segunda-feira, 12 de julho de 2010

Contribuição do Brasil vai além do setor de telecom

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/12/contribuicao-do-brasil-vai-alem-do-setor-de-telecom
Autor(es): Kelly Lima, Nicola Pamplona
O Estado de S. Paulo - 12/07/2010

Não é só no segmento de telefonia que a remessa de lucros das operações brasileiras tornou-se vital para o país de origem. No banco espanhol Santander, antes do agravamento da crise, em 2008, o Brasil contribuiu com 12% do lucro mundial do grupo no primeiro trimestre daquele ano. Um ano depois, no meio do nervosismo global, a fatia aumentou para 17%.

Nos três primeiros meses de 2010, quando o Brasil já estava com a economia a todo vapor e a Espanha ainda patinava, o lucro da filial respondeu por 21% de todo o resultado do grupo no período ou exatos E$ 465 milhões. Com esse desempenho, o Santander Brasil superou pela primeira vez o lucro gerado pela unidade do Reino Unido, o antigo Abbey National, que respondeu por 16% do ganho. Além disso, a operação brasileira se aproxima da sede, que contribuiu com 24% do resultado no período.
O aumento na remessa de divisas, porém, nem sempre é acompanhado de mais de investimentos. No caso da Espanha, por exemplo, a crise foi implacável e afetou a capacidade de investimento do país. Segundo dados do Banco Central, em 2010, a Espanha despencou do 3º para o 10º posto no ranking dos países que mais investem no Brasil. Em dólares, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) espanhol caiu 71% nos cinco primeiros meses do ano na comparação com igual período de 2009, para US$ 313 milhões. Na direção contrária, Portugal elevou o investimento em 88%, para US$ 210 milhões, no 14º lugar da lista.
A presença de investimentos portugueses em território brasileiro aumentou expressivamente nos últimos anos. A companhia aérea portuguesa TAP, que é comandada por um brasileiro, é um dos exemplos mais emblemáticos.
No último dia 3, a empresa inaugurou a linha aérea entre Campinas e Lisboa com três frequências semanais, elevando para 70 o número de voos semanais entre o Brasil e a Europa. De janeiro a maio deste ano, o número de passageiros das linhas do Brasil aumentou 31% sobre 2009, totalizando cerca de 546 mil passageiros.

Briga pela Vivo mostra relevância do Brasil

Autor(es): Karla Mendes, Fernando Nakagawa
O Estado de S. Paulo - 12/07/2010
Empresas espanholas estão em 2º lugar no ranking das que mais remetem lucros para a matriz; remessas para Portugal aumentaram 1.320%

A queda de braço entre Telefónica e Portugal Telecom pela Vivo - maior operadora de telefonia celular do País - revela o "peso de ouro" que o Brasil passou a ter para as economias da Espanha e de Portugal. Num momento em que os dois países enfrentam dificuldades econômicas, o Brasil, em franco crescimento, tornou-se estratégico para sustentar os resultados não só desses grupos de telecomunicações, mas também da economia dos dois países.

