quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Stanley, um embaixador informal de Lula nos EUA

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Há 27 anos Lula tem "embaixador" nos EUA
Valor Econômico - 16/09/2010

Mauro Vieira é o embaixador do Brasil em Washington. Mas para tratar de alguns temas políticos, trabalhistas e sindicais, o melhor é procurar Stanley Gacek, advogado de Harvard que, em seu currículo, define-se como "amigo e conselheiro do presidente Lula por 27 anos".
Quase todas as vezes em que foi aos EUA, durante seus dois mandatos, para se reunir com George Bush, Barack Obama ou discursar na ONU, Lula deu um jeito de falar com o amigo "Stan". Foi ele quem ajudou Lula a atrair investimentos dos ricos fundos de pensão americanos. Quando Bill Clinton foi eleito presidente, em 1992, Gacek arranjou o primeiro contato de Lula com o novo governo Democrata. Em vários momentos, ajudou a apagar a imagem de que Lula pertenceria ao "eixo do mal" na América Latina.
Mauro Vieira é o embaixador em Washington, onde comanda uma equipe de 81 funcionários, uma das mais importantes representações brasileiras no exterior. Mas, para tratar de alguns temas políticos, trabalhistas e sindicais, o melhor é procurar Stanley Gacek, um advogado formado em Harvard que, no seu currículo, define-se como "amigo e conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT por 27 anos".
Lula recebeu Gacek, ou simplesmente Stan, em Brasília em fins de julho. Na última vez em que o presidente esteve em Washington, para participar de uma reunião de segurança nuclear, realizada em abril, ele abriu um espaço na sua agenda para uma conversa com o americano, no hotel Four Seasons, onde se hospedou. Em junho, deveriam ter se encontrado de novo, na reunião do G-20 em Toronto, onde ouviria queixas de trabalhadores da Vale em greve no Canadá, mas o presidente teve que cancelar a sua viagem por causa das enchentes no Nordeste. Em praticamente todas as vezes que veio aos Estados Unidos nos seus dois mandatos, seja para se reunir com George Bush, Barack Obama ou para fazer o seu discurso inaugural nas Nações Unidas, Lula deu um jeito para falar com o amigo.
Além de amizade, os encontros representam um pedaço da relações entre Brasil e os Estados Unidos. Foi Gacek quem ajudou o presidente Lula a atrair investimentos para o Brasil dos ricos fundos de pensão americanos, como o Calpers, da California, alguns anos antes do país ganhar grau de investimento e virar uma estrela dos mercados financeiros.
Quando Bill Clinton foi eleito presidente dos Estados Unidos, em 1992, Gacek arranjou o primeiro contato de Lula com o novo governo Democrata, numa audiência com o então subsecretário do Tesouro, Larry Summers, hoje assistente econômico de Barack Obama.
Em fins de 2002, parlamentares do Partido Republicano achavam que Lula, recém-eleito, juntaria-se ao "eixo do mal" formado pelos regimes da Venezuela e de Cuba. Gacek procurou o subsecretário do Departamento de Estado para América Latina, Otto Reich, para "ajudar a desfazer os erros de percepção sobre Lula e o PT", segundo relato do próprio advogado.
"O Stanley Gacek foi um embaixador informal do Lula nos Estados Unidos, facilitando encontros, promovendo eventos, desenvolvendo o argumento de que o PT e o movimento sindical da CUT não eram comunistas e que jogariam dentro das regras formais da nova democracia brasileira", define Matias Spektor, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, que escreve um livro sobre a transição entre os governos FHC e Lula. Um capítulo inteiro será dedicado a Gacek.
Numa manhã de maio, Gacek recebeu pela primeira vez a reportagem do Valor na sede da AFL-CIO, a poderosa central sindical americana, da qual ele era diretor internacional (recentemente, ele assumiu um cargo no Departamento de Trabalho do governo Obama). Seu nome havia sido indicado por fontes do Palácio do Planalto como a pessoa certa para ajudar a descobrir como foram construídas as relações entre o presidente Lula e o hoje presidente honorário da AFL-CIO, John Sweeney.
Sweeney foi um ator importante na campanha da eleição de Obama, em favor de quem mobilizou um contingente de 250 mil voluntários da sua base sindical. Nos últimos anos, ele manteve contatos estreitos com Lula para tratar assuntos como a conscientização sindical de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos e as negociações entre a empresa brasileira Gerdau, que tem usinas neste país, e os metalúrgicos americanos.
