do valor da produção agropecuária (33,3%) é proveniente da região Sudeste, composta

por 17,8% do total de estabelecimentos, seguida de perto pela região Sul, responsável por 28,8% do Valor Bruto da Produção. No extremo
oposto, aparece a região Norte, com uma contribuição de apenas 4,3% na geração da renda bruta nacional (Tabela 1).

Chama a atenção a região Nordeste que, apesar de possuir o maior contingente de estabelecimentos (47,4%), participa com apenas 19,8%
no Valor Bruto da Produção. Como já destacado na análise desta região, elevado número desses estabelecimentos são minifúndios1 (82,9% do
total regional). Na verdade, parcela dos produtores reside no meio rural e sobrevive de renda proveniente dos programas governamentais, aposentadoria,
trabalho fora e doações.
1 Os minifúndios contribuem com cerca de 53% para a geração de renda regional do NE.



Quem é o maior responsável pelo Valor Bruto
da Produção?
Diferenças regionais
Na análise do valor da produção agropecuária, constata-se que os não enquadráveis são os que mais contribuem, com percentuais de 91,1% na região
Centro-Oeste, de 85,8% na Sudeste, de 72,4% na Nordeste e de 64,4% na Sul. Apenas na região Norte o percentual é mais baixo, da ordem
de 53%2. Em todas as regiões, os não enquadráveis concentram menor número de estabelecimentos quando comparados aos enquadráveis.
2 Na pesquisa feita a partir do Censo 1995/96, os enquadráveis desta região eram os que mais se destacavam na geração de renda bruta.



Em relação às contribuições dos subgrupos e dos estratos, as maiores, em termos regionais, são provenientes dos grandes estabelecimentos no
Centro-Oeste (65,3%) e no Sudeste (38,9%); e dos pequenos estabelecimentos não enquadráveis nas regiões Nordeste (37,7%), Norte (29%) e
Sul (26,4%). Vale mencionar que a contribuição do subgrupo AF (26,1%) desta última região é bem próxima à dos pequenos não enquadráveis.
As participações percentuais dos grandes estabelecimentos nas regiões Nordeste (23,7%) e Sul (22,8%), assim como dos médios estabelecimentos
nas regiões Sudeste (19,8%), Centro-Oeste (16,1%) e Sul (15,1%), também não são desprezíveis. Considerando-se que os médios representam
apenas 4,6% do total Brasil e 15,0% do total de estabelecimentos não enquadráveis, estes produtores (entre 4 e 15 módulos) possuem uma
produção considerável quando comparada ao total de estabelecimentos que representam: são poucos e produzem muito.


Quanto à contribuição de cada estabelecimento para o valor da renda bruta, é possível visualizar, por meio dos valores medianos, diferenças
consideráveis entre os grupos, subgrupos e estratos de módulos ficais em uma mesma região e entre regiões. A título de exemplo, entre os
enquadráveis no Pronaf, a região Sul é a que possui a maior renda mediana (R$ 9.450,00) e a região Nordeste a menor (R$ 950,00),
indicando que a primeira é 9,9 vezes a segunda. No caso dos não enquadráveis, a renda da região Sul é 7,2 vezes a da região Nordeste.
Comparando-se as rendas medianas das outras regiões com a do Sul, as diferenças são menores.


Além das diferenças enfatizadas, há também aquelas referentes aos estratos de módulos fiscais. Na região Centro-Oeste, estabelecimentos entre dois a
quatro módulos possuem valor mediano de R$ 9.147,00; já na região Norte, a renda mediana dos estabelecimentos com mais de 60 módulos é de
R$ 9.375,00. Essas comparações induzem a afirmar que a capacidade de gerar receita está pouco associada ao tamanho do estabelecimento e muito
relacionada ao perfil de cada região, mesmo quando o tamanho é expresso em termos de módulos fiscais, que buscam introduzir elementos de padronização
em um território caracterizado por grande diversidade dos padrões de exploração, além dos aspectos físicos, agronômicos e sócio-econômicos.


Qual o comportamento na combinação das
explorações?
Para melhor entender a relevância da combinação das explorações na geração da renda bruta dos estabelecimentos rurais, foram selecionadas
as atividades que perfazem no mínimo 20% da renda regional nos subgrupos do Pronaf (A, B e AF) e nos estratos dos pequenos3 (até 4 módulos),
médios (superior a 4 e até 15 módulos) e grandes estabelecimentos (superior a 15 módulos) não enquadráveis no Pronaf. As atividades
foram classificadas em ordem decrescente de importância no valor bruto regional.
Para avaliar a importância da participação dos subgrupos em nível nacional, observa-se também a relevância em relação à receita bruta do total
Brasil, verificando quanto cada grupo gera de receita em relação ao Valor Bruto da Produção de cada atividade agropecuária no total do Brasil.

Os resultados indicam que:
• Os subgrupos do Pronaf, especialmente o B e AF, apresentam relevância nas regiões Norte, Nordeste e Sul.
• O subgrupo A só é relevante no valor da produção da mandioca na região Centro-Oeste. Apesar dessa participação ser de 25,2% no valor da
produção regional, em termos de contribuição para o valor nacional, a contribuição deste grupo é de apenas 1,0%.
• O subgrupo B é relevante nos valores da produção de leite e suínos nas regiões Nordeste e Norte; no valor de bovinos e bubalinos
no Nordeste; no valor de café no Norte; e no valor da produção da mandioca na região Sul. Cabe mencionar que as participações
percentuais estão no intervalo entre 21,5% e 29,0%. Apesar do subgrupo B ser o mais numeroso (47,1% do total de estabelecimentos
agropecuários), em relação à produção brasileira, as participações são  relativamente inexpressivas e todas abaixo de 5,4% (que é a do valor

