Portugal, França e Holanda estão entre os cinco destinos preferidos; vizinhos sul-americanos perdem espaço
Brasileiras aproveitam a crise europeia para fazer bons negócios; investimento na França cresce 113.800% no ano
Dennis Ivy - 14.set.05/Bloomberg |
ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK
VERENA FORNETTI
DE SÃO PAULO
A crise econômica se tornou uma oportunidade de investimento para as empresas brasileiras, que estão apostando cada vez mais nos mercados da Europa, enquanto os instáveis vizinhos sul-americanos perdem espaço.
Portugal, França e Holanda, por exemplo, aparecem entre os cinco países que mais recebem investimentos brasileiros -excluindo os paraísos fiscais (como ilhas Cayman, que recebeu US$ 8 bilhões de janeiro a novembro deste ano), que não são o destino final do dinheiro.
Aproveitando o mau momento da economia europeia para encontrar barganhas, o investimento na França nos 11 primeiros meses deste ano é 113.800% superior ao do mesmo período de 2006; em Portugal, 2,031% maior.
Resultado: os cinco primeiros destinos europeus do investimento direto brasileiro receberam 16,9% do aporte total, ante 3,7% dos cinco maiores há quatro anos.
"Mesmo com alguns países da América Latina tendo crescido muito, não há tantas grandes empresas e mercados tão consolidados como o europeu e o americano", diz André Sacconato, da consultoria Tendências.
Uma das que aproveitaram esse momento foi a Camargo Corrêa, que, no início do ano, se tornou a maior acionista da cimenteira portuguesa Cimpor, em um negócio de € 1,4 bilhão.
Outro exemplo é a Lupatech, de válvulas industriais, que adquiriu, por € 12,5 milhões, 6,8% da espanhola Vicinay Marine.
Para Sacconato, é provável que as empresas tenham preferido buscar oportunidades nos Estados Unidos e na Europa aproveitando os incentivos do governo, via BNDES, para a formação de atores globais.
"Nunca houve condições tão favoráveis para o investimento brasileiro. Tanto as condições "naturais" -como o câmbio- como as que foram criadas para estimular esse avanço, que é o caso dos aportes do BNDES."
AMÉRICA DO SUL
O mesmo movimento não se repete na América do Sul, com exceção do Chile, já que o investimento na região está em declínio, principalmente na Argentina (de 5,9% do total em 2006 para 1,7%).
Para o embaixador Sérgio Amaral, ministro do Desenvolvimento no governo FHC, esse recuo se deve ao fato de os aportes já terem sido realizados. "A maior parte das grandes empresas brasileiras já está na América Latina. Pode ter caído porque elas estão buscando outras oportunidades."
Sacconato diz que a instabilidade na América do Sul também é um fator. Empresas como Odebrecht, Braskem e EBX tiveram problemas com governos da região.
Ele separa a região em duas partes. "Há países como Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela, em que o investimento é arriscado, mas tem outros, como Chile e Peru, que têm estrutura para receber investimentos."
Saldo é positivo com principais destinos do capital nacional
DE NOVA YORK
DE SÃO PAULO
Apesar da retomada neste ano dos investimentos brasileiros no exterior, o saldo para o país continua positivo nas relações com a maioria dos principais mercados.
Com exceção da Argentina, da Hungria e da Venezuela, o Brasil recebeu mais investimento do que aplicou entre os 20 principais destinos dos seus aportes -excetuando os paraísos fiscais.
A principal vantagem é com a Suíça, com um saldo positivo em US$ 6,1 bilhões para o Brasil, seguida pela Holanda, de US$ 3,8 bilhões.
Com os EUA, que são o segundo maior investidor no Brasil (atrás da Suíça e que só recebem menos investimento do país que as ilhas Cayman), a relação é positiva em US$ 1,4 bilhão.
Um dos principais investimentos nos EUA neste ano foi a aquisição da Gerdau do capital da siderúrgica Ameristeel, sua subsidiária americana, por US$ 1,7 bilhão.
André Sacconato, analista da Tendências, diz que a paridade dos investimentos bilaterais é efeito da crise internacional, que secou o apetite dos americanos, e da política brasileira de construir grandes empresas nacionais.
Internacionalização de empresa brasileira é caminho sem volta
A REALIZAÇÃO DE INVESTIMENTOS DIRETOS NO EXTERIOR DEVE CONSTITUIR UMA FERRAMENTA VISANDO O DESENVOLVIMENTO |
LUIS AFONSO LIMA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A internacionalização de empresas de países em desenvolvimento não é mais uma opção a ser feita, mas uma realidade que ganhou, vem ganhando e ganhará cada vez mais espaço nos próximos anos.
As empresas brasileiras não são exceção. Trata-se de um caminho sem volta, levado a cabo por empresas de economias emergentes com vistas a ganhos de competitividade necessários para a sobrevivência dessas transnacionais não apenas na arena global, mas até nos mercados domésticos.
Nessa busca pela competitividade, os fluxos de investimento direto estrangeiro originados em economias latinas foram superados pelos fluxos de IDE originados em economias asiáticas.
Esse movimento vem sendo realizado pelo setor privado de economias emergentes seja com, seja sem, ou seja contra o governo.
Isso não significa que não haja espaço para políticas públicas no Brasil voltadas à internacionalização. Pelo contrário. Esse espaço há, contempla desafios complexos, e precisa ser preenchido.
A realização de investimentos diretos no exterior não deve constituir um objetivo "per se", mas sim uma ferramenta para atingir o desenvolvimento.