"Foi aqui que fizemos uma grande festa para receber Lula em 2002, depois da eleição", disse Gacek, em um português bem fluente, ao atravessar o saguão de entrada da sede da AFL-CIO, separada da Casa Branca apenas por uma praça. "Aquele prédio parecia a sede do Partido dos Trabalhadores", relata o hoje presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, que compareceu à recepção, então como embaixador da Colômbia nos Estados Unidos.
Gacek conheceu Lula em 1981, quando integrou uma comitiva de sindicalistas americanos e alemães que foi prestar solidariedade em São Bernardo ao líder sindical, que estava sendo processado com base na Lei de Segurança Nacional. Os tios de Gacek militaram no sindicato dos portuários do Estado de Washington, na costa americana do Pacífico, e anos mais tarde, ao entrar em Harvard, ele escolheu o movimento sindical peruano como tema de sua tese de doutorado. Ao retornar do Brasil, aprendeu português e se tornou o principal elo de contato do PT e da CUT nos Estados Unidos.
"Stan sempre foi um grande embaixador do sindicalismo americano junto ao PT e a Lula", afirma o assessor especial para relações internacionais do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia. Na formação e nos primeiros anos do PT, relata, Lula beneficiou-se muito de suas relações com sindicatos europeus e dos Estados Unidos. "Havia um certo fascínio dos americanos pelo líder sindical que emergia num país saindo de uma ditadura."
Em 1989, na primeira campanha presidencial depois do fim do regime militar, Gacek ajudou a organizar a agenda do então candidato Lula em Nova York. "Os sindicatos alojaram o Lula em uma suíte no Plaza", conta Marco Aurélio, referindo a um dos mais luxuosos hoteis de Nova York. "Eles argumentaram que, se [o então candidato oponente Fernando] Collor havia se hospedado naquele hotel, Lula também teria que ficar lá." Gacek explica que o Plaza foi escolhido também por ser um hotel com trabalhadores sindicalizados.
Nas outras vezes em que esteve nos Estados Unidos, Lula voltou a receber a ajuda de Gacek para agendar contatos. Foi o caso, por exemplo, de um encontro entre Lula, acompanhado de Marco Aurélio, com o então subsecretário do Tesouro Larry Summers.
Lula queria iniciar relações com o Partido Democrata, que, um ano antes, em 1992, havia voltado ao poder nos Estados Unidos com a eleição do presidente Bill Clinton. Nos anos seguintes, porém, o PT acabou se aproximando mais do Partido Republicano, tido como menos protecionista que os democratas e, por isso, mais alinhados com os interesses brasileiros.
Atrapalhou a relação entre o PT e os democratas o fato de Clinton ter se aproximado do então presidente Fernando Henrique Cardoso. "Lula só teve uma conversa franca com Clinton em 2003, em uma reunião em Davos", relata Gacek. "Foi uma reunião ótima e, nela, Lula disse que não fazia distinção entre os partidos, e que os republicanos estavam para os democratas assim como a Coca-Cola estava para a Pepsi."
Gacek colaborou em outras viagens de Lula aos Estados Unidos, como em 1993, quando o petista participou de um seminário na Universidade de Princeton, e na campanha presidencial de 1994, quando Lula teve contatos com banqueiros de Wall Street e representates de movimentos sindicais e sociais.
Dois anos mais tarde, em 2004, quando o governo Lula ainda não havia conquistado definitivamente a confiança do mercado financeiro, Gacek e a AFL-CIO levaram conselheiros dos bilionários fundos de pensão americanos para o Brasil, onde se reuniram representantes brasileiros. "Esse contato foi muito importante para que, nos anos seguintes, aumentasse o volume de investimentos no Brasil", afirma Gacek.
O advogado foi apresentado em 2003 à então ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, durante uma reunião interministerial entre o Brasil e os Estados Unidos. O tradutor oficial de Lula, Sergio Ferreira, que é compadre de Gacek, marcara um jantar com a hoje candidata. Voltaram a se encontrar duas vezes, em 2004, na reunião entre os fundos de pensão, e em 2009, quando Gacek acompanhou Sweeney em uma visita ao Brasil, e Dilma fez uma apresentação de seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

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