O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), o mais usado nos contratos de aluguel no país, fechou o ano em 11,32%, o maior nível desde 2004. Altas de preços de produtos básicos (como minério de ferro e algodão) acabaram influenciando o índice. Mas, como o mercado imobiliário está aquecido, sobretudo no Rio, além do repasse da inflação, está havendo negociação para renovação de contratos. Nestes casos, há preços dobrando, como o de um apartamento de quarto e sala em Botafogo, de R$ 730 para R$ 1.500. “O mercado está aquecido e como os aluguéis representam entre 0,5% e 1% do valor de compra, os reajustes estão sendo muito acima do IGP-M”, disse Pedro Carsalade, presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi)
IGP-M fecha ano em 11,32%, o maior desde 2004. Mercado aquecido faz locação até dobrar
OÍndice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), o mais usado nos contratos de aluguel no país, fechou 2010 em 11,32%, o maior patamar dos últimos seis anos - em 2004, avançara 12,41%. A alta do índice, no entanto, não é o único problema que vem tirando o sono de inquilinos. Com o mercado imobiliário do Rio superaquecido, alguns aluguéis vêm até dobrando de valor na hora da renovação do contrato.
Segundo Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-RJ) e diretor da imobiliária Apsa, diante da alta do índice, está havendo uma grande movimentação de inquilinos à procura de informações:
- Como o mercado está muito aquecido, não sabemos se haverá negociação, a tendência é realmente de alta. O poder de barganhar está na mão dos proprietários e não mais dos inquilinos. Mas vamos esperar os próximos 30, 60 dias para ver como fica.
Pedro Carsalade, presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), diz que a oferta de unidades para alugar é menor do que a demanda.
- O mercado está aquecido, faltam imóveis para locação e a procura é grande. O reajuste anual é sempre uma negociação entre inquilino e proprietário e uma boa relação conta nessa hora. Mas o fato é que os imóveis subiram muito, alguns mais de 60%, em bairros como Botafogo e Ipanema, onde há muita procura por empresas com vistas à Copa e às Olimpíadas. E os aluguéis representam entre 0,5% e 1% do valor da unidade. Para adequar o aluguel ao preço do mercado, muitos terão reajustes acima do IGP-M.
Índice deve ser menor em 2011
O contrato do apartamento de 40 metros quadrados, sem garagem, na Praia de Botafogo, em que Jacqueline Mota e o marido Rômulo Elizardo moram vence dia 31 de janeiro e o casal já sabe que não terá outra opção a não ser a mudança. É que a proprietária já avisou que, para renovar o contrato, o valor sairia dos atuais R$730 para R$1.500.
- Imaginávamos que aluguel poderia ir para uns mil reais, mas R$1.500 nossa renda não suporta. Já olhamos outros apartamentos no bairro e também em Copacabana e no Flamengo. Estão todos nessa faixa. E até agora, de todos os que vimos, o nosso é o melhor. Para pagar um aluguel em torno de mil reais, achamos que teremos que deixar a Zona Sul e ir para a Tijuca. É incrível pensar que, quando entramos, há 30 meses, tivemos até uma pequena redução do aluguel ao fim do primeiro ano e descontos para fazer obras e instalar armários.
Para Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), instituição que calcula o índice, embora muito elevada, a taxa do IGP-M este ano tem um forte componente da recuperação de preços depois das fortes quedas que se seguiram à crise econômica mundial do fim de 2008. O próprio IGP-M refletiu essas quedas, ao fechar 2009 com deflação de 1,72%, a primeira variação negativa nos 20 anos em que o índice é calculado, lembra Quadros:
- A taxa deste ano é muito alta, mas está associada à anterior, e reflete uma recuperação de preços, que vêm de níveis muito baixos. Por isso, é improvável que haja repetição de uma alta desta ordem em 2011. Tanto que estamos fechando o ano com uma taxa (0,69%) bem menor que a média do ano (que foi superior a 1%).
A expectativa é que o índice recue ao longo do ano. Mas não muito: 2011 será, de novo, um ano de inflação sob pressão, apontam os economistas.
- Para os próximos meses haverá ainda alguma pressão das commodities agrícolas, por razões sazonais e pelo fenômeno La Niña. Desacelerando-se mais adiante - diz Thais Marzola Zara, economista da consultoria Rosenberg Associados.
A vantagem, ressalta Thais, é que o IGP-M não tem mais o impacto de antes sobre os preços administrados, como tarifas elétricas e de telefonia, que passaram a ser corrigidos por índices que captam apenas parte da alta do IGP-M:
- O IGP-M ainda tem certo peso, mas não tanto quanto no passado.
O IGP-M desacelerou este mês, com alta de 0,69%, depois de subir 1,45% em novembro. Dos três indicadores que compõem o índice, o que mede as variações de preços no atacado (IPA) foi o que apresentou maior variação, de 13,9% no ano. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançou 6,09%, em linha com a taxa esperada para a inflação oficial (o IPCA), de 5,9%. E o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC), 7,58%.
- Como o IGP-M capta preços sujeitos a elevações bruscas, como o das commodities, em 2011 continuará mostrando que o mundo se mantém volátil e a especulação permanece forte neste mercado. E os problemas climáticos estão aumentando. O que pode suavizar é que a necessidade de recuperação de preços no mundo agora é menor - disse Quadros, da FGV.
