Lideranças do setor agrícola reagiram ontem às declarações do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e saíram em defesa dos processos movidos pelo Brasil na Organização Mundial de Comércio (OMC).
Em entrevista ao Estado, Rossi defendeu que os setores que se sintam prejudicados por outros países tentem um acordo direto com os concorrentes e evitem disputas na entidade máxima do comércio global.
"Negociar é sempre melhor. A questão é que nos casos que estão em análise foi esgotada a via da negociação. Foram anos de negociação infrutífera", disse Pedro de Camargo Neto, mentor do painel do algodão e ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura na gestão Fernando Henrique. Dois processos estão em vias de serem enviados pelo Brasil para a OMC: carne bovina contra a União Europeia e etanol contra os Estados Unidos. O Brasil questiona as exigências de rastreabilidade da carne feitas pela UE e a sobretaxa cobrada pelos EUA na importação de etanol. Para Camargo Neto, o caso da carne bovina é "claro e muito forte", porque os europeus fazem exigências duras ao Brasil, mas não cobram rastreabilidade de outros fornecedores, como Estados Unidos e Canadá. "Seria ótimo se o ministro pegasse um avião para Bruxelas e voltasse com um acordo para a carne bovina, mas é muito improvável", disse. Ele ressalta ainda que a postura de Rossi enfraquece a posição negociadora do Brasil, porque o contencioso é uma arma para forçar mudanças dos parceiros comerciais. Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), disse que o ministro está correto quando diz que a negociação é o melhor caminho, mas que os processos na OMC são um poderoso mecanismo de pressão. "Esgotamos três anos de diálogo. A via da negociação está sempre aberta, mas não podemos abrir mão de um instrumento importante", disse Ele ressalta que o setor foi bem sucedido no processo movido contra os subsídios da União Europeia aos açúcar. Graças ao painel brasileiro, a UE reformou sua política agrícola e deixou de ser o segundo maior exportador mundial do açúcar. Década. Um dos argumentos de Rossi é os processos na OMC demoram muito. "É melhor negociar do que uma disputa na OMC, que pode levar uma década", disse. O caso do algodão se arrasta por mais de dez anos. Camargo Neto admite que esse processo demorou, mas afirma que o governo brasileiro foi "leniente". "O Brasil deixou tudo parado por anos aguardando a Rodada Doha", disse. O Estado procurou a Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina (Abiec), mas seus representantes não foram localizados por conta das festas de fim de ano.
Suzano traça plataforma de mais de R$ 11 bi
Autor(es): Stella Fontes | De São Paulo |
Valor Econômico - 23/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/23/suzano-traca-plataforma-de-mais-de-r-11-bi |
|
Com mais de R$ 11 bilhões em investimentos e aquisições anunciados apenas em 2010, a Suzano Papel e Celulosedeu mostra significativa de seu apetite por crescimento e do rumo escolhido para os negócios do grupo controlado pela família Feffer, após a venda da operação petroquímica, em 2007, para a Petrobras. Com o anúncio de compra da participação da Fibriano Conpacel, consórcio que reuniu os ativos da antiga Ripasa, por R$ 1,45 bilhão - com a distribuidora KSR, o negócio sobe a R$ 1,5 bilhão -, consolidou-se na posição de maior fabricante integrada de papel e celulose da América Latina e fez importante avanço na direção do que será a companhia em 2024, ano em que comemora seu centenário. Anos antes do aniversário, contudo, a Suzano já terá mais que dobrado o tamanho de suas operações, entrado no mercado de energia renovável e firmado a marca, internacionalmente, no segmento de biotecnologia. Tudo isso na esteira de negócios que vieram à baila neste ano e, segundo o presidente da empresa, Antonio Maciel Neto, sem ultrapassar o limite de endividamento de 3,5 vezes medido pela relação entre dívida líquida e Lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Conforme Maciel, as operações anunciadas neste ano colocaram "parte importante" do plano Suzano 2024 em andamento: compra da britânica FuturaGene, de biotecnologia, por US$ 82 milhões; confirmação de aporte de US$ 4,6 bilhões em duas fábricas de celulose que serão erguidas no Maranhão e Piauí (sem contar os investimentos em florestas); lançamento da Suzano Energia