Pesquisa do IBGE revela alto índice de abandono: 14,8% dos adolescentes de 15 a 17 anos estão fora das salas de aula.
Apontada como um gargalo para o desenvolvimento no país, a educação dos jovens brasileiros vive contradições, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2010, divulgada ontem pelo IBGE. Segundo o levantamento, 14,8% dos adolescentes de 15 a 17 anos não frequentavam a escola em 2009, e quase um terço (32,8%) da população de 18 a 24 anos tinham deixado os estudos precocemente, sem completar o ensino médio. Numa comparação com os países do Mercosul, o país era o que tinha a maior taxa de abandono do nível médio na região, de 10%, em 2007, contra 7% na Argentina, 6,8% no Uruguai, 2,9% no Chile, 2,3% no Paraguai e 1% na Venezuela.
- O abandono está ligado ao desestímulo. Uma criança que repete perde o interesse de ir à escola. Em educação, as mudanças são todas geracionais e, para resolver este problema do ensino médio, é necessário reforçar a qualidade e o interesse das crianças na pré-escola e no ensino fundamental - disse Naércio Menezes, professor de economia do Insper e especialista em educação.
Apesar disso, a pesquisa revela avanços. A proporção da força de trabalho de 18 a 24 anos que concluiu o ensino médio ou ingressou no nível superior quase dobrou em dez anos.
Em 1999, essa era a condição de 29,6% dos jovens: 21,7% tinham 11 anos de estudo (tempo necessário para completar o nível médio) e 7,9%, mais de 11 anos (pelo menos entraram na universidade).
Uma década depois, o percentual chegou a 55,9%, sendo 40,7% com 11 anos de estudo e 15,2% com mais de 11 anos.
Na mesma faixa etária, cresceu o número daqueles que concluíram algum curso de qualificação profissional. Em 2004, eram 17,2%, frente a 30,8% em 2009 - percentual, porém, menor do que os 31,3% de 2008.
No caso do ensino universitário, para a coordenadora da pesquisa, Ana Lúcia Saboia, podem estar contribuindo para melhores índices programas como o ProUni - iniciativa do governo federal de bolsas de estudos. Já no ensino médio, ela destaca o aumento da taxa de adolescentes de 15 a 17 anos na série adequada à idade: 50,9% em 2009, contra 32,7% dez anos antes.
Apesar do avanço, Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considera que a taxa está distante do ideal. Para ele, o fato de quase a metade dos adolescentes não estar na série correta se deve, principalmente, à repetência, apontada por ele, junto com a má qualidade das escolas, como uma das principais causas para a evasão escolar: - Por não completarem o ensino médio, muitos enfrentam consequências dramáticas no trabalho, como o subemprego, por falta de qualificação.
Por trás dos dados positivos também há desigualdades regionais e sociais. Em 2009, 81% dos adolescentes de 15 a 17 entre os 20% mais pobres estavam na escola, frente a 93,9% dos 20% mais ricos. Dobrou o acesso à universidade das pessoas com mais de 25 anos que se declaram pretas: 2,3% em 1999 e 4,7% ano passado - índice, porém, quase quatro vezes menor do que o da população branca no ensino superior, de 15%. E, no Norte e Nordeste, a taxa de adolescentes de 15 a 17 anos na série esperada para a idade em 2009 não alcançava a do Sudeste em 1999: 39,1% no Norte e 39,% no Nordeste, frente a 42,1% no Sudeste dez anos atrás e 60,5% hoje.
- O abandono está ligado ao desestímulo. Uma criança que repete perde o interesse de ir à escola. Em educação, as mudanças são todas geracionais e, para resolver este problema do ensino médio, é necessário reforçar a qualidade e o interesse das crianças na pré-escola e no ensino fundamental - disse Naércio Menezes, professor de economia do Insper e especialista em educação.
Apesar disso, a pesquisa revela avanços. A proporção da força de trabalho de 18 a 24 anos que concluiu o ensino médio ou ingressou no nível superior quase dobrou em dez anos.
Em 1999, essa era a condição de 29,6% dos jovens: 21,7% tinham 11 anos de estudo (tempo necessário para completar o nível médio) e 7,9%, mais de 11 anos (pelo menos entraram na universidade).
Uma década depois, o percentual chegou a 55,9%, sendo 40,7% com 11 anos de estudo e 15,2% com mais de 11 anos.
Na mesma faixa etária, cresceu o número daqueles que concluíram algum curso de qualificação profissional. Em 2004, eram 17,2%, frente a 30,8% em 2009 - percentual, porém, menor do que os 31,3% de 2008.
