Autor(es): Grigory Nemyria | ||||||||
Valor Econômico - 17/09/2010 | ||||||||
As potências emergentes do mundo - Brasil, China, Índia e Rússia - insistem na primazia dos seus interesses nacionais, como mostraram as fracassadas negociações sobre o clima em dezembro, e também na liberdade da ação soberana. O centro de gravidade do mundo está rumando para o leste com tamanha velocidade que nós europeus quase podemos sentir a terra se movendo sob os nossos pés. Considerando que quase todos os principais atores no cenário internacional estão redefinindo as suas atuações em resposta a esse deslocamento tectônico, a Europa deve fazer o mesmo. Portanto, é apropriado que o Conselho de Ministros da Europa se reúna para enfrentar esse desafio. Por décadas, porém, os europeus estiveram mais preocupados com os ajustes constitucionais e da unificação do que com a diplomacia tradicional. As rivalidades históricas da Europa, certamente, foram civilizadas para se moldarem a um modelo político que diplomatas europeus muitas vezes consideram ser aplicável a toda a arena internacional. Com certeza, consenso, acordo e uma fusão de soberanias são as únicas formas de resolver grande parte dos temas importantes - mudança climática, proliferação nuclear - que atormentam o nosso mundo. Nos grandes temas da guerra, paz e o equilíbrio de poder, porém, a Europa parece estar presa entre uma política externa insuficientemente coesa e a incerteza entre países individuais sobre como definir e assegurar seus interesses nacionais. Por outro lado, as potências emergentes do mundo - Brasil, China, Índia e Rússia - insistem não só na primazia dos seus interesses nacionais, mas, como demonstraram as fracassadas negociações sobre o clima em Copenhague em dezembro, também sobre a liberdade da ação soberana. Para eles, geopolítica não é anátema. É a base de todas as suas ações externas. A defesa do interesse nacional ainda aglutina os seus públicos; o exercício do poder continua no centro dos seus cálculos diplomáticos. Diante dessa nova/antiga realidade, a Europa deve não só meramente se fazer ouvir nos temas globais de peso dos desequilíbrios comercial e fiscal, por importantes que sejam. Em vez disso, a Europa precisa reconhecer quais dos seus ativos estratégicos importam para as potências ascendentes do mundo e alavancar esses ativos para ganhar mais. Infelizmente, um dos ativos mais estratégicos da Europa - os países europeus, em especial a Ucrânia, que cobre os grandes corredores de energia que vão suprir mais e mais recursos de combustíveis fósseis do Oriente Médio e Ásia central para o mundo - é provavelmente o mais negligenciado. Realmente, desde a guerra de 2008 entre Rússia e Geórgia, a Europa geralmente desviou sua vista dos acontecimentos na região. Essa negligência é injustificável e perigosa. Os países que ficam entre a União Europeia (UE) e a Rússia não são apenas uma fonte de concorrência geopolítica entre Europa e Rússia, mas hoje se cruzam com os interesses nacionais das potências ascendentes do mundo, especialmente a China. [Olha o grau: a nação moderna é "um ativo estratégico". Também dizem que é o oitavo álbum do Sepultura, lançado em 2001. Mas este som o E. Renan não chegou a ouvir, porque, muito educadinho, não ia aos campos de batalha. Já a Europa, pelo que deriva do texto, é o "mundo": uma "fusão de soberanias", que civiliza os outros. Isto é, media ou impele a constituição de nações, que ficam sob a sua órbita "diplomática". Realmente, nada define melhor uma nação do que "um ativo estratégico" para o Imperialismo. De tirar o chapéu. Chamar a Ucrânia de ativo estratégico para a Europa é de um descaramento! que marravilha. Ao que parece, ao colocar a coisa nestes termos, o analista quer falar numa "linguagem que os países emergentes entendam". Ai. O economicismo, o personalismo, o imediatismo; o preconceito. Queria que ele estivesse errado. Produtos primários, mas sem monopólio de fornecimento nem de extração; sem estatização. Só não entendi porque os preços, neste modelo errado, bárbaro, serão baixos. Por que se destinam a mercados de baixo rendimento, como a Rússia e a China? Comercializar com o "mundo" significa o contrário? Liberalismo e prosperidade! Muito bom.] A guerra entre Rússia e Geórgia mostrou exatamente quanto essa região interessa para o mundo mais amplo. Na sua esteira, a China iniciou um esforço sistemático para fortalecer a independência dos ex-países soviéticos oferecendo enormes pacotes de ajuda. Países da Bielorússia ao Cazaquistão se beneficiaram com o apoio financeiro chinês. A China se interessa pela região não só porque está preocupada com a manutenção dos acertos pós-Guerra Fria por toda a Eurásia, mas também porque ela reconhece que ela proverá as rotas de trânsito para grande parte da riqueza energética do Iraque, Irã e a Ásia Central. De fato, a China vem despejando bilhões de dólares no desenvolvimento de campos de gás e petróleo do Iraque e do Irã. De volta à Europa, dois países - Turquia e Ucrânia - estão cada vez mais alienados da UE. Para a Turquia, as tensões refletem a falta de progresso no pedido do país para ser aceito como membro da UE. A Ucrânia é outra questão. Até Viktor Yanukovich conquistar a presidência do país com grande estardalhaço no começo do ano, a Ucrânia estava se tornando enfaticamente europeia na sua orientação. Agora, Yanukovich parece determinado, pelo mais tacanho dos motivos, a enfraquecer a Ucrânia fatalmente na condição de país de trânsito de energia. Realmente, sua artimanha mais recente é uma tentativa de vender os dutos de trânsito da Ucrânia à Gazprom da Rússia em troca de gás a preços baixos. Essa ideia é tola econômica e estrategicamente. As indústrias da Ucrânia precisam se modernizar, não se tornar mais viciadas em gás barato, e o trânsito do gás se tornará quase tão monopolista quanto o fornecimento do gás - uma perspectiva deplorável, considerando-se as interrupções passadas no abastecimento de gás entre Rússia e Europa. Além disso, a política na Ucrânia está se fraturando. Está em curso uma caça às bruxas contra políticos da oposição. Jornalistas militantes desaparecem sem deixar rastro. O maior barão da mídia do país, que por coincidência é chefe da segurança nacional, amplia seu império de mídia desacatando os tribunais. O desmantelamento sistemático das instituições democráticas da Ucrânia promovido por Yanukovich está causando danos ao potencial do país como um ativo estratégico europeu. Hoje, a arte da diplomacia é traduzir poder em consenso. Isso requer melhores relações com todas as potências em ascensão do mundo. Mas implica também, acima de tudo, uma visão unificadora, não só a que diz respeito aos desafios que afetam todos os países - proliferação de armas, terrorismo, epidemias, e mudança climática, por exemplo - mas também a que se refere aos seus próprios ativos estratégicos. Se a UE pretende elaborar uma política bem sucedida voltada para as potências emergentes mundiais, ela precisa falar numa linguagem estratégica que eles entendem. Brasil é prioridade em pacote dos EUA para exportação
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Europa e as potências em ascensão
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/17/europa-e-as-potencias-em-ascensao
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