Renovável, com aplicação de US$ 1,3 bilhão até 2019; e, no encerramento do ano, a esperada aquisição do Conpacel, no qual era sócia da Fibria. Haverá mais pela frente, afirma Maciel, porém a estrutura do negócio, agora de base florestal e não apenas voltado à produção de celulose e papel, está dada. O plano, traçado ao longo de dois anos, foi desenvolvido pela companhia junto a várias consultorias, e levou a marca de um dos maiores projetos já desenvolvidos pela McKinsey & Company . "No que se refere a papel, a aquisição da fatia no Conpacel estava prevista e, com isso, uma primeira etapa do plano já foi encerrada", conta o executivo. Segundo Maciel, a Suzano vai usar o caixa para pagar o negócio, cuja liquidação está prevista para o fim de janeiro, e não terá de recorrer, ao menos no curto prazo, a operações no mercado financeiro para evitar pressão sobre o nível de alavancagem. "O pico da alavancagem deve ocorrer em 2013, com os investimentos no Maranhão. Mas, naquele ano, já teremos um bom Lajida do Conpacel, o que deve compensar", afirma. Naquele ano, a relação entre dívida líquida e Lajida poderá subir a 3,7 ou 3,8 vezes em algum momento, segundo o executivo, e recuar para abaixo da meta rapidamente. "Agora, se as condições econômicas não forem boas e tivermos, eventualmente de ir a mercado, vamos fazer isso e corrigir a situação", admitiu, em teleconferência com analistas para comentar o negócio. Embora exista preocupação entre profissionais do mercado financeiro quanto aos níveis de endividamento da Suzano, a operação envolvendo o Conpacel foi bem recebida pelos analistas, que não chegaram a consenso sobre os múltiplos da operação uma vez que os dados financeiros da parcela da Fibria no Conpacel não são conhecidos. A Suzano informou que espera Lajida de R$ 240 milhões em 2010 referente apenas à sua metade no consórcio. De um lado, apontaram os profissionais, a Suzano, cuja proposta foi calculada com base apenas nos números relativos à sua parcela no consórcio, absorverá sinergias de R$ 300 milhões, sem contar outros ganhos decorrentes da otimização de sua operação de papel. De outro, a vendedora Fibria, que vem de um longo período de rígida gestão de dívida por conta das perdas bilionárias com derivativos da antiga Aracruz e dos custos para fusão dessa empresa com a Votorantim Celulose e Papel (VCP), fica em posição ainda mais tranquila para retomar seu projeto de crescimento. Na área da ex-sócia, de celulose branqueada de eucalipto, a Suzano também tem planos ousados. Em 2013 e em 2014 pretende inaugurar uma fábrica com capacidade para até 1,5 milhão de toneladas anuais no Maranhão e outra no Piauí, respectivamente. Os prazos estão mantidos, conforme Maciel. O plano até 2024 prevê uma terceira nova fábrica e a expansão da unidade de Mucuri (BA), porém essas são pautas para o futuro. Para o projeto que será erguido em Imperatriz (MA), a Suzano já contratou empréstimo de R$ 2,7 bilhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e aprovou a emissão de R$ 1,2 bilhão em debêntures mandatoriamente conversíveis, um instrumento ainda não utilizado no país para o financiamento dos chamados projetos "greenfield". Os controladores da Suzano, que detém 52% do capital total da companhia, já comprometeram a subscrever parcela proporcional dos títulos e o próprio banco, via BNDESPar, deu garantia firme de subscrição de até R$ 564 milhões. O banco de fomento tem, hoje, cerca de 4% de participação na Suzano e pode elevar essa fatia para perto de 10% caso fique com totalidade das debêntures e minoritários não acompanhem os demais acionistas na operação. Conforme Maciel, a definição do financiamento com o BNDES foi fundamental para que a companhia se liberasse para apresentar a proposta pelo Conpacel. "As operações não estão relacionadas mas, antes de mais nada, queríamos ter certa a estrutura de capital para o Maranhão." Nessa linha, a Suzano deve definir até fim de março a composição acionária da Suzano Energia Renovável. É certo que a companhia terá sócios, porém a estrutura ainda não está detalhada. Para o Conpacel, vai utilizar exclusivamente recursos do caixa. "Temos liquidez para isso", diz Maciel. Recentemente, a companhia voltou, após 15 anos, ao mercado internacional de dívida e levantou US$ 650 milhões em notas, embora tenha encontrado demanda para US$ 3 bilhões.
