sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Japão discutirá rumos do mundo

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/24/japao-discutira-rumos-do-mundo
Autor(es): Washington Novaes
O Estado de S. Paulo - 24/09/2010

De 18 a 29 de outubro, em Nagoya, no Japão, nova reunião da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) - que nasceu no Rio de Janeiro, em 1992 - discutirá caminhos para tentar reverter o atual quadro de perda da biodiversidade no mundo, que é, junto com mudanças climáticas, a maior "ameaça à sobrevivência da espécie humana", segundo o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. Já estamos consumindo pelo menos mais de 30% de recursos naturais acima da capacidade de reposição do nosso planeta, diz o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. E isso contribui decisivamente para o desaparecimento progressivo das espécies em terra e no mar - o que significa a perda de pelo menos US$ 2 trilhões anuais, segundo recente congresso científico em Curitiba.


O biólogo norte-americano Edward Wilson, considerado a maior autoridade nesse campo da biodiversidade, diz que conhecemos 280 mil espécies de plantas das 320 mil que se estima existirem; 6.830 anfíbios (25% do total estimado); só 16 mil nematódeos em 15 milhões; e 900 mil insetos de 5 milhões. Ao todo, há entre 1,5 milhão e 1,8 milhão de espécies catalogadas, mas elas podem ser de 10 milhões a 15 milhões. Numa tonelada de terra fértil pode haver 4 milhões de bactérias. Na boca humana são 700 (Eco 21, maio de 2010). Num de seus livros, Wilson, que é o maior especialista conhecido em formigas, diz que estas dominarão o nosso planeta, porque já são alguns quatrilhões de indivíduos; e no espaço de uma geração humana (20 anos) as formigas se reproduzem 20 vezes.

Há outros dados impressionantes. O comércio mundial de recursos naturais em 2008 já chegava a US$ 3,7 trilhões, seis vezes mais que em 2002, um quarto do comércio total, diz a Organização Mundial do Comércio (Estado, 24/7). A Rússia lidera, por causa do petróleo. E os Estados Unidos lideram as importações, com 15,2% do total. Só o comércio mundial de medicamentos derivados de plantas está em torno de US$ 250 bilhões/ano, segundo o biólogo Thomas Lovejoy. E o Brasil tem lugar destacado entre os detentores de biodiversidade - entre 15% e 20% do total mundial. São 103.870 espécies animais conhecidas; 41.121 espécies incluindo vegetais, fungos e algas; 9.101 espécies marinhas; e quase 2.600 espécies de peixes de água doce, das quais 800 ameaçadas de extinção (a bacia mais ameaçada é a do Paraná). O valor anual dessa biodiversidade brasileira é calculado em US$ 2 trilhões.

Mas a perda da biodiversidade no mundo é assombrosa - entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões anuais (até três vezes o PIB brasileiro), segundo especialistas que participaram das discussões em Curitiba. "Estamos sentados num baú de ouro e não sabemos o que fazer com ele", diz o secretário de Biodiversidade no Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias (Estado, 2/9). Por falta de apoio financeiro e político, comenta ele, "estamos queimando a biodiversidade" (curiosamente, no dia 16/9, em que o presidente da República e a ministra do Meio Ambiente lançavam em Brasília um plano de ações para o Cerrado - para ampliar a fiscalização, reduzir o desmatamento e evitar as queimadas -, faltou energia três vezes durante a cerimônia, porque queimadas no Cerrado brasiliense interromperam a transmissão).

O Brasil pretende mostrar em Nagoya que está atento à questão. Tem 310 áreas federais e 374 estaduais de conservação. Mas faltam recursos e pessoal para cuidar bem delas. Na Amazônia, quase 13% do território são terras indígenas - o melhor caminho para conservar a biodiversidade, segundo relatórios científicos nacionais e internacionais. Mas essas áreas também têm sido invadidas. Em 26,7% das áreas de conservação são permitidas algumas atividades, como ecoturismo, manejo de recursos naturais e até agricultura (Estado, 3/9).

A reunião de Nagoya terá três eixos principais: 1) Como evitar o colapso de estoques pesqueiros, perda de espécies na Amazônia e processos de extinção provocados por espécies invasoras; 2) fluxos financeiros para ajudar países mais pobres a proteger grandes áreas importantes para a biodiversidade; 3) novas regras internacionais para "acesso transparente" a recursos biológicos, assegurando que países e comunidades detentores desses recursos recebam uma parte dos benefícios de sua exploração. Em 2002 os 193 países signatários da convenção já se haviam comprometido a reduzir as perdas até 2010. Não aconteceu. "Agora é tudo ou nada", diz o secretário executivo da convenção, Ahmed Djoghlaf. A "exploração em excesso ameaça o mundo, alerta o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. De fato, há estudos indicando ameaças à sobrevivência de 520 milhões de pessoas por causa do esgotamento próximo de estoques pesqueiros em 65% das águas marítimas.