da produção de bovinos e bubalinos).
• O subgrupo AF, que possui um pouco mais da metade dos estabelecimentos localizados na região Sul (52,1%), é responsável nesta região
por parcelas consideráveis dos valores da produção de fumo, leite, horticultura, bovinos/bubalinos, suínos, café, batata, algodão, fruticultura,
aves e mandioca; na região Nordeste, este subgrupo se destacou nos valores da produção regional de horticultura, mandioca e grãos;
na Norte, foram relevantes café, batata, horticultura, mandioca, fruticultura e leite; e na Sudeste, a horticultura. Em relação à produção
nacional, a única atividade em que o grupo AF tem participação maior que 20% é o fumo produzido no Sul. É relevante enfatizar que
as participações percentuais deste subgrupo na produção de suínos, leite e aves na região Sul, e horticultura na região Sudeste, são maiores que 10% no
valor da produção nacional destas atividades.
• Os pequenos não enquadráveis, de até quatro módulos, são relevantes em termos de geração do valor bruto total4 horticultura, fruticultura,
mandioca, ovos, aves e suínos, em todas as regiões. No valor da produção de bovinos/bubalinos e silvicultura, os destaques ficam
para praticamente todas as regiões, com exceção apenas do Centro- Oeste. O leite é importante nas regiões Nordeste, Norte e Sudeste;
enquanto o café se destaca nas regiões Norte, Sul e Sudeste. No que diz respeito às contribuições ao Valor Bruto da Produção brasileira,
as atividades que tiveram participações de mais de 10% proveniente dos pequenos foram a mandioca nas regiões Nordeste e Sul; ovos e
aves nas regiões Sul e Sudeste; fruticultura nas regiões Nordeste e Sudeste;silvicultura, fumo e suínos na região Sul; e leite, café, horticultura,
batata e laranja na região Sudeste.
• Os médios não enquadráveis, de 4 a 15 módulos, são relevantes nas participações dos valores brutos da produção regional das seguintes
explorações: grãos nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste; ovos nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste; silvicultura na região Centro-Oeste;
leite nas regiões Centro-Oeste e Sudeste; batata nas regiões Sul e Sudeste; algodão na região Sul; e suínos, café , fruticultura, laranja
e mandioca na região Sudeste. Em relação à participação na geração da receita brasileira, os médios estabelecimentos têm mais de 10%
de participação (inclusive) em grãos na região Sul e em laranja, café, batata e leite na Sudeste.
• Os grandes estabelecimentos, com mais de 15 módulos, têm importância relativa na geração do Valor Bruto da Produção das seguintes
atividades: grãos e cana-de-açúcar, em todas as regiões; silvicultura em todas as regiões, com exceção da região Nordeste; batata nas
regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste; algodão nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste; ovos nas regiões Nordeste e
Centro-Oeste; bovinos e bubalinos nas regiões Centro-Oeste e Norte; suínos nas regiões Centro-Oeste e Sudeste; e aves na região Sudeste.

Em termos nacionais, as atividades que tiveram participações dos grandes estabelecimentos maiores que 10% foram: grãos nas regiões
Centro-Oeste e Sul; cana-de-açúcar na Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste; batata na Nordeste, Sul e Sudeste; algodão na Nordeste e
Centro-Oeste; e silvicultura na Sul e Sudeste.


3 Inclui os minifúndios (até 1 módulo).
4 As participações da laranja no Sudeste e do fumo no Sul, produtos que foram desagregados
apenas nestas regiões, são relevantes.


Diferenças regionais entre as áreas medianas

Por meio das comparações das áreas medianas5 entre regiões e grupos dos estabelecimentos enquadráveis e não enquadráveis, constata-se, no
grupo dos enquadráveis no Pronaf, que o menor valor da mediana é observado na região Nordeste. Significa que metade dos estabelecimentos
desse grupo possuem área menor que três hectares. Os maiores valores são encontrados na região Centro-Oeste (25 ha) e na Norte (24,2 ha).
Na Sudeste e na Sul, as áreas medianas são menores, sendo de 8,5 e 11 hectares, respectivamente.
O Nordeste apresenta um perfil distinto ao observado nas outras regiões, por apresentar elevada quantidade de estabelecimentos com menos de
três hectares (valor mediano regional), que é uma área inferior ao menor módulo fiscal (cinco hectares). Na verdade, 82,9% do total regional de estabelecimentos
são minifúndios, o que gera distorções nas comparações.
A receita bruta também é bem menor quando comparada às das outras regiões. Salienta-se que o fraco potencial agrícola da região, decorrente
da pobreza dos solos, escassez de recursos hídricos e vulnerabilidade à seca agravam a situação regional. Apesar da prática da agricultura em
regiões semi-áridas ser viável, são necessários investimentos elevados na correção dos solos e em irrigação, como observado nas experiências de
outras regiões do País
A não inclusão do Nordeste nas comparações, eleva a mediana da área total dos estabelecimentos enquadráveis no Pronaf para valores entre
8,5 e 25 hectares. Ressalta-se que não eram esperados valores muito elevados de área, uma vez que o critério de enquadramento no programa
limita a área dos estabelecimentos em até quatro módulos fiscais.
Em relação aos não enquadráveis, por não estarem sujeitos a qualquer limite, as diferenças nos valores medianos entre as regiões são

maiores, sendo de 7,6 hectares no Nordeste, 22 hectares no Sul, 26,6 hectares no Sudeste, 96,8 hectares no Norte e 165,00 hectares no
Centro-Oeste.
A subdivisão dos não-enquadráveis em seis estratos, de acordo com o módulo fiscal, indica padrões interessantes entre as regiões. Por exemplo, no
estrato de até um módulo, a região Nordeste tem o menor valor mediano da área (4 ha), seguida pelo Sul (7,3 ha) e Sudeste (8,0 ha), com valores
medianos bastante próximos. Por último, aparecem Centro-Oeste (15 ha) e Norte (18,8 ha). Mudanças mais significativas são observadas a partir
de 2 a 4 módulos, onde o perfil da região Nordeste tende seguir o padrão de área das regiões Norte e Centro-Oeste, nas quais os valores medianos
são mais elevados, contrapondo-se a valores medianos bem menores nas regiões Sul e Sudeste









SUL
A região Sul possui o segundo maior contingente de estabelecimentos agropecuários brasileiros, abrangendo mais de um milhão de unidades ou
19,4% do total, abaixo apenas do Nordeste. A região contribui com R$ 41,5 bilhões ou 28,8% para a geração do produto bruto1 da agropecuária
nacional, ocupando 12,6% da área agropecuária total do País, conforme apurado pelo Censo Agropecuário em 2006. (Tabela 1)
A região se destaca principalmente na produção pecuária, com um valor de R$ 10,5 bilhões, que representa mais de um terço (36,5%) do valor
bruto da produção brasileira desse segmento, sendo também importante no segmento de lavouras/silvicultura, contribuindo com R$ 29,8 bilhões
ou 27,6% do valor bruto da produção nacional. Predomina na região uma estrutura de pequenos estabelecimentos.
O valor da mediana da área indica que a metade dos que informaram área (Tabela A.7 do Anexo), ou quase meio milhão de estabelecimentos
possuem menos de 12 hectares.

1 O valor bruto equivale à renda total gerada pela produção agropecuária do estabelecimento e representa a soma de todos os produtos da lavoura, da pecuária, da silvicultura,
de outros produtos e da indústria rural (que inclui a produção de fubá, farinha de mandioca, rapadura e doces artesanais entre outros).



