quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Total de trabalhadoras domésticas cai no pós-crise

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/22/total-de-trabalhadoras-domesticas-cai-no-pos-crise
Autor(es): Vera Saavedra
Valor Econômico - 22/09/2010
 


Depois de piorar em 2009, por causa da crise econômica, a qualidade do emprego feminino no Brasil retomou em 2010 o processo de melhora iniciado em 2008, antes do tsunami financeiro. Dados acumulados nos primeiros sete meses do ano pela Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que 15,7% das mulheres ocupadas nas seis principais regiões metropolitanas do país no período de janeiro a julho deste ano trabalhavam como domésticas, menor percentual desde 2003, pelo menos, e inferior aos 16,3% do ano passado
O grupo de atividade campeão do emprego feminino, segundo a PME, está ligado às áreas de educação, saúde, serviços sociais, administração pública e seguridade social, que reúne 22,4% das 10 milhões de mulheres ocupadas nas seis regiões metropolitanas. Nesse setor, o percentual tem se mantido constante ao longo dos anos. O comércio vem em segundo lugar, com um contingente de 17,6% ou 1,76 milhões, enquanto o trabalho doméstico ocupa a terceira colocação nesse ranking.
Hildete Pereira de Melo, professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em questão de gênero no mercado de trabalho, comemorou o novo recuo do emprego doméstico no pós-crise de 2010, sinalizado pela PME. O primeiro ocorreu em 2008, quando o número de comerciárias suplantou o de domésticas, conforme dados da Pesquisa Nacional por Domicílio (PNAD), pela primeira vez na história do mercado de trabalho brasileiro.

"Embora a PME seja um recorte mais restrito do que a PNAD - pois a pesquisa de emprego só engloba seis regiões metropolitanas do país - , o fato de mostrar que as mulheres estão descobrindo outras atividades mais qualificadas para se ocupar indica um novo padrão do emprego feminino, que já era apontado na PNAD de 2008", avaliou Hildete, que estudou o comportamento do trabalho feminino na PNAD.
"Meu receio era de que a predominância do emprego doméstico em casa de família voltasse a liderar o trabalho das mulheres", confessa a pesquisadora da UFF. Ela ressaltou que o emprego doméstico é, em si, um lugar desvalorizado. "Os rendimentos são baixíssimos", pondera.
Segundo a PNAD 2009, das 6,7 milhões de trabalhadoras ocupadas no serviço doméstico em todo o país, naquele ano, um total de 2,1 milhões ganhava até meio salário mínimo e outros 2 milhões recebiam um mínimo. Somavam 4,95 milhões o número de domésticas sem carteira assinada e apenas 1,8 milhão com carteira assinada. "A carteira assinada nessa profissão já cresceu um pouquinho. Em 2008 era só 1,5 milhão com seus direitos reconhecidos, o que é lamentável."
Cimar Azeredo, gerente da PME do IBGE, constata que o processo de mudança de qualidade do trabalho feminino não vai se consolidar "do dia para a noite". Dos 98 milhões de mulheres brasileiras, 39,4 milhões estão no mercado de trabalho, segundo a PNAD. Dos 93 milhões de homens, 53,1 milhões trabalham, segundo o IBGE. "Os empregos que pagam mais e têm maior número de carteira assinada ainda reúnem mais homens que mulheres."
Segundo o gerente da PME, o percentual de homens empregadores no país é de 5,8% do total de 92,5 milhões da população economicamente ativa, enquanto o percentual de empregadoras cai para 3%. O percentual de mulheres que trabalham por conta própria é de 16,2% ante 20,4% de conta própria masculino. Existem 40,5% de mulheres com carteira assinada e 50,7% de homens. Cerca de 70% da mão de obra feminina trabalha no setor de serviços e vem perdendo espaço na indústria. Em 2003, elas ocuparam 14,5% dos postos de trabalho nas fábricas e agora caiu para 13,2%, neste caso pelos dados da PME (regiões metropolitanas)
Por outro lado, a presença feminina vem crescendo devagar em outras funções, como na construção civil, indústria que vem apresentando grande retomada nos últimos dois anos. Até julho, 1% das mulheres ocupadas nas seis regiões metropolitanas trabalhavam nesse setor, segundo a PME, bem acima dos 0,7% de 2008. Também estava havendo uma migração do serviço doméstico em casa de família para serviços prestados à empresas, revela Azeredo. Esse grupo de atividade envolve serviço de informática (suportes), telemarketing e serviços de limpeza e está crescendo junto com as novas gerações, pois envolve a possibilidade de mobilidade social alcançada através do estudo.
"A empregada doméstica está migrando para serviços prestados a empresas, principalmente as mais jovens, pois para elas o novo emprego representa um aumento de qualidade, criando condições até para vislumbrar uma carreira nesse serviço, de supervisora, por exemplo. Apesar de ser um serviço terceirizado, os empregados têm direito ao FGTS, férias, horário de trabalho e, para alegria das ex-domésticas, não tem a figura da patroa", brincou Azeredo. Segundo a PME, nos primeiros sete meses de 2010 a nova atividade já concentrava 13,9% de trabalhadoras.
Hildete, professora da UFF, ao estudar o novo cenário do mercado de trabalho feminino constatou que a posição da mulher trabalhadora no Brasil melhorou no novo milênio. "Nos primeiros oito anos do século XXI, o mercado de trabalho tem sido mais dinâmico para as mulheres, apesar da taxa de atividade feminina ainda ser mais baixa que a masculina." No século XX, a mulher entrava e saía do mercado de trabalho de acordo com seu ciclo de vida, ligado à maternidade. "Isso mudou. Mulheres e homens agora têm a mesma curva em U, desde os anos 90. Ou seja, a maioria das mulheres não deixa mais de trabalhar para criar os filhos. Agora, elas optam por acumular tarefas para avançar mais vigorosamente que os homens na busca pelo melhor emprego."

[98 milhões de mulheres na PEA
3% são empregadoras.
39,4 milhões no mercado de trabalho. Destas, 40,5% com carteira; destas, 70% estão nos serviços; 13,5% na indústria. Sem distinguir o benefício, são 22,4% nos serviços; 17,6% no comércio (ou 1,76 milhões); 15,7% domésticas (ou 6,7 milhões). 
Entre as domésticas, 2,1 milhões ganhavam menos de meio salário-mínimo; 2 milhões, até um; 4,95 milhões, sem carteira; e 1,8 milhões, com carteira. Em 2008, eram 1,5 milhões.
A reportagem e a pesquisa são tendenciosas na mesma medida em que não poderiam ser conclusivas.]

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