Morador de comunidade rural tem de assumir trabalho doméstico em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul
Cada vez mais as mulheres migram sozinhas para as cidades e trabalham no ramo de serviços
FELIPE BÄCHTOLD
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CATARINA
Não houve noivos no ano passado entre os 2.526 habitantes de Bom Jesus, a 550 km de Florianópolis. Os moradores dizem que nem perceberam o fato, registrado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mas a falta de casamentos e nascimentos e uma profusão de homens solteiros -que cuidam ao mesmo tempo da roça e dos afazeres domésticos- já são cada vez mais comuns em comunidades rurais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
O motivo é que as dificuldades da vida no campo afastam cada vez mais os jovens, em especial mulheres, que migram sozinhas para as cidades para trabalhar no ramo de serviços. O resultado é que os homens acabam ficando para cuidar da propriedade herdada da família.
A vida de homens solteiros no interior de Santa Catarina virou até filme. O documentário "Celibato no Campo", dos cineastas Ilka Goldschmidt e Cassemiro Vitorino, foi lançado no mês passado e deve ser exibido em mostras de cinema e cineclubes.
Os catarinenses têm a maior sobra de homens solteiros no país, diz o IBGE. Santa Catarina tem 15 cidades que não tiveram casamentos em 2009, quase todas no oeste.
Em propriedades familiares sem funcionários, onde a própria família cuida das plantações ou do gado, o trabalho braçal e a falta de períodos de descanso, como férias, desestimulam a permanência dos mais jovens. Também pesam a dependência financeira dos pais e a falta de alternativas de lazer.
Cansada de lidar com essa situação na adolescência, Enelsi Mariani, 37, acabou deixando o campo e a propriedade dos pais. Ao se casar, foi para a cidade, onde hoje dirige um sindicato de agricultores de Seara (527 km de Florianópolis).
"Com 15 anos, eu tinha que lavrar, roçar, carregar cestos, saco de ração. Trabalhava pesado, carregava peso."
Esse êxodo também tem relação, relatam moradores e especialistas, com o aumento da escolaridade da população. Mais jovens concluem o ensino médio e chegam à faculdade, o que desencoraja um retorno ao campo. Outro fator é a falta de espaço para mulheres na administração das propriedades.
AS ÚNICAS SOLTEIRAS
As únicas moças na Linha Narciso, comunidade rural de Bom Jesus, são as irmãs Aline, 17, e Adelita Malinski, 19. Adelita trabalha na cidade e namora. Aline é solteira e começará a faculdade no ano que vem.
Apesar da necessidade de se deslocar todo dia para estudar, Aline diz gostar de morar na propriedade rural do pai. Mas a própria mãe, Janete Malinski, 39, estimula as filhas a saírem do campo. "[Aqui] é mais sofrido", diz.
Vizinho de Janete, Ildo Gilmar dos Santos, 34, mora com os pais e cria gado.
Solteiro, com uma renda líquida de R$ 1.400, lamenta o desinteresse dos jovens.
"A mulherada hoje, o pouco que tem, vai mesmo embora. O homem fica mais ainda no interior do que a mulher. A mulher vai cuidar de criança, estudar. Tem mais chance de sair", diz.
Santos já teve namorada, mas conta que as mulheres não se interessam pela roça.
cifras & letras
Não ganhou? Compre para si mesmo
Convidados indicam livros que fizeram diferença em 2010
Eduardo Giannetti
Para onde vai o Brasil? Nossa economia, é inegável, vive um bom momento. Prevalece um sentimento de otimismo e confiança em nosso futuro como há muito não se via. Mas é preciso cuidado.
Seria um grave erro permitir que o êxito circunstancial nos fizesse perder o senso de realidade. O Brasil já viveu situações semelhantes no passado e nem por isso soube aproveitar a oportunidade de semear as bases de uma prosperidade duradoura.
O maior risco que corremos hoje é a complacência -é confundir o sucesso efêmero no curto prazo com a construção de um futuro generoso e sustentável. Como antídoto à propensão ao imediatismo e à "razão curta", recomendo três livros que abordam o imperativo de enfrentarmos desde já os nossos desafios de longo prazo: Mais que um diagnóstico do dilema previdenciário brasileiro, "Demografia - A Ameaça Invisível", de Fabio Giambiagi e Paulo Tafner (ed. Campus), analisa as implicações da transição demográfica pela qual passaremos nas próximas décadas. São verdades incômodas hoje, mas que se tornarão um drama doloroso caso não sejam entendidas e equacionadas em tempo hábil.
