O diretor financeiro da General MotorsCo. prepara uma mudança radical na estratégia da montadora - quitar praticamente todas as dívidas em poucos anos e depois mantê-las bem próximas de zero.
A GM, como muitas empresas industriais, há muito opera seus negócios com bilhões de dólares emprestados. Mas o alto nível de endividamento foi um dos problemas que forçou a empresa a passar por uma recuperação judicial financiada pelo governo americano ano passado, quando as vendas desabaram.
Agora, novos administradores de fora da indústria automotiva estão repensando como a GM opera, inclusive seu vício em endividamento.
Chris Liddell, ex-diretor financeiro da MicrosoftCorp. que entrou na GM em janeiro, surpreendeu investidores durante a apresentação da reabertura de capital da empresa, recentemente, prometendo que a montadora iria quitar mais de US$ 20 bilhões em dívidas e obrigações com seu fundo de pensão. A GM, disse ele, ficaria apenas com um pequeno volume de dívida - principalmente para manter sua avaliação de crédito - no longo prazo.
"Queremos ser mestres do nosso próprio destino" e não depender apenas do crédito dos outros, disse Liddell.
Isso seria uma mudança drástica para a GM, que, como seus concorrentes de Detroit, sempre se endividou para ajudar a financiar os negócios quando a indústria automotiva enfrentava suas crises periódicas.
Muitas empresas e analistas que acompanham o setor consideram a dívida uma ferramenta empresarial valiosa. Aproveitar a boa avaliação de crédito de uma empresa bem administrada com a emissão de debêntures é uma maneira há muito estabelecida de financiar um negócio. As dívidas também proporcionam certos benefícios fiscais.
Muitas montadoras e fabricantes de autopeças começaram a repensar a maneira como usam os financiamentos desde que a crise financeira coibiu o crédito. Mas a GM está numa situação peculiar. O endividamento foi uma das coisas que ajudaram a afundar a empresa e agora - no momento em que volta às bolsas - ela precisa provar que está sendo administrada de maneira mais prudente. E a GM tem US$ 45,4 bilhões em isenções fiscais oriundas de prejuízos antigos e outros fatores.
"A nova GM está tentando ser a nova GM", disse a analista Kimberly Noland, da Gimme Credit, uma firma americana de análise de renda fixa. No longo prazo ela prevê que a GM vai precisar voltar a tomar empréstimos.
Em 2006, a Ford Motor Co. tomou emprestados quase US$ 25 bilhões para financiar suas operações futuras. A Ford então pareceu sagaz quando a crise forçou os bancos a fechar as torneiras do crédito para as montadoras. Mas agora a Ford enfrenta um endividamento muito maior que o da GM e está tentando diminuí-lo.
Enquanto isso, a estratégia de pouca dívida adotada pela ToyotaMotor Corp. ajudou a empresa japonesa a continuar investindo em desenvolvimento de novos veículos ano passado, quando divulgou o pior desempenho financeiro de sua história.
Mesmo assim, o plano da GM ainda tem seus riscos. Se o mercado automotivo sofrer um novo baque sério, a GM pode não conseguir continuar financiando novos modelos e outros investimentos só com o lucro que obtiver.
O analista de crédito Robert Schulz, da Standard and Poor's, disse que o objetivo de manter as despesas de capital sem precisar de novos empréstimos é razoável contanto que a GM continue gerando caixa em suas cruciais operações norte-americanas. Schulz disse que "não é irreal" para a GM alcançar a meta de eliminar totalmente suas dívidas nos próximos anos.
O fato de que a GM pode até cogitar um futuro com um mínimo de dívidas é fruto de sua concordata, que cortou substancialmente o montante devido. Antes da recuperação judicial, a GM devia US$ 45 bilhões. Mês passado, o total passou para US$ 12 bilhões em dívidas e ações preferenciais (que no caso dela funcionam como dívidas, mas com participação no capital), embora ela ainda deva US$ 23 bilhões a seus fundos de pensão.
A concordata também baixou sensivelmente o custo operacional da GM, com concessões de sindicatos e fechamento de fábricas.
"Estamos numa indústria cíclica com custo fixo alto", disse Liddell. "Complementar isso com alavancagem financeira não faz o menor sentido."
Durante o road show da GM para promover sua reabertura de capital, alguns potenciais investidores questionaram se o agressivo plano da empresa para quitar suas dívidas seria um tiro pela culatra e sugaria recursos de possíveis investimentos em produtos e em outros segmentos. Liddell disse que alguns executivos da GM fizeram a mesma pergunta, mas, no fim, se convenceram de que a empresa tem amplos recursos para investir adequadamente e também quitar dívidas.
Ao eliminar a maior parte da dívida, a GM espera cortar a ligação entre as vendas da empresa e a capacidade dela de investir em novos veículos. Cortes como esses exacerbam os efeitos de uma crise, porque os novos veículos normalmente levam entre três e quatro anos para ser desenvolvidos.
"A ideia é que deveríamos investir em pesquisa, desenvolvimento e capital, sem nos importarmos com as condições do mercado", disse Liddell.
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