Não será fácil em Nagoya. O terceiro ponto - "acesso transparente" -, principalmente, envolve uma discussão até aqui sem saída entre governos, comunidades, cientistas e empresas. No Brasil vigora uma medida provisória (2.986, de 2001) que tentou disciplinar a questão. Os Ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia vêm discutindo um novo texto. Cientistas acusam ambientalistas, comunidades tradicionais e indígenas de impedir o acesso a espécies. Os acusados retrucam que nunca obtêm participação na exploração de produtos obtidos a partir das pesquisas acadêmicas. Cientistas argumentam que desenvolver uma droga a partir de espécies da biodiversidade chega a exigir até uma década de pesquisa, investimentos de até US$ 1 bilhão.

Seja como for, o mundo está alarmado. A Noruega já criou um banco de sementes em montanhas geladas próximas ao Ártico, que tem sido chamada de "cofre do juízo final". No Brasil, a referência é o Centro de Pesquisas em Recursos Genéticos e Biotecnologias (Cenargen), da Embrapa, com acesso a 671 espécies. No mundo já são 1.500 bancos.


É por essas coisas que passa o futuro humano. Por isso é bom prestar a atenção em Nagoya.


País teme fiasco na cúpula da biodiversidade

Autor(es): Bettina Barros
Valor Econômico - 24/09/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/24/pais-teme-fiasco-na-cupula-da-biodiversidade
A 10ª Conferência das Partes (COP-10) da ONU sobre Diversidade Biológica, que será realizada no mês que vem em Nagoia, no Japão, corre o risco de ser mais um fiasco internacional - e isso teria impacto negativo para o Brasil ainda maior que o fracasso nas discussões do clima em Copenhague, afirma o governo brasileiro. Representantes de 193 países não chegaram a um acordo durante a última sessão do grupo de trabalho do chamado Protocolo ABS (Acess and Benefit Sharing), realizada anteontem no Canadá. O protocolo é uma peça fundamental para o sucesso das discussões: é ele quem regulamenta o acesso a recursos genéticos e a repartição de benefícios gerados pela biodiversidade.

Na mesa está o acesso dos países ricos a matérias-primas biológicas dos países em desenvolvimento, mas com a garantia de compensações dos setores beneficiados, como a agricultura e a indústria farmacêutica. Graças às florestas tropicais remanescentes, o Hemisfério Sul detém os últimos grandes estoques de biodiversidade do mundo. O Brasil responde, sozinho, por 20% dessa diversidade.
"Os empresários querem segurança no marco jurídico para desenvolver seus projetos usando a biodiversidade. Ninguém quer ser acusado depois de biopirataria", disse Bráulio Dias, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, no seminário "Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade", realizado em São Paulo pelo Valor.
Divergências importantes entre países ricos e em desenvolvimento podem frustrar o encontro global. A União Europeia defende frear a perda de biodiversidade até 2020, meta considerada "muito ambiciosa" pelo Brasil. O governo brasileiro quer principalmente transferência de recursos, mas também cooperação internacional e capacitação tecnológica. "Não adianta criar metas e não ter como implementá-las", disse Dias.
"Faremos uma última tentativa para chegar a um acordo sobre o protocolo em Nagoia, antes do início das reuniões, mas, infelizmente, há o risco de Nagoia se tornar uma nova Copenhague", disse o representante do ministério, referindo-se à falta de consenso sobre as negociações para desacelerar as emissões de CO2 no planeta.
A estratégia do governo brasileiro para pressionar países ricos inclui mostrar avanços como a redução de 75% do desmatamento de 75% na Amazônia entre 2004 e 2009 e a criação de áreas protegidas, que já atingem 17% do território nacional. Mas o Brasil poderá também ser vidraça. "Podemos ser cobrados pelas propostas de mudança no Código Florestal e pelas queimadas deste ano", disse Dias.
Lançada na Eco-92, no Rio de Janeiro, a convenção tinha como principal meta reduzir a perda de biodiversidade no planeta em um período de 18 anos. As Nações Unidas definiram 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, mas os resultados estão longe do idealizado. Em seu relatório mais recente, divulgado em maio, a ONU mostra que o planeta perdeu 30% do estoque de seres vivos que tinha nos anos 70 e estima em até US$ 4,5 trilhões o prejuízo mundial anual com desmatamento.
Parte do problema é que ainda há certo desconhecimento científico sobre o tema. Por isso, Nagoia deverá retomar a criação do IPBES, o painel intergovernamental da biodiversidade, nos moldes do IPCC, de mudanças climáticas.


