8 de setembro de 2010
Por Milton Gamez, enviado especial a Saint Louis (Estados Unidos)
Da Revista IstoÉ Dinheiro
“Você conhece a piada do logotipo?”, pergunta um funcionário da Monsanto ao colega em Saint Louis, no Estado americano de Missouri. Diante da placa na entrada do centro de pesquisas, de onde saíram produtos que revolucionaram a agricultura em todo o mundo, eles observam um galho de uva cercado por um retângulo.
O CEO da companhia, Hugh Grant, já busca soluções para a soja resistente a herbicidas
Eterno problema: a Monsanto enfrenta conflitos de imagem há décadas, mas aprendeu a se reinventar nas crises com investimento em pesquisa
Enquanto as novas sementes transgênicas não vão para a prateleira, versões atualizadas dos produtos existentes estão sendo lançadas. Nos EUA, os produtores já podem comprar a RR2 Yield, a segunda geração da soja Round Up Ready, com maior produtividade (e, claro, uma nova patente).
Por Milton Gamez, enviado especial a Saint Louis (Estados Unidos)
Da Revista IstoÉ Dinheiro
“Você conhece a piada do logotipo?”, pergunta um funcionário da Monsanto ao colega em Saint Louis, no Estado americano de Missouri. Diante da placa na entrada do centro de pesquisas, de onde saíram produtos que revolucionaram a agricultura em todo o mundo, eles observam um galho de uva cercado por um retângulo.
A imagem, ao lado do nome Monsanto, simboliza a vida e traduz o negócio principal da companhia: a tecnologia ao cultivo de alimentos. Mas o bom humor do funcionário não perdoa: “É o mato no caixão”.
O CEO da companhia, Hugh Grant, já busca soluções para a soja resistente a herbicidas
Domínio público: a patente da semente de soja transgênica expirará em 2014, depois de 20 anos sob controle da Monsanto, abrindo espaço para o avanço das concorrentes
Mas não se engane. Não há sinal de lágrimas nos laboratórios e nos escritórios da companhia.
O funeral das ervas daninhas rendeu bilhões de dólares aos inventores do herbicida Round Up e da soja transgênica resistente ao produto, a Round Up Ready, produtos campeões de vendas no Brasil e em vários países. Agora, a morte ronda novamente o seu ganha-pão.
A patente da semente de soja irá expirar em 2014, 20 anos depois de sua criação. Como aconteceu com a Pfizer, a Monsanto perderá a exclusividade na produção de seu próprio Viagra. A soja Round Up Ready, uma de suas vacas leiteiras, está com seus dias contados.
O que isso significa? Os concorrentes poderão avançar no seu quintal, como aconteceu há dez anos quando o glifosato, base do herbicida Round Up, passou a ser de domínio público. Para quem faturou US$ 1,4 bilhão com royalties e sementes de soja somente em 2009, a notícia tem cheiro de velório.
Mas não se engane. Não há sinal de lágrimas nos laboratórios e nos escritórios da companhia.
O clima é de maternidade, tanto nas estufas quanto nos computadores onde novas variedades de sementes estão sendo estudadas.
A Monsanto está determinada a superar o fim da patente, numa estratégia de pesquisas e lançamentos que passa pelo Brasil, seu principal mercado fora dos Estados Unidos. “Sim, certamente vamos sobreviver”, afirmou à DINHEIRO o diretor dos negócios internacionais da Monsanto, o mexicano Jesus Madrazo. É bem provável.
Eterno problema: a Monsanto enfrenta conflitos de imagem há décadas, mas aprendeu a se reinventar nas crises com investimento em pesquisa
Enquanto as novas sementes transgênicas não vão para a prateleira, versões atualizadas dos produtos existentes estão sendo lançadas. Nos EUA, os produtores já podem comprar a RR2 Yield, a segunda geração da soja Round Up Ready, com maior produtividade (e, claro, uma nova patente).
No Brasil, este ano foi lançada a segunda geração do milho transgênico, com resistência a três lagartas comuns em países tropicais. Em 2012, será lançada uma nova soja, com resistência à lagarta, tolerante ao herbicida glifosato e com maior produtividade. “É a primeira vez que desenvolvemos produtos específicos para um país. O Brasil é o mercado que mais cresce para nós”, diz Madrazo. Aqui e acolá, o futuro já começou.
Reinventar-se não é propriamente um problema para a Monsanto, acostumada a lidar com mudanças dramáticas. Nos anos 80, depois da crise do petróleo, ela encontrou um novo filão. Na época, o presidente Dick Mahoney comandou a transformação da empresa química, migrando-a para o melhoramento genético e a biotecnologia.
A decisão, ousada, criou um gigante que faturou US$ 11,7 bilhões em 61 países em 2009, sendo que 62% desse valor veio da área de sementes e biotecnologia. No Brasil, as receitas chegaram aos R$ 3,2 bilhões.
Hoje, o CEO Hugh Grant (homônimo do ator inglês) continua convicto dessa vocação e prepara a Monsanto para a nova fase. Depois de vencer o preconceito com os alimentos transgênicos em muitos mercados e emplacar sementes modificadas de soja e canola (resistentes a herbicidas), milho e algodão (também resistentes a insetos), que permitem a economia no uso de defensivos agrícolas, água e combustível, a companhia se prepara para lançar novos produtos.
A inovação, base do seu DNA corporativo, vai continuar a dar o tom dos negócios nos próximos anos. Novas patentes estão a caminho e são a principal aposta de Grant para ganhar dinheiro num mundo cada vez mais populoso. No ritmo atual, a Terra terá nove bilhões de pessoas em 2050, 50% a mais do que hoje, segundo projeções da Organização das Nações Unidas.
A ascensão econômica das massas em países emergentes, como a China, a Índia e o Brasil, pressionará ainda mais a demanda por alimentos. Como as terras agriculturáveis são limitadas e o uso da água precisa ser racionalizado, os desafios dos produtores rurais para atender aos mercados são imensos.
É aí que entra a Monsanto. “Não temos escolha. Os agricultores precisam produzir mais, usando menos recursos naturais. Somos parceiros deles nesse desafio”, diz Michael Doane, diretor de sustentabilidade.
Anualmente, a Monsanto investe uma fábula em pesquisa. Em 2009, foi gasto US$ 1,1 bilhão, quase 10% do faturamento e metade do lucro líquido. “Nosso objetivo é dobrar o rendimento das culturas de soja, algodão e milho nos próximos 20 anos”, afirma Madrazo.
Pensar e agir com muita antecedência é fundamental nesse negócio. As barreiras são muitas, já que a empresa é uma das mais odiadas e temidas corporações do mundo e tem que lutar contra a imagem de vilã que tem entre ambientalistas e consumidores.
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