[04/05/2007] |
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Foi este o título da palestra que apresentamos nas comemorações do 4º aniversário do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), em 19/4. O cenário do agronegócio mundial nas próximas décadas foi construído com base em trabalhos e estatísticas publicados por prestigiosas instituições como FAO, ONU, OCDE, Banco Mundial e FAPRI. Apesar de todas as incertezas envolvidas em previsões desta natureza, o exercício é imprescindível para que agentes públicos e privados possam antecipar tendências e rever as suas ações.
A demanda por alimentos deverá ter comportamento distinto entre países em desenvolvimento e desenvolvidos. Nos primeiros, espera-se um elevado crescimento do consumo de alimentos, empurrado por três fatores: crescimento populacional, aumento da renda per capita e urbanização. De acordo com as projeções, em 2050 mais de 85% da população mundial estará vivendo nos países em desenvolvimento.
Chama a atenção o preocupante crescimento populacional da África Subsaariana (130% até 2050), países árabes (79%) e Índia (44%). A tendência de maior urbanização é global, porém muito mais acentuada na África e na Ásia, onde cerca de 60% das pessoas ainda vivem em zona rural. Estima-se que mais de 1,5 bilhão de pessoas irão deixar a zona rural em busca de melhores oportunidades de trabalho na área urbana nas próximas décadas. Aumento da renda per capita e da urbanização são os vetores que explicam o processo de mudança nos padrões alimentares nos países em desenvolvimento (o chamado "efeito graduação"), com a contínua substituição de grãos, amidos e vegetais por carnes, lácteos, doces e frutas.
Nos países desenvolvidos, a tônica não deve ser o aumento quantitativo da demanda, que já se encontra em patamares demasiadamente elevados, mas, sim, a demanda qualitativa: conveniência e praticidade (fast food, serviços de alimentação, etc.) e crescente preocupação com aspectos relacionados à saúde e ao bem-estar (nutrição, qualidade e segurança do alimento), decorrentes do rápido envelhecimento da população e do aumento de problemas como obesidade (que nos EUA já acomete 25% da população com mais de 20 anos) e diabetes. Dessa forma, regulamentações associadas à sanidade animal e vegetal, rastreabilidade, rotulagens, boas práticas ambientais e laborais e certificações serão cada vez mais presentes e rigorosas.
Pelo lado da oferta, a escassez de recursos naturais deve limitar cada vez mais a produção de alimentos, principalmente no norte da África, no Oriente Médio e no sudeste da Ásia, tornando-se fator de expansão em outras regiões. O Brasil é o país que possui a melhor combinação de fatores de produção para expandir a oferta agropecuária de forma sustentável: água, terras, clima e, principalmente, alta tecnologia e possibilidades de aproveitamento de economias de escala e escopo.
A expansão recente dos biocombustíveis provocou o surgimento de previsões neomalthusianas, que antevêem uma explosão de preços nas commodities agropecuárias e o conseqüente aumento da fome nos países mais pobres. É obvio que pode haver algum aumento de preços no curto prazo, principalmente se EUA e União Européia insistirem em produzir enormes volumes de biocombustíveis com matérias-primas caras e de baixa produtividade e conversão energética, como o milho e o óleo de canola. No entanto, se prevalecer a lucidez por meio de uma progressiva abertura dos mercados de combustíveis renováveis, o risco é muito menor, já que plantas tropicais, como cana-de-açúcar e palma (dendê), e, no futuro, forragens tropicais e pinhão-manso certamente serão imbatíveis ante as alternativas de clima temperado.
Ocorre que as previsões catastrofistas feitas pelo economista britânico Thomas Malthus por volta de 1800 subestimaram o poder do progresso tecnológico, que permitiu que hoje se utilize apenas 1 hectare agrícola para alimentar cada habitante em zona urbana, ante 3,5 hectares no início dos anos 60. O problema da fome no mundo não vem da falta de alimentos, mas sim da falta de renda.
O progresso tecnológico explica a famosa "tendência secular de declínio dos preços reais dos produtos agropecuários" e a redução das despesas com alimentação à medida que a renda familiar aumenta (a chamada Lei de Engel, de 1857). Portanto, erram grosseiramente aqueles que, desconhecendo a literatura pertinente, afirmam que as commodities agropecuárias terão os seus preços elevados na mesma proporção do petróleo e de alguns minerais, o que justificaria uma taxação "à la Argentina". Se o petróleo é cada vez mais escasso (e, portanto, mais caro), as commodities agrícolas são por natureza renováveis e dispõem de novas fronteiras tecnológicas - como a biotecnologia e a engenharia genética -, que permitirão novos saltos de produtividade e a continuidade da redução secular dos seus preços reais.
Nesse cenário de extraordinárias mudanças na produção e no consumo de alimentos, espera-se uma expansão sem precedentes do mercado agrícola mundial, com destaque para as carnes (bovina, suína e avícola) e os lácteos, que deverão dobrar as suas exportações até 2015, seguidos pela soja, arroz e açúcar. O eixo dinâmico da oferta exportadora de commodities competitivas será deslocado dos países ricos para os emergentes, que dispõem de recursos naturais, tecnologia e sistemas agrários eficientes (o maior potencial está na América do Sul e no Leste da Europa), e a demanda por importações migrará dos países ricos para os emergentes da Ásia e do Oriente Médio.
