terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Agronegócios

Preço da terra sobe nos EUA e gera temor de nova bolha

Autor(es): Preço da terra sobe nos EUA e gera temor de nova bolha
Valor Econômico - 20/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/20/preco-da-terra-sobe-nos-eua-e-gera-temor-de-nova-bolha
 
 
Os preços das terras para agricultura voltaram a ter forte alta nos Estados Unidos. Será que estamos nos aproximando de uma nova rodada de shows de Willie Nelson para socorrer o setor?
 
Colheita de soja no oeste de Vermillion, no Estado de Dakota do Sul; terras atraem investidores institucionais e agricultores que querem ampliar atividade
A onda de alta das terras traz à memória a crise das dívidas agrícolas dos anos 80, quando agricultores pegaram empréstimos enquanto os preços das propriedades disparavam, para depois deparar-se com o estouro da bolha e as resultantes execuções de propriedades. As dificuldades dos agricultores levaram vários músicos, encabeçados por Nelson, a realizar os grandes concertos "Farm Aid", de auxílio aos agricultores.
As terras agrícolas voltaram a ser uma commodity atraente - apesar das dificuldades no setor imobiliário. As terras vêm atraindo desde investidores institucionais e donos de grandes fortunas a agricultores. Muitos investem em fundos de terras para cultivo, enquanto alguns agricultores procuram expandir suas operações.
 
"Simplesmente ficou algo atraente nos últimos tempos", afirma Shonda Warner, sócia-gerente da Chess Ag Full Harvest Partners, que tem um fundo com cerca de US$ 50 milhões investidos em terras agrícolas em quatro Estados.
 
O valor da terra na importante área ao norte do Meio-Oeste dos EUA subiu 10% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo período de 2009, segundo o Federal Reserve Distrital de Chicago. Outra agência regional do banco central, a de Kansas City, informou que o preço das terras agrícolas irrigadas aumentou 12% no Kansas e em Nebraska no mesmo período. Essas altas acontecem depois de um aumento de 55% em termos reais ao longo dos últimos dez anos.
 
Os investidores despejam dinheiro não apenas nos melhores solos dos EUA, mas também em áreas agrícolas importantes no exterior. Alguns esperam que a terra se valorize. Outros apostam que os países de maior crescimento econômico terão de importar mais alimentos para atender suas populações, cada vez mais ricas, o que elevará a renda gerada pelas terras.
 
Em outubro, o Teachers Insurance & Annuity Association of America, parte do gigantesco fundo de pensão Tiaa-Cref, basicamente de professores, comprou o Westchester Group, que já administrava parte dos investimentos do Tiaa em terras. O Tiaa tem quase US$ 2 bilhões investidos em mais de 400 fazendas nos EUA, América do Sul, Austrália e Leste Europeu.
 
A George Washington University, em Washington, começou a comprar em 2007 e agora tem US$ 80 milhões investidos em terras cultiváveis. Do total, 25% estão nos EUA e o restante no exterior - incluindo investimentos em um fundo que arrenda terras na Polônia.
 
O Luminous Capital, empresa de consultoria em investimentos em Los Angeles e Menlo Park, Califórnia, que atende a donos de grandes fortunas, aplicou US$ 45 milhões do dinheiro de seus clientes em um fundo que planeja comprar 20 a 25 fazendas produtoras de milho, algodão e trigo.
 
"Acreditamos que os mercados emergentes continuarão a crescer em riqueza", diz Kim Ip, que administra a carteira de investimentos em terras da Luminous. Isso significará alta no consumo de carne, o que, por sua vez, levará à demanda maior por grãos para ração.
 
As fazendas nos EUA estão bem posicionadas para se beneficiar da forte demanda mundial pelas principais culturas, pois produzem bem mais do que os americanos consomem. Fornecerão mais da metade das exportações mundiais de milho e mais de 40% das exportações de soja e algodão nesta safra, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
 
As exportações podem ajudar os agricultores a ganhar receitas significativas, particularmente num momento de preços em alta. As cotações dos grãos subiram neste verão setentrional, após a dura seca na Rússia, que levou o país a proibir as exportações de trigo. Os preços do milho e trigo avançaram mais de 65% recentemente desde as baixas de junho, enquanto a soja subiu quase 40%.
 
A terra para agricultura nos EUA também está ficando mais escassa, o que pode impulsionar seu valor. A área de terra que pode ser trabalhada diminui de forma constante há mais de meio século, de 1,2 milhão de acres em meados dos anos 50 para menos de 920 milhões de acres em 2009, segundo o USDA.
 