No caso do ensino universitário, para a coordenadora da pesquisa, Ana Lúcia Saboia, podem estar contribuindo para melhores índices programas como o ProUni - iniciativa do governo federal de bolsas de estudos. Já no ensino médio, ela destaca o aumento da taxa de adolescentes de 15 a 17 anos na série adequada à idade: 50,9% em 2009, contra 32,7% dez anos antes.
Apesar do avanço, Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considera que a taxa está distante do ideal. Para ele, o fato de quase a metade dos adolescentes não estar na série correta se deve, principalmente, à repetência, apontada por ele, junto com a má qualidade das escolas, como uma das principais causas para a evasão escolar: - Por não completarem o ensino médio, muitos enfrentam consequências dramáticas no trabalho, como o subemprego, por falta de qualificação.
Por trás dos dados positivos também há desigualdades regionais e sociais. Em 2009, 81% dos adolescentes de 15 a 17 entre os 20% mais pobres estavam na escola, frente a 93,9% dos 20% mais ricos. Dobrou o acesso à universidade das pessoas com mais de 25 anos que se declaram pretas: 2,3% em 1999 e 4,7% ano passado - índice, porém, quase quatro vezes menor do que o da população branca no ensino superior, de 15%. E, no Norte e Nordeste, a taxa de adolescentes de 15 a 17 anos na série esperada para a idade em 2009 não alcançava a do Sudeste em 1999: 39,1% no Norte e 39,% no Nordeste, frente a 42,1% no Sudeste dez anos atrás e 60,5% hoje.
Sob o espesso manto da fantasia...
18 de setembro de 2010
José Israel Vargas - O Estado de S.Paulo
Nosso "oráculo maior" tem repetidamente anunciado para breve os "amanhãs que cantam" como verdade absoluta. Diferentemente de seu homólogo délfico, ocupa-se também do passado, para ele, sempre maldito. Há pouco anunciou, com a ênfase que lhe é peculiar, nossa marcha batida rumo ao Primeiro Mundo para alcançarmos a 4.ª posição entre as economias mais avançadas. Objetivo extremamente louvável, mas não se podem ignorar os inúmeros obstáculos a vencer e que não se rendem a mero falatório peripatético em palcos eleitoreiros.
Proclamou também como "o maior da humanidade" o investimento da Petrobrás no pré-sal; diante disso, são pífios investimentos como os da Nasa, entre outros muitos.
Admitindo o crescimento anual alegado de 7% dos PIBs do Brasil e da China, em relação a 2009, em 2010, adotando-se as taxas de 1% para EUA, Japão, Alemanha, França e Itália, de 4% para a Índia e 3% para a Rússia, pode-se fazer um exercício que mostra que o País ocuparia o 5.º lugar. Adotada, porém, a taxa histórica de nosso crescimento (média anual de 4% durante o regime republicano), o Brasil se colocaria, em 2020, no 5.º ou 6.º lugar, com PIB de US$ 3,141 trilhões. O rendimento per capita para a população, que então alcançará 207 milhões de habitantes (IBGE), ainda nos colocaria abaixo do 50.º lugar. Os objetivos mencionados seriam dificilmente atingidos, a menos que continuemos quase exclusivamente crescentes exportadores de matérias-primas e permaneça congelado em 1% o crescimento dos demais.
Somente a observação e a manipulação, direta ou indireta, da natureza permite conhecer seu comportamento e torna possíveis os imensos benefícios hoje desfrutados. A divisão do trabalho revelou que o desenvolvimento implica mobilização dos fatores de produção: capital, recursos naturais e trabalho - este, sobretudo, na forma de "capital humano". Nossa resposta às aspirações indeclináveis de conforto crescente, saúde, segurança e acesso aos bens culturais foi bem modesta até hoje, comparada, por exemplo, com países que emergiram das imensas destruições do último conflito mundial. Assim, a porcentagem de analfabetos em nosso país alcançava 50% em 1950 e hoje, segundo dados do IBGE, ainda temos 20% de analfabetos funcionais, além de 9,8% de adultos iletrados.
Ao longo de nossa vida republicana partimos de diminuta base de acumulação de capital, decorrente de nosso passado colonial, para finalmente desfrutarmos crescimento do nosso PIB de 4% anuais médios. Valor respeitável, devido a vantagens competitivas dos abundantes recursos naturais e populacionais. Na atual administração, esse crescimento tem sido em média de 4,3% anuais, colocando-a na 21.ª posição, comparada com administrações republicanas passadas. Não cabe, pois, o bordão de presumida "herança maldita"... A menos de também incluir-se nela. A despeito disso, nosso poder de compra por habitante nos situa hoje na 75.ª posição!