Empresas entregam carta-compromisso ao governo

Autor(es): Samantha Maia
Valor Econômico - 24/09/2010
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Um grupo de 50 empresas entregou ontem ao governo federal, representado pelo secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, uma carta com compromissos e reivindicações para a preservação da biodiversidade. Segundo as companhias reunidas no Movimento Empresarial pela Biodiversidade (Meb), é preciso criar um marco regulatório que determine como deve se dar o acesso aos recursos genéticos e a repartição de benefícios na exploração de produtos naturais.

O estímulo financeiro às empresas que investem na proteção do ambiente é outra demanda das companhias. Segundo Marcelo Cardoso, vice-presidente de sustentabilidade da Natura, é preciso dar um valor econômico às ações de preservação do ambiente, e assim as ações poderão ser disseminadas. "É uma questão fundamental criar um mercado", diz ele. A falta de um incentivo financeiro, segundo Cardoso, inibe a iniciativa de mais empresas.
A Natura trabalha atualmente com 32 comunidades locais e indígenas e, por ano, investe cerca de R$ 5,5 milhões em projetos de desenvolvimento local através de um fundo. Segundo o vice-presidente da empresa, esse é um exemplo de ação em defesa da biodiversidade, mas é preciso fazer mais.
Oded Grajed, presidente do Instituto Ethos, entidade parceira do movimento empresarial, diz que o setor privado tem uma influência importante para colocar o tema da biodiversidade em pauta. "É preciso mudar o rumo. O momento é muito dramático e precisamos de mudanças dramáticas. Estamos dando o exemplo de uma mudança hoje, e não só com compromissos voluntários, mas demandando compromissos do setor público", diz ele.
O movimento começou no início de agosto com seis empresas - Alcoa, CPFL, Natura, Philips, Vale e Walmart. A intenção das companhias é participar ativamente do posicionamento do governo brasileiro na 10ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP 10), que ocorrerá em outubro na cidade de Nagoia, no Japão.
Entre as novas empresas que aderiram ao movimento está a Suzano Papel e Celulose. Segundo o gerente executivo de sustentabilidade da companhia, Alexandre Di Ciero, a atividade da empresa está diretamente relacionada ao ambiente e, por isso, a companhia não pode ficar de fora dessa discussão. "A Suzano tem a questão de sustentabilidade em seu DNA, possui áreas de Mata Atlântica preservadas", conta.
Entre os projetos atuais, ele cita o investimento num plano de monitoramento das áreas nativas, o que deve melhorar o nível de informações que a empresa possui sobre o bioma e assim permitir uma conservação melhor das áreas.
A questão da falta de informações é um dos principais problemas hoje quando se trata de biodiversidade e os impactos que uma ação sustentável pode ter sobre os negócios. A Alcoa iniciou ontem uma ação que tem como objetivo melhorar o conhecimento sobre a Mata Atlântica. A companhia inaugurou, em parceria com a prefeitura de Poços de Caldas (MG), um jardim botânico que deve ser um centro de estudos e suporte a pesquisas sobre o bioma.
"Não é uma ação do momento, a biodiversidade e a responsabilidade ambiental estão em nossos valores e temos muito o que avançar", diz João Menezes, diretor de sustentabilidade da Alcoa.
Segundo Beto Veríssimo, pesquisador do Imazon, o tema da biodiversidade foi o que menos avançou desde a Eco 92, por isso é importante a mobilização das empresas. "Enquanto o assunto clima foi muito estudado e popularizado, pouco foi feito em questão de biodiversidade", diz.



Mercado sustentável

Valor Econômico - 24/09/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/24/mercado-sustentavel
Produzir com menor impacto ambiental, cortar emissões de gases nocivos, mitigar agressões ao planeta, reciclar, reutilizar, reduzir o consumo de materiais. Toda a cartilha das empresas ecologicamente corretas não é mais suficiente num mundo que clama por algo mais - ou por algo menos: a economia de recursos. Depois de procurar processos de produção mais limpos, empresas ambientalmente responsáveis começam a desembarcar na etapa seguinte, a do mercado verde.