Rolagem da dívida pública: um debate necessário
Autor(es): Walter Aluisio M. Rodrigues |
Valor Econômico - 30/12/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/rolagem-da-divida-publica-um-debate-necessario |
Se as distorções atuais forem mantidas, em 2030 a parcela que hoje corresponde a 13% poderá chegar a 90% Passadas as eleições e iniciada a fase de transição nos governos federal e estaduais, ressurge a discussão sobre a necessidade de readequação dos contratos de rolagem da dívida pública dos Estados e municípios com a União. Em especial, volta à baila a questão da abusiva taxa de juros e índice de atualização monetária utilizados nos ajustes. O excesso de retórica na discussão, aliado a utilização recorrente de argumentos equivocados, tem dificultado a construção de um debate sério e claro sobre a questão da dívida pública. Assim, cabe afastar os argumentos que evitam ou poluem a discussão, a fim de torná-la mais transparente e, principalmente, justa, pois tal debate é de fundamental importância para o País. Em primeiro lugar, é preciso esclarecer a origem dessa dívida. Entre 1997 e 2000, a União firmou acordos com Estados e municípios para a rolagem de suas dívidas. Estávamos às vésperas da implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal e era condição sine qua non que os entes federativos tivessem seu endividamento equacionado. Nesse contexto, a União captou recursos no mercado financeiro, mediante a emissão de títulos, e quitou as dívidas de Estados e municípios com seus credores, em sua maioria instituições financeiras, e os entes federados subnacionais passaram a dever para a União. Não se pode perder de vista que todo esse processo foi criado para ajudar na solução da dívida pública brasileira. Porém, hoje o que vemos é um efeito justamente contrário, já que os citados contratos de rolagem da dívida tornaram-se fonte de desequilíbrio fiscal nos Estados e nos municípios. E o pior de tudo é que aqueles que alertam para os riscos futuros muitas vezes são mal interpretados e taxados de irresponsáveis. Por isso, alguns esclarecimentos são bastante oportunos. O primeiro ponto a ser analisado diz respeito às críticas sobre um possível relaxamento fiscal, caso as distorções existentes nos contratos sejam corrigidas. Ora, em nenhum momento foi proposto adiar os pagamentos da dívida ou prorrogar os prazos contratuais, o que já demonstra que o argumento é descabido. Com efeito, a proposta defendida pelos Estados e municípios é justamente um avanço em termos de responsabilidade fiscal, pois, na medida em que busca corrigir uma grave distorção na taxa de juros e no índice de atualização monetária, desarma uma "bomba relógio" programada para explodir daqui a 30 anos. No caso da Prefeitura de São Paulo, os pagamentos mensais da dívida comprometem a significativa parcela de 13% das receitas municipais, o que somente neste ano de 2010 significará cerca de R$ 2,4 bilhões. Em 2030, quando o contrato se encerra, o saldo devedor ainda existente deverá ser pago em 10 anos, sem qualquer limite de comprometimento da receita municipal. E as projeções indicam que, caso as distorções atuais sejam mantidas até lá, a parcela que hoje correspondente a 13% das receitas municipais poderá alcançar a marca estratosférica de 90%. Para o Gestor Público irresponsável ou pouco comprometido com a sustentabilidade fiscal de longo prazo, esse arranjo até poderia ser confortável, pois só geraria implicações práticas em 2030, com o colapso financeiro da Prefeitura. Felizmente, não é esse o pensamento do atual prefeito da cidade, Gilberto Kassab, e de sua equipe de governo, que trabalham diariamente para conservar a saúde fiscal do Município e têm empreendido esforços significativos no sentido de estabelecer um canal de diálogo com o Governo Federal e com a sociedade paulistana, no intuito de encontrar soluções para o problema da dívida pública. Outro argumento equivocado e que tem sido bastante repetido é o de que as alterações na taxa de juros e no índice de atualização monetária seriam vedados pela Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF. Pura retórica. As restrições impostas pela LRF dizem respeito à celebração de novos contratos de refinanciamento, adiamento dos prazos existentes ou novação (troca de uma dívida por outra). Ora, uma eventual proposta de ajustes nos custos de carregamento da dívida obviamente não se encaixa em nenhuma das três restrições impostas pela LRF e o argumento, novamente, apenas serve para confundir a sociedade e evitar o debate. Deve ser combatido, também, o argumento de que as distorções atuais se compensam com os subsídios que foram dados no início dos contratos, quando a Selic estava em patamar mais elevado. Mais uma vez, a assertiva não resiste às evidências. Utilizando novamente o caso da prefeitura de São Paulo, nota-se que os encargos do contrato (IGP-DI + 9% de juros ao ano) foram mais de 40% superiores à Selic, quando comparados de forma acumulada desde o início do contrato até os dias atuais. Essa diferença gerou acréscimo na dívida da Prefeitura de mais de R$ 10 bilhões, caracterizando uma espécie de "transferência de renda" para a União. Enfim, os esclarecimentos expostos apenas objetivam despoluir o debate. As distorções no contrato são claras, as propostas de correção são justas, a estrutura institucional permite o ajuste e os resultados revertem em favor da responsabilidade fiscal do País, pois assegura a sustentabilidade fiscal de longo prazo dos Estados e Municípios. Resta a dúvida: a quem interessa não solucionar o problema? Walter Aluisio Morais Rodrigues pós-graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, é secretário de Finanças do município de São Paulo. |
O menor superávit primário da era Lula
Autor(es): Ribamar Oliveira |
Valor Econômico - 30/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/o-menor-superavit-primario-da-era-lula |
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Governo federal nunca gastou tanto como em 2010 O governo federal nunca gastou tanto como neste ano. De janeiro a novembro, as despesas da União aumentaram 24,6% em relação a igual período do ano passado. Se não for considerada a receita obtida com a cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo à Petrobras, o superávit primário do governo central (Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central) é menor do que em 2009, ano em que o Brasil enfrentou a crise financeira internacional e, para não sofrer tanto com ela, executou uma política fiscal expansionista. Pelo óleo que ainda está no fundo do mar, o Tesouro recebeu R$ 74,8 bilhões e, desse total, utilizou R$ 42,9 bilhões para subscrever ações durante o processo de capitalização da Petrobras. Ele ficou, portanto, com R$ 31,9 bilhões em caixa. Se esses R$ 31,9 bilhões forem retirados da conta, o superávit primário do governo central de janeiro a novembro cai de 1,91% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0,94% do PIB, conforme a tabela abaixo. No mesmo período de 2009, o superávit ficou em 1,41% do PIB. Para comparar o esforço fiscal executado pelo governo nos últimos dois anos é razoável não considerar a receita proveniente do petróleo. Em 2010, o governo federal utilizou uma receita futura do pré-sal para financiar os seus gastos correntes, que, por causa desse expediente, foram turbinados. Em 2010, a política foi ainda mais expansionista que em 2009, mesmo com a economia crescendo 7,5%, como estima o mercado e o próprio governo. Apesar da receita extra de R$ 31,9 bilhões, é muito provável que o governo central não alcance a sua meta de superávit primário de 2,15% do PIB, o equivalente a R$ 76,3 bilhões. Na hipótese que a meta seja obtida, o superávit "efetivo" deste ano (descontados os recursos da cessão onerosa do pré-sal) ficaria em torno de 1,25% do PIB e seria menor do que aquele registrado em 2009, que foi de 1,33% do PIB. Na verdade, o superávit "efetivo" do governo central este ano será o menor da era Lula e um dos menores