Em relação aos subgrupos, o Pronaf AF tem uma participação importante nos produtos da pecuária, contribuindo com uma parcela mais que
proporcional ao seu peso relativo no total de estabelecimentos da região, seja na produção de leite, como na de bovinos e suínos. Do percentual
de 71,8% da produção de leite do grupo de enquadráveis, o AF contribuiu com 49,5%, ficando o subgrupo B com 19,4% e o subgrupo A dos assentados
com 3%. Os demais subgrupos do Pronaf são menos importantes. O subgrupo B contribui com 19% da produção de leite, 18,3% da produção de aves,
17,9% da produção de bovinos e bubalinos, 16,1% de suínos e 4,5% de ovos, apesar de representarem 39,5% dos estabelecimentos da região.
O subgrupo dos assentados é pouco representativo na região Sul e sua contribuição relativa é menor ainda.
Quanto aos estratos dos não enquadráveis, os maiores destaques na produção pecuária são os pequenos e médios produtores. Os pequenos
(com até quatro módulos) representam 20,0% dos estabelecimentos da região e contribuem com 56,4% do valor da produção de ovos, 44,9% de
aves, 38,2% de suínos, 27,4% de bovinos e bubalinos e 12,9% do valor da produção de leite.

Comentários Finais
As evidências colhidas na análise indicam que a participação relativa dos não enquadráveis no Pronaf avançou na região Sul nos seguintes
produtos do segmento de lavouras e silvicultura: grãos, horticultura, cana de açúcar, mandioca, batata, e fumo. Manteve-se estável na batata, algodão,
e silvicultura. Os avanços mais expressivos foram na horticultura, na mandioca e no fumo.
Na pecuária, o grupo dos enquadráveis no Pronaf melhorou significativamente sua posição relativa em praticamente todas as atividades da
pecuária: bovinocultura, suinocultura, avicultura e leiteira. Recuou sua posição na produção de ovos.
Esse resultado confirma a conclusão do estudo anterior de que cada sistema produtivo tem sua escala própria. A pecuária de pequenos animais
é pouco exigente em área e possui maior potencial de retorno, mesmo em unidades de até quatro módulos, além de ser uma atividade de risco
relativamente mais baixo.
A atividade de lavouras é, em geral, sujeita a maiores oscilações de preços e de margens, e tende a selecionar produtores melhor capitalizados
e com maior acesso aos mecanismos de redução de riscos próprios da atividade.
Em relação à pesquisa anterior com dados do Censo 1995/96, a participação dos não enquadráveis na produção das lavouras cresceu marginalmente,
de 65,7% para 69,4%. Ao mesmo tempo, sua participação no valor da pecuária caiu de forma acentuada, de 74.9% para 51,6%.
Esses resultados sugerem que as mudanças nos critérios de enquadramento no Pronaf foram eficazes no sentido de agregar ao programa
um grupo maior de produtores, basicamente favorecendo os pequenos estabelecimentos dedicados à atividade pecuária. Ainda assim, dos
906.274 estabelecimentos (90,1% do total regional) que possuem até quatro módulos fiscais, 201.095 foram incluídos no rol dos não
enquadráveis na região.
As mudanças de critério não tiveram efeito de aumentar a participação de enquadráveis nas atividades de lavouras.

SUDESTE

De acordo com o Censo de 2006, na região Sudeste estão localizados 922.049 estabelecimentos que contribuem com R$ 47,96 bilhões, um
pouco mais de um terço de todo o valor bruto gerado pela agropecuária brasileira1, embora ocupem apenas 16,4% da área total, conforme apurado
pelo Censo. (Tabela 1)
A região Sudeste se destaca tanto na produção de lavouras como na produção pecuária. É responsável por mais de um terço (34,5%) do valor
bruto da produção brasileira de lavouras, sendo também importante na produção pecuária, com 31,8% do valor bruto nacional.
Com relação à estrutura agrária, a área média dos estabelecimentos é de 60 ha e a área mediana de 12,5 ha, o que indica que 451.266 estabelecimentos
da região (50% dos estabelecimentos que informaram área) possuem tamanho muito pequeno, inferior a 12,5 ha. (Tabela A.7 do Anexo).

1 O valor bruto equivale à renda total gerada pela produção agropecuária do estabelecimento e representa a soma de todos os produtos da lavoura, da pecuária, da silvicultura,
de outros produtos e da indústria rural (que inclui a produção de fubá, farinha de mandioca, rapadura, doces artesanais entre outros).


O grupo dos não enquadráveis, que representa 49% dos estabelecimentos, tem uma participação dominante no segmento, sendo responsáveis por
80,1% do valor bruto dos produtos selecionados da pecuária na região Sudeste. Na bovinocultura, esse grupo se destaca tanto na pecuária de
corte, como na de leite, com percentuais de 71,6% e de 66% em relação ao valor bruto total das respectivas atividades nessa região. Respondem,
também, por quase 90% da produção de suínos, por 91,7% da produção de aves e 95% da produção de ovos.
Quanto aos estratos dos não enquadráveis, os pequenos (até quatro módulos) representam 31,1% do número de estabelecimentos da
região e predominam na pecuária, com percentual de quase 35% do valor bruto total, com maior destaque na produção de ovos (56,1%).
Os médios estabelecimentos representam 7,6% do total e geram 27,6% do Valor Bruto da Produção de suínos, 27,3% do leite, 22,9% de ovos,
19,5% de carne bovina e 14,2% do valor da produção regional de aves. Em todos esses segmentos, com exceção de aves (46,3% dos grandes),
sua participação é maior do que a dos grandes estabelecimentos na região Sudeste, apesar das contribuições dos grandes não serem
desprezíveis nos valores de suínos (24,4%), de bovinos e bubalinos (16,5%) e de ovos (15,9%).
Os produtores enquadráveis são mais numerosos (quase 57% dos estabelecimentos), mas sua participação no Valor Bruto da Produção pecuária é
pouco expressiva no Sudeste, atingindo 19,3% do total regional. Entre os produtos, os enquadráveis no Pronaf se destacam na produção de leite