É por isso que a Telefónica está disposta a pagar mais de 100% de ágio para adquirir o controle total da Vivo e a Portugal Telecom resiste tanto em vender o ativo, usando inclusive o polêmico instrumento da golden share para impedir o domínio dos espanhóis na operadora brasileira - apesar de 74% dos acionistas terem votado a favor do grupo espanhol na assembleia realizada no último dia 30.
Hoje, as duas operadoras dividem o controle da Vivo.
Dados do Banco Central revelam que a dificuldade econômica europeia tem sugado lucros de multinacionais instaladas no Brasil, para cobrir prejuízos das matrizes. E o centro desse fenômeno envolve, justamente, os países que estão disputando a operador de celular Vivo.
Filiais brasileiras de companhias espanholas, por exemplo, aumentaram a remessa de lucros em 39% no último ano. Esse comportamento fez com que a Espanha ultrapassasse os Estados Unidos, ficando em segundo lugar no ranking de países que mais recebem lucros do Brasil. De janeiro a maio, esse valor cjegou a US$ 1,16 bilhão.
Em Portugal, a situação é semelhante: em todo o ano de 2009, o país ocupava a modesta posição de 16º destino das transferências brasileiras. Em 2010, o volume cresceu 1.320%, para US$ 142 milhões entre janeiro e maio. Com isso, Portugal já é o 11º destino das remessas.
"O Brasil já era importante para esses países. Mas o peso relativo cresceu porque a crise ainda está longe de ter solução e as matrizes dessas empresas estão em situação muito ruim", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas e analista da Tendências Consultoria, André Sacconato.
Esse recente aumento das remessas acontece como resultado de dois movimentos. No Brasil, a demanda interna aquecida aumenta as vendas. Já no exterior, em especial na Europa, a crise derruba o faturamento e aumenta a necessidade das matrizes em receber lucros das filiais.
Reviravolta. Para a Portugal Telecom, por exemplo, o Brasil já é mais importante que a própria operação portuguesa. No primeiro trimestre de 2010, o Brasil contribuiu com 51,7% das receitas globais da companhia. No mesmo período, a matriz respondeu por 45%. Um ano antes, a situação era inversa: 51% da receita foi gerada em Portugal e 45,8% no Brasil. Além da Vivo, a PT Telecom controla a Dedic, empresa de setor de call centers, no País.
Números tão expressivos explicam a resistência do grupo português em deixar o controle da operadora. E são um bom argumento para o governo português tentar impedir, a qualquer custo, a venda da fatia da PT na Vivo. É o que sustenta Julio Püshel, analista sênior da Informa Telecoms & Media.
"O governo português tem um argumento forte: a Vivo representa mais de 50% do faturamento da PT Telecom. Apesar de os acionistas receberem muito dinheiro nesse primeiro momento, isso não significa um aumento de receita no longo prazo, pois a principal fonte vai secar", afirmou Püschel.
É essa a razão dos rumores no mercado sobre uma negociação entre a PT Telecom e a Oi. Assim, o grupo usaria o dinheiro da venda da Vivo para manter operações no Brasil e garantir lucros oriundos do País. Mas como ao grupo português só interessa, no mínimo, dividir o controle da supertele brasileira, e, nos bastidores, o que se fala é que os controladores da Oi não estão dispostos a negociar, a Telefónica estaria arquitetando um plano B: fazer a fusão da Vivo com a Telefónica e oferecer aos portugueses uma participação.
Outro fator que pesa contra a associação com a Oi é a declaração polêmica do empresário brasileiro Carlos Jereissati em 2007, um dos controladores da Oi. Quando questionado sobre o interesse do grupo português em participar da supertele brasileira, ele afirmou que a PT "não tem musculatura" para entrar em uma grande empresa de telecomunicações. O empresário também afirmou que "se é para ter um sócio desnecessário, prefiro os anglo-saxões" ou os franceses, para acrescentar charme à companhia.
Fontes do governo lusitano sustentam que a Vivo e o Brasil têm uma importância afetiva para Portugal por facilitar os negócios de um mercado que fala a mesma língua. Representa também a resistência contra os rivais espanhóis.

Argumento português
JULIO PÜSHEL
ANALISTA DA INFORMA TELECOMS & MEDIA
"Com a venda da Vivo, a principal fonte de receita da PT vai secar"