A agricultura, no entanto, caracteriza-se por ser um negócio arriscado. Investidores de fora do setor normalmente recorrem a arrendatários ou empresas de gestão para administrar o dia a dia das propriedades, o que aumenta o valor dos agricultores mais capacitados. As lavouras também estão expostas aos caprichos da natureza.
 
"O maior risco é operacional", afirma Don Lindsey, chefe de investimentos da George Washington University. Ele tenta mitigar o risco de investir em regiões diferentes sob o comando de administradores também diferentes.
 
Os altos preços aumentam o risco de que os compradores estejam pagando excessivamente, diz Jim Grant, editor do boletim financeiro Grant's Interest Rate Observer. "Tenho preocupação com os agricultores mais idosos de Iowa que estão comprando 80 ou 100 acres de seus vizinhos porque as taxas de juros estão extremamente baixas", afirmou em um discurso no mês passado, em Cingapura. E também há a possibilidade de o valor das terras despencarem de novo.
 
O secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, diz que a situação agora é diferente. "Não acho que estejamos vendo uma bolha, simplesmente porque acho que as pessoas vêm sendo bem mais conservadoras com as dívidas", diz.
 
De qualquer forma, a crise recente leva as autoridades a observarem a situação de perto. "Não queremos que se torne um problema", afirma Richard Brown, economista-chefe do Federal Deposit Insurance Corp., que monitora as instituições de crédito.
 
A Farm Aid, organização que surgiu a partir dos concertos originais, e da qual Nelson continua presidente do conselho, vem focando seus recentes esforços em outras preocupações do mundo agrícola, segundo uma porta-voz. Mas "estamos definitivamente observando a situação", acrescenta.

Nordeste e Sul atraem projetos de galpões logísticos

Autor(es): Daniela D"Ambrosio | De São Paulo
Valor Econômico - 20/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/20/nordeste-e-sul-atraem-projetos-de-galpoes-logisticos
 