(33,7%) e pecuária de corte (28,1%) em relação ao total regional.
Nos demais segmentos, sua participação é de menos de 11%.
Em relação aos subgrupos dos enquadráveis, apenas na atividade bovina de corte e na produção leiteira a participação dos subgrupos B e AF tem
alguma expressão. Apesar de numerosos, esses grupos não se destacam em geral na atividade pecuária no Sudeste.
O subgrupo dos assentados é pouco representativo na região Sudeste. Somam 32.770 estabelecimentos e sua contribuição relativa não atinge
mais que 2% do valor de cada uma das atividades da pecuária.
Comentários finais
Praticamente não mudou o quadro da participação relativa dos dois grupos no valor total da produção regional: enquadráveis com 13,8% do valor
total da produção agropecuária regional e não enquadráveis com 85,8%.
A principal modificação observada na comparação das duas pesquisas está no número de enquadráveis que aumentou na região Sudeste.
Cresceu de 427.261 para 524.944, passando de 50,8 para 56,9% do contingente total de estabelecimentos, de acordo com o Censo de 2006.
O crescimento foi da ordem de 22,9%.
Apesar do acréscimo, sua participação relativa no valor bruto da agropecuária regional não mudou, permanecendo muito baixa (13,8%). Esse
resultado pode ser creditado às mudanças operadas nos critérios de enquadramento no Pronaf, que teria ampliado o número de estabelecimentos
até quatro módulos que atendem simultaneamente aos requisitos do público do Pronaf. O contingente é elevado, mas produz muito pouco
por estabelecimento e é baixo o seu peso na contribuição para o valor da produção agropecuária do Sudeste.
Ainda assim, a participação relativa do grupo no segmento da pecuária apresentou crescimento de 12,7% para 19,3%, na comparação com a pesquisa
anterior realizada com os microdados do Censo de 1995/96. Mas não pode ser creditada à melhoria de desempenho dos enquadráveis, em
razão das mudanças já mencionadas nos critérios de enquadramento.
Os não enquadráveis diminuíram em número, uma queda de 8,9%. Mas mantiveram sua participação no valor da produção regional, o que
sugere que o desempenho desse grupo teria melhorado no período.

CENTRO-OESTE

O Censo Agropecuário 2006 revela que a região Centro-Oeste possui o menor contingente de estabelecimentos em relação às demais regiões,
totalizando 317.478, que representam 6,1% do total de estabelecimentos do País. Sua contribuição para a geração do Valor Bruto da Produção
nacional atinge R$ 19,8 bilhões, quase 14% do total nacional. O conjunto de estabelecimentos da região agrega uma área equivalente a 31,5% da
área ocupada pela agricultura brasileira.


O grupo dos enquadráveis no Pronaf representa um contingente numeroso  (56,1% dos estabelecimentos), mas sua participação no valor bruto da
pecuária é expressiva somente na produção leiteira, que atinge 40,7% do valor bruto regional. Nos demais produtos, a participação no valor bruto
regional cai para 22,6% da pecuária de corte, 18,8% da avicultura, 14,9% da produção de ovos e menos de 10% da suinocultura.
Quanto aos estratos dos não enquadráveis, os pequenos (até quatro módulos) representam 20,9% do número de estabelecimentos da região e
contribuem com a maior fatia do valor da produção da avicultura (48,3%).
E de ovos (42,5%). São importantes também na suinocultura, gerando 28,1% do valor regional. Os médios estabelecimentos são muito produtivos:
representam apenas 13,4% dos estabelecimentos e geram 27,1% do Valor Bruto da Produção regional de leite, 16,8% de aves, 16,4% da pecuária
de corte e 16,1% da suinocultura. Os grandes produtores (mais de 15 modulos) possuem posição dominante na geração do valor da pecuária
de corte e da suinocultura, com participações expressivas (acima de 30%) no valor bruto da produção de ovos.
Em relação aos subgrupos dos enquadráveis, apenas na atividade leiteira a participação dos subgrupos B e AF tem alguma expressão. Juntos,
geram 33,5% do valor regional. Apesar de numerosos (representam 34,7% dos estabelecimentos do Centro-Oeste), esses grupos não se destacam
nas demais atividades da pecuária.
O subgrupo dos assentados é bastante numeroso no Centro-Oeste. Representa 21,4% dos estabelecimentos da região, mas sua maior contribuição
é na pecuária leiteira, atingindo apenas 7,2% do valor regional.
Comentários finais
Um ponto a ser observado foi o aumento de 76% do número de estabelecimentos enquadráveis na região Centro-Oeste em relação à pesquisa
com os dados de 1995/96, passando a superar o número de estabelecimentos não enquadráveis. O segundo ponto é que esse aumento não
foi acompanhado de incremento proporcional na geração do produto regional, tendo a participação do grupo se alterado de 6,8% para 8,8% do
valor da produção agropecuária bruta regional, mantendo posição pouco expressiva.
O grupo dos não enquadráveis sofreu uma reversão em termos de suaparticipação percentual no número de estabelecimentos da região,
passando a representar 42,8% do total. Essa redução praticamente não comprometeu sua contribuição, que se manteve elevada, com recuo de 93,2%
para 91,1% do valor bruto total da produção agropecuária regional entre os dois censos. Esse recuo foi principalmente na pecuária, na qual os não enquadráveis
perderam posição, de 92,5% para 73,9%. Na atividade de lavouras, a queda foi menos expressiva, de 96,4% para 94,7%.
Estas mudanças não podem ser atribuídas a eventual melhora no desempenho relativo dos dois grupos, em razão das mudanças profundas
operadas nos critérios de enquadramento no Pronaf.
Um resultado importante é que, nessa região, os assentados aparecem como um subgrupo importante em número de estabelecimentos. Representam
21,4% do total regional, mas sua contribuição é muito baixa (2,9% do produto regional). Mereceria um estudo aprofundado dos fatores que
impedem um desempenho melhor. A composição de seu produto está centrada na produção de lavouras (responsável por 68,7% do valor da
produção gerado por este subgrupo), atividade que é pouco adequada ao pequeno produtor.

NORDESTE


A região Nordeste, segundo os dados do Censo 2006, agrega aproximadamente metade (47,4%) do total de estabelecimentos rurais e
contribui com 19,8% para o Valor Bruto da Produção1 nacional. Apesar do elevado número de estabelecimentos, a área total corresponde a
apenas 22,9% do total do Brasil (Tabela 1). Esta desproporção entre área e número de estabelecimentos é justificada pela elevada presença
de minifúndios (até 1 módulo) na região, perfazendo um total de 2.035.103 estabelecimentos (82,9% do total regional). Cabe mencionar que 1.136.448
estabelecimentos possuem área abaixo de quatro hectares2 (Tabela A.7 do Anexo). A área média é mais elevada (33 ha), devido às maiores
participações dos médios e grandes estabelecimentos na área total regional (55,8%).

1 O valor bruto equivale à renda total gerada pela produção agropecuária do estabelecimento e representa a soma de todos os produtos da lavoura, pecuária, silvicultura, de
outros produtos e da indústria rural (que inclui a produção de fubá, farinha de mandioca, rapadura, doces artesanais entre outros).
2 Área mediana dos estabelecimentos que informaram área (2.272.896 estabelecimentos), conforme Tabela A.7 do Anexo.