Em "O Que os Economistas Pensam sobre Sustentabilidade", organizado por Ricardo Arnt (ed. 34), 15 economistas de diferentes matizes teóricas discutem os nós e os nortes da sustentabilidade no mundo.
Partindo da constatação de que o crescimento nos moldes atuais encontra um claro limite no esgotamento da capacidade de os ecossistemas continuarem prestando os serviços de que dependem as sociedades humanas, o livro oferece uma riqueza de análises e propostas para enfrentar a encrenca ambiental que nos aflige.
E, para os interessados em avançar no debate sobre prosperidade sustentável, a transição para uma economia de baixo carbono e os limites dos indicadores tradicionais de riqueza e bem-estar, recomendo "Sustentabilidade", de José Eli da Veiga (ed. Senac-SP).
EDUARDO GIANNETTI é professor do Insper São Paulo.
Fernando Cardim
A economia nasceu, como outras ciências sociais, como um ramo do que antigamente se chamava de ciências morais, cujo objeto de estudo, como observou Keynes, eram "motivos, expectativas e incertezas psicológicas" de indivíduos e grupos sociais e as interações entre esses agentes em realidades historicamente específicas.
Assim, um fundamento da economia, talvez o principal deles, era a história.
Todos os grandes pensadores da economia, a começar por Adam Smith, sabiam disso. Infelizmente, muitos economistas parecem nada saber de história e, por isso mesmo, são sempre pegos de surpresa quando algo como a crise atual tem lugar.
Por isso mesmo, minha primeira e mais entusiástica sugestão de leitura para economistas e outros interessados é "Pós-Guerra" (ed. Objetiva), de Tony Judt.
A Europa foi palco de alguns dos mais importantes experimentos em política econômica e reforma social no período e Judt é um analista impressionante e convincente.
O capítulo sobre o nascimento do "welfare state" deveria ser obrigatório para economistas, políticos, cidadãos em geral. Uma segunda sugestão vai na mesma linha. É o lançamento mais recente de Joe Stiglitz, "O Mundo em Queda Livre" (Cia. das Letras).
Exercitando sua veia crítica e seu estilo mais do que provocativo, Stiglitz aproveita a oportunidade para discutir os descaminhos da teoria econômica mais ortodoxa e sua inadequação como instrumento que permita a compreensão da crise iniciada em 2007 nos Estados Unidos.
Embora não tão fundamental quanto Judt, é ainda leitura obrigatória, enquanto os países desenvolvidos vão vivendo a sequência infernal de manifestações da maior crise desde os anos 1930.
FERNANDO CARDIM é professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Vinicius Torres Freire
"Capitalismo de Laços" (ed. Campus) é de longe o melhor lançamento do ano (e de muitos anos) a respeito do funcionamento real da economia brasileira. Sergio Lazzarini, professor do Insper, fez uma pesquisa empírica imensa, precisa e muito paciente sobre a propriedade de grandes empresas, as conexões entre elas, suas relações com o Estado. Acaba contando, por meio de sua documentação, a história da mudança da posse do grande capital no país, das privatizações de FHC à criação de conglomerados nos anos Lula. Para quem não aguenta mais a avalanche de simplificações idiotas e recentes sobre classe social no Brasil e a irrelevância do clichê de "nova classe média", o livro "Os Batalhadores Brasileiros" (ed. UFMG), de Jessé Souza, professor da UFJF, é uma ótima introdução aos vários aspectos do conceito de classe. Souza discute o problema por meio de uma pesquisa empírica sobre o que ele chama de "nova classe trabalhadora brasileira", parte da qual vem sendo chamada de "nova classe média". "Oito Séculos de Delírios Financeiros", de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart (ed. Campus) saiu em 2009 nos EUA, na onda de trabalhos sobre a crise financeira que explodiu em 2008. Os autores fazem um balanço e uma história comparada e quantitativa de crises financeiras em 66 países diferentes.
VINICIUS TORRES FREIRE é colunista da Folha.