Concessão de terra pública federal atrai companhias
Autor(es): Sérgio Adeodato | Para o Valor, de São Paulo |
Valor Econômico - 23/12/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/23/concessao-de-terra-publica-federal-atrai-companhias |
Ao adquirir, neste mês, 13% do capital total da Amata, empresa que explora madeira na Amazônia mediante manejo sustentável, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) sinalizou para o mercado financeiro a confiança nas concessões florestais em terras públicas. O modelo é visto como vetor para a redução de riscos que inviabilizam investimentos de escala no setor, como o problema fundiário e a falta de infraestrutura. Com plano de negócios girando em torno de R$ 200 milhões nos próximos cinco anos, os fundos de "private equity" Brasil Agronegócio (gerido pela BRZ Investimentos), Brasil Sustentabilidade e o alemão Aquila compõem o quadro de novos investidores da empresa, que em setembro iniciou as operações na Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia. Trata-se do primeiro empreendimento após a Lei 11.284, aprovada em 2006, que regulamentou a abertura das áreas públicas federais à produção empresarial de madeira e outros recursos florestais. Além da Amata, responsável pela maior área de exploração (46 mil hectares), venceram a licitação as empresas Madeflona(17 mil hectares) e Sakura(32,9 mil). No total, a estimativa é de uma produção anual de 68,2 mil metros cúbicos de madeira, por meio do manejo florestal, no qual a área é dividida em parcelas para exploração anual em sistema de rodízio, com ciclos de corte de 30 anos. Há regras para produção máxima por hectare, percentual máximo de área impactada e manutenção de um número mínimo de espécies e de árvores como porta-sementes, entre outros critérios. No caso de Jamari, as empresas pagarão ao governo R$ 3,3 milhões em 2011, além da obrigação de investimentos sociais, auferindo lucro com a venda de madeira beneficiada por elas na região. "Interessados no negócio, bancos estão criando modelos de garantia específicos para as concessões florestais", revela Antonio Carlos Hummel, diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), ao apontar a cadeia de oportunidades que surgem com a abertura das áreas públicas. " A indústria madeireira amazônica, tradicionalmente familiar, tende a mudar a cultura de gestão e ganha investidores de porte, porque o mundo inteiro está atento às florestas", completa.
Existem na Amazônia 10 milhões de hectares de terras da União disponíveis para concessão, capazes de fornecer 21 milhões de metros cúbicos de madeira por ano, o que atenderia apenas a 20% da demanda. "Precisaríamos pelo menos de 40 milhões de hectares, que só poderiam ser viabilizados com a solução fundiária das áreas devolutas", adverte Hummel. No país, conforme o último levantamento do SFB, existem 64 milhões de hectares de florestas públicas sem uso regulamentado - quase três vezes o território do Estado de São Paulo -, alvo de grileiros e posseiros que promovem o desmatamento. "O problema não será resolvido enquanto diferentes órgãos federais, como Ibama (licenciamento e fiscalização) e Instituto Chico Mendes (gestão das unidades de conservação), continuarem opinando sobre essas áreas", reclama Hummel. Ele diz ter sinal verde do governo para discutir o tema: "Precisamos realinhar a gestão florestal por conta da importância do setor em nível nacional e mundial." Atualmente, há sete processos de concessão federal em diferentes fases, ultrapassando 1 milhão de hectares, com potencial de produzir 850 mil metros cúbicos por ano. A perspectiva é de uma parcela significativa ter a licitação concluída no próximo ano. O Pará concentra a maioria das concessões em andamento, somando mais de 960 mil hectares. A Floresta Nacional Saracá-Taquera foi a primeira do Estado a ter áreas para o manejo. Os contratos referentes ao uso de 48 mil hectares foram assinados em agosto com duas empresas locais. Outros 93 mil hectares estão em fase de pré-edital. As atenções se voltam para a região da BR-163, foco de desmatamento, conflitos e ilegalidade da madeira, também no Pará. Na área de influência da rodovia, há um edital aberto para 210 mil hectares. Em 2011, o SFB iniciará estudos para avaliar os benefícios econômicos das concessões e desenvolverá o inventário florestal, com o qual pela primeira vez o país conhecerá as árvores que tem. Será realizado um rastreamento de campo em todo o território nacional, com tomada de medidas a cada 20 quilômetros e coletas botânicas em 20 mil pontos. O trabalho durará cinco anos e custará em torno de R$ 90 milhões.