 O maior e mais ousado projeto do Brasil nesse segmento, com 15 milhões de m2, fica ao lado do porto de Suape
O mapa dos condomínios industriais passa por uma rápida transformação no Brasil. O fortalecimento de novos mercados consumidores e de pontos de escoamento da produção estão levando os galpões logísticos e de armazenagem para fora do eixo óbvio. Nos últimos três anos, houve uma explosão da oferta nos arredores de São Paulo - principalmente no entorno das rodovias Anhanguera, Castelo Branco e Bandeirantes. Agora, empresas e investidores começam a migrar para outras regiões, especialmente Nordeste e Sul.
O aumento do consumo gerado pela elevação da renda estimulou o segmento. Os galpões logísticos servem como apoio para indústrias dos mais variados setores e entraram na mira dos investidores nos últimos três anos. Até porque o parque instalado no Brasil ainda é simples e obsoleto, com pé direito baixo e com menos de seis metros (hoje não se fala em menos de 12 metros), para um único usuário e sem as especificações exigidas pelas empresas e investidores.
O primeiro lugar procurado para alojar os armazéns multiuso, claro, foi também o que concentra a maior demanda: o eixo das principais rodovias paulistas. Mas o elevado preço das terras e a presença de vários concorrentes nesse entorno - e o concomitante desenvolvimento de outras regiões do país - inicia um movimento de expansão importante. Na nova fronteira de desenvolvimento, as áreas portuárias de destacam e a intermodalidade, que privilegia a integração entre estradas, ferrovias e os portos, ganha importância cada vez maior.
Estudo encomendado pelo Valorà Herzog, empresa especializada em imóveis industriais, mostra que 71% do estoque existente está no Sudeste. De um total de 4,48 milhões de metros quadrados disponíveis no Brasil, 3,1 milhões de metros quadrados prontos estão no Sudeste, que deve receber mais 1,1 milhão de m2no próximo ano.
Os dois principais eixos de desenvolvimento, segundo a Herzog, são a grande Recife, no Nordeste, e a Grande Curitiba, no Sul. Segundo Simone Santos, responsável pelo estudo, a cidade de Jaboatão dos Guararapes, alavancada pelo porto de Suape, é a principal responsável pelos investimentos ocorridos nos últimos três anos em condomínios industriais no Nordeste.
O Bolsa-Família tornou o Nordeste um mercado consumidor polpudo e o resultado são os recentes anúncios feitos por grandes setores da economia. O recente anúncio da fábrica da Fiat, no Complexo de Suape, e a chegada da Companhia Siderúrgica de Suape - além da fábrica da Ambeve da Kraft Foods, anunciadas anteriormente -, devem estimular uma série de fornecedores a também se instalar na região.
Apenas em 2011, o Nordeste vai receber um estoque maior de galpões industriais do que aquele que já foi construído em toda a sua história. São 195 mil m2novos, segundo a Herzog, contra 145 mil m2já existentes. "Na Grande Recife, já são 75 mil metros quadrados, que podem ser triplicados nos próximos três anos", afirma Simone.
O maior e mais ousado projeto do Brasil, com 15 milhões de m2fica ao lado do porto de Suape (ver texto ao lado).
Empresas especializadas em atuar nos novos eixos são as maiores beneficiadas com a expansão. A Capital Realty é a maior em desenvolvimento de galpões logísticos no Sul do país, com 350 mil metros quadrados construídos e R$ 300 milhões investidos. Está desenvolvendo dois grandes empreendimentos, um em Esteio (RS) e outro em Itajaí (SC). A empresa procura se destacar com serviços diferenciados, como posto de gasolina dentro dos condomínios e terminais ferroviários - Esteio tem uma linha de trem operada pela ALLdentro do complexo industrial.
"Em São Paulo, a demanda é grande, mas a concorrência também é muito forte", afirma Rodrigo Demeterco, diretor-geral da Capital Realty. "Aqui, nós conhecemos a região e conseguimos nos diferenciar", diz.
A VeremonteReal Estate, do espanhol Enrique Bañuelos, está negociando terrenos no Espírito Santo e em Navegantes (SC) e já fechou 120 mil m2em Confins (MG). Também estuda o mercado do Centro-Oeste que, segundo a Herzog, tem taxa de vacância inferior a 2%, contra mais de 8% no Sudeste. "No Centro-Oeste começam a aparecer consultas das duas partes, tanto de empresas que querem ir para lá, como de donos de terras que querem investidores estratégicos e financeiros para ajudar a desenvolver projetos ", afirma Luiz Fernando Davantel, diretor da companhia. Na sua opinião, ainda não adianta ir para mercados que não absorvam preços de locação na casa de R$ 14 a R$ 15. "Tem de ter empresa disposta a pagar por um padrão de desenvolvimento igual ao de São Paulo", diz, acrescentando que o mercado de Minas Gerais é um dos mais maduros.
A mineira MRV, especializada em baixa renda, está investindo na área logística com a MRV Log. A companhia aproveita o know-how na compra de terrenos no eixo rodoviário para atuar nesse segmento. Ela tem 50 mil m2de área bruta locável ficando prontos (Contagem, Belo Horizonte e Jundiaí) e 750 mil m2em projetos. A empresa estudou o mercado de galpões multiuso nos Estados Unidos e, além de São Paulo e interior, possui terrenos em Goiânia, Vitória, Campos, Macaé, Uberlândia e Londrina. "A precariedade fora de São Paulo e Campinas para armazenagem e distribuição de mercadorias é enorme", diz Rubens Menin, presidente da MRV. "As terras estão mais baratas e isso faz diferença."
epDe acordo com o levantamento, de maneira geral, em todo o Brasil, o preço dos aluguéis teve aumento considerável por conta da falta de estoque. No Sudeste, os preços oscilam, dependendo da qualidade, de R$ 14 a R$ 25 o metro quadrado. No Sul e Norte, os preços oscilam entre R$ 10 e R$ 19. No Nordeste chegam no máximo e R$ 14,5 e R$ 14, no Centro-Oeste.
Empresas que estruturam fundos e reúnem aporte de investidores também estão ativas nesse segmento, como a TRX Realty, que tem cerca de R$ 1 bilhão para investimentos imobiliários. A TRX tem 51% dos empreendimentos em São Paulo, mas Minas já representa 14% e Rio de Janeiro, 15%. Por enquanto, a empresa atua no modelo "build to suit" (construção sob medida) - aliás, foi como começou o desenvolvimento industrial da região - e está estudando comprar grandes áreas para fazer parques logísticos. "Há muitas vias de escoamento alternativas no Sul e Nordeste, os investidores estão muito interessados nesse mercado", diz José Alves Neto, da TRX.

