terça-feira, 21 de setembro de 2010

China abre caminho para aumentos nos preços do aço

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Autor(es): Robert Guy Matthews
Valor Econômico - 21/09/2010
 
Apesar das previsões de que a cotação mundial do aço seguiria em baixa no restante de 2010, os preços de vários tipos do metal usados em produtos que vão de navios a latas, eletrodomésticos e oleodutos estão em alta.
 
Os reajustes recentes variam entre 1% e 12%, a depender do tipo de produto e do local de venda. A alta ocorre após meses de baixos preços e reflete cortes na produção da China, onde as siderúrgicas foram forçadas a baixar a produção para cumprir as metas anuais do governo de economia de eletricidade.
 
Antes de o ano acabar, as siderúrgicas chinesas - que produzem 550 milhões de toneladas de aço, ou cerca de metade da produção mundial - devem cortar a produção em 3% a 5%. Por causa da redução na oferta, as siderúrgicas começaram a aumentar os preços das chapas usadas na indústria naval, do aço laminado usado em eletrodomésticos e da folha de flandres das latas de alimentos.
 
Os maiores produtores chineses, encabeçados pela maior siderúrgica do país, a BaoSteel, anunciaram nos últimos 15 dias reajustes em 12 produtos, como uma alta de 12% no preço das chapas.
 
As siderúrgicas do resto do mundo - da ArcelorMittal, sediada em Luxemburgo, à indiana Tata Steel, à alemã Thyssen Group, à sul-coreana Posco e à americana AK Steel Corp. - também anunciaram reajustes ou planos de aumentar os preços em seus mercados locais. Nos Estados Unidos, os preços de cinco tipos diferentes de aço devem subir. Na Itália, reajustes dos preços de quatro tipos já foram anunciados.
 
Há muito tempo que a China tem o duplo papel de salvação e ameaça da indústria siderúrgica mundial. Seu programa de estímulo econômico motivou uma série de obras de infraestrutura que demandam muito aço, o que levou as siderúrgicas locais a operar com quase a capacidade total.
 
Mas quando os gastos de estímulo fiscal diminuíram, aumentaram os temores de que a China iria exportar o excedente da produção, o que derrubou os preços. Várias disputas comerciais, geralmente usadas como ataques preventivos, foram iniciadas recentemente pelos EUA, Canadá, Austrália e por países da Europa, numa tentativa de conter as importações chinesas.
 
As siderúrgicas chinesas começaram a cortar a produção, o que diminuiu esses temores. Mas algumas siderúrgicas de outros países temem que os cortes de produção na China não serão amplos e não devem durar.
 
A maior siderúrgica do mundo, a ArcelorMittal, acredita que a China ainda está longe de atingir o pico de sua demanda de aço. "A China ainda enfrentará um longo período de crescimento significativo com uso intenso do aço", disse o presidente da empresa, Lakshmi Mittal, numa apresentação a investidores realizada semana passada em Nova York e Londres.
 
Enquanto isso, a Arcelor continua aumentando seus preços. O reajuste mais recente ocorreu semana passada, quando, dizem clientes da Arcelor, a empresa aumentou o preço do vergalhão, usado em vários projetos de engenharia.
 
Simon Williams, um trader alemão da americana United Steel Co., compra aço e o revende para fabricantes de equipamentos e eletrodomésticos na Europa. Prevendo uma alta nos preços, ele está interessado em comprar mais aço laminado a quente e chapas para garantir preço baixo. "Acredito que os preços vão continuar subindo", disse ele.
 
A folha de flandres, mais usada na fabricação de latas, tem um dos mercados de aço mais fortes da América do Norte. A escassez do produto aumentou o preço em 10% desde o início do ano, e ele deve continuar subindo até o fim dele.
 
A Severstal S.A., da Rússia, paralisou duas de suas maiores usinas nos EUA, mas continua produzindo folha de flandres no país. "As usinas de folha de flandres continuarão fornecendo serviço ininterrupto a seus clientes", afirma a empresa. Semana passada, ela informou que vai estender a paralisação de suas usinas até o fim do ano em suas principais unidades de produção de chapas primárias nos Estados americanos da Virgínia Ocidental e de Maryland, embora as unidades de acabamento continuem operando com a capacidade reduzida.
 
Alguns mercados de aço seguem tão enfraquecidos que os preços não devem subir. O preço das vigas de aço e de outros produtos estruturais para a construção civil caiu, levando a Nucor Corp., a maior produtora de aço para construção civil não-residencial nos EUA, a baixar a previsão de lucro no terceiro trimestre.
 