Apesar do progresso já realizado, mesmo que tardio, a situação da educação é ainda dramática. Segundo o Academic Ranking of World Universities (2010), a mais prestigiosa de nossas universidades, a USP, foi classificada entre o 101.º e o 150.º lugares, entre as principais instituições de todo o mundo. As cinco outras universidades de melhor classificação interna estão listadas entre a 201.ª e a 400.ª posições, em ordem decrescente.
O ensino fundamental e médio não desfruta melhor situação, segundo O Estado de S. Paulo, com base na avaliação internacional de desempenho de estudantes de 15 anos promovida em 2006 pela OCDE. Participaram 57 países, entre os quais o Brasil. As notas foram atribuídas em seis níveis de desempenho, 1 a 6. Dos alunos brasileiros participantes, 27,9% tiveram notas inferiores a 1, 71,6% alcançaram notas 1 a 4, só 0,5% atingiu nota 5 e nenhum alcançou a nota máxima, 6.
Nos países da OCDE, 56,7% dos estudantes tiveram desempenho acima da média de 500 pontos. No Brasil, apenas 15,2% dos estudantes conseguiram esse resultado, isto é, 84,8% ficaram abaixo da média!
O desenvolvimento pressupõe a capacidade de inovar, gerar e/ou apropriar-se de novas tecnologias, frutos da ciência e da engenharia, logo, da educação, cujo panorama, como se viu acima, é desolador. Não é, pois, surpresa que esse mal também ocorra na inovação, medida em geral pelo número de patentes concedidas. Recente publicação da Organização Mundial da Propriedade Intelectual lança preocupante luz sobre o nosso quadro. O Brasil colocou-se na 33.ª posição, em 2006, quanto ao número de patentes registradas por unidade do PIB, expresso em bilhões de dólares. E é o 23.º em relação ao número de patentes por despesa com investimento em ciência e tecnologia (ano de 2007), na mesma unidade. No Brasil, 90,5% das patentes aqui concedidas provêm do exterior (não residentes), colocando-nos em 13.º lugar entre os países em desenvolvimento. Tais fatos estão seguramente vinculados à baixa participação do setor produtivo nos gastos nacionais com pesquisa e desenvolvimento (P&D), de apenas 6% em 1990, que evoluíram para 30% em 1998 e atingiram hoje cerca de 34%. Nos países industrializados e em alguns emergentes, de mercado aberto, as empresas chegam a despender 60% dos gastos com P&D.
Para superar nosso atraso torna-se indispensável: 1) Melhorar radicalmente o ensino básico, incluindo salário digno para seus professores; 2) aumentar a participação de P&D de 1,4% para 2%, pelo menos; 3) investir na formação de nossos engenheiros - segundo dados em entrevista à CBN, ingressam anualmente nas escolas de engenharia 130 mil alunos e se formam a cada ano apenas 30 mil, dos quais cerca de 20 mil teriam formação insuficiente; 4) reclassificar, por mérito, instituições universitárias, pela abolição do Regime Jurídico Único, que enquadra seus servidores.
Eis um programa mínimo de trabalho para que o próximo presidente comece a romper o espesso manto da fantasia!