A economia verde alia produção em escala com preservação e redução de impactos. Empresas que trazem no DNA os genes da inovação e da sustentabilidade acordaram há certo tempo para o fenômeno. Depois de milhões investidos, começam a colher os primeiros frutos da economia verde.
Há dois anos, a consultoria alemã Roland Berger estimava o mercado global para produtos e serviços ambientais em US$ 1,37 trilhão. Seja esse ou não o tamanho exato do mercado, o que importa é que o mundo está cada vez mais atento a produtos e serviços de qualidade e preços competitivos que ao mesmo tempo contribuam para refrear séculos de destruição. No Brasil, ainda não existem estimativas do tamanho do mercado.
"Inovação na área de produtos verdes tem se constituído cada vez mais em fator decisivo para o desenvolvimento sustentável e para alavancar a competitividade das empresas", afirma Ronaldo Mota, secretário de desenvolvimento tecnológico e inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Duas gigantes da inovação uniram-se para levar adiante um projeto nesse sentido. A Natura lança em outubro uma linha de sabonetes com embalagem em plástico produzido a partir de materiais renováveis - em vez da tradicional petroquímica -, diz Victor Fernandes, diretor de ciência e tecnologia, ideias e conceitos. A embalagem em polietileno verde, produzida a partir de resíduo de cana-de-açúcar, foi desenvolvida pela Braskem. O produto será destinado ao Nordeste. Se houver disponibilidade, a Natura pretende levá-lo a todo o país até o fim de 2011.
A empresa estima que a nova embalagem reduza em 71% as emissões de carbono na comparação com o plástico tradicional. Na medida em que se tornar mais disponível, a embalagem verde irá integrar outras linhas da empresa.
Depois de dois anos de desenvolvimento junto a parceiros, a Coca-Cola está lançando garrafas de refrigerante com 30% de matéria renovável. A chamada PET PlantBottle é importada da Ásia. O custo, não revelado, é superior ao da garrafa feita de resina petroquímica, mas a companhia está absorvendo a diferença, diz Rino Abbondi, vice-presidente de técnica e logística da Coca-Cola Brasil. As embalagens serão comercializadas em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Manaus, Salvador, Teresina e Florianópolis em garrafas de 500 ml e 600 ml. Para 2011, devem chegar a outras regiões.
Maior produtora de resinas termoplásticas das Américas, com 29 fábricas no Brasil e nos Estados Unidos, a Braskem também está envolvida na produção do polipropileno verde, para substituir o congênere petroquímico na indústria de automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos e outras. O produto vem sendo desenvolvido em parceria com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).
A pesquisa começou em 2008, em uma parceria com a Unicamp. Em 2009, a Novozymes uniu-se ao projeto. Agora, a Braskem entendeu ser necessário reforçar aspectos da pesquisa em busca da viabilidade econômica. A empresa quer tornar-se não mais uma líder em petroquímica, mas em química sustentável, afirma Antônio Queiroz, diretor de inovação e competitividade da divisão polímeros.
Um dos objetivos da pesquisa agora é encontrar meios de reduzir a diferença de custo de produção de 50% entre o produto verde e o tradicional. "A questão é que hoje para fazer esse produto é mais caro e até quanto será que o cliente está disposto a pagar a mais." Para isso, a empresa está montando um laboratório dentro das instalações do LNBio, em Campinas (SP).
No início, o laboratório terá sete pesquisadores da Braskem, segundo Kleber Franchini, diretor do LNBio, mas o total pode chegar a 40 até meados do ano que vem. A Braskem alugou uma área do laboratório e vai pagar pelo uso da infraestrutura, gerir o projeto e, eventualmente, requisitar - e remunerar - pesquisadores de altíssima especialização do LNBio. O acordo implica o compartilhamento de propriedade intelectual.
O LNBio também fechou este ano parceria com a Natura para pesquisar potenciais matérias-primas. O laboratório adquiriu um sofisticado equipamento para analisar a estrutura das matérias-primas e dividiu as despesas com a fabricante de cosméticos. O aparelho será alugado a outras companhias, mas a Natura, por ter investido, tem direito a horas de uso estipuladas em contrato.