China e etanol agitam mercado de milho

Autor(es): Alda do Amaral Rocha | De São Paulo
Valor Econômico - 20/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/20/china-e-etanol-agitam-mercado-de-milho
 
A recente entrada da China no mercado internacional de milho como compradora e a manutenção dos subsídios ao etanol à base do grão nos EUA devem manter os preços do cereal em patamares elevados em 2011, favorecendo, ainda que indiretamente, as exportações brasileiras de milho.
Os volumes importados pela China ainda são pequenos - na safra passada foram 1,3 milhão de toneladas e na atual, 1 milhão -, mas analistas e exportadores consideram que há uma mudança estrutural no país asiático, que está deixando de ser exportador para virar importador de milho, no curto a médio prazo. Na safra 2006/07, a China chegou a exportar mais de cinco milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
No caso do etanol americano, a prorrogação do subsídio de US$ 0,45 por galão do biocombustível misturado à gasolina deve manter elevada a demanda por milho para este fim.
As duas situações favorecem o Brasil. De um lado, o consumo forte nos EUA sustenta os preços internacionais e favorece as exportações brasileiras, que este ano alcançam 10 milhões de toneladas, graças a subsídios ao frete . De outro, a demanda chinesa desloca exportadores de milho, como os EUA, deixando espaço para o Brasil em mercados antes atendidos pelos americanos. "Há uma mudança estrutural na China, onde a produção de carnes cresce a taxas expressivas. O país está gradualmente deixando de ser exportador para se tornar importador", observa Anderson Galvão, da Céleres. O milho é usado na ração de frango e suínos, principalmente.
O analista reconhece que as importações ainda são pequenas, mas lembra que historicamente a China tinha estoques de 120 milhões a 130 milhões de toneladas de milho. Hoje são 60 milhões.
O governo brasileiro já observa o novo cenário. "A China é um fato novo. Com um estoque desse tamanho não deveria estar importando", comenta Sílvio Farnese, diretor de programas da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Ele diz que se o país se tornar efetivamente importador de milho, haverá impacto no mercado, assim como ocorreu com a soja - a China importará este ano 57 milhões de toneladas da oleaginosa, boa parte dos EUA e do Brasil. Segundo Farnese, há quem avalie que as compras chinesas de milho possam alcançar 10 milhões a 15 milhões de toneladas num prazo de três a quatro anos.
Ainda que o estoque chinês seja gigantesco - maior que a safra brasileira de milho de 52,5 milhões de toneladas -, é preciso considerar que a China vive forte demanda por alimentos, mas tem restrições para ampliar sua agricultura, já que enfrenta déficit de água e solos pobres, principalmente na região norte, como lembra uma fonte de indústria com atuação no país asiático.
Galvão avalia que as tradings que estão no Brasil e exportam soja para a China podem aproveitar os canais já existentes para vender milho. A fonte da indústria concorda e admite que, a depender da demanda, a instalação de uma processadora de milho na China "pode ser viável".
César Borges, vice-presidente da Caramuru Alimentos, diz que "todo mundo que está no mercado olha para a China", pois o país é um comprador não só de soja, mas também de milho. O que está na mesa, diz Leonardo Sologuren, diretor da consultoria Clarivi, é a capacidade da China de ampliar seu plantio de milho, hoje em 30 milhões de hectares, em três a quatro milhões nos próximos dez anos. Se isso não ocorrer, diz, o país terá de ampliar as importações em dois a três anos.
Dissonante, Paulo Molinari, da Safras & Mercado, acredita que as importações chinesas foram pontuais, reflexo do excesso de chuvas em regiões de produção. "A China vai se tornar importadora de milho, mas não no ano que vem", diz.

Grassley, o inimigo do Brasil em Washington

Autor(es): Alex Ribeiro | De Washington
Valor Econômico - 20/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/20/grassley-o-inimigo-do-brasil-em-washington

