Para empresários, capacidade instalada das unidades é maior que a matéria-prima disponível para o setor
Lobby dos usineiros atinge unidade prevista para iniciar as operações em 2012 no município de Cravinhos
Edson Silva - 29.mai.09/Folhapress |
MARCELO TOLEDO
EDITOR-ASSISTENTE DE RIBEIRÃO
Com 56 unidades produtoras de açúcar e álcool já instaladas, e alegando escassez de matéria-prima, o setor canavieiro "veta" o surgimento de novas usinas na região de Ribeirão Preto.
Entre os motivos apontados estão o fato de a região já ter 12,73% das usinas do país e de haver capacidade instalada de moagem superior à produção anual.
A Folha ouviu três usineiros, e todos falaram reservadamente que há obstáculos para o funcionamento de mais uma unidade, independentemente do município onde ela esteja.
Mas há outro empecilho, na avaliação dos empresários do setor canavieiro: o "surgimento" de uma "usina extra". A Santa Cruz, em Olímpia, do grupo Guarani, anunciou que passará a ser uma usina mista, ou seja, produzirá açúcar e álcool.
Como o grupo está em expansão, ampliando a moagem, a expectativa do setor é que ele também buscará mais cana. "A região está saturada já. Não comporta mais ninguém. A não ser que uma usina que surgir busque cana fora, mas isso encarece os custos", diz um usineiro.
A estimativa é que as quatro regiões administrativas da macrorregião tenham moído cerca de 150 milhões de toneladas de cana nesta safra, mas têm capacidade instalada 30% superior. É o que explica o fato de muitas terem encerrado as atividades em novembro ou em meados deste mês, já que não tinham mais cana para processar.
Esse lobby dos usineiros contra novas usinas atinge a CEC (Companhia Energética Cravinhos), prevista para iniciar as operações em 2012 e que já tem resistência de ambientalistas, por causa do aquífero Guarani.
No caso da CEC, ela fica em "área de influência" de gigantes do setor, como a São Martinho (Pradópolis) e a Pedra (Serrana).
"Ela não vai ter cana nova, vai lutar pela mesma cana já existente. E as usinas já têm contratos de longa duração com os fornecedores, o que dificulta muito", afirmou outro usineiro.
A diretoria da CEC informou que "a cana existe e a livre concorrência também".
Para Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), a instalação de uma unidade em Cravinhos -ou em qualquer outra cidade da região- vai gerar muita concorrência em torno da cana.
"Não é proibido ter mais usinas na maior parte do Estado. Tirando algumas regiões em que o zoneamento veta, nas demais é possível. A dificuldade existe em algumas regiões por causa da concentração de unidades."
Nova usina diz haver cana e ter parceiros
DE RIBEIRÃO PRETO
A direção da Companhia Energética Cravinhos avalia existir cana suficiente na região e que já há parceiros comprometidos com o projeto.
O futuro grupo informou, por meio de sua assessoria, que quem se relacionar melhor com o fornecedor não terá o fornecimento de matéria-prima prejudicado.
"Estamos na maior região canavieira do país e do mundo. A cana existe e a livre concorrência também. A Companhia Energética Cravinhos prevê o beneficiamento de cana própria e de parceiros/fornecedores já comprometidos com o projeto", diz trecho da nota da diretoria.
Questionada sobre suas perspectivas de produção de etanol e açúcar, a diretoria informou preferir aguardar as audiências públicas sobre a unidade.
A nova usina já tem o EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto do Meio Ambiente) concluído e aguarda o Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) fazer as audiências.
Segundo a assessoria, a empresa tem atendido as exigências dos órgãos públicos e da legislação.
CAI O RITMO DE NOVAS USINAS NO BRASIL
Depois da efervescência vivida nos anos de 2005 e 2006, em que dezenas de projetos foram lançados, só cinco novas unidades devem entrar em operação em 2011 no Centro-Sul. O setor viveu o apogeu em 2008, quando 30 usinas foram lançadas. No ano seguinte, o total caiu para 19 e, neste ano, dez.
Oito em cada dez unidades na região fabricam etanol e açúcar
DE RIBEIRÃO PRETO
As usinas da região são predominantemente mistas, ou seja, produzem açúcar e etanol. De 56 unidades, nada menos que 46, ou 82,14% do total, fabricam ambos. Outras dez produzem só etanol.
Nenhuma é produtora exclusiva de açúcar, segundo dados do Ministério da Agricultura e Abastecimento.
O índice de unidades que fabricam somente álcool -as destilarias- na região é inferior à média nacional.
Enquanto elas representam 17,86% das plantas em operação na região, no país são 28,41% das 440 usinas existentes -125, no total.
Isso ocorre porque a maioria das novas usinas foi impulsionada pelo boom do etanol, nos últimos anos, e iniciou as operações fabricando só álcool anidro (misturado à gasolina) ou hidratado (usado nos carros flex).
Restrição existe somente para os vales do Ribeira e do Paraíba
DE RIBEIRÃO PRETO
Não há restrição para a instalação de usinas de açúcar e álcool na região de Ribeirão, mas o zoneamento agroambiental feito em 2008 pelo Estado vetou unidades em duas regiões de SP.
Os vales do Ribeira e do Paraíba, e algumas "ilhas" no interior, tiveram a instalação de usinas proibida.