Produtos da Pecuária: enquadráveis e não enquadráveis no Pronaf
No caso dos valores da pecuária, as maiores parcelas em relação às contribuições regionais vêm dos não enquadráveis, sendo de 86,7%
para a produção de ovos, 76,7% para a de aves, 59,5% para a produção de leite, 55,8% para bovinos e bubalinos e 52,2% para suínos. Os estratos
que mais contribuem para os valores da produção desses produtos foram os pequenos estabelecimentos. As participações dos médios estabelecimentos
no valor de ovos (25,6%), leite (17,2%) e de aves (16,7%) não devem ser desprezadas.
Os estabelecimentos da agricultura familiar (enquadráveis) possuem participação importante no Nordeste na produção de bovinos (42,4%),
suínos (42,3%) e leite (39%). Nas quantidades vendidas/produzidas dos produtos da pecuária selecionados, não foram verificadas as alterações
em termos de quem mais contribui para os valores da produção. Apenas foram constatadas algumas mudanças nos percentuais de participação.










NORTE  >>> A mais desigual e a mais internacionalizada.



A análise dos microdados do Censo Agropecuário 2006 revela que a região Norte é composta por 475.775 estabelecimentos rurais, que contribuem
com um Valor Bruto da Produção agropecuária1 de R$ 6,15 bilhões (apenas 4,3% do total do Brasil) (Tabela 1). A contribuição, em termos
de Valor Bruto da Produção anual de metade dos estabelecimentos que informaram renda2 (aproximadamente 202.433) está abaixo de
R$ 3.230,00 (Tabela A.8 do Anexo), que é considerado baixo, ainda mais que se trata de renda bruta, da qual não foram subtraídos os gastos
decorrentes da atividade, como as despesas com insumos agrícolas.

1 O valor bruto equivale à renda total gerada pela produção agropecuária do estabelecimento e representa a soma de todos os produtos da lavoura, pecuária, silvicultura, de
outros produtos e da indústria rural (que inclui a produção de fubá, farinha de mandioca, rapadura, doces artesanais entre outros).
2 Ver tabelas contendo o total de estabelecimentos que informaram renda no Anexo.


Considerações finais
Os resultados do Censo 2006 revelam que a região Norte, apesar de não ter alterado a sua participação no número total de estabelecimentos rurais
em relação ao Censo 1995/96, apresentou pequena perda na participação nacional. A participação está em 4,3%. A renda mediana é de cerca
de R$ 3.230,00 e a renda média é de R$ 15.187,00, sendo que cerca de 99,4% dos estabelecimentos possuem renda abaixo de R$ 240.000,00,
valor limite para o enquadramento na microempresa.
Parte da redução pode ser atribuída às mudanças ocorridas no perfil da produção. No Censo 1995/96, o Valor Bruto da Produção regional
provinha de 34,45% da pecuária e aproximadamente 25,36% do valor das lavouras. No Censo atual, entretanto, as lavouras/silvicultura lideram,
com um percentual de 60,1%8.
Do valor da produção total, as maiores contribuições vêm dos não enquadráveis, que perfazem 53%, sendo 29% do valor regional dos pequenos
não enquadráveis e 24,0% dos médios e grandes estabelecimentos.
Estes dois últimos são compostos por apenas 5,9% do total de estabelecimentos.
Considerando-se os agregados das lavouras/silvicultura, pecuária, outros produtos e valor da produção da indústria rural, as maiores contribuições
vêm dos não enquadráveis, com exceção da indústria rural (60.1%). Neste último, somente o subgrupo AF foi responsável por 40,7% do valor da
produção regional dessa atividade.

8 Cabe salientar que 57,2% do valor da produção das lavouras/silvicultura provém dos enquadráveis.

Na análise do valor da produção de alguns produtos que compõem a cesta básica dos brasileiros, constata-se que as maiores contribuições no
valor da produção do total de grãos são dos não enquadráveis no Pronaf. O arroz e a soja tiveram peso nas participações, uma vez que os maiores
valores da produção de feijão (considerando-se três tipos) e milho são provenientes dos enquadráveis.
A maior participação no valor da produção da pecuária, garantida pelos não enquadráveis, ocorreu pelos valores da produção de ovos (82,4%),
aves (68,1%) e bovinos (60,1%). Os enquadráveis foram os responsáveis pelas maiores parcelas dos valores de leite (61,4%) e suínos (55,9%).
Assim, a região Norte possui algumas peculiaridades que a distinguem de outras regiões. As contribuições dos estabelecimentos enquadráveis são
de elevada importância para a composição do produto regional para um conjunto de produtos/atividades, como feijão, milho, suínos e leite, assim
como a dos pequenos não enquadráveis. Fica claro, porém, que a participação é bastante pequena, em nível nacional, uma vez que essa região é
responsável por apenas 4,3% da produção total.









Agronegócio, lucros, fusões e incentivo público

23 de julho de 2010
Da Página do MST
Com informações do IHU
De acordo com reportagem da revista Exame (veículo porta-voz do agronegócio, na edição de julho), setores do agronegócio tais como frigoríficos e agrocombustíveis estão em expansão. No relato da revista, o frigorífico JBS possui um faturamento de U$ 20,6 bilhões, a partir da aquisição de frigoríficos menores e no contexto de demanda da China. Porém, o processo determinante é a fusão entre grandes empresas. Na realidade, trata-se de um processo concentrador de capital, que vem criando novas empresas transnacionais e mundializadas.
De acordo com a reportagem : “Em 2008, já como empresa aberta na Bolsa de Valores de São Paulo, o JBS comprou a americana Swift, transformando-se em líder mundial do setor. Em setembro do ano passado, adquiriu o frigorífico Bertin, seu principal competidor no Brasil, ao mesmo tempo em que fechava a compra da Pilgrim's Pride, segunda maior processadora de frangos dos Estados Unidos. Estava formado um grupo privado com faturamento na casa de 30 bilhões de dólares”.
O processo de crescimento do agronegócio brasileiro, que se capitaliza e torna-se corporação internacional, conta com o impulso do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). O banco público financiou R$ 17,4 bilhões o agronegócio, entre 2007 e 2009, principalmente da área de carne. No mesmo período, de acordo com a reportagem, companhias ou fundos internacionais investiram R$ 4,3 bilhões em empresas brasileiras com atuação nos setores de produção de etanol – setor apontado pela reportagem como uma “bola da vez” das corporações.
Seguindo os passos do JBS, o frigorífico Marfrig, liderado pelo empresário Marcos Molina, fez 37 aquisições desde 2007, informa a Exame. Um mercado que torna-se concentrado e centralizado.
Fusões garantidas pelo investimento público
Atualmente, o BNDES é o principal investidor das chamadas transnacionais brasileiras, nos ramos de mineração, construção civil e agronegócio. Essas empresas atuam em diversos países do mundo. Surgido em 1952, o banco público foi a ferramenta da política econômica de diferentes governos brasileiros.
Na década de 1990, o banco gerenciou a política de privatizações, por meio do Programa Nacional de Desestatização (PND). Siderúrgicas, empresas telefônicas e distribuidoras de energia, mineradoras como a Vale foram leiloadas. Atualmente, o BNDES é uma das principais ferramentas para o investimento em empresas transnacionais brasileiras – o que inclui o setor do agronegócio.
Petrolíferas e agrocombustíveis
No setor sucroalcooleiro, temos ainda as seguintes operações de concentração de empresas, informa a Exame: “No setor sucroalcooleiro, duas grandes operações se destacaram em 2009: a aquisição, por 1,5 bilhão de dólares, de cinco usinas do Grupo Moema pela multinacional Bunge e a compra da Santelisa Vale pela Louis Dreyfus Commodities, um negócio de 467 milhões de dólares. O ano ainda teve a fusão de duas inimigas históricas, Perdigão e Sadia, dando origem à gigante Brasil Foods - ou simplesmente BRF -, empresa cujo valor de mercado é 11,5 bilhões de dólares”.
Neste sentido, a ONU considera o Brasil, até 2012, o carro-chefe da produção de energias renováveis e alimentação para o mundo.
Petrolíferas como a Schell e a BP, e mesmo a brasileira Petrobras, pregam a necessidade de investir nos dois ramos: petrolífero e de agrocombustíveis. Entre outros exemplos, a Exame cita o negócio entre uma petroleira e um dos maiores grupos do setor sucroalcooleiro: “No início deste ano, a Cosan e a anglo-holandesa Shell concretizaram um dos maiores e mais surpreendentes negócios dos últimos tempos ao formar uma joint venture de 12 bilhões de dólares para produção e distribuição de etanol”, informa a reportagem.