Neste contexto, as políticas agrícolas que nos parecem mais importantes para o futuro do setor no Brasil são reduzir a volatilidade cambial, abrir mercados e investir pesadamente em infra-estrutura, defesa agropecuária e biotecnologia.
A demanda por alimentos deverá ter comportamento distinto entre países em desenvolvimento e desenvolvidos. Nos primeiros, espera-se um elevado crescimento do consumo de alimentos, empurrado por três fatores: crescimento populacional, aumento da renda per capita e urbanização. De acordo com as projeções, em 2050 mais de 85% da população mundial estará vivendo nos países em desenvolvimento.
Chama a atenção o preocupante crescimento populacional da África Subsaariana (130% até 2050), países árabes (79%) e Índia (44%). A tendência de maior urbanização é global, porém muito mais acentuada na África e na Ásia, onde cerca de 60% das pessoas ainda vivem em zona rural. Estima-se que mais de 1,5 bilhão de pessoas irão deixar a zona rural em busca de melhores oportunidades de trabalho na área urbana nas próximas décadas. Aumento da renda per capita e da urbanização são os vetores que explicam o processo de mudança nos padrões alimentares nos países em desenvolvimento (o chamado "efeito graduação"), com a contínua substituição de grãos, amidos e vegetais por carnes, lácteos, doces e frutas.
Nos países desenvolvidos, a tônica não deve ser o aumento quantitativo da demanda, que já se encontra em patamares demasiadamente elevados, mas, sim, a demanda qualitativa: conveniência e praticidade (fast food, serviços de alimentação, etc.) e crescente preocupação com aspectos relacionados à saúde e ao bem-estar (nutrição, qualidade e segurança do alimento), decorrentes do rápido envelhecimento da população e do aumento de problemas como obesidade (que nos EUA já acomete 25% da população com mais de 20 anos) e diabetes. Dessa forma, regulamentações associadas à sanidade animal e vegetal, rastreabilidade, rotulagens, boas práticas ambientais e laborais e certificações serão cada vez mais presentes e rigorosas.
Pelo lado da oferta, a escassez de recursos naturais deve limitar cada vez mais a produção de alimentos, principalmente no norte da África, no Oriente Médio e no sudeste da Ásia, tornando-se fator de expansão em outras regiões. O Brasil é o país que possui a melhor combinação de fatores de produção para expandir a oferta agropecuária de forma sustentável: água, terras, clima e, principalmente, alta tecnologia e possibilidades de aproveitamento de economias de escala e escopo.
A expansão recente dos biocombustíveis provocou o surgimento de previsões neomalthusianas, que antevêem uma explosão de preços nas commodities agropecuárias e o conseqüente aumento da fome nos países mais pobres. É obvio que pode haver algum aumento de preços no curto prazo, principalmente se EUA e União Européia insistirem em produzir enormes volumes de biocombustíveis com matérias-primas caras e de baixa produtividade e conversão energética, como o milho e o óleo de canola. No entanto, se prevalecer a lucidez por meio de uma progressiva abertura dos mercados de combustíveis renováveis, o risco é muito menor, já que plantas tropicais, como cana-de-açúcar e palma (dendê), e, no futuro, forragens tropicais e pinhão-manso certamente serão imbatíveis ante as alternativas de clima temperado.
Ocorre que as previsões catastrofistas feitas pelo economista britânico Thomas Malthus por volta de 1800 subestimaram o poder do progresso tecnológico, que permitiu que hoje se utilize apenas 1 hectare agrícola para alimentar cada habitante em zona urbana, ante 3,5 hectares no início dos anos 60. O problema da fome no mundo não vem da falta de alimentos, mas sim da falta de renda.
O progresso tecnológico explica a famosa "tendência secular de declínio dos preços reais dos produtos agropecuários" e a redução das despesas com alimentação à medida que a renda familiar aumenta (a chamada Lei de Engel, de 1857). Portanto, erram grosseiramente aqueles que, desconhecendo a literatura pertinente, afirmam que as commodities agropecuárias terão os seus preços elevados na mesma proporção do petróleo e de alguns minerais, o que justificaria uma taxação "à la Argentina". Se o petróleo é cada vez mais escasso (e, portanto, mais caro), as commodities agrícolas são por natureza renováveis e dispõem de novas fronteiras tecnológicas - como a biotecnologia e a engenharia genética -, que permitirão novos saltos de produtividade e a continuidade da redução secular dos seus preços reais.
Nesse cenário de extraordinárias mudanças na produção e no consumo de alimentos, espera-se uma expansão sem precedentes do mercado agrícola mundial, com destaque para as carnes (bovina, suína e avícola) e os lácteos, que deverão dobrar as suas exportações até 2015, seguidos pela soja, arroz e açúcar. O eixo dinâmico da oferta exportadora de commodities competitivas será deslocado dos países ricos para os emergentes, que dispõem de recursos naturais, tecnologia e sistemas agrários eficientes (o maior potencial está na América do Sul e no Leste da Europa), e a demanda por importações migrará dos países ricos para os emergentes da Ásia e do Oriente Médio.
Neste contexto, as políticas agrícolas que nos parecem mais importantes para o futuro do setor no Brasil são reduzir a volatilidade cambial, abrir mercados e investir pesadamente em infra-estrutura, defesa agropecuária e biotecnologia.
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