Braskem inaugura unidade no Sul

Valor Econômico - 24/09/2010
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A unidade de plástico verde da Braskem representará um marco na história da indústria petroquímica brasileira e mundial, quando for inaugurada oficialmente nesta sexta-feira, 24 de setembro, que deverá contar com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Localizada no polo de Triunfo (RS), com investimentos de R$ 500 milhões e capacidade para produzir 200 mil toneladas de eteno verde por ano, que serão transformadas em quantidade equivalente de polietileno verde, trata-se da primeira fábrica do mundo em escala industrial a utilizar matéria-prima 100% renovável.
Com o investimento, a petroquímica brasileira busca se posicionar na liderança no mercado global dos polímeros que não são produzidos a partir de combustíveis fósseis, um segmento em que os clientes estão dispostos a pagar um prêmio entre 20% a 30% superior ao das resinas tradicionais, para terem um produto com forte apelo sustentável.
Além de usar etanol de cana, a tecnologia da Braskem traz um outro ganho ambiental aos clientes: a nova resina permite que a cada quilo produzido de polietileno verde seja feita a captura de 2,5 kg de dióxido de carbono. O uso do polietileno verde tem outro estímulo: apresenta características de aplicação e propriedades idênticas às do plástico tradicional, o que permite às indústrias de transformação aproveitar suas máquinas para processar a resina renovável.
As vantagens fizeram com que a demanda pelo plástico verde fosse alta. Cerca de dois terços da produção da unidade, que mal começou a operar, já está comercializada entre clientes, principalmente do exterior - 50% deles são da Europa, 25% da Ásia e os 25% restantes estão nas mãos de consumidores das Américas (o mercado do Brasil responde por menos da metade desse percentual referente ao continente americano). "Os números estão todos dentro do previsto. O discurso de sustentabilidade com a captura de dióxido de carbono tem um grande apelo principalmente entre os europeus e os asiáticos", afirma o vice-presidente de polímeros da empresa, Rui Chammas.
Desde o lançamento do produto até o início da produção em escala industrial, a Braskem se sentou à mesa com diversas empresas para mostrar as propriedades da nova resina e seus impactos. Do outro lado, os clientes obtinham amostras com o plástico verde e elaboravam a análise de ciclo de vida com os produtos fabricados com a resina, para checar realmente se as vantagens eram condizentes com o que se falava. Como era um produto inovador, o processo foi longo, mas teve êxito. "Não é fácil vender um produto inovador com uma tecnologia diferenciada. Um desafio, em especial, foi conseguir clientes líderes em seus setores", afirma Chammas. A Braskem já fechou acordos com a Procter & Gamble, Johnson & Johnson, Tetra Pak e a brasileira Natura.
Deverão ser consumidos por ano cerca de 500 milhões de litros de álcool, o que tornará a empresa o maior cliente industrial do setor sucroalcooleiro. Uma das preocupações das clientes da petroquímica era sobre o processo de colheita e cultivo da cana de açúcar utilizada. "A Braskem tem uma carta de princípios com todos os fornecedores de álcool reforçando a preocupação com os critérios sociais e ambientais da produção de cana", afirma Chammas. Entre os principais fornecedores da empresa estará a ETH, empresa de açúcar e álcool da Odebrecht, acionista majoritária da Braskem, que tem como outro acionista a Petrobras.
Para reforçar sua posição de liderança no mercado de biopolímeros, a Braskem trabalha no desenvolvimento de uma rota inovadora para produção do polipropileno verde. O polipropileno tradicional é uma das resinas que mais crescem no mundo em consumo e aplicações, sendo encontrado em produtos da linha branca, em partes internas e externas de carros, material de construção civil, brinquedos. Em 2008, a empresa produziu em seus laboratórios o propeno verde, base do polipropileno, e vem intensificando as pesquisas para melhorar a competitividade em escala industrial. "O nosso processo ainda não é competitivo, mas estamos desenvolvendo essa rota."
Segundo executivo, "há duas corridas, a dos polímeros tradicionais, feitos a partir de matéria-prima fóssil, e os biopolímeros, com apelo sustentável. Como esse é um segmento pioneiro e inovador, ele tem grande potencial, mas levará tempo para ganhar mais espaço."

Brasil pode ganhar liderança mundial em química renovável

Autor(es): Roberto Rockmann
Valor Econômico - 24/09/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/24/brasil-pode-ganhar-lideranca-mundial-em-quimica-renovavel
O Brasil tem vocação para ser um dos líderes mundiais em química verde no mundo, um segmento que poderá contribuir para as indústrias do setor se posicionarem entre as cinco maiores do mundo até 2020. Segundo estudo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), nesta década, cerca de US$ 20 bilhões poderão ser investidos em química renovável no país. O relatório estima que, em 2020, pode haver uma participação da chamada química verde no mundo de 10% no conjunto da oferta de produtos petroquímicos. O Brasil poderá deter, se forem viabilizados os investimentos necessários, fatia relevante da oferta total.