Em São Paulo, a 'bolsinha do feijão' resiste

Autor(es): Cláudio Belli, de São Paulo
Valor Econômico - 26/07/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/26/em-sao-paulo-a-bolsinha-do-feijao-resiste
Com as mãos cheias de feijão, compradores chacoalham o produto para saber se está seco, observam a cor para saber a qualidade e frescor. São cinco e meia da manhã no Brás e a "bolsinha de feijão" da Zona Cerealista está cheia, com feijão esparramado pelo chão, e os 27 corretores, que dela fazem parte há 10 anos, espalhados em baias nas extremidades do salão.
"Os pensadores do feijão estão ali", diz Elias Mello Saad José, diretor-tesoureiro da Bolsa de Cereais de São Paulo, órgão oficial do governo que fornece informações de preços de cereais para o governo e compradores, além de classificar e certificar produtos. "O dia em que isso acabar eu quero ver como vão ficar as coisas".
Apesar de não ser oficial, é nesse espaço que corretores expõem amostras de feijão de diferentes partes do Brasil, principalmente variações do carioca, e definem o valor do produto nacionalmente - o preço do feijão preto é definido no Rio de Janeiro.
Tudo funciona na base da oferta e procura. Na bancada de cada corretor, há pequenos saquinhos de papel com diferentes qualidades e o número de sacos de 60 quilos disponível anotado a caneta. Ainda que o consumo de feijão venha caindo nos últimos anos, todos os dias, quase dois milhões de quilos são comercializados na bolsinha.
A partir das 7 horas da manhã, os armazéns de feijão já estão a todo vapor para administrar a chegada do produto. Caminhões estacionam na frente dos grandes portões voltados para a rua e então os carregadores, ou "saqueiros", entram em ação. Boa parte dessa riqueza passa, literalmente, por suas cabeças, que equilibram os pesados sacos de 60 quilos das caçambas até as altas pilhas.
Nascido em Taquarituba, no interior de São Paulo, André Cristiano da Silva, 35 anos, trabalhava, até 2006, como bóia-fria, no meio e no fim de ano, alternando com a atividade de carregador. Apesar da experiência, quando se mudou para a zona cerealista demorou pelo menos uma semana para se adaptar ao ritmo de trabalho. Depois dos primeiros 15 dias parado, procurando emprego, começou a trabalhar tanto que nem sobrava tempo para tomar uma cerveja ou ouvir um samba. Chegava a virar 24 horas de trabalho. "Você apaga e continua andando. Você não sabe o cansaço", lembra.
O corretor Valdemar Ortega, eleito pelos corretores o administrador da "bolsinha de feijão", tem outro tipo de desafio: chegar todos os dias antes das cinco horas para organizar o início do "pregão". Além disso, precisa ficar antenado no decorrer das negociações, vendendo e atendendo o telefone para passar informações sobre preços e quantidades para gente do Brasil inteiro. Na última quinta-feira, a saca do feijão (carioca pérola/rubi/comercial) na bolsinha era cotada por R$ 85,00 a R$ 90,00.
O mercado de feijão é bastante volátil, principalmente por conta dos tradicionais altos e baixos da oferta no país. Na safra 2009/10, que está sendo comercializada, a produção está estimada em 3,34 milhões de toneladas, 4,5% menos que no ciclo passado.
Quando Ortega, nascido no Brás, começou com corretagem, em 1966, não existia um local concentrando o comércio, como a bolsinha, e o feijão era muitas vezes vendido a granel. Ele levava as amostras pelas ruas do bairro, passando nos armazéns e, às vezes, reunia-se com outros corretores em um bar.
Na época, os clientes passaram a procurar os corretores. Em mesas improvisadas para mostrar os produtos em dois ou três bares da rua Santa Rosa, Valdemar começou a dividir espaço com outros dez corretores, como Edison Geraldo Perli, que chegou, também de Taquarituba, em 1971. Perli abriu seu escritório na região em 1999, seguindo um processo de profissionalização que já ocorria havia alguns anos. Só ficou lá até o dia 2 de maio de 2000, quando foi inaugurada a bolsinha.
Como a maioria dos corretores da bolsinha, Perli começou a carreira "puxando feijão" para a zona cerealista. O corretor Nelson Lourenço, ou Topete, era caminhoneiro. Veio de Itapeva - como Taquarituba, também uma região produtora de feijão do Estado - para a bolsinha trabalhar com seu pai e depois substituí-lo. Segundo ele, essa "transição" de caminhoneiro para corretor ocorre pois o caminhoneiro conhece bem o mercado, o produtor e a zona cerealista. "É um cargo de confiança".
Mas o caminhoneiro Wilson Souza Carneiro, 51 anos, não pretende mudar de profissão. Há 30 anos no negócio de venda de feijão, ele gosta da estrada e sempre volta para Itararé para ver a esposa. Até vender o feijão, ele passa o tempo acompanhando o mercado na bolsinha, jogando baralho ou tomando cachaça. "Cheguei a ficar uma semana enroscado aqui", diz.
Quando o caminhão chega a um armazém, o motorista já está impaciente, ansioso para continuar viagem. Mas antes de se ver livre da carga, passa por uma balança destinada a cargas de feijão que chegam à zona cerealista.
Então, os carregadores fazem um furo em cada um dos sacos para comparar a qualidade, tipo, secura, cor do produto com os grãos da amostragem do contratante. Se o feijão é outro e o se o grão escureceu por conta da umidade na viagem, mandam o produto embora.
Quando o trabalho nos armazéns é grande, procura-se carregadores extras numa esquina conhecida como "pedra". André Cristiano da Silva freqüentou o ponto por oito meses até conseguir um emprego fixo com carteira assinada no armazém D. Tradição.
Por enquanto vai se manter como "saqueiro", mas pretende, daqui a alguns anos, mudar-se para Miguelópolis, na divisa com Minas Gerais, e começar um negócio próprio: abrir um lava-rápido.
Sem ter pisado numa escola, o carregador baiano Vivaldo Serafim dos Santos, 32 anos, ex-bóia-fria, não faz muitos planos além de continuar seu atual ritmo de trabalho, morando no dormitório de seu armazém junto com outros três saqueiros. José de Souza já tem 66 anos, é aposentado, mas não pensa em parar de carregar os pesados sacos de batata e cebola, produtos também comercializados nos armazéns da Zona Cerealista.

