Pseudoacadêmico cria fundo para aplicar em empresas que atendam classes da base da pirâmide na América Latina
Ignia tem US$ 102 mi sob gestão vindos de bancos e agências de desenvolvimento e quer se instalar no Brasil
CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO
Michael Chu, chinês de nascimento, criado no Uruguai e professor da Escola de Negócios de Harvard (EUA), tem como foco de estudos os empreendimentos voltados à "base da pirâmide".
São iniciativas privadas -e rentáveis- que atendam populações de baixa renda. E o interesse não é apenas acadêmico. [Não ia mesmo tardar para o neoliberalismo captar a ideologia do lulismo e mostrar-lhe a verdadeira face, no estilo yanquee. Passa-se dos direitos pós-trabalho ao serviço pós-consumo; não é novidade o privatismo, mas a dicção antipública da versão norte-americana, que sepulta todo o PDP e a base de sustentação do lulismo; uma luva para o PSDB, não fosse o Brasil este país - sem consumo a desmontar, senão indústrias.]
Aos 62 anos, Chu, que fez carreira internacional como executivo do setor financeiro, é cofundador e gestor de um fundo, o Ignia, que aplica em companhias desse segmento na América Latina.
O fundo fechado, sediado no México, tem sob gestão US$ 102 milhões de bancos e agências de desenvolvimento, investidores institucionais e particulares, incluindo George Soros.
Existem hoje seis investimentos do Ignia no México. E a intenção é atuar mais no mercado latino-americano -a começar pelo Brasil.
A seguir, trechos da entrevista exclusiva à Folha.
Educação
Um dos nossos interesses no Brasil é a área de educação para a base da pirâmide (classes C-, D e E).
Mais do que faixas salariais, o que agrupa essa grande fatia da população -de 75% a 80% na América Latina- é o fato de ela estar mal ou pessimamente servida de itens básicos, como saúde, moradia, saneamento e educação.
Firmamos um acordo com a Axial Gestão de Recursos para entrar no país.
A ideia inicial é criar um negócio privado que ajude a suprir a carência por ensino em comunidades como as favelas cariocas. Seria algo complementar ao serviço público, e não substituto dele.
O fato de existir um serviço público e gratuito não significa que as pessoas estejam bem servidas. E isso se aplica em diversas áreas por toda a América Latina.
No México, por exemplo, existem farmácias que oferecem atendimento médico particular por cerca de US$ 2.
E, mensalmente, 3,5 milhões de mexicanos preferem pagar esse valor a usufruir do serviço público gratuito, que custaria horas de espera.
Tempo é dinheiro também para quem está na base da pirâmide, que não pode comprometer um dia de trabalho, ou parte dele, esperando.
Ajustar o preço
E tudo é uma questão de encontrar o preço certo para o produto.
A pergunta é: qual o valor a ser cobrado para que o público -por exemplo, metade dos moradores das favelas do Rio- tenha acesso à escola particular? E a partir desse valor é que se avalia o que é possível construir.
Na Índia -que tem renda per capita menor do que a do Brasil-, existem agora escolas particulares nas "favelas" em que a base da pirâmide paga, em média, US$ 8 por mês.
Assim, em algumas dessas comunidades, de 65% a 75% das crianças frequentam escola particular.
Desafios
As empresas precisam perceber que, para esse público, preço baixo não é necessariamente o mais importante. O que conta é o gasto ser possível e valer a pena.
O exemplo do celular pré-pago é emblemático. O minuto de conversa adquirido dessa forma é muito mais caro que o do pós-pago. Mesmo assim, é a escolha da maioria da população de baixa renda.
A base da pirâmide já paga habitualmente um "prêmio", um preço maior. O que importa é que ela tenha como fazer o gasto e que o serviço seja bem executado.
Todos os serviços básicos
Acredito que todos os serviços básicos -como saúde, educação, moradia, telecomunicações e fornecimento de água e energia- têm bom potencial para negócio no Brasil e em outros países latino-americanos.
Isso porque ainda são insatisfatórios, apesar dos progressos, e o poder de consumo da população de baixa renda tem aumentado.
Na América Latina, apenas de 15% a 20% dos habitantes (classes mais ricas) estão bem servidos.
No Brasil, empresas como Casas Bahia e Magazine Luiza, que possibilitam que a base da pirâmide compre, são exemplos de como atender esse público. E mostram o potencial desse segmento.
Estamos apenas no início da construção de companhias que, como essas, são dedicadas a esse público.
É preciso criar mais modelos de negócio e "pacotes" de consumo que funcionem para os mais pobres.
As famílias no Brasil podem hoje ter uma cama e uma geladeira, o que é muito importante. Agora, elas também devem ter acesso à educação, à saúde e assim por diante.
Bancos estrangeiros na fila para entrar no país
Valor Econômico - 24/09/2010 | |||
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/24/estrangeiros-na-fila-para-entrar-no-pais | |||
Há quase dez bancos estrangeiros querendo operar no Brasil. Cinco instituições estão com pedido no Banco Central, sendo três americanos e dois europeus e outro número semelhante de instituições internacionais em processo bastante adiantado para receber autorização da autoridade monetária. Conforme o BC, entre 2006 e 2010 foram aprovadas 22 novas instituições, oito delas de novos bancos sob controle estrangeiro. "Há uma tendência de maior interesse relativo pelo mercado brasileiro", segundo avaliação do Relatório de Estabilidade Financeira do BC. A presença de instituições bancárias brasileiras no exterior ainda não condiz com esse interesse estrangeiro pelo Brasil, avalia o BC. As instituições brasileiras possuem agências em 14 países, quatro delas com postos em mais de uma praça. Embora crescentes, diz a autoridade monetária, "ainda se verificam em número inferior ao de instituições bancárias estrangeiras com agências no Brasil, originárias de 23 países". O BC também iniciou estudos para expandir o chamado câmbio manual, com a expectativa de expansão forte com a realização da Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. A orientação inicial era de que as agências de turismo passassem a operar em câmbio manual mediante convênio com instituições já autorizadas a operar com câmbio. Empréstimos chegam a 26,7 milhões de pessoas
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