Ricardo Antunes
Um título é emblemático: "Prolegômenos para uma Ontologia do Ser Social", de György Lukács [1885-1971], que acaba de sair no Brasil pela Boitempo. A história dos "Prolegômenos" é conhecida para os especialistas: descontente com a versão de "Para uma Ontologia do Ser Social", obra de vulto do último Lukács, o filósofo húngaro pôs-se a escrever uma versão mais concisa -os "Prolegômenos". Posteriormente, voltou ao projeto original, mas a morte impediu sua conclusão. A partir de então, a versão concisa passou a ser conhecida como "Pequena Ontologia", enquanto a original era a "Grande Ontologia". No belo posfácio à presente edição, Nicolas Tertulian lhe confere "o valor de um testamento", "último grande texto filosófico de Lukács". Sua ontologia oferece um magistral redescobrimento da obra marxiana, ao apontar os limites dos marxismos epistemologizante e neopositivista -que tantos estragos fizeram no marxismo do século 20. Lukács foi, naquele século, o mais pujante crítico dos desconstrutores do trabalho. Ao reconhecer seu sentido complexo (o trabalho como protoforma da atividade humana) e contraditório (onde convivem alienação e emancipação), o pensador foi os mais vigoroso crítico das reificações, coisificações e estranhamentos que afloram a partir da esfera do trabalho.
RICARDO ANTUNES é professor de sociologia na Universidade Estadual de Campinas.
Jirau trabalha para remanejar população atingida por obras
DA ENVIADA A PORTO VELHO
Quase dois anos depois de iniciadas as obras, a usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, ainda tem cerca de 300 famílias a serem remanejadas da área que será alagada pelo reservatório.
A maioria delas é habitante da área rural, onde as negociações começaram apenas em agosto deste ano.
O consórcio Energia Sustentável do Brasil prevê encher o reservatório da usina em agosto de 2011, quando toda a área deverá estar desocupada e desmatada.
O plano esbarra, porém, no descontentamento dos ribeirinhos, que reclamam dos valores das indenizações e chegaram a fechar o canteiro de obras da usina, em novembro, em protesto.
Representantes da ESBR minimizam o problema e ressaltam que 20% desses moradores já aceitaram os valores ofertados.
Os conflitos, porém, chegaram até o Ministério de Minas e Energia, que interferiu e agora acompanha as negociações de perto, inclusive enviando representantes às reuniões.
Para evitar novas rusgas, a ESBR contratou neste mês um técnico para fazer outra avaliação das propriedades e, se for o caso, negociar alterações nas indenizações.
Não é a primeira investida do consórcio para tentar diminuir a tensão.
No protesto, a ESBR chegou a providenciar refeições, banheiros e energia elétrica para os 300 manifestantes, a fim de acalmar os ânimos e se mostrar disposta a negociar.
Segundo o técnico contratado pela empresa, Felipe Ferreira, a nova avaliação das propriedades deve ser concluída até o final de janeiro. (EHC)
No sul do Piauí, a terra de confusões
Autor(es): Gabriela Lima |
Correio Braziliense - 24/12/2010 http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/12/24/no-sul-do-piaui-a-terra-de-confusoes |
MEIO AMBIENTE Projeto de ampliação de parque deixa de fora área considerada prioritária por ecologistas e por ONGs, beneficia empresa de carvoaria e ainda vai render R$ 150 milhões aos cofres do estado. Ministério admite que solução não é a ideal O destino de um santuário ecológico que abriga a última floresta do semi-árido nordestino, no sul do Piauí, tornou-se motivo de embate, com organizações não governamentais e ambientalistas de um lado e políticos e empresários do outro. Conhecida como Serra Vermelha, a área de transição entre Cerrado, Caatinga e remanescentes de Mata Atlântica abriga animais ameaçados de extinção, como a onça pintada, a suçuarana, o tamanduá-bandeira e a arara-azul-de-lear. Para proteger uma área de mais de 300 mil hectares (equivalente a cerca de 3 mil km² ou seis vezes a área do Plano Piloto), ecologistas lutam há quatro anos pela criação do Parque da Serra Vermelha. Mas, em vez de atender a reivindicação, o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) acertou com a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (Semar) a ampliação de uma reserva situada ao lado, o Parque Nacional da Serra das Confusões. Pela aquisição das terras, o ICMBio pagará R$ 150 milhões ao governo piauiense. O