O Brasil que apita / Les bricoleurs métis

Autor(es): Carlos Sambrana
Isto é Dinheiro - 12/07/2010
Nunca as subsidiárias brasileiras das multinacionais tiveram um papel tão importante dentro das corporações. Antes elas apenas fabricavam o que era determinado pela matriz. Agora participam desde a concepção até a produção
Em meados de junho, a brasileira Tânia Cesar, diretora de marketing da empresa de bebidas Diageo, dona de rótulos como o do uísque Johnnie Walker e da vodca Smirnoff, aterrissou em Nova York para uma reunião de cúpula da companhia que faturou US$ 14,4 bilhões no ano passado.
Ao lado de um executivo inglês, que trabalha na matriz, e de outro americano, sediado em Manhattan, Tânia ajudou a definir as estratégias de marketing que a companhia adotará para expor a marca de vodca Smirnoff em redes sociais como Twitter e Facebook, entre outras. Essa não é a primeira vez que ela está no centro das decisões globais. Tânia foi uma das poucas profissionais da companhia no mundo que participaram da concepção da campanha publicitária “Be There”, mostrada em 180 países. Em tempos de globalização, o assunto passaria despercebido, poderia ser considerado corriqueiro. Mas não é.
A cena descrita acima mostra muito mais. “Nos eventos globais da empresa, o Brasil era visto como o patinho feio. Éramos tratados como índio e só davam bola para o que vinha dos Estados Unidos e Europa”, diz Tânia. “Hoje a filial brasileira é uma das que dão as cartas nas diretrizes internacionais.”
A história de Tânia revela uma profunda mudança no universo corporativo brasileiro. Até agora, as subsidiárias das multinacionais presentes no País tinham apenas a função de fabricar produtos desenvolvidos no Exterior para depois exportá-los para outros mercados. Hoje, o cenário é outro.
As filiais participam de todas as etapas – da concepção e criação ao desenvolvimento e produção. Nunca os braços brasileiros das multinacionais tiveram um papel tão importante dentro das corporações globais. O Brasil, definitivamente, apita. E isso não acontece apenas com a Diageo.
Com o crescimento da economia brasileira, outras subsidiárias de empresas estrangeiras agora têm voz – e força – nas decisões globais. A Ford do Brasil, por exemplo, está desenvolvendo o EcoSport que será vendido no mundo inteiro. A Sony Ericsson criou um conceito de celular 100% nacional que virou febre em outros mercados. O mesmo acontece com a filial da Whirlpool, que desenvolveu produtos para os Estados Unidos, e com a Electrolux, que acaba de criar uma linha de lavadoras de alta pressão vendida ao redor do mundo.
A recente crise econômica pôs em xeque os padrões produtivos e os modelos de gestão dos europeus e dos americanos”, diz Evaldo Alves, professor de negócios internacionais da FGV de São Paulo. “Nesse contexto, os países emergentes, com seus métodos mais flexíveis, ganharam força.” O caso da montadora Ford é um dos mais emblemáticos.
Enquanto a matriz amargava perdas bilionárias no auge da crise, a filial brasileira vendia automóveis como pão quente. “No primeiro trimestre deste ano, a operação na América do Sul atingiu o lucro pelo 25º trimestre consecutivo”, diz Marcos de Oliveira, presidente da Ford no continente sul-americano. “O Brasil representa 70% dos nossos resultados.”
Detalhe: de oitava maior operação mundial da empresa há cerca de uma década, hoje é a terceira, com vendas anuais de 350 mil carros, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Esse número fez saltar os olhos dos executivos da matriz. “Somos muito mais ouvidos hoje do que há quatro anos”, diz Oliveira.
Isso, obviamente, tem ajudado nos planos da subsidiária. Até 2015, estão previstos investimentos de R$ 4,5 bilhões. Parte do dinheiro será usada no desenvolvimento da nova EcoSport que será vendida no mundo todo. “É a primeira vez que a filial brasileira desenvolve um produto global. Isso mostra a relevância que temos na companhia”, diz Oliveira.
Outro projeto internacional da montadora brasileira é o do novo motor que vai equipar o modelo Fiesta nos Estados Unidos. Foram investidos R$ 600 milhões na fábrica de Taubaté, em São Paulo, para que a fabricação do novo motor fosse viável. “O Brasil está passando por um momento histórico”, diz Marcus Vinícius de Freitas, professor de relações internacionais da Faap.
Os brasileiros sempre tiveram o que o dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues batizou de síndrome de vira-latas (um sentimento de inferioridade diante dos estrangeiros). E se conformavam com essa imagem. Isso, de fato, mudou. “Historicamente, recebíamos as campanhas globais do Exterior e tínhamos que reproduzi-las aqui.
Isso também acontecia com os produtos”, diz Tânia Cesar, da Diageo. Hoje, é a filial brasileira que exporta tendências. Entre 2005 e 2007, a empresa desenvolveu a Smirnoff Caipiroska de limão, maracujá e frutas vermelhas. Agora, há um estudo para levar os produtos para a Europa e África do Sul.
Outra sacada da subsidiária brasileira da Diageo foi criar o Whisky Festival, evento que alia a bebida escocesa a gastronomia, arte e música para aumentar o consumo do scotch nos períodos de baixa. Os eventos chamaram tanta atenção da matriz que hoje são reproduzidos em outros países.