Mais diversificada, Zona Cerealista já não é a mesma

Valor Econômico - 26/07/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/26/mais-diversificada-zona-cerealista-ja-nao-e-a-mesma
O mercado na Zona Cerealista está mudando. Ali perto, do outro lado do rio Tamanduateí, está o Mercadão e a rua 25 de Março, que atraem mais clientes para a região. O varejo cresce e uma grande variedade de produtos começa a dividir espaço com a tríade - feijão, batata e cebola - antes dominante. As grandes redes de supermercado e as tecnologias da informação reduziram a importância dos corretores e atravessadores, principalmente os de feijão.
Ricardo Cian Flone, sócio de um dos armazéns de batata da região, acredita que, para quem trabalha com batata e cebola, ainda é um bom negócio ter armazéns na Zona Cerealista e ser atravessador. Não há armazéns vazios naquela rua. Só ele vende 25 mil sacos de batata e 15 mil sacos de cebola por mês. Fornece principalmente para supermercados grandes, mas de uma loja só, e para cozinhas industriais. As grandes redes de varejo normalmente não têm intermediários.
Para o feijão, a mudança é mais intensa e perceptível. No passado, todo feijão passava pela Zona Cerealista antes de chegar aos mercadinhos da cidade. Com os grandes supermercados, a história é outra, pois estes, muitas vezes, compram diretamente do produtor.
Os armazéns do local, em grande parte empresas familiares, surgiram numa época em que os mercados também eram familiares e o Pão de Açúcar - hoje um dos maiores varejistas do país - era apenas uma padaria.
O armazém D. Tradição, além de estocar as sacarias de feijão, tem máquinas para limpar e embalar. Fornece principalmente para o feijão Caldo Nobre, um dos maiores compradores do grão da Zona Cerealista.
Daniel Dunda Xavier, que comprou o armazém há dois anos e criou a D. Tradição, começou a trabalhar no Brás em 1987 na Comércio e Importadora di Grassi Ltda, empresa que deixou a região com as recentes mudanças.
Na balança da Zona Cerealista, fica claro a diminuição de movimento de entrada de feijão. "Isso aqui está deserto", observa Antônio de Souza, responsável pela pesagem. Quando ele chegou de Itaporanga, há 35 anos, pesava manualmente de 300 a 400 caminhões por dia. Hoje, com pesagem eletrônica, não passam de 25 caminhões por dia.
Já o saqueiro André Cristiano da Silva, que passava suas primeiras manhãs em São Paulo na "pedra" com outros quarenta "saqueiros" esperando por trabalho, surpreende-se em ver que naquela mesma esquina não se reúnem hoje em dia mais do que 10.
"[A bolsinha] está morrendo", afirma o corretor Edison Perli. "Acho que toda a venda [de feijão] será direta." Ricardo Cian Flone, do armazém de batatas e cebola, só não investiu ainda no varejo de cereais e da ração humana, tão na moda atualmente, pois não achou um espaço adequado para alugar.
Cresce na Zona Cerealista o número de varejistas com produtos diversificados. Apesar da crise no ano passado, a tradicional varejista e atacadista Casa Flora cresceu 15%. Antônio Ailton Carvalhal começou o negócio há exatos 40 anos, focando em laticínios. Hoje trabalha com um grande número de produtos alimentícios e bebidas finas importados.
A Zona Cerealista está em transfomação, mas mantém sua mistura de cheiros do passado. Suas ruas, com menos caminhões do que antes, ainda têm carregadores com bolas de futebol murchas na cabeça para proteger a pele das longas horas de trabalho. Predominam os nordestinos e trabalhadores vindos do interior paulista. Os galpões são os mesmos, antigos, e na maioria das vezes tomados de pó. O mercado já foi maior, mais lucrativo, mas segue com altos e baixos, em constante transformação. E até os mais pessimistas continuam a trabalhar.