Fundos privados investem em plantio
Autor(es): Sergio Adeodato | De São Paulo |
Valor Econômico - 23/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/23/fundos-privados-investem-em-plantio |
|
No município de Dom Eliseu, no nordeste do Pará, uma das áreas mais devastadas da Amazônia, 68 fazendas de gado e soja estão sendo convertidas em eucalipto e mata nativa, com investimentos já realizados de R$ 300 milhões. Os recursos têm como origem o Vale Florestar, fundo de investimento em participações (FIP) com aporte de R$ 610 milhões, destinado a recobrir áreas degradadas com árvores para exploração econômica de madeira, principalmente para papel e celulose, e transações futuras com crédito de carbono. "O projeto é atrair investimentos de longo prazo, valorizar a floresta e contribuir para mudar a cultura local, historicamente focada no desmatamento", justifica José Flávio Alves, diretor operacional do fundo, mantido pela Vale, Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e fundos de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal(Funcef) e da Petrobras(Petros). Foram plantados até o momento 29,8 mil hectares, somando 33 milhões de mudas de eucalipto e também de espécies nativas como paricá, castanheira e seringueira. Para cada hectare cultivado, dois são conservados para regeneração natural da floresta. Até 2022, a estratégia é reflorestar 150 mil hectares, o que proporcionaria 300 mil hectares protegidos como reserva legal e áreas de preservação permanente (APP), como beira de rios e topo de morros. As propriedades rurais são arrendadas por 15 anos, consumindo R$ 9,5 milhões anuais de investimento por parte do fundo, remunerado pela receita da venda de madeira. O produto começará a ser comercializado em 2014, no ritmo de 40 metros cúbicos por hectare ao ano, em ciclos de corte de sete anos. Até 2028, a estimativa é de uma produção acumulada de 35 milhões de metros cúbicos. "No primeiro ano de exploração, o fundo terá uma taxa interna de retorno de 14% para divisão entre os cotistas, sendo que a maior parcela do retorno financeiro permanecerá em caixa para reinvestimento", informa Alves. "Áreas degradadas estão sendo revitalizadas por atividades mais sustentáveis", destaca Otávio Lobão, chefe do departamento de operações de meio ambiente do BNDES, que tem participação de 25% no negócio, investindo até agora R$ 60 milhões, além dos R$ 274 milhões alocados pela Vale. Após essa primeira experiência no setor, o banco decidiu iniciar operações com manejo em floresta nativa na Amazônia. "É um segmento novo e envolve riscos, embora tenha taxas de retorno maiores que o eucalipto", diz Lobão. "O cenário de regulação, com possíveis avanços para a segurança fundiária, é muito favorável a investimentos." "Na Amazônia, é maior a disponibilidade de terras, com preços menores, uma vantagem competitiva para o setor florestal", analisa Paulo Corchaki, diretor de investimentos do Banco Itaú. Enquanto nos EUA o preço médio do hectare é de US$ 5,3 mil, no Brasil gira em torno de R$ 4,5 mil. O banco mantém o Fundo Ecomudança, na categoria DI - uma carteira de R$ 238 milhões, que reúne 7 mil cotistas e investe 30% da taxa de administração em projetos de redução de gases do efeito estufa. Em 2011, o fundo beneficiará também projetos de exploração florestal. "Devido à baixa volatilidade, o investimento em floresta é mais calmo e, como não tem correlação com outros ativos, imune a crises globais", afirma o executivo. Ele argumenta que o crescimento das árvores acontece independentemente das variáveis econômicas. "A madeira pode ser estocada para se administrar flutuações de preço", diz. Nos países desenvolvidos, o retorno médio do investimento em floresta é de 14,6% ao ano. O gargalo para o crescimento, segundo Corchaki, está no perfil do fluxo de caixa, que exige alto investimento inicial (R$ 5 mil por