desde 1998, quando o Brasil começou a definir metas fiscais. Talvez seja maior apenas do que o de 1998, ano em que o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também utilizou receitas da privatização de estatais para garantir o superávit primário. A política fiscal deste ano é pró-cíclica, ou seja, ela é expansionista em um momento de forte crescimento da economia brasileira. A trajetória fiscal de 2010 parece refletir aquilo que os economistas chamam de "ciclo político". Em anos eleitorais, os governos tendem a gastar muito para eleger os seus candidatos. Esse é um fenômeno que já mereceu até mesmo registro nos manuais de economia e os números mostram que o Brasil não fugiu à regra. A dúvida que fica é se a redução do superávit primário veio para ficar?. A resposta a essa questão certamente será dada pelo governo Dilma Rousseff nos próximos meses. A rigor, o superávit do setor público acaba de ser reduzido pelo governo Lula de 3,3% do PIB para 3,1% do PIB, com a retirada das empresas estatais federais do cálculo. Algumas projeções da área técnica oficial mostram que a meta fiscal poderia ser reduzida para um patamar ainda menor e, mesmo assim, garantir uma trajetória de redução da dívida líquida do setor público em proporção do PIB. A grande dificuldade para colocar em prática a redução da meta fiscal seria a deterioração do perfil da dívida pública líquida nos últimos anos. Por causa da acumulação de reservas e dos empréstimos subsidiados do Tesouro Nacional ao BNDES, o governo está construindo passivos onerosos e ativos de baixa rentabilidade. O resultado desse movimento é que o custo da dívida não está caindo e nem, por conseguinte, a carga de juros do setor público. A continuidade dessa política do governo brasileiro (acumulação de reservas e empréstimos subsidiados ao BNDES) vai forçar o governo a manter superávit primário maior do que seria necessário para garantir a queda da relação dívida/PIB. Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha dito que irá perseguir a meta de superávit primário de 3,1% do PIB daqui para frente (de 2,15% do PIB para o governo central), há dúvidas na área técnica sobre a capacidade do governo Dilma Rousseff de cumprir esse objetivo. O motivo da descrença é que o superávit do governo central teria que passar dos atuais 1,25% do PIB (percentual obtido sem os recursos da cessão onerosa) para 2,15% - um aumento de 0,9 ponto percentual do PIB. O ajuste fiscal a ser realizado seria maior do que aquele feito no primeiro ano do governo Lula. Para ajustar as contas públicas em 2003, o presidente Lula foi obrigado a cortar fortemente os investimentos, que passaram de 0,8% do PIB no último ano do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para 0,3% do PIB, o menor nível já registrado. Um corte dessa dimensão é impensável atualmente, mesmo porque o presidente Lula já indicou que o ministro Mantega não deve cortar os gastos do PAC. |
Governo paga mais juros da dívida
Autor(es): Patrícia Duarte |
O Globo - 30/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/governo-paga-mais-juros-da-divida |
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Com avanço da inflação, resultado obtido no ano é o pior desde 2001
BRASÍLIA. O Brasil não só não conseguirá cumprir a meta cheia de superávit primário - economia feita para pagamento de juros - deste ano, de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), como está pagando mais juros do que nunca para honrar a dívida pública. Segundo dados do Banco Central (BC) divulgados ontem, entre janeiro e novembro foram R$175,834 bilhões apropriados para juros, o pior resultado da série histórica, iniciada em 2001. Só no mês passado foram R$18,525 bilhões, também recorde para o mês de novembro, consequência sobretudo do avanço da inflação.
- Cerca de um terço da dívida está indexada a índices de preços - argumentou o chefe-adjunto do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
Só em IPCA, que neste ano já acumula alta de 5,25% até novembro, são 24,3% da dívida líquida do setor público, enquanto 4,9% são corrigidos pelo IGP-M, que teve alta de 11,32% no ano. Para 2011, no entanto, a expectativa é que esse cenário deve ficar mais ameno. Neste ano, o pagamento de juros vai equivaler a 5,4% do PIB, segundo os cálculos do BC e, em 2011, deve cair para 4,8%, com a melhora esperada na inflação.
Gasto de estado e município impede cumprimento de meta
A dívida líquida do setor público fechou novembro em R$1,451 trilhão, ou 40,1% do PIB em 12 meses, percentual que deve chegar a 40,3% em dezembro. Para o próximo ano, adiantou Maciel, a projeção do BC é de 37,8%. No mês passado, o país fechou com o pior superávit primário para novembro: apenas R$4,166 bilhões, um terço do resultado visto um ano antes. No ano, o superávit está em R$90,843 bilhões, o que, em 12 meses, corresponde a 2,51% do PIB, colocando uma pá de cal na possibilidade de cumprir a meta do governo de 3,1% neste ano. Para tanto, o setor público teria de obter superávit de mais de R$20 bilhões em dezembro, ou quase 0,7 ponto percentual do PIB, o que está fora de cogitação pelas despesas esperadas no período, com uma parte do décimo terceiro salário dos servidores.
Por isso, o governo terá de usar os investimentos realizados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que, em novembro, estavam em R$23,8 bilhões ou 0,66 ponto percentual do PIB em 12 meses. Maciel, do BC, argumentou que os estados e municípios são o principal fator que impede que a meta geral do setor público seja alcançada, já que houve forte crescimento das despesas neste ano eleitoral. No mês passado, eles registraram superávit primário de R$2,377 bilhões, somando no ano R$24,558 bilhões. A cifra corresponde a 0,65% do PIB, longe dos 0,95% da meta oficial.
O governo central (governo federal, BC e INSS) registrou superávit primário em novembro de R$1,655 bilhão (no ano, R$63,319 bilhões, 1,80% do PIB). O número foi inflado em R$32 bilhões que entraram nas contas por causa da capitalização da Petrobras, garantindo o cumprimento da meta dessas esferas.
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Banco registra mais um ano de recorde de financiamentos
Autor(es): Alexandre Rodrigues |
O Estado de S. Paulo - 30/12/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/banco-registra-mais-um-ano-de-recorde-de-financiamentos |
A aprovação do financiamento bilionário para a Eletronuclear concretizar Angra 3 marca o fim de mais um ano de expansão dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apesar da recuperação da economia. O balanço do banco até novembro superou R$ 153 bilhões em liberações, 31% a mais do que no mesmo período de 2009. O volume é maior do que os R$ 146 bilhões previstos pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para o ano todo e um novo recorde para a instituição. Em 2009, o BNDES emprestou R$ 137 bilhões, com o indicativo de desacelerar o crescimento para combater a retração dos investimentos na crise. O desempenho este ano foi turbinado pelas liberações do empréstimo especial de R$ 25 bilhões à Petrobrás. Sem ele, o crescimento nos desembolsos até novembro teria sido de 10%. Só em novembro, o BNDES liberou R$ 12,7 bilhões em créditos, 16% a mais do que no mesmo mês de 2009. Neste mês, o BNDES aprovou outro crédito elevado: R$ 2,7 bilhões para a construção de uma fábrica de celulose da Suzano em Imperatriz, no Maranhão. Na área de energia, o BNDES aprovou, entre dezembro de 2008 e fevereiro de 2009, R$ 14 bilhões em financiamentos para as hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, em construção no Rio Madeira, em Rondônia. O banco esperava aprovar o financiamento da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), ainda neste ano, mas terá de esperar a licença de instalação do empreendimento. O BNDES poderá financiar até 80% do projeto, estimado em R$ 19,6 bilhões. Outro desafio que fica para 2011 é o projeto do trem-bala Rio-SP-Campinas, cujo leilão de concessão foi adiado para abril.