"Guerra do brócolis" movimenta a UE

Autor(es): Paul Betts, Financial Times
Valor Econômico - 26/07/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/26/guerra-do-brocolis-movimenta-a-ue
O brócolis, ou pelo menos uma de suas muitas variedades, agora é o prato principal em uma disputa que poderia ter repercussões significativas para as indústrias de alimentos, de agroquímicos e agrícola da Europa e de todo o mundo.
A questão é determinar se é permitido, ou deveria ser, patentear um vegetal. De acordo com uma diretriz da União Europeia de 1998 sobre a proteção de inovações biotecnológicas, não é permitido patentear processos biológicos na reprodução de animais e plantas. Se for demonstrado, no entanto, um novo desenvolvimento técnico na produção de um vegetal, a Agência Europeia de Patentes pode conceder a patente desse desenvolvimento específico.
O problema, portanto, resume-se a determinar se um novo sistema de produção é um processo biológico convencional ou um tecnológico patenteável. É esse princípio que está sendo colocado à prova atualmente em dois casos separados em avaliação pelo conselho de apelações da agência.
O primeiro caso envolve uma patente concedida em 2002 à empresa britânica Plant Bioscience, que desenvolveu um método para aperfeiçoar as propriedades anticancerígenas do brócolis - vegetal há muito conhecido por suas qualidades benéficas à saúde, servindo para prevenir tanto doenças cardíacas como o câncer, desde que não fervido por muito tempo.
A patente da empresa foi contestada pela Syngenta, multinacional agroquímica suíça, e pela Limagrain, uma cooperativa francesa de sementes. Elas argumentam que a patente do brócolis deveria ser revogada, já que basicamente envolve um processo biológico e, assim, não deveria ser patenteável.
O outro caso sob avaliação na agência envolve um método, desenvolvido pelo Ministério de Agricultura israelense, de produzir tomates com baixo conteúdo de água, o que os torna mais adequados para a produção de ketchup. O caso foi aberto após uma queixa da Unilever, uma grande produtora de ketchup, contra a patente israelense dos tomates.
A agência deverá dar seu veredicto sobre ambos os ainda neste ano. Mas as audiências preliminares na sede da agência já provocaram, na semana passada, polêmicas calorosas e não apenas sobre a confirmação ou revogação dessas duas patentes. Políticos, associações de agricultores, o Greenpeace e outras organizações não governamentais aproveitaram esses dois casos para questionar o princípio básico da concessão de patentes para vegetais.
O argumento desse grupo é que se as atuais patentes de brócolis e tomates forem mantidas, permitindo-se a concessão para os vegetais em geral, haverá consequências negativas para consumidores e produtores independentes. Eles acreditam que tais patentes criariam uma concentração ainda maior do mercado agrícola e de alimentos, elevando preços.
Um advogado do Greenpeace advertiu que se a agência confirmar as patentes dos tomates e brócolis estaria abrindo as "comportas", já que há milhares de pedidos na fila por patentes sobre a produção de vegetais e animais.
À primeira vista, pareceria um pouco estranho ver esses grupos de pressão política e pública aliando forças com multinacionais. Mas não é bem assim, tendo em vista que seus motivos para contestar as patentes do tomate e do brócolis são radicalmente diferentes.
As ONGs e os grupos de agricultores independentes suspeitam que as multinacionais usam os casos não para revogar as patentes, mas para fortalecer o atual sistema. Em outras palavras, se a agência confirmar as patentes, ficará mais fácil para essas multinacionais conseguir uma proteção similar para suas sementes e outros processos biológicos. A ONGs avisam que confirmar as patentes ameaça estender ainda mais o controle das empresas nos setores agrícola e de alimentos.
A agência sustenta que isso não é seu problema. Insiste que seu papel é somente examinar se a patente envolve um novo desenvolvimento técnico ou não. A agência sustenta não estar autorizada a avaliar implicações sociais, econômicas ou ecológicas - essa tarefa cabe a parlamentares e autoridades reguladoras. É por isso que as patentes dos brócolis e tomates agora passaram a aparecer no radar político europeu.


Brasil perde participação no PIB global

Autor(es): Leandro Modé
O Estado de S. Paulo - 26/07/2010
Em 2002, a fatia brasileira no bolo da produção de riqueza mundial era de 2,92%; no fim deste ano deverá ser de 2,90%

A despeito do crescimento mais forte da economia brasileira nos anos recentes, o País perdeu participação no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em 2002, a fatia era de 2,92%. Ao final deste ano, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), deve ser de 2,90%.

É uma diferença pequena, mas, segundo analistas, nada desprezível, levando-se em conta que o Brasil ainda é uma nação emergente. Se não precisa e não consegue crescer como China e Índia, tampouco deveria "se contentar" com um ritmo de país desenvolvido.

Em 2000, a China tinha 7%, a Índia, 4%, e o Brasil, 2,95% do PIB global. Os chineses devem encerrar 2010, segundo o FMI, com 13% e os indianos, com 5%.

"O Brasil não é um país pobre, mas um país de pobres", define o economista Simão Davi Silber, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). "Um quarto da nossa população economicamente ativa ganha meio salário mínimo ou menos."

Silber estima que a expansão média anual deveria ser de 7% para o Brasil alcançar relativamente rápido uma nova condição de desenvolvimento. "Sete por cento de crescimento ao ano significa dobrar o PIB em uma década. Isso, mais um pesado investimento em educação, mudaria o País."

O PIB nacional avançou, em média, 3,6% ao ano desde o início do governo do presidente Lula, em 2003. É mais do que a média das décadas de 80 (1,7%) e 90 (2,6%), mas menos do que o mundo, que se expandiu 3,7%, em média, entre 2003 e 2009.

Para este ano, a expectativa do FMI é de que o Brasil cresça 7,1%, ante 4,6% do planeta.

Além dos números.

O debate sobre a taxa de crescimento adequada para o País é mais do que mera questão numerológica. Como lembra Silber, no curto prazo, uma expansão de 5% ou 7% pode não fazer tanta diferença. Em prazo mais longo, porém, altera a história de uma nação. "Na década de 50, a renda per capita da Coreia do Sul equivalia a um terço da nossa. Hoje, é quatro vezes maior, porque eles cresceram consistentemente acima do Brasil", observa ele.

A discussão, portanto, desemboca na atual capacidade de expansão do País e no que deve ser feito para aumentá-la. Analistas de mercado financeiro calculam que o chamado PIB potencial (que mede quanto um país pode se expandir sem provocar pressões inflacionárias) está hoje entre 4% e 5%.

Para ir além, diz o professor de economia do Insper Daniel Motta, é preciso elevar a capacidade de produção do País. Para se fazer isso seria necessário diminuir a carga tributária, reduzir a burocracia, baixar a taxa de juros, incentivar o mercado de capitais para que pequenas e médias empresas tenham mais acesso a dinheiro, além de investir pesadamente em infraestrutura e em educação.

"O Brasil só cresceu muito nos últimos anos porque acompanhou a onda mundial, que valorizou as commodities que nós exportamos", critica. Para ele, o País não teria alcançado ritmo semelhante pelas próprias pernas.

O economista Douglas Uemura, da LCA Consultores, discorda. Para ele, o quadro geral, nos últimos anos, "é positivo". "De 2000 para cá, temos apresentado uma expansão sustentada do PIB", comentou Uemura. Apesar disso, ele não nega que o Brasil precisa, por exemplo, melhorar sua produtividade, o que passa pela melhora da educação.

Longo prazo

Para o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, o Brasil só ampliará o potencial de crescimento se voltar a fazer "planejamento de longo prazo". "É a política que todos os países bem-sucedidos do mundo adotaram", afirmou.

Silveira defende que a indústria esteja no foco dessas ações. "Não há economia grande como a brasileira que comporte apenas os setores básicos e os serviços. A indústria precisa ter participação importante."

A receita de Silveira é semelhante à de outros especialistas: redução da carga tributária e dos juros e melhora da infraestrutura.

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