problema é que a ampliação do Parque da Serra das Confusões não contempla a parte considerada de maior biodiversidade pelo próprio MMA. O presidente do ICMBio, Rômulo Mello, admite que o traçado da reserva abrange um platô coberto por Caatinga e deixa de fora os baixões (vales que cortam a chapada), onde está a vegetação de maior porte. “Não é o ideal, não é o que nós sonhamos, mas é o possível”, justifica. O “possível” está longe do que querem os ambientalistas, frustrados com a decisão. “Não há necessidade de ampliar o Parque Serra das Confusões, que já é o maior do Nordeste com 502 mil hectares e nenhuma infraestrutura. O que nós queremos é uma nova unidade de conservação que proteja a Serra Vermelha de forma integral”, reclama Tânia Martins, representante da Rede de ONGs da Mata Atlântica no grupo de trabalho criado para discutir a implantação juntamente com membros da Semar e do ICMBio. Com isso, Confusões, como o parque é conhecido, passará a ter 802 mil hectares, o equivalente a uma vez e meia a área do Distrito Federal. Tânia denuncia que o novo projeto abrangendo áreas antropizadas (modificadas por ação humana), com criação de gado e plantação de caju, sem contemplar aquela considerada remanescente de Mata Atlântica. Segundo ela, a manobra tem como objetivo beneficiar a carvoaria JB Carbon. A empresa é dona de 81.179 hectares de terra na região, tenta implantar o projeto Energia Verde, um plano de manejo florestal que consiste na derrubada de árvores para a fabricação de carvão. Segundo Mello, o terreno ocupado pela empresa foi retirado do projeto a pedido do governo do Piauí, por meio da secretaria estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. “A criação de um parque é sempre um processo exaustivo de negociação”, explica Mello. O ex-governador do estado e senador eleito, Wellington Dias (PT), nega a interferênica. A reportagem tentou contato com a JB Carbon e não obteve resposta. A briga contra a permanência da empresa na Serra Vermelha teve início em 2006, quando ambientalistas descobriram que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) havia autorizado o desmatamento de 78 mil hectares na região de ecótono (encontro entre os biomas Caatinga, Cerrado e remanescente da Mata Atlântica). O Projeto Energia Verde dividia a área em 13 partes. A cada ano, um desses lotes sofreria o corte monitorado, o que permitiria a regeneração das árvores. Na época, foi considerado o maior plano de manejo florestal sustentável e renovável de biomassa do país. No entanto, o que se viu foi um desmatamento indiscriminado. O Ministério Público Federal entrou com ação civil pública para impedir a derrubada das árvores. Com a repercussão do caso, o Ministério do Meio Ambiente determinou, na gestão da ministra Marina Silva, a paralisação do projeto. Posteriormente, o suposto plano de manejo acabou anulado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, com sede em Brasília. Na decisão, a desembargadora federal Selene Maria de Almeida argumentou que o Energia Verde não constitui plano de manejo florestal sustentável porque adota o sistema de exploração de talha rasa, com corte de 100% da vegetação. A juíza destacou a existência de animais endêmicos (que só existem no local) e a tendência à desertificação devido à fragilidade do solo no semi-árido. A serra, rodeada de densa mata nativa, fica bem ao lado do Núcleo de Desertificação de Gilbués, um dos maiores e mais preocupantes do país. A polêmica » Apesar das irregularidades constatadas no projeto, o ponto mais discutido por quem trata do tema é o tipo de vegetação. Na decisão, a desembargadora Selene Maria de Almeida argumenta que metade da área ocupada pelo projeto da JB Carbon é recoberta por floresta estacional decidual, um remanescente da Mata Atlântica. Sua proteção está amparada na Lei nº 11.428/2006, pelo Decreto nº 750/93 e pela resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) nº 26/94. Selene cita como base para esta caracterização o mapa da vegetação do Brasil feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2004. “O governo do Piauí não aceita classificar aquela área como Mata Atlântica”, disse o presidente do ICMBio, Rômulo Mello. Segundo ele, o Ministério do Meio Ambiente solicitou ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nova pesquisa para tirar a dúvida. Mello garantiu que se os estudos comprovarem que há