O motivo do veto é a presença de unidades de conservação, as bacias aéreas (indicam a qualidade do ar), a topografia ou as condições hidrográficas e climáticas.
Dos 24,8 milhões de hectares disponíveis, em 6,7 milhões não há condições. Outros 5,5 milhões têm restrições, e 8,6 milhões são adequados, com limitações (reservas ou áreas de proteção). Por fim, 3,9 milhões têm condições adequadas. O Estado tem pouco mais de 5 milhões de ha ocupados por cana.
Tietê-Paraná terá expansão histórica a partir de 2011
Plano de transporte de álcool da Transpetro vai mais que dobrar volume de carga que cruza a hidrovia
Até meados da década, volume deve superar 12 milhões de toneladas, o que aproxima hidrovia da capacidade final
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO
O transporte na hidrovia Tietê-Paraná vai mais do que duplicar até meados da próxima década. Dos 5,7 milhões de toneladas alcançados neste ano, o volume de carga vai superar 12 milhões de toneladas, e pode levar a estrutura ao limite.
Um contrato para a construção de 20 novos comboios será o novo impulso. O acordo foi assinado entre a estatal Transpetro e o consórcio Estaleiro Rio Tietê.
O negócio restabelece a construção naval na hidrovia paulista e cria bases para o transporte hidroviário de álcool combustível, item até agora fora dessa modalidade de transporte.
São 80 barcaças e 20 empurradores. O valor do negócio será de US$ 239,1 milhões (R$ 404 milhões). Os equipamentos serão construídos em Araçatuba (SP).
O estaleiro começa a ser montado em janeiro, e os primeiros comboios começam a ser entregues no final do ano que vem.
Hoje, o escoamento da produção de álcool ocorre, em grande parte, por rodovia. O projeto da Transpetro transfere cerca de 7 milhões de toneladas pelo rio Tietê até a rede de alcoolduto, através da qual o combustível é bombeado para Paulínia e para Santos.
Para Frederico Bussinger, diretor do DH (Departamento Hidroviário), órgão ligado à Secretaria de Transportes de São Paulo, o projeto da Transpetro altera as perspectivas da hidrovia no Estado.
A modalidade de transporte é parte essencial do plano estadual para redução das emissões de gases de efeito estufa até 2020. Das emissões de São Paulo, 55% são de responsabilidade do setor de transporte.
O crescimento que será imposto pela Transpetro, no entanto, pode levar a hidrovia ao limite rapidamente. Hoje, a Tietê-Paraná tem capacidade para movimentar 10 milhões de toneladas por sentido. Bussinger admite que o transporte de álcool nos próximos anos vai exigir um novo ciclo de investimentos.
INVESTIMENTO
O DH tem hoje um pacote de pequenas obras que totalizam R$ 300 milhões. O principal esforço neste momento é alargar os vãos das pontes que cortam o canal de navegação ao longo dos 650 quilômetros da hidrovia no trecho paulista.
Hoje, a maior parte das 17 pontes que cruzam o rio em São Paulo possui vão inferior a 50 metros, o que torna a navegação dos comboios excessivamente lenta.
"Em cada ponte, o comboio precisa parar, ancorar as barcaças e manobrar uma a uma. Isso retarda em horas o transporte na hidrovia e reduz a produtividade", diz Bussinger.
O DER (Departamento de Estradas e Rodagem), responsável pelas pontes, vai contratar agora as obras para alargar as pontes das rodovias SP-333 e SP-425. Com essas, serão agora dez pontes com pilares reposicionados. Em oito, o trabalho foi feito.
Hidrovia pode ganhar mais 200 km em SP
DE SÃO PAULO
A hidrovia Tietê-Paraná pode ganhar mais 200 quilômetros de extensão e mais cinco pequenas centrais hidrelétricas nos próximos anos. O trecho paulista de 650 quilômetros pode chegar a 850 quilômetros.
Um estudo encomendado pelo Departamento Hidroviário de São Paulo e a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) vai avaliar a viabilidade econômica e ambiental da proposta de tornar o Tietê navegável no trecho entre as cidades de Anhembi e Salto.
O edital para o estudo foi lançado no início deste mês e a abertura das propostas está prevista para a segunda quinzena de janeiro. O estudo poderá gerar um edital para a concessão das obras.
Com as barragens, serão criados cinco "degraus" no Tietê, viabilizando o transporte de carga até Salto. Ali, o plano é fazer a integração com rodovias e a ferrovia.
O transporte hidroviário é apontado como parte da solução para a redução das emissões em São Paulo. Sem um plano alternativo para o transporte de grandes volumes, o Estado vai emitir 65 milhões de toneladas em 2020. Até lá, pode baixar para 32 milhões de toneladas de CO2com a ajuda da hidrovia. (AB)
Natura apelará de multa
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/24/notas
A fabricante de cosméticos Natura informou ontem que irá apelar de uma multa de quase R$ 21 milhões determinada pelo Ibama, sob a acusação de uso impróprio de material genético nativo ao Brasil. “A empresa entrará com um recurso contra todos os processos legais, porque tem certeza que cumpriu todos os princípios básicos da Convenção de Diversidade Biológica”, considerou a Natura em comunicado. Autoridades ambientais planejam ampliar medidas contra empresas que criam patentes sobre produtos fabricados com plantas raras e animais sem compensar de forma adequada o país ou as comunidades indígenas onde os materiais foram encontrados.
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