hectare para eucalipto e R$ 10 mil para nativa) e prazo de maturação. "Mas, com a perspectiva financeira dos serviços ambientais e créditos de carbono, as operações florestais passarão a auferir ganhos desde o início dos projetos - e não somente nos ciclos de corte de madeira." Para suprir a demanda estimada por madeira de plantio comercial até 2020, o país precisará pelo menos duplicar a atual área produtiva, segundo dados apresentados por Corchaki. No rastro desse mercado, diante do declínio dos aportes públicos e da necessidade de aumento dos recursos privados, os fundos de investimento chegam para ocupar espaço. "A estratégia é garantir matéria-prima à indústria, que deixa de gerir floresta e passa a focar investimentos e energia em seu negócio principal", diz Eduardo Barreto, articulador do FIP Caixa BRWoods Florestal. Os contratos de fornecimento são de longo prazo, até 28 anos, com mecanismos de fixação de preço, como o plantio empreendido pela Klabin com participação de fundos europeus. De acordo com Barreto, "essa é uma tendência natural para o Brasil, cujas florestas comerciais são propriedades de empresas". Ele enfatiza: "Fundos internacionais estão se mobilizando para reunir capital com foco nas florestas brasileiras." |
|
Produção de madeira cai pela metade na Amazônia
Valor Econômico - 23/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/23/producao-de-madeira-cai-pela-metade-na-amazonia |
|
Itabela, sul da Bahia, paisagem de Mata Atlântica. Caminhões carregados com eucalipto para construção civil estão prontos para iniciar o percurso até o destino final, o Pará. "A procura por parte desse mercado é crescente", atesta Ricardo Covre, proprietário da Fazenda Sempre Viva. Sinal de novos tempos para a Amazônia, principal fonte da madeira vendida no país? Números do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) indicam a resposta. Entre 2004 e 2009, a produção de madeira nativa na região diminuiu quase pela metade, passando de 24, 4 milhões para 14 milhões de metros cúbicos. Com isso, grandes consumidores, como o setor moveleiro e a construção civil, migram para opções de menor risco, como eucalipto. Além da compra em outras regiões, há na Amazônia 308 mil hectares de plantio de eucalipto, a maior parte para celulose e ferro-gusa, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf). "A queda do dólar, com impacto nas exportações, a variação nos preços de commodities, como soja, e o maior controle, fiscalização e combate à ilegalidade pelo governo explicam a redução", analisa o pesquisador Daniel Santos, do Imazon. "A tendência é a produção se manter nesse patamar de sustentabilidade", prevê Santos. Em 2010, a receita da exploração madeireira na Amazônia somou US$ 2,5 bilhões, segundo o Imazon. A quantidade de serrarias diminuiu um terço e o número de empregos caiu de 344 mil para 203 mil. O instituto verificou que um quinto da madeira é produzida por microsserrarias no estuário dos rios, sem controle e com baixa qualidade. Em 18% dos casos, as toras são extraídas por tratores com cabos de aço que rasgam a floresta, derrubando o que encontram pela frente. Um terço da produção é escoada por estradas de barro quase intransitáveis e, nas serrarias, o rendimento varia de 28% a 45% -- ou seja, mais da metade do que sai da floresta, muitas vezes com impactos, é desperdiçada. A maioria das toras (72%) é transformada em madeira serrada bruta, indicando o baixo grau de beneficiamento. Apenas 22% da produção são exportados, tendo os Estados Unidos como principal consumidor. No mercado interno, São Paulo é o principal Estado comprador, concentrando 17% da demanda. "Diante dos problemas fundiários que persistem, faltam áreas disponíveis para o manejo florestal", adverte Santos. No leste do Pará, onde há historicamente intensa exploração, o déficit é de 100 mil quilômetros quadrados.