remanescente de floresta decidual no sul do Piauí, a preservação da mata voltará a sebr discutida. (GL) "O animal mais precioso” Senador eleito em outubro deste ano, o ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT) nega interferência no processo em favor do projeto Energia Verde. “Não tenho nenhuma relação com a JB Carbon. As únicas áreas de baixão que tratei com a Secretaria do Meio Ambiente são aquelas habitadas há muitas décadas, algumas há mais de um século”. Para Dias, a preservação não pode prejudicar os pequenos agricultores e moradores da região. Ele defende que os nativos sejam preparados para conviver com a unidade de conservação, em vez de removidos para a criação do parque. “O animal mais precioso do planeta é o ser humano”, argumenta. O ex-governador classifica a possibilidade da existência de floresta decidual do estado como “uma fantasia”. “Se é para fazer o parque, vamos fazê-lo. Mas um parque de Caatinga, pois é o que tem lá. Hoje, há uma grande luta para proteger esse bioma, que também está ameaçado”, disse o político. Ele garantiu ainda que a nova área de preservação terá toda estrutura necessária. (GL) Crédito especial » Na noite de quarta-feira, o Congresso Nacional aprovou o repasse, por meio de crédito especial (PLN nº 39), de R$ 150 milhões para o Ministério do Meio Ambiente indenizar o governo do Piauí pela ampliação do Parque Nacional Serra das Confusões. O dinheiro entrará no orçamento do ICMBio para a aquisição de 299.600 hectares de terras públicas estaduais. No entanto, representantes da Fundação Rio Parnaíba (Furpa) dizem que o governo não tem o domínio desses terrenos. Segundo o presidente da Furpa, Francisco Soares, parte da área está ocupada por pequenos produtores e grileiros. Segundo o presidente do ICMBio, o montante só será repassado caso o governo do Piauí comprove a titularidade das terras. |
Violência marca desapropriação nos projetos [do trem-bala chinês]
ENVIADO ESPECIAL A MOQI YING
(CHINA)
A coluna lesionada para sempre e 32 mil yuan (R$ 8.150). Foi tudo o que o camponês Li Chang Jiang, 39, conseguiu ao protestar contra a desapropriação da área comum de sua vila para a passagem do trem-bala entre Pequim e Xangai.
Li estava em casa no dia 19 de outubro de 2008 quando um dos líderes comunitários da vila de Moqi Ying (60 km de Pequim) o convocou para protestar contra o Escritório Chinês de Construção da Ferrovia, responsável pelas obras. Se não fosse, argumentou o líder, não teria direito à indenização.
A contragosto, diz, Li acompanhou outros 50 moradores até o canteiro de obras. Lá, não foram recebidos pelo chefe local como esperavam, mas por cerca de cem operários empunhando barras de ferro. Li foi um dos oito manifestantes mais brutalmente espancados.
"Fui cercado por dez pessoas. Protegi a minha cabeça e me curvei, recebendo pancadas nas costas. No começo não senti nada, mas depois não podia me mexer e fiquei no chão."
O camponês foi levado ao hospital, onde esperou cinco horas enquanto os moradores recolhiam dinheiro para pagar pelo atendimento. Foram 80 dias internados.
REPERCUSSÃO
O caso acabou sendo divulgado pela mídia estatal e ganhou repercussão nacional. Li foi entrevistado no hospital, o governo local arcou com as suas despesas.
Na época, a construtora afirmou que o espancamento foi iniciativa dos funcionários, que estariam insatisfeitos com o atraso no início das obras por causa das desapropriações. De braços cruzados, não eram pagos.
Por indenização, Li recebeu R$ 8.150. A maior compensação foi a um vizinho seu, declarado incapacitado: R$ 38,2 mil.
O camponês diz que já não recebe ajuda, apesar de ter os movimentos limitados e ainda sentir dores.
O caso dos oito camponeses não foi o único. Um mês antes, o camponês Xu Jin Ying foi espancado por funcionários da mesma empresa enquanto trabalhava em sua parcela, que estava no traçado do trem-bala.
Lu, ferido na cabeça e nas costas, ficou 40 dias no hospital. Em seguida, chegou a um acordo para a indenização dos 30 m2perdidos para a ferrovia.
Apesar do espancamento, o pai disse entender a pressa para a construção. "A ferrovia Pequim-Xangai é um projeto nacional. Se o prazo atrasar, é ruim para o desenvolvimento do país", disse. "Não podemos dizer se o acordo foi bom ou não, somos apenas cidadãos normais. Não podemos lutar contra o país."(FM)
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