Com R$ 144,8 bi até setembro, fusões e aquisições são recorde em 2010
Autor(es): Vinícius Pinheiro |
O Estado de S. Paulo - 30/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/com-r-144-8-bi-ate-setembro-fusoes-e-aquisicoes-sao-recorde-em-2010 |
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Valor acumulado em nove meses é superior a todo o ano de 2007, quando se registrou a maior marca anterior, com operações que somaram R$ 136,5 bilhões; analistas projetam que o mercado deve seguir aquecido no ano que vem, mas não com a mesma força
Grandes negócios nos setores de telecomunicações, aviação, finanças e energia movimentaram o mercado de fusões e aquisições em 2010. Entre janeiro e setembro, as operações totalizaram R$ 144,8 bilhões, o que já representa um recorde, mesmo em comparação com todo o ano de 2007, até então o de maior movimentação, com R$ 136,5 bilhões. Para 2011, a expectativa é de que o mercado se mantenha aquecido, por conta das perspectivas positivas para a economia e o crescente interesse do investidor estrangeiro no País. Mesmo os mais otimistas, porém, avaliam que dificilmente o volume de operações supere o deste ano. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Das dez maiores operações anunciadas até setembro, último balanço disponível, três aconteceram no setor de telecomunicações, inclusive a maior do ano: a compra da participação da Portugal Telecom na Vivo pela Telefônica, por R$ 18,2 bilhões. Os portugueses também protagonizaram outro grande negócio no setor, com a entrada no capital da operadora brasileira Oi, em uma transação avaliada em R$ 9 bilhões. "É difícil imaginar que teremos uma repetição do que ocorreu este ano com o setor de telecom", diz o presidente do subcomitê de fusões e aquisições da Anbima, Bruno Amaral. O vice-presidente da área de banco de investimento do Itaú BBA, Jean-Marc Etlin, também espera que o ritmo de fusões e aquisições se mantenha forte, embora com volume menor em relação a este ano, quando houve grandes movimentos de consolidação. No total, foram anunciadas 94 fusões e aquisições entre janeiro e setembro, ante 68 no mesmo período de 2009. Até setembro, o banco liderava o ranking da Anbima - que considera apenas as operações acima de R$ 20 milhões - por número de negócios, enquanto o Morgan Stanley era o líder em volume. O próximo ano deve ser marcado ainda pela volta com maior apetite do investidor estrangeiro, principalmente da Europa e dos EUA, que ficaram praticamente fora do mercado no primeiro semestre de 2010, em meio às incertezas provocadas pela crise financeira. Novas aquisições. Na análise do advogado André de Almeida, sócio da Almeida Advogados, os estrangeiros devem continuar agressivos na compra de empresas brasileiras, apesar de os ativos nacionais estarem caros para compra, tanto por conta da grande procura quanto pela apreciação do real em relação ao dólar. "A valorização das ações de uma empresa listada lá fora, ao anunciar uma aquisição no Brasil, mais do que compensa o valor a mais que ela paga no negócio", diz. Entre os grandes negócios recentes fechados por estrangeiros no País está a entrada de um consórcio de nove investidores, liderado pelos três maiores fundos soberanos do mundo (Cingapura, China e Abu Dhabi), no capital do BTG Pactual. Com o aporte de capital de US$ 1,8 bilhão, o grupo passou a deter cerca de 18,6% do capital do banco de investimento brasileiro. Para Luís Motta, sócio da empresa de auditoria e consultoria KPMG, a grande novidade no mercado este ano foi o avanço dos asiáticos, especialmente da China. Para ele, a presença dos chineses nos grandes negócios de fusões e aquisições no País será cada vez mais frequente. Recursos. "Qualidade de ativos no Brasil e recursos disponíveis na China não faltam", diz Motta. Uma amostra da boa disposição dos chineses foi o aporte de US$ 7,1 bilhões pela petroleira Sinopec para deter 40% da subsidiária brasileira da Repsol, que se preparava para abrir o capital na BM&FBovespa. Apesar do avanço dos estrangeiros, Motta destaca o aumento de negócios envolvendo empresas brasileiras, tanto no exterior, em movimentos de internacionalização, quanto no próprio País. "Capitalizadas com o aporte de fundos de private equity ou após realizarem ofertas de ações, as companhias nacionais estão liderando movimentos de consolidação", afirma o executivo da KPMG. O volume de aquisições por parte de empresas brasileiras somou R$ 22,6 bilhões de janeiro a setembro deste ano, enquanto as aquisições de estrangeiras por brasileiras atingiu R$ 44,1 bilhões no mesmo período, segundo dados da Anbima.