Exemplos de química verde, como o plástico verde e tintas e solventes à base de água, começam a ganhar mais espaço na indústria química brasileira. A multinacional verde-amarela Braskem investiu R$ 500 milhões na construção da primeira unidade em escala industrial no mundo de produção de eteno a partir de matéria-prima 100% renovável - a cana-de-açúcar, cultura em que o país desponta não apenas como o maior produtor, como também o mais competitivo. "Essa é uma grande ideia que poderá posicionar o Brasil em situação privilegiada", diz o físico e professor da USP José Goldemberg. A fábrica, no polo de Triunfo (RS), tem capacidade de produzir 200 mil toneladas por ano de eteno verde, que são transformados em polietileno verde. A unidade, que começou a operar neste mês, já tem dois terços de sua produção vendida, e as perspectivas são bastante promissoras.
Um automóvel pesa cerca de uma tonelada. As peças de plástico representam até 10% do peso total do veículo, um número que poderá crescer algumas vezes ao longo dos próximos anos. "Há grande potencial de substituição de diversas partes metálicas e o plástico pode chegar a 30% do peso de um carro. As montadoras também podem se interessar pelo plástico verde", diz o diretor da consultoria Maxiquim Otavio Carvalho. Há um benefício grande quando as montadoras trocam partes metálicas por plástico: os carros ficam mais leves e podem reduzir o consumo de combustível, o que teria impacto sobre o bolso dos consumidores e o meio ambiente, porque se reduz a emissão de poluentes.
O plástico verde produzido a partir de cana-de-açúcar tem se mostrado o mais competitivo entre diversos outros lançados no mundo nos últimos anos, o que deverá fazer com que o interesse pelo produto fabricado no Brasil cresça. "A indústria química vem sendo demandada pelos clientes como um setor intermediário a buscar soluções sustentáveis, e o Brasil, com o etanol, poderá liderar uma corrida importante e deveremos ter novos investimentos em plástico verde", diz Carvalho.
A química verde ganha espaço na área de cosméticos. No primeiro semestre, a Rhodia lançou o Rhodapex NAT, primeiro insumo para xampus e condicionadores produzido a partir do etanol de cana e óleo de palma, concorrendo com os insumos tradicionais derivados petroquímicos. A inovação foi desenvolvida na Índia. "Temos um pedido aqui no Brasil de um cliente interessado em utilizar o produto em sua linha de xampus naturais", afirma o diretor da Rhodia Novecare América Latina, Paulo De Biagi. Uma ideia em estudo na subsidiária brasileira é viabilizar a produção local. "Estamos analisando a possibilidade de desenvolver o produto aqui, começando a identificar parceiros. Com produção local, economizaríamos o frete de importação, mas isso também dependerá da demanda do produto no mundo."
Outro segmento que tem crescido no Brasil é a fabricação de tintas e solventes à base de água, com menor impacto ambiental. Há quatro anos, em uma pesquisa de mercado, a Basf detectou que lançar uma tinha sem cheiro seria uma forma de diferenciar a Suvinil, sua tinta imobiliária. Após oito meses de pesquisa e 1.500 horas de desenvolvimento, em 2007, foi lançada uma linha de acrílicos inovadora: sua fórmula faz com que o cheiro da tinta desapareça após três horas da aplicação.
Além disso, o produto é à base de água e, por isso, emite menos compostos orgânicos voláteis para a atmosfera, o que contribui para a preservação do meio ambiente e para a saúde dos consumidores. "Em um futuro não muito distante, talvez em dez anos, todas as tintas serão à base de água, buscamos nos antecipar ao movimento e influenciar os outros elos da cadeia rumo à sustentabilidade", afirma o vice-presidente sênior de tintas e vernizes e infraestrutura para a América do Sul, Antonio Lacerda.
Não foi a única inovação sustentável da Basf na área de tintas. A Suvinil foi pioneira na utilização de garrafas PET para a produção de resina, que é um dos principais componentes das tintas e vernizes. Para cada galão de 3,6 litros de esmaltes e vernizes são utilizadas cinco garrafas PET em sua composição. Desde 2002, foram reutilizadas mais de 425 milhões de garrafas.

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