Transações florestais
Autor(es): Por Sérgio Adeodato | Para o Valor, de São Paulo |
Valor Econômico - 23/12/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/23/transacoes-florestais |
|
As ofertas estão na internet: "Vendo terreno com 50 alqueires de Mata Atlântica totalmente preservada para compensação ambiental, reserva legal ou crédito de carbono. A área está localizada em Conselheiro Lafaiete (MG), no Triângulo do Aço, onde há atividades de empresas como Gerdau, Aço Minas, Vale, CSN e Sumitomo Valourec". No município de Embu-Guaçú (SP), na bacia hidrográfica da Represa de Guarapiranga, estão à venda 150 mil metros quadrados de floresta virgem. "Se você recebeu multa ambiental, um caminho para aliviar esse custo e reduzir taxas de ajuste de conduta é oferecer área preservada como compensação do dano", diz o anúncio. Valor do negócio: R$ 292 mil (R$ 1,95 o metro quadrado). O movimento de compra a venda de florestas, seja por imposição legal, seja pela perspectiva de lucros futuros com o uso sustentável ou até pela iniciativa voluntária de salvar espécies da extinção, retrata o começo de um novo "boom" imobiliário. "O valor de terras florestadas certamente subirá quando a polêmica sobre o código florestal chegar ao fim", prevê Miguel Calmon, coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, aliança que reúne instituições e empresas para recuperar impactos no bioma. Ele diz que proprietários rurais aguardam definições sobre o percentual obrigatório de área protegida nas fazendas para fazer investimentos - inclusive na conservação. "Só com regras claras e incentivos o mercado terá a escala necessária para transformar a floresta em bom negócio para produtores e investidores", afirma Calmon. Existem na Mata Atlântica 17,5 milhões de hectares, equivalente a quatro vezes a área do Estado do Rio de Janeiro, passíveis de restauração, sem a concorrência com a produção de alimentos. São áreas de baixa aptidão agrícola, passivos de reserva legal e beira de rios sem vegetação. A meta do Pacto é restaurar 15 milhões de hectares até 2050, aumentando a cobertura florestal do bioma dos atuais 8% para 30% em relação à original. O custo varia de R$ 1 mil a R$ 2 mil por hectare, no caso de regeneração natural, e até R$ 15 mil, para a necessidade de plantio de mudas. A atividade envolve uma cadeia com 17 diferentes negócios, desde o geoprocessamento para mapear áreas até fornecedores de sementes, viveiros comunitários e particulares, vigilância florestal e empresas de plantio. São oportunidades que estarão em evidência em 2011, declarado pela ONU como Ano Internacional das Florestas. "Valorizar árvores em pé é condição para conservá-las, ainda mais quando sabemos que 90% dos remanescentes fora da Amazônia estão na mão de particulares", afirma Fernando Veiga, gerente de serviços ambientais da The Nature Conservancy. Indicativa dessa tendência é a minuta da lei sobre pagamento por serviços ambientais, aprovada em dezembro na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados. A previsão é o repasse de incentivos ao redor de R$ 500 milhões por ano, oriundos da receita com o petróleo, para recompensar ações que garantem provisão de água, polinização de plantas, solos em condições de produzir alimentos e equilíbrio climático. Completam o cenário a consolidação do mercado de créditos de carbono e de instrumentos como o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento Evitado), além do fundo global de R$ 100 bilhões anunciado na última reunião sobre clima em Cancún, no México, para financiar países em desenvolvimento. A restauração florestal é o fio condutor. Na Bahia, a empresa de papel e celulose Fibriaplaneja até o fim do ano restaurar 2,9 mil hectares de Mata Atlântica. Estão sendo plantadas 1,5 milhão de mudas, ao custo de R$ 8 milhões, para resolver antigos passivos ambientais herdados na fusão com a Aracruz Celulose. Para 2011, a meta é reflorestar mais 3,5 mil hectares, com investimento aproximado de R$ 14 milhões. No total, 15 mil hectares na Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais, além de outros 5 mil hectares no Vale do Paraíba em São Paulo, serão restaurados nos próximos anos mediante diferentes níveis de intervenção. "O principal objetivo é atender às exigências dos órgãos ambientais, à demanda da certificação socioambiental FSC (Forest Stewardship Council) e às pressões ambientalistas", explica João Augusti, gerente de meio ambiente florestal. "A valorização da floresta nativa pode abrir frentes de negócio no setor", prevê Renato Carneiro, diretor da indústria Veracel, dona de 104 mil hectares de árvores nativas na região de Porto Seguro (BA), mescladas com área praticamente igual de eucalipto. Para mitigar o problema da concentração fundiária, Paulo Dimas, pesquisador do Instituto Cidades, propõe a venda de florestas para fundos de pensão, permitindo capitalizar empresas de celulose para o fomento de uma economia florestal de uso múltiplo. A medida, segundo ele, refletiria no aumento de renda e na diversificação de negócios regionais. A servidão florestal -uso de áreas de terceiros para compensar a falta de reserva legal - pode render R$ 300 por hectare ao ano, segundo analistas, o dobro da média de receita na agropecuária. "Ter floresta na fazenda, tempos atrás vista como barreira aos lucros, é hoje oportunidade de negócio", enfatiza Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica. |
|
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário