Metade dos empregos é de má qualidade | |||||||
Autor(es): Gustavo Henrique Braga | |||||||
Correio Braziliense - 06/09/2010 | |||||||
Apesar da abertura recorde de vagas com carteira assinada e da menor taxa de desocupação, grande parte dos trabalhadores, sobretudo os do setor de serviços, ainda enfrenta condições ruins e baixa remuneração.
As pesquisas de emprego comprovam: 2010 será o melhor ano da história em volume de criação de postos de trabalho. Só no primeiro semestre, foram quase 1,5 milhão de vagas ocupadas a mais com carteira assinada, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A expectativa do Ministério do Trabalho é chegar a 2,5 milhões até o fim do ano. O aquecimento econômico levou a taxa de desocupação a atingir, em julho, o nível mais baixo da série pesquisada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): 6,9%. Mas o crescimento do número de vagas não significa, necessariamente, que sejam postos melhores. O consultor Jorge Pinho alerta que, apesar de o cenário ser de evolução, há ressalvas quanto à qualidade dos empregos que estão sendo criados. O problema, avalia ele, é que a maior parte das vagas está concentrada em setores que demandam pouca qualificação, pagam salários abaixo da média e são sensíveis às oscilações econômicas. Para se ter uma ideia, dos 766 mil postos abertos nas sete principais regiões metropolitanas do país nos últimos 12 meses, metade foi no setor de serviços, no qual o trabalho é mais precário. Na indústria, que exige mais especialização e paga melhor, foram 259 mil vagas, ou 33% do total, puxadas pela reposição de postos fechados durante a crise mundial. Os dados são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Complacência Pela mais recente Pesquisa Anual de Serviços (PAS), referente à 2008, 9,2 milhões de brasileiros estão nesse mercado, 40% deles no segmento de serviços profissionais administrativos e complementares, em que a média salarial é de 2,3 salários mínimos, abaixo da média geral para o setor, de 2,6 salários mínimos. O segmento engloba profissionais com baixa qualificação, entre auxiliares de escritório, secretárias, jardineiros vigilantes e porteiros. A classe mais numerosa dos que atuam no setor de serviços tem salários ainda mais baixos. São 1,2 milhão de trabalhadores, ou 13% do total, enquadrados na categoria de alimentação. São, entre outros, garçons, cozinheiros, caixas e entregadores. O rendimento desses profissionais é, em média, de 1,4 salário mínimo, quase a metade da média total recebida pelos trabalhadores do setor. É na função de cozinheiro “faz-tudo” que o morador do Valparaíso (GO) Elivaldo da Silva, 33 anos — conhecido entre a clientela como Eli —, tira o sustento para si, a esposa e a filha de 7 anos. Ele estudou até a antiga oitava série do primeiro grau e revela que a exigência básica que é cobrada nos empregos a que se candidata é a de ter experiência na área. “É um trabalho fácil de aprender, acho que é por isso que não pedem diploma”, diz. Mas investir em qualificação da mão de obra por si só não basta. O economista Sérgio Mendonça, do Dieese, defende a necessidade do fortalecimento da indústria e das categorias que demandam maior qualificação dentro do setor de serviços, como forma de gerar mercado(1)capaz de absorver mão de obra mais preparada. “Não adianta a pessoa ser Ph.D. em física se não houver empresas com tecnologia suficiente para demandar esse tipo de profissional. Sem empresas especializadas, o abismo levará, por exemplo, trabalhadores de nível superior a atuar em cargos que demandam nível médio”, alerta. 1 - 118 mil temporários O aumento da massa salarial (soma dos rendimentos de todos os trabalhadores), ocasionado pela geração recorde de empregos, está contribuindo para a criação de um círculo virtuoso. Com mais dinheiro no bolso, as famílias estão consumindo como nunca. A estimativa da Confederação Nacional do Comércio é de que as vendas de fim de ano sejam 10,4% superiores às de 2009, alcançando a melhor marca da história. “Vendas e mão de obra estão diretamente ligadas. Isso significa que pelo menos 118 mil temporários deverão ser contratados nos próximos meses”, diz o economista Fábio Bentes, da CNC. O número 9,2 milhões Total de empregados no setor de serviços em todo o país O número 1,4 salário mínimo Rendimento médio mensal dos que trabalham no ramo da alimentação O número 17,5% Índice de trabalhadores formais que deixaram seus postos nos últimos 12 meses O drama de pular de galho em galho Além do baixo nível de qualificação, o mercado de trabalho no país convive com outra característica nada animadora: o alto índice de rotatividade. “Normalmente meu tempo de permanência em cada empresa é de, no máximo, um ano. Desde que comecei, tive passagem por mais de 10 empregos”, conta o cozinheiro Ivanildo Francisco, 32 anos. A declaração não assusta o economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). O que o deixa preocupado é o fato de que, tão cedo, a rotatividade não diminuirá. A mudança só virá com alterações na legislação trabalhista, reforma que nenhum governo até agora teve coragem de levar adiante. “O peso dos encargos trabalhistas desestimula o empregador a investir no profissional”, diz Camargo. Para ele, o caminho para que o mercado de trabalho cresça com solidez passa pelo investimento em educação. “Quando não há trabalhadores educados com qualidade, a economia cresce limitada aos setores que demandam menos conhecimento. Dessa forma, a produtividade acaba restrita”, complementa. Na avaliação do economista Marcelo Nery, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o tempo de permanência no emprego depende do tipo de ocupação. “O mercado está, agora, melhor do que nos últimos anos. Entre os trabalhadores com carteira assinada, a rotatividade não está tão alta”, assegura. Levantamento da FGV mostra que, de 2009 para 2010, 17,5% dos formalizados deixaram seus postos ocupados. Desses, 3,5% foram para o desemprego e 3,8%, para o mercado informal. E mais: entre esses profissionais, o tempo permanência no emprego varia 44 a 59 meses. Já entre os trabalhadores sem carteira assinada, o prazo médio vai de 21 a 29 meses. Com apenas 18 anos, o vendedor Marcelo Gomes Silva, teme ficar pulando de galho em galho. Ele está há um ano no emprego atual, mas nunca teve a carteira assinada. “Estou aguardando para entrar no Exército. Já me alistei, agora falta passar pelas etapas de seleção”, planeja ele, que ainda não concluiu o ensino médio e recebe um salário mínimo. A despeito de todos os problemas, os especialistas concordam que o mercado de trabalho vive um momento excelente, puxado pelo forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A questão que se coloca é quanto à qualidade dos empregos criados. Nesse debate, a analista Ana Carla Magni, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chama a atenção para o segmento de transportes de cargas, o que mais cresceu na Pesquisa Anual de Serviços (PAS) de 2008: 30,7% contra 10,3% do setor de serviços como um todo. A despeito desse salto, a remuneração média de 2,4 salários mínimos está abaixo dos rendimentos gerais. Para Paulo Sérgio Muçouça, da Organização Internacional do Trabalho no Brasil (OIT), é natural que, em um cenário de crescimento, a maior parte das vagas ofereça salários abaixo da média. “É uma tendência mundial. Ocorreu nos Estados Unidos e na Europa. O ponto principal é oferecer políticas para a qualificação”, recomenda. Ele reconhece, porém, serem inegáveis avanços como o reajuste do salário mínimo acima da inflação. “Isso contribuiu para o achatamento da pirâmide salarial. O fortalecimento das negociações coletivas é igualmente importante”, afirma. A prova disso é que 97% das categorias tiveram reajustes iguais ou superiores à inflação no primeiro semestre deste ano. |
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
50% dos empregos brasileiros são de má qualidade
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/6/50-dos-empregos-brasileiros-sao-de-ma-qualidade
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