FOI MINISTRO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Metade do Brasil continua pobre
Autor(es): José Eli da Veiga | ||||
Valor Econômico - 21/09/2010 | ||||
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/21/metade-do-brasil-continua-pobre | ||||
É ilusão supor que aqueles que ganham salário mas convivem com o risco de contrair parasitoses Como a pobreza é privação de capacidades básicas, ela jamais deveria ser medida apenas com estatísticas de insuficiência de renda. É pobre mesmo quem tem renda superior ao critério de corte ("linha de pobreza") se não puder convertê-la em vida decente. Por falta de saúde ou de educação ou outras carências. [Isto é o Movimento Social e o Programa Democrático-Popular, que fazem furo no discurso do crescimento com distribuição de renda e opõem o privatismo às garantias repúblicanas, até revelar-se o limite do Estado burguês. Retoma a advertência do Celso Furtando, quando opunha desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, no combate ao subdesenvolvimento. ] Essa conclusão se apoia na imensa quantidade de minuciosas pesquisas feitas por equipes de primeira linha junto às populações mais desvalidas do mundo. Foram sintetizadas no livro "Desenvolvimento como liberdade", do prêmio Nobel Amartya Sen (Companhia de Letras, 2000). Principalmente no quarto capítulo, intitulado "Pobreza como privação de capacidades". É leitura recomendável a quem acredita que só menos de um terço da população brasileira continua pobre porque em 2008 já não passavam de 28,8% os condenados a se virar com menos de meio salário mínimo. Basta outro dado bem objetivo para perceber que metade da população permanece pobre: a falta de acesso à rede de esgoto. Em 2009 eram 41% os domicílios sem saneamento básico, e é neles que ocorrem as mais altas densidades de habitantes. Falta de acesso a esgoto impacta a inteligência das pessoas por causa de infecções parasitárias na infância. Evidência consolidada por recente estudo de Cristopher Epping e colaboradores, publicado no prestigioso periódico científico "Proceedings of the Royal Society", e relatado pelo doutor Dráuzio Varella em sua coluna na "Folha de S. Paulo" de 11 de setembro. O cérebro é o órgão do corpo humano que mais consome energia: 87% no recém-nascido, 44% aos cinco anos, 34% aos dez. As infecções parasitárias desviam energia para ativar o sistema imunológico. Repetidas diarreias até os cinco anos roubam do cérebro as calorias necessárias a seu desenvolvimento, podendo comprometer a inteligência para sempre. É pura ilusão, portanto, supor que não sejam pobres pessoas que padeçam dessa catastrófica privação que é o permanente risco de contrair parasitoses, só porque ganham mais de meio salário mínimo. Chega a soar como propaganda enganosa o uso do tosco critério de renda monetária para dizer que a pobreza está despencando. Encobre a inépcia dos governos em enfrentar o desafio do saneamento. O número de moradias consideradas inadequadas pelo IBGE só diminuiu dez pontos entre 1995 e 2002 (59,1% para 49,5%), e apenas cinco pontos entre 2003 e 2008 (48,3% para 43%). Se, ao contrário, tivesse sido dada prioridade ao acesso do andar de baixo a algo tão essencial quanto o esgoto, isso teria favorecido rápidos aumentos das médias do quociente de inteligência (QI), o chamado "efeito Flynn". Mas não é só. Essa tragédia do saneamento básico também ajuda a entender quanto é falsa a afirmação de que a agenda socioambiental não seria de interesse dos menos favorecidos. Ou ainda, de que tal agenda só conseguiria sensibilizar os segmentos minoritários da sociedade que já estariam cultivando valores "pós-materialistas". A hipótese de significativa alteração das prioridades valorativas individuais em direção a uma postura "pós-materialista" foi lançada no final dos anos 1970 no livro "The Silent Revolution", pelo cientista político americano Ronald F. Inglehart. Hoje ele dirige o World Values Survey, uma rede que pesquisa esse tema em 80 sociedades dos seis continentes habitados, cobrindo 85% da população global (www.worldvaluessurvey.org/). Essa rede coleta evidências de que os fortes contrastes culturais não impedem que a prosperidade sempre provoque esse tipo de reorientação valorativa, com desdobramentos em várias esferas: da organização do trabalho às relações de gênero, do comportamento sexual à religiosidade. Na política, ela teria efeitos dos mais positivos para os processos de democratização. No entanto, isso não foi confirmado pela pesquisa "Participação e pós-materialismo na América Latina", dos professores Ednaldo Ribeiro e Julian Borba, cujos resultados estão no número de junho da revista Opinião Pública (vol. 16, n. 1, p. 28-63). Para a quase totalidade dos casos analisados, o simples grau de escolaridade do entrevistado superou a escala de materialismo/pós-materialismo. O mais importante, todavia, é rejeitar a ideia de que a sustentabilidade como novo valor só poderá empolgar elites, sejam elas pós-materialistas ou só de alta escolaridade. Isso certamente acontece quando toda a ênfase é colocada nas mais complexas questões, como a ruptura climática, a erosão da biodiversidade, o plantio de sementes transgênicas, ou a geração nuclear de eletricidade, por exemplo. Todavia, não existem temas mais imediatamente socioambientais do que acesso à rede de esgoto, à água potável, ou à coleta de lixo. [Devagar com o andor. O isolamento da pauta é prejudicial; disputá-la é outra coisa, associada às metas provisórias do PDP - que as elites ensaiam. Em nenhum momento, Veiga acena para o público ou para o popular, rejeita a terceirização e demais mecanismos de expropriação do salário indireto e da mais-valia social.] Em suma: como a queda do contingente com menos de meio salário mínimo não está sendo acompanhada por mais acesso às exigências mínimas para decente padrão de vida, isso só reconfirma que será muito mais decisivo para o desenvolvimento um programa de qualidade socioambiental do crescimento do que o ilusório PAC. De olho na Copa, estudo investiga exploração sexual e pobreza
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