O que distingue o brasileiro dos demais profissionais é, além do jogo de cintura, a criatividade. E esse é o grande diferencial da filial brasileira da sueca Sony Ericsson, dona de um faturamento de 6,7 bilhões de euros. Desde 2004, a empresa possui uma parceria com o Centro de Inovação Tecnológica Venturus, localizado em Campinas (SP).
Lá, cerca de 100 profissionais trabalham no desenvolvimento de softwares e equipamentos que são exportados para todo o mundo. “A operação brasileira tem grande influência no desenvolvimento de novas tecnologias dentro da Sony Ericsson. Os engenheiros daqui estão entre os melhores do mundo”, destaca Magnus Anseklev, presidente da Sony Ericsson Brasil.
Não é surpresa, portanto, que alguns dos sucessos mundiais da companhia tenham nascido no País.Entre os fenômenos estão aplicativos como o Track ID e Walk Mate. O primeiro permite identificar a música que estiver tocando no rádio do celular ou no ambiente externo.
Basta acionar o recurso e um trecho da canção será gravado e enviado para um banco de dados na internet. Em alguns segundos, o celular exibirá uma mensagem com as informações sobre a música – título, nome do artista e gravadora. Já o aplicativo Walk Mate é um contador de passos, fácil de usar e que pode ficar ativado durante todo o dia.
Ele mantém um registro de quantos passos a pessoa deu e quantos faltam para completar a média diária. “A criação aqui no Brasil está entre as primeiras do mundo. Os outros países estão olhando para cá como um país de referência”, afirma o sueco Anseklev. Outro produto desenvolvido pela Sony Ericsson Brasil e que ganhou o mercado mundial nasceu focado no público infantil.
A pressão pelo aumento das vendas de aparelhos de celular em datas comemorativas fez com que a companhia pensasse em uma estratégia para o Dia das Crianças. A ideia foi personalizar aparelhos com imagens de personagens infantis como a boneca Barbie, os carrinhos Hot Wheels e a Hello Kitty. O projeto deu tão certo que o modelo de negócio foi exportado para mais de 175 países.
A virada de imagem do Brasil perante o mundo aconteceu a partir dos anos 2000. Antes, afirma Dirk Michael Boehe, professor do centro de pesquisas do Insper, o País era estigmatizado por ter declarado moratória nos anos 80, durante o governo Sarney. “Mas o Brasil decolou nos últimos anos”, explica. Ou seja, a partir do momento em que os brasileiros se tornam grandes consumidores, as empresas começam a enxergá-los de outra forma. Consequentemente, as filiais ganham força internacionalmente. Some-se a isso o fato de que o custo da mão de obra nacional é mais barato. O caso da sueca Electrolux comprova esse movimento das multinacionais.
Até 2007, a subsidiária da empresa no Brasil desenvolvia aqui somente produtos para clientes brasileiros e em duas categorias: lavadoras de alta pressão e aspiradores. Com estabilidade econômica, ganhou atenção dentro do grupo. Daqui saíram produtos como os da linha Confidence, que incluem ferros de passar que desligam automaticamente depois de alguns minutos sem uso, e os da linha Power Mix Silent, de liquidificadores mais silenciosos e que hoje são vendidos na América Latina, Europa e Ásia.
O brasileiro cria mais e é menos ligado a padrões. Muitas vezes o europeu já tem um conceito pré-estabelecido, o que pode impactar o processo de inovação”, diz Laurent Vergneau, vice-presidente de marketing de eletroportáteis da empresa. Hoje, a companhia possui um centro de desenvolvimento em Curitiba que é considerado uma espécie de usina de ideias exportadas para todo o mundo.
As empresas multinacionais começaram a perceber o que já deveriam ter notado há muito tempo: ninguém melhor do que os funcionários das filiais para identificar as necessidades de cada mercado. “Dar mais autonomia traz mais resultado”, diz Boehe, do Insper. É o caso da Whirlpool, que fatura US$ 17 bilhões e é dona de marcas como Brastemp e Consul.
 Além do Brasil, que conta com 700 profissionais voltados para o desenvolvimento de produtos, a companhia tem outros três centros de desenvolvimento de tecnologia nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. “Mas somos os que mais criam novas tecnologias usadas internacionalmente”, diz Rogério Martins, diretor de desenvolvimento de produtos da Whirlpool Latin America.
Como exemplo, ele cita materiais alternativos para o isolamento térmico de refrigeradores – hoje usados em todo o mundo – e mecanismos de lavagem para máquinas de lavar roupas vendidas nos Estados Unidos e na Ásia. Só em 2009, a companhia desenvolveu 160 produtos aqui, uma média de três por semana.
Entre eles encontra-se a linha de geladeiras Brastemp Club, hoje exportada para o Chile, Peru, Bélgica e França. Até mesmo o fogão da marca americana KitchenAid, que é vendido apenas nos Estados Unidos, foi desenvolvido em terras nacionais. O segredo do sucesso? “O brasileiro sabe fazer mais com menos”, diz Martins.


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