Inflação corrói capital do investidor no ano
Autor(es): Antonio Perez, de São Paulo |
Valor Econômico - 30/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/inflacao-corroi-capital-do-investidor-no-ano |
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Inflação em alta e capitalização da Petrobrasno Brasil, crise da dívida soberana na Europa, crescimento baixo nos Estados Unidos e medidas para esfriar a economia na China - tudo isso fez de 2010 um ano de agruras para o investidor brasileiro. Enquanto a megaoperação da Petrobras e o cenário externo seguravam o Índice Bovespa, que subia apenas de 0,53% no ano até ontem, o despertar do dragão da inflação corroía os ganhos nas aplicações de renda fixa. "Foi muito difícil ganhar dinheiro no mercado este ano", afirma Sérgio Manoel Correia, economista da LLA Investimentos. O peso da alta da inflação no bolso do investidor este ano é chocante quando se leva em conta o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), que reúne preços no atacado, ao consumidor e custos da construção civil. Descontado o IGP-M, que subiu 11,32% este ano, apenas o ouro deu alegria aos investidores. Com alta nominal de 30,65% até ontem, o metal ostenta ganho real de 17,36%. Do outro lado, o Índice Bovespa amargou perda real de 9,69% - ou seja, quem aplicou no índice viu seu poder de compra diminuir. O desempenho dos fundos de investimento também foi, em geral, uma decepção. Pelas estimativas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), apenas as carteiras de renda fixa devem fechar o ano com ganho real. Mas ele será minguado, de apenas 0,20%. No caso dos fundos DI, a projeção é de perda real de 1,27% este ano. Fora do mundo dos fundos, as duas outras opções conservadoras à disposição do investidor comum - os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e a poupança - também perderam do IGP-M. Com rentabilidade nominal acumulada de 6,90%, a velha caderneta amarga perda real de 3,97% em 2010. O quadro é menos desolador se a conta do ganho real tiver como referência o IPCA, que, pelas estimativas do boletim Focus, deve fechar 2010 com alta de 5,90%. Com o IPCA no jogo, haveria ganho real nas aplicações em poupança (0,95%), CDB (3,64%), nos fundos DI (3,78%) e carteiras de renda fixa (5,33%). Trata-se, é claro, um desempenho excelente em qualquer lugar do mundo, mas desapontador para o investidor local, que se acostumou a ter 6% de rentabilidade real como piso. A arrancada da inflação no fim do ano, puxada por alimentos e preços de serviços, acabou surpreendendo o mercado e corroeu o valor real dos ativos, diz Correia, da LLA. Ele lembra que o Banco Central (BC), após elevar a taxa Selic de 8,75% para 10,75% entre abril e julho, interrompeu o processo de aperto monetário antes do esperado com o argumento de que a inflação já não ameaçava. "A dúvida agora é como o BC vai agir sob o governo Dilma", diz Correia. A perspectiva da maioria do mercado é de manutenção da autonomia operacional do BC. Mesmo com o recente Relatório Trimestral de Inflação sinalizando para uma alta de juros em janeiro, a inflação ainda deve ter papel preponderante nas contas do investidor. Não se sabe se o BC vai trabalhar com a convergência da inflação para meta este ano ou em um prazo mais longo, de dois anos", diz Correia. "E também é preciso ver se a Dilma vai mesmo fazer um ajuste fiscal, ajudando o BC", ressalta ele, lembrando que o governo terá que expandir os gastos com infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Para quem quer se proteger da pressão inflacionária, Correia recomenda os "fundos de inflação" e a compra das Notas do Tesouro Nacional -série B (NTNs-B), que remuneram o investidor com a variação do IPCA mais uma taxa de juros. No site do Tesouro Direto, a NTN-B com vencimento em agosto de 2011 pagava ao investidor taxa de 6,17% ao ano. Os títulos indexados ao IPCA continuam sendo opções interessantes de longo prazo, diz o administrador de investimentos Fábio Colombo. No curto prazo, a recomendação são os fundos DI. "Eles devem proporcionar juro real bruto (sem contar o imposto de renda) entre 4% e 5% ao ano, dependendo da política econômica", afirma Colombo. Ele afirma que a expectativa de alta dos juros em 2011 torna a aposta na renda fixa mais arriscadas, sobretudo em comparação com os fundos DI. "Tudo vai depender da política do BC e da participação dos papéis prefixados nas carteiras de renda fixa", diz Colombo. Se a alta da Selic for maior do que a esperada pelo mercado, os papéis públicos prefixados tendem a perder valor. Para Felipe Tâmega, economista-chefe do Modal, se o BC não subir os juros, o IPCA deve avançar 5,5% em 2011 e 4,9% em 2012, já levando em conta o efeito do aumento dos depósitos compulsórios. "Aumentos de juros são ainda necessários", diz ele, que aposta em três altas seguidas dos juros em 0,50 ponto percentual a partir de janeiro, o que levaria a taxa a 12,25% ao ano. Em relação à bolsa, a mensagem dos analistas é de cautela, sobretudo no primeiro trimestre. Após Grécia e Irlanda este ano, a crise do endividamento soberano pode atingir países como Espanha e Portugal, provocando nova onda de aversão ao risco. Há também um ponto de interrogação sobre o ritmo de crescimento na China, que tem tomado medidas como aumento de compulsório e juros para conter um repique inflacionário. "A dúvida sobre a China deixa os preços das commodities mais voláteis, o que afeta o Ibovespa", afirma Roberto Alem, economista da M2 Investimentos. A maior parte dos analistas, contudo, aposta em um pouso suave do gigante asiático, com o crescimento desacelerando para 9% ou 8% . Outra incógnita é o grau de recuperação da economia americana e seu impacto nos preços das commodities e na liquidez global. A perspectiva de Correia, da LLA, é de que a liquidez se manterá abundante, já que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve manter os programas de estímulo à economia e os juros básicos próximos de zero durante o próximo ano. "O risco é o mercado preferir aplicar na bolsa americana a vir para os emergentes", afirma Todo esse pacote de incertezas no front externo torna o cenário obscuro para o desempenho do real em relação ao dólar, que fechou este ano em queda de 2,85%. Não se descartam novos episódios da "guerra cambial", com mais medidas do governo brasileiro para conter a apreciação do real, como aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Para o administrador Fábio Colombo, os fundos cambiais podem ser opções interessantes para o investidor, caso haja nova onda de aversão ao risco. Isso vale também para o ouro, que disparou este ano em meio à depreciação global do dólar.
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Crescimento econômico puxa arrecadação do FGTS
Autor(es): Gustavo Paul |
O Globo - 30/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/crescimento-economico-puxa-arrecadacao-do-fgts |
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Depósitos aumentaram e saques diminuíram, com saldo 48% maior que o do ano passado
BRASÍLIA. O crescimento econômico em 2010 elevou em 48% a arrecadação líquida (depósitos menos saques) do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) este ano. De acordo com o balanço divulgado pelo Ministério do Trabalho, a receita passou de R$6,9 bilhões em 2009 para R$10,211 bilhões até novembro, e pode chegar a R$11,5 bilhões em dezembro.
Ao longo do ano, o aumento em 2,5 milhões de vagas no mercado de trabalho fez com que a arrecadação bruta do Fundo crescesse 0,9%, passando de R$54,7 bilhões para R$55,2 bilhões. Ao mesmo tempo, com menos demissões, os saques recuaram 0,5%, passando de R$47,8 bilhões para R$45 bilhões.
- Quanto mais aquecida a economia, maior a arrecadação do FGTS. Prova disso é a melhoria das aplicações - comemorou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
O balanço mostra ainda que o volume de recursos aplicados no FGTS cresceu 55,5% em 2010. Pelos dados do ministério, o orçamento destinado a programas de habitação popular, saneamento, infraestrutura urbana e o Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) foi de R$74 bilhões este ano. Em 2009, o FGTS havia investido quase R$47,9 bilhões nesses programas.