Maior adversário de interesses brasileiros no Congresso americano, o senador Chuck Grassley, 77 anos, deixa em janeiro a liderança republicana no comitê de finanças do Senado, cargo que lhe dava poder e visibilidade. Agora, ele será apenas mais um senador, mas promete seguir infernizando o Brasil.
"Ele vai continuar a falar as mesmas coisas", avisou um assessor de Grassley numa conversa recente com diplomatas brasileiros. Grassley é um dos principais articuladores da prorrogação do sistema que barra a importação do etanol brasileiro. Ele já defendeu de forma vocal a saída do Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP) e emperrou por meses a confirmação do embaixador americano no Brasil.
A comissão de finanças é uma das mais importantes porque, entre outras coisas, cuida de assuntos de comércio exterior, como tarifas de exportação e acordos de livre comércio. Grassley ocupou cargos-chave por dez anos, primeiro como presidente e depois como líder da minoria republicana na comissão. Deixará a função porque as regras internas do Partido Republicano impedem que seus parlamentares exerçam a liderança por mais de seis anos.
Boa parte dos atritos de Grassley com o Brasil ocorreram porque ele representa um Estado com agricultura forte, que lidera a produção americana de milho, etanol, soja e suínos. Os subsídios e barreiras ao ingresso de produtos agrícolas estão entre os pontos mais controversos na agenda brasileira de negociações bilaterais com os Estados Unidos e nos fóruns internacionais de liberalização comercial, como na Rodada Doha.
Por causa das posições brasileiras na Rodada Doha, Grassley chegou a defender a saída do país do SGP, que isenta do pagamento de tarifas cerca de 3.500 produtos exportados aos Estados Unidos pelos países menos desenvolvidos. Pelo discurso do senador, o problema não está nos subsídios e barreiras agrícolas impostos pelos Estados Unidos, mas sim na resistência do Brasil em reduzir as tarifas de importação de manufaturados e de serviços.
"[O Brasil e a Índia] são os países com maior responsabilidade na paralisia da Rodada Doha", disse Grassley, num pronunciamento em 2006. "Talvez esses países e outros beneficiários do SGP sintam que não precisam de um acordo em Doha, porque a situação atual já serve aos seus interesses." Grassley atribui ao Brasil boa parte da culpa pelo fracasso das negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Há algumas semanas, Grassley foi o grande articulador da prorrogação por mais um ano do sistema que barra a entrada do etanol brasileiro nos Estados Unidos. O governo americano concede um subsídio de 0,45 centavos de dólar por galão (3,8 litros) de etanol misturado à gasolina, além de impor uma tarifa de 0,54 centavos de dólar à importação do produto.
Na undécima hora, Grassley conseguiu enfiar a renovação dos benefícios num projeto que trata de um assunto completamente diferente, a prorrogação de cortes de impostos feitos pelo ex-presidente George W. Bush, cuja aprovação o governo Barack Obama considerava essencial para evitar um novo mergulho recessivo da economia americana.
"Trabalhamos duro durante três anos para derrubar a tarifa e o subsídio e, nos 44 minutos do segundo tempo, o Grassley achou uma brecha para prorrogá-los", comentou um dos membros da força-tarefa brasileira em Washington que tenta derrubar o sistema.
Em 2009, Grassley segurou no Congresso por alguns meses a indicação do atual embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, que havia dado declarações em favor da derrubada do sistema de subsídio ao etanol. Ele só liberou depois de receber uma carta da secretária de Estado, Hillary Clinton, assegurando que o governo seguia apoiando o subsídio.
Grassley tem 51 anos de vida pública, numa carreira iniciada como deputado estadual em Iowa. Ele chegou ao Senado em 1980, junto com a onda republicana que levou Ronald Reagan a presidência dos Estados Unidos, e desde então nunca perdeu uma eleição. A mais recente foi em novembro, quando o apoio de 64,5% dos eleitores lhe garantiu mais seis anos de mandato. A candidata democrata derrotada, Rosanne Conlin, não seria muito diferente para o Brasil -- ela também apoia, por exemplo, o subsídio ao etanol. Grassley cuida bem de sua base eleitoral. Ele passa praticamente todos os fins de semana em sua fazenda em Iowa e faz visitas anuais a cada uma das 99 cidades do Estado.
Embora pertença a um partido hoje minoritário no Senado, Grassley é forte porque nenhum dos partidos têm uma maioria absoluta na casa, o que obriga a negociação quase permanente entre os dois lados. Todas as semanas o líder da Comissão de Finanças, o senador Max Baucus, se reunia com Grassley, que é particularmente conhecido por costurar consensos.
O novo líder republicano na Comissão de Finanças será o senador Orrin Hatch, do Estado de Utah, e a expectativa brasileira é que ele seja mais favorável a queda de barreiras comerciais e à redução de subsídios agrícolas. Ele é alvo do Tea Party nas eleições de 2012, e algumas associações ligadas a esse movimento conservador estão pedindo cortes de subsídios agrícolas como o do etanol.
Há duas semanas, Baucus e Hatch prepararam uma homenagem surpresa para Grassley na última reunião da Comissão de Finanças do ano. Em tom de despedida, os colegas fizeram brincadeiras e entregaram uma caixinha com uma placa comemorativa pelos dez anos de serviço. "Não sei se vocês perceberam, mas fui reeleito", disse Grassley. "Vou ficar mais algum tempo por aí."

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