Portanto, o que cabe aos formuladores de políticas públicas agora não é questionar se as empresas brasileiras devem ou não devem se internacionalizar, mas sim criar um ambiente de negócios favorável, estimular a competitividade, criar as condições de concorrência no mercado internacional e assegurar o máximo de benefícios para o país.
O Brasil está aquém de outros países emergentes nesse fronte. A complexidade desse desafio aumenta por conta do fato de que não há um caminho único a ser percorrido. Há diferentes opções de políticas públicas possíveis já utilizadas em países desenvolvidos.
O que se pergunta, entretanto, é o quanto essas políticas são adequadas para economias em desenvolvimento como o Brasil. O que devemos buscar é um caminho que reúna as melhores práticas dos países já desenvolvidos e em desenvolvimento, combinadas com o que achamos ser mais aplicável ao tipo de crescimento que queremos para o país.
Criação de valor adicionado, ganhos de competitividade, desenvolvimento da capacidade de inovação: esses são os benefícios que a internacionalização pode nos proporcionar.
LUIS AFONSO LIMA é diretor-presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
US$ 16 bilhões no exterior
Autor(es): Liana Verdini | |||||||||
Correio Braziliense - 25/12/2010 | |||||||||
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/25/us-16-bilhoes-no-exterior | |||||||||
GLOBALIZAÇÃO Pelas previsões do Banco Central, em 2011, as companhias nacionais vão dobrar os investimentos realizados fora do país O processo de internacionalização das empresas brasileiras está avançando a passos de gigantes. Se as projeções do Banco Central estiverem corretas, companhias lideradas pela mineradora Vale, a siderúrgica Gerdau e o frigorífero JBS vão desembolsar, no próximo ano, um volume recorde de US$ 16 bilhões (quando descontado o que trazem de volta ao país em forma de lucros e dividendos) para ampliar seus negócios no exterior — mais do que o dobro do aplicado em 2010 (US$ 7,5 bilhões). Tamanho apetite tem justificativa: firmas tradicionais dos Estados Unidos e da Europa, principalmente, estão enfrentando sérios problemas de caixa e sendo ofertadas no mercado como pechinchas. Capitalizadas, as multinacionais verde-amarelas vão às compras. Uma das mais recentes tacadas foi dada pelo grupo 3G, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que pagou US$ 4 bilhões pela rede de fast food norte-americana Burger King. Nos próximo dias, o JBS deve assumir o controle acionário da Sara Lee, uma das mais tradicionais empresas de alimentos dos EUA. Na avaliação da professora Simone Silva de Deos, diretora adjunta do Centro de Estudos de Relações Econômicas Internacionais (Ceri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a internacionalização propicia às empresas um espaço de valorização ampliado, com a expansão de seu mercado e com o aumento da competitividade e da redução de custos. “Além disso, há o acesso a recursos naturais que porventura inexistam no país, à mão de obra diferenciada e mais barata, o que também reduz custos e aumenta a competitividade, e, muitas vezes, às tecnologias de ponta. Pensando dinamicamente, a internacionalização traz resultados positivos sobre as contas externas do país”, disse ela em seminário sobre o tema. O professor Afonso Fleury, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), conduziu uma pesquisa sobre a internacionalização de empresas brasileiras. Para ele, as firmas nacionais enfrentam vários obstáculos para estabelecer filiais no exterior por falta de tradição em sair do país. Fleury destaca ainda a barreira do idioma e da histórica falta de apoio do governo, que só despertou para a questão recentemente, enquanto outros países do Bric — grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China — já incentivam a transposição de fronteiras há tempos. Emergentes O estudo de Fleury conclui que as características da internacionalização das empresas dos países emergentes são muito diferentes das que embalaram as primeiras multinacionais nascidas nas economias desenvolvidas há décadas. As primeiras multinacionais hoje focam suas atividades em produtos e serviços de alto valor agregado, enquanto as emergentes se concentram em produzir básicos e mercadorias simples. Além disso, a abertura de filiais no exterior seria uma forma de as empresas se protegerem das instabilidades nas economias emergentes, avaliou o economista da USP. E uma maneira de aproveitar a retração dos preços em função da crise internacional, que prejudicou o desempenho de várias economias pelo mundo. Foi o que ocorreu no setor bancário, em que várias instituições trocaram de mãos nos últimos anos. Um exemplo é a compra do Banco Patagônia, da Argentina, pelo Banco do Brasil. A Petrobras é outro símbolo da tendência de investimento pesado no exterior. Nesta semana, decidiu pagar um bônus de entrada de US$ 13,2 milhões pela participação de 30% no campo de gás natural Itaú, na Bolívia. Além disso, vai pagar em parcelas US$ 50,6 milhões correspondentes a investimentos realizados pelos donos da concessão — a francesa Total e a inglesa BG. No total, o desembolso da estatal para ingressar no bloco será de US$ 63,8 milhões. O negócio representa a retomada da aposta da petroleira brasileira na Bolívia. Outras que também estão apostando no exterior são a MMX e a MPX, que conseguiram autorização da Comissão Regional de Meio Ambiente (Corema) da região do Atacama, no Chile, para a construção de um porto, a ser instalado a 80 quilômetros do município do Copiapó. O porto pertence à OMX Operações Marítimas — subsidiária do Grupo EBX, do empresário Eike Batista — e deverá entrar em operação em 30 meses. O investimento total é estimado em US$ 300 milhões. SHOPPING TEM MELHOR NATAL DA DÉCADA E INVESTE R$ 6 BI
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