Lupi ressaltou que os investimentos significam mais geração de emprego. Segundo cálculos do ministério, somando saques, desembolsos, subsídios e outros programas relacionados ao FGTS, foram injetados na economia brasileira R$74,64 bilhões. O estoque de recursos total é de R$255 bilhões.
- A cada R$1 milhão investido pelo FGTS, geram-se 65 empregos diretos e indiretos - comparou.
Do total de recursos previstos no orçamento do fundo, R$50,8 bilhões foram destinados ao financiamento tradicional - que inclui habitação, saneamento e infraestrutura. Esse volume é 67% maior que o aplicado em 2009.
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Favelas são nova arena da disputa bancária
Autor(es): Aline Lima | De São Paulo |
Valor Econômico - 30/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/favelas-sao-nova-arena-da-disputa-bancaria |
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O morro, agora, tem vez. Em 2010 os bancos aceleraram a abertura de agências em favelas de grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro e, atentos ao potencial de consumo das classes D e E, já têm planos para ampliar a ocupação dos morros em 2011. Pouco mais de uma dezena de agências devem ser inauguradas somente em morros cariocas, no próximo ano, por Bradescoe Banco do Brasil(BB). Até mesmo o Itaú Unibanco, que é percebido pelo público como um banco mais elitista, quer demarcar território em favelas cariocas. O banco das famílias Setubal, Villela e Moreira Salles firmou acordo com o governo estadual do Rio de Janeiro para abrir agências nas áreas ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs). O Santander, que está com uma campanha em horário nobre na TV para anunciar a abertura de uma agência no Complexo do Alemão (RJ), informa que quer replicar a experiência em outras comunidades carentes do Rio e São Paulo, mas não fornece mais detalhes. Existem hoje apenas dez agências bancárias localizadas em favelas brasileiras. Mas, há poucos anos, a ausência era total. A Caixa Econômica Federal, pioneira ao chegar na Rocinha em 1998, abriu sua segunda agência em uma favela em 2010, pouco antes do Natal, no Complexo do Alemão. O Banco do Brasil inaugurou, há menos de um mês, duas agências em comunidades de baixa renda: uma em Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo, com 100 mil habitantes, e no Morro da Baiana, localizado no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, com população estimada em 140 mil moradores. O plano de expansão da rede do BB ganha força em 2011. A instituição planeja abrir as portas na Cidade de Deus, na Rocinha e na favela Pantanal, todas regiões do Rio. O Bradesco tem um cronograma ainda mais extenso: além de Cidade de Deus, onde os preparativos já estão bem adiantados, vai estrear, no primeiro semestre do próximo ano, em Rio das Pedras (previsão para março), Complexo do Alemão, Gardênia Azul, Dona Marta, Salgueiro, Terreirão, Tijuquinha, Turano, Vila Cruzeiro. A ampliação das fronteiras do sistema bancário rumo a regiões carentes não deve ser entendida como ação social, embora o marketing das instituições financeiras seja forte, nesse sentido. Essas comunidades surgem, na verdade, como uma espécie de nova arena bancária. Nelas se encontra a população emergente, sobre a qual tende a se concentrar a disputa das instituições financeiras nos próximos anos. Estima-se que existem 21 milhões de brasileiros nas classes D e E economicamente ativos, mas sem conta corrente. Até que ponto, porém, a conquista desse público é uma estratégia viável? "Todo e qualquer cliente é rentável, desde que existam automação e escala", responde Odair Afonso Rebelato, diretor executivo do Bradesco. O banco foi um dos precursores do movimento ao fincar sua bandeira, em 2007, na Rocinha (RJ), a maior favela do país. De lá para cá, só na Rocinha foram abertas 3,4 mil contas correntes para pessoas físicas, 397 para pessoas jurídicas e emitidos 1,85 mil cartões de crédito. É preciso também colocar na conta aquelas pessoas que já estavam "bancarizadas", mas que faziam pouco uso dos produtos oferecidos pelas instituições, seja pela distância da agência em que tinham conta, seja pela própria capacidade financeira, que vem aumentando na medida em que o emprego e a renda crescem. O comerciante Davison Alves Silva, 27 anos, transferiu a conta corrente que tinha no Bradesco desde 2001 para a agência de Heliópolis, em novembro de 2009, assim que ela foi inaugurada. A antiga unidade estava localizada a cerca de cinco quilômetros de onde Silva trabalha. A atual fica a mais ou menos dez passos do seu bar. Com a troca, seus limites para cheque especial, empréstimo pessoal e cartão de crédito foram ampliados em cerca de 30%. "Fica mais fácil reforçar o caixa com a agência aqui do lado", diz Silva. O público de baixa renda é, segundo Rebelato, "mais tomador do que doador" - ou seja, contrai mais empréstimo do que poupa. Os baixos valores financiados individualmente são compensados pela grande quantidade de crédito aprovado nas agências. A inadimplência, em torno de 10%, é maior do que a média do sistema, o que contraria a crença de alguns que pobre é melhor pagador. Numa emergência, esse cliente vai priorizar o mercado em que costuma comprar fiado, a farmácia, para depois pagar ao banco. "Mas, como o patrimônio dele é o nome, em algum momento ele volta para quitar a dívida", afirma Rebelato. Em Heliópolis, maior comunidade de baixa renda de São Paulo, onde vivem cerca de 120 mil pessoas - das quais 40 mil com potencial de abrir conta em banco - o Bradesco conseguiu amealhar, de novembro de 2009 para cá, 1,3 mil contas correntes. Em Paraisópolis, também na capital paulista, o banco abriu uma agência em setembro deste ano e já contabiliza outras 600 contas correntes de pessoas físicas e 38 de empresas. "Temos até um cliente com perfil Prime [de alta renda] na agência de Paraisópolis, mas que prefere continuar sendo atendido lá mesmo", diz Rebelato. Além de empréstimos, as classes D e E passaram a consumir com mais avidez produtos de seguro. Sérgio Ricardo Miranda Nazaré, diretor de varejo do BB, conta que o banco estatal, em parceira com a seguradora Mapfre, começa a desenvolver seguro de acidente pessoal e vida com preços e coberturas específicos para esses clientes. "Estamos em fase de estudo para colocar o produto na prateleira", afirma. O BB Proteção começa com R$ 6 por mês e oferece cobertura para morte natural ou acidental e invalidez por acidente. Se forem acrescentadas outras coberturas, como proteção para residência, e serviços, como chaveiro e reparos domésticos 24 horas, o preço é reajustado. Dos correntistas do BB com renda mensal inferior a R$ 1 mil, atendidos tanto nas agências como por correspondentes bancários, 51% possuem cartão de crédito ativo, 31,5% têm crédito pessoal e 32,8% ainda conseguem colocar dinheiro na caderneta de poupança. "À medida que a renda cresce, essas pessoas vão passar a tomar empréstimos de bens duráveis, contratar plano de previdência e até financiamento imobiliário", diz Nazaré. Para os cerca de 600 correntistas e poupadores da agência do Santander no Complexo do Alemão, a grade de produtos é a mesma das demais agências da rede. Mas há flexibilização na documentação e renda mínima exigidas para abertura de conta.
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China cai em contradição [aumento do mínimo]
Correio Braziliense - 30/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/china-cai-em-contradicao |
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O governo do país asiático eleva o salário mínimo em 21,5%, contrariando iniciativas das últimas semanas para conter onda de consumo As autoridades econômicas chinesas estão submetidas a tamanha pressão que já começaram a tomar medidas contraditórias. Poucos dias após adotar várias iniciativas para reduzir o consumo e combater a inflação, como o aumento da taxa de juros e do compulsório (depósito que os bancos são obrigados a fazer no Banco Central), o governo deu ontem um passo na direção contrária. Pela segunda vez em seis meses, aumentou o salário mínimo, o que vai dar um reforço no poder de compra dos trabalhadores.
O piso salarial em Pequim, capital do país, passará do equivalente a US$ 144 para US$ 175 a partir de 1º de janeiro, num aumento de 21,5% num único movimento. Em julho, o montante já havia subido 20%. O comunicado oficial no site do governo não desce a detalhes sobre a motivação, mas ficou claro para os analistas que a intenção é evitar inquietações sociais diante da escalada dos preços, que se concentra mais fortemente nos alimentos.
No primeiro semestre, houve uma onda de conflitos nas fábricas e de suicídios dos trabalhadores de baixa renda, que tiveram seus ganhos mensais corroídos pela alta da inflação. Os índices de preços ao consumidor chegaram a 5,81% no acumulado no ano até novembro, o maior nível em 28 meses. A inflação já extrapolou a meta de 3% neste ano, o que fez a equipe econômica revisá-la para 4%, objetivo que também será descumprido. Segundo a estimativa das agências oficiais, ele deve bater em 5,88%.
Os preços dos alimentos subiram quase 12% em ritmo anual no mês passado. Os valores dos imóveis também registraram alta significativa. Para conter a inflação, uma série de medidas restritivas ao crédito e ao consumo foram tomadas. No sábado, o Banco Popular da China (BPC, o Banco Central do país) elevou os juros em 0,25 ponto percentual pela segunda vez em menos de três meses. Na semana passada, aumentou o compulsório com o objetivo de limitar o volume de dinheiro em circulação.
Ao todo, já foram seis altas do compulsório nos últimos meses. As medidas, que devem ser complementadas por outras decisões nas próximas semanas, podem reduzir o ritmo de crescimento da economia dos atuais 10% para algo em torno de 7% a 7,5% de 2011 a 2015. Apesar de ter aprovado a elevação do mínimo, que vai estimular o consumo, o presidente da China, Hu Jintao, voltou a afirmar ontem que a estabilidade de preços e a criação de empregos serão os objetivos prioritários da política econômica em 2011.
“Temos que realizar um grande esforço para salvaguardar a oferta e a demanda, estabilizar os preços das matérias-primas e favorecer a criação de empregos”, disse Hu a uma plateia de universitários. “Devemos, principalmente, criar um mecanismo a longo prazo tendente a impulsionar o consumo interno.” O novo programa econômico quinquenal, para o período de 2011 a 2015, foi aprovado em uma reunião de responsáveis do Partido Comunista chinês em outubro.
Incentivos
No domingo, o primeiro-ministo Wen Jiabao reiterou que o governo tem os meios para controlar a alta de preços, apesar de reconhecer que a inflação dificultou a vida dos chineses mais pobres. Anteontem, o governo invadiu o terreno tributário, ao cortar os incentivos que existiam para a produção e a venda de carros de até 1.600 cilindradas. Os analistas especulam que, além dos instrumentos monetários e fiscais clássicos, as autoridades podem aumentar a exigência de capital para os empréstimos bancários e o ritmo das operações de venda de títulos públicos para reduzir o dinheiro na economia.
Ontem, o diretor de Estatísticas do BPC, Sheng Songcheng, afirmou que o órgão deveria aumentar o teto dos juros nos investimentos financeiros e reformar o mercado, reduzindo o controle estatal. Para ele, isso favoreceria a poupança, o que diminuiria naturalmente a quantidade de dinheiro em circulação, combatendo a inflação. “A China deve permitir a flutuação para cima dos juros de depósito. Isso vai gradualmente permitir que o mercado precifique expectativas de aumento do juro”, escreveu Sheng em artigo publicado no site do BPC.
Controles
A China não aliviará os controles à especulação imobiliária no ano que vem e reforçará a implementação de medidas para conter a alta dos preços de moradias, disse ontem o ministro de Habitação, Jiang Weixin. Autoridades que participaram da reunião de fim de ano para balanço da política econômica admitiram que “continua sendo uma tarefa árdua conter altas muito rápidas de preços de imóveis em 2011”, informou a revista Caijing.
A promessa de manter o aperto tem ligação com as medidas de restrição ao consumo adotadas pelo governo.
Europa tem ano ruim Neste ano, a Zona do Euro (grupo de 16 países que usam a moeda comum) viveu momentos conturbados no plano econômico, com uma crise da dívida pública que a obrigou a aprovar bilionários resgates para a Grécia e a Irlanda. Além disso, precisou armar-se com uma bateria de medidas inéditas para prevenir a ameaça de um contágio para outros membros em situação fiscal delicada, como Portugal e Espanha. As expectativas são de um 2011 tão difícil quanto 2010.
Os líderes europeus encerraram o ano com a promessa de “fazer tudo o que for necessário para garantir a estabilidade” da moeda única, durante um encontro de cúpula realizado em dezembro em Bruxelas, capital da Comissão Europeia. Durante a reunião, chefes de Estado e de governo concordaram em criar um fundo permanente de resgate para os países do bloco em dificuldades a partir de 2013. Essa foi a última de uma série de decisões com o objetivo de construir defesas sólidas o suficiente para assegurar o futuro do euro, sob séria ameaça ao longo do segundo semestre.
Desde 2008, a crise atinge o Velho Continente sem trégua. Primeiro, afetou os setores bancário e financeiro, importada dos Estados Unidos após a quebra do Lehman Brothers. Depois, espalhou-se para a economia real, com a maior recessão desde 1945 ceifando milhões de empregos. Este ano, o abalo se concentrou nas contas públicas, como reflexo do aumento das despesas para reativar o nível de atividade.
Em consequência, os governos tiveram que apertar os cintos, adotando pacotes de restrição dos gastos. Os projetos levaram comoção social às ruas das principais cidades, agitadas por centenas de manifestações e greves. A austeridade tornou-se regra sobretudo na Grécia e na Irlanda, com propostas de redução das aposentadorias e dos salários do funcionalismo, acompanhadas de aumentos de impostos. Os programas foram o preço a ser pago pelos pacotes de auxílio da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Japão encerra ano rebaixado a potência de segunda classe
Autor(es): Malcolm Foster | Associated Press, de Tóquio |
Valor Econômico - 30/12/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/30/japao-encerra-ano-rebaixado-a-potencia-de-segunda-classe |
O Japão foi passado à frente pela China como segunda maior economia do mundo. A Toyota, sua empresa mais representativa, recolheu mais de 10 milhões de carros em meio a uma embaraçosa crise envolvendo a segurança de seus veículos. Em três anos, quatro de seus premiês renunciaram e o governo é incapaz de ativar uma economia que está entrando em sua terceira década de estagnação. Para o antes confiante Japão, 2010 poderá ser um marco simbólico de seu declínio de gigante econômico para o que os analistas dizem ser seu provável destino: uma potência de segundo nível com algumas empresas de destaque, porém limitada influência mundial. Num momento em que os japoneses bebem para comemorar o fim do ano em festas conhecidas como "bonen-kai" (reuniões para esquecer o ano), muitos terão prazer em esquecer 2010. O problema é que há poucas projeções positivas. Com uma população em envelhecimento, alta da dívida nacional, impasse político e uma cultura avessa a riscos que demora a adotar mudanças, as perspectivas do país não são promissoras. E o confronto em alto-mar com a China elevou os temores de conflito militar e econômico com o vizinho. Alguns poucos otimistas esperam que o Japão aproveite seu potencial tecnológico e apelo cultural de "Japão Moderno" na moda, arte e nas histórias em quadrinhos. O país precisa abandonar a dependência da indústria de transformação, dizem eles, e encontrar novas áreas para expansão, como energia verde, engenharia de software e serviços de saúde para os idosos. Mas ao conversarmos com estudantes universitários, vemos que suas perspectivas são sombrias. Muitos receiam não ter emprego estável ou poder sustentar suas famílias - preocupações que contribuem para a baixa taxa de fertilidade do país: 1,3 filho por mulher. A renda familiar média caiu 9% desde 1993. Makoto Miyazaki, estudante de 22 anos na prestigiada Universidade de Keio, em Tóquio, pressente que forças fora de seu controle ditarão seu futuro. "Internacionalmente, o Japão está entre grandes países, como China e EUA. E a Coreia está se tornando uma importante concorrente - isso é uma ameaça ao Japão", disse. É um contraste surpreendente com os anos 80, quando o Japão estava cheio de dinheiro e os especialistas acreditavam que sua economia estava pronta para dominar o mundo. Milhões de pessoas já desistiram de conseguir um emprego vitalício numa grande companhia e tornarem-se "freeters", pulando de emprego em emprego temporário, com poucos ou nenhum benefício trabalhista. Enquanto empresas cortam custos, o número de trabalhadores temporários têm crescido e já são um terço da força de trabalho, bem mais do que os 16% dos anos 80. Além disso, a população deverá cair até 2055 de 127 para 90 milhões de habitantes - 40% serão idosos. Isso exercerá pressão fiscal sobre os trabalhadores. As dificuldades econômicas são a razão principal por mais de 30 mil japoneses terem cometido suicídio a cada ano nos últimos 12 anos. Sumiram também as esperanças de mudança promovidas pelo Partido Democrático, que derrubou o governo conservador em 2009. Os democratas perderam o controle da Câmara Alta do Parlamento em julho, preparando o cenário para um impasse político. O premiê Naoto Kan reconheceu o declínio do status japonês. Sua receita: "Abrir o país". Ele defende a redução das barreiras comerciais, afrouxando a regulamentação e tornando o país um lugar mais atraente para investir. Seu gabinete aprovou um corte de 5 pontos percentuais, para 35%, na alíquota do imposto sobre as empresas e avalia se o Japão deve aderir a uma zona de livre comércio liderada pelos EUA, a Parceria Trans-Pacífico, que reduziria as tarifas de eletrônicos a alimentos. Líderes empresariais dizem que isso é vital, mas os agricultores temem importações que os arruinariam. Analistas dizem que isso poderia ser um veículo para a recuperação econômica, mas resultaria em perdas de emprego e desigualdade social, sobretudo no campo. "A mera liberação das forças da concorrência e do livre mercado não será a solução mágica, porque as pessoas vulneráveis rastejarão de volta para manter suas posições", diz Koichi Nakano, professor da Universidade Sophia, de Tóquio. Nakano e outros dizem ser necessárias mudanças radicais de política econômica e de mentalidade, de expansão da rede de segurança social à superação um profundo medo do fracasso que tem se constituído em obstáculo a empreender, assumir riscos e realizar o potencial econômico do Japão. Cerca de 77% dos desempregados no Japão não recebem auxílio-desemprego, segundo a Organização Internacional do Trabalho, em parte porque os trabalhadores temporários não têm direito ao benefício. O Japão pode ser inovador: é líder em veículos híbridos e robôs industriais. O console de jogos "Wii", da Nintendo, é um sucesso. Tadashi Yanai, a pessoa mais rica do país, converteu a Fast Retailing e sua marca Uniqlo, de artigos baratos, numa das maiores varejistas asiáticas de vestuário. Mas o Japão prejudica-se por sua insularidade: seu sofisticado setor de telefonia móvel não cresce no exterior porque opera uma rede praticamente ignorada em qualquer outro país. Mudanças deverão vir gradualmente. Uma cultura conformista, baseada em consenso, implica em o Japão ser geralmente lento em implementar mudanças ou reagir a crises, como na maneira como a Toyota lidou com seus problemas envolvendo seus veículos. "Seria de esperar a percepção de um senso maior de urgência nesse caso", disse Jeff Kingston, diretor de Estudos Asiáticos na Universidade Temple, em Tóquio. "Na melhor das hipóteses, o Japão avançará aos trancos e barrancos. Conseguirá evitar uma catástrofe, mas é difícil ver outra coisa que não sejam perspectivas sombrias". |
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