Peter Fish, diretor-gerente da Meps International Ltd., uma consultoria britânica, diz que a alta do aço pode não durar no ano que vem. "Tenho a impressão de que quando o ano terminar os chineses vão voltar a aumentar a produção", diz Fish.
 
Há um fator adicional por trás da alta do aço no curto prazo. A redução na produção chinesa significa menos consumo de minério de ferro, um importante ingrediente do aço. Fish espera que o preço do minério de ferro caia 13% até o fim do ano. "Se o preço do ferro diminuir, aumentará a pressão [nas siderúrgicas] para baixar os preços em resposta ao barateamento do minério", diz Fish.

O modesto acordo Sul-Sul

O Estado de S. Paulo - 21/09/2010
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/21/o-modesto-acordo-sul-sul

O Brasil e mais dez países poderão concluir em dezembro a primeira Rodada Sul-Sul, uma negociação comercial lançada em São Paulo em 2004. O ponto principal do acordo será uma vantagem tarifária - ou margem de preferência - de 20% para a maior parte dos produtos comercializados entre os participantes. O governo brasileiro propõe a assinatura do compromisso em Foz do Iguaçu, durante a próxima conferência de cúpula do Mercosul. Até lá, os diplomatas terão de torcer para ninguém mais desistir. No começo da negociação os envolvidos eram 40 países. O número foi minguando e dos 11 atuais 4 são do Mercosul.


O resultado econômico será provavelmente modesto, mas o governo brasileiro poderá apresentar o acordo como um feito diplomático importante: pela primeira vez países emergentes da América, da Ásia e da África terão formalizado uma troca de vantagens dentro do Sistema Geral de Preferências Comerciais.

Será também o primeiro acordo brasileiro com vários parceiros de fora da América do Sul. A negociação entre Mercosul e União Europeia foi retomada recentemente, depois de quase seis anos de abandono, e sua conclusão é incerta. O projeto da Área de Livre Comércio das Américas envolveria 34 países do hemisfério, mas foi implodido em 2003. A mais ambiciosa iniciativa multilateral, a Rodada Doha, lançada em 2001, está paralisada há mais de um ano e ninguém sabe quando se poderá retomá-la para valer.

Fora da vizinhança, o Mercosul tem acordos de livre comércio com Israel e com o Egito, Além disso, acertou algumas facilidades com o México, mas em escala muito limitada. A primeira Rodada Sul-Sul foi lançada em São Paulo, há seis anos, durante evento da Unctad, a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento. Realizada pela primeira vez em 1964, em Genebra, essa conferência, concebida como um fórum de países do Terceiro Mundo, se converteu em órgão permanente.

A ideia de uma Rodada Sul-Sul ajustou-se perfeitamente às novas bandeiras da diplomacia brasileira, adotadas a partir de 2003. Mas três quartos dos países mobilizados inicialmente abandonaram o projeto. A China, embora considerada uma potência emergente, seria um parceiro incômodo, por causa de suas condições especiais de competitividade. O grupo remanescente inclui, além dos quatro membros do Mercosul, a Coreia, por muitos considerada um país industrializado, a Índia, a Indonésia, a Malásia, o Egito, o Marrocos e a pequena Cuba, a menor e mais fraca dessas economias.

O Mercosul já tem um acordo de livre comércio com o Egito, assinado este ano. A Coreia já negociou um acordo desse tipo com os Estados Unidos, ainda não aprovado pelo Congresso americano, e suas conversações com a União Europeia estão avançadas. Dentre as economias envolvidas na Rodada Sul-Sul, a mais desenvolvida é a coreana, com elevado nível de industrialização, respeitável estoque de capital humano e alto padrão de competitividade.

A rodada encolheu não só em número de participantes. Também as propostas se tornaram mais modestas. O Mercosul defendeu inicialmente uma redução de tarifas de 40%. Mas a margem de preferência acabou ficando em 20% - apreciável, de toda forma. Além disso, os negociadores foram cautelosos na seleção dos produtos com tarifas sujeitas à redução. O Brasil não terá facilidades maiores para exportar produtos do agronegócio. Sua competitividade nessa área é reconhecida. Mas, em contrapartida, não concederá facilidades para o ingresso de produtos têxteis, eletrônicos, veículos e bens de capital.

A conclusão dessa rodada provavelmente criará oportunidades comerciais. Mesmo com esse acordo, no entanto, o balanço do governo Lula, no campo da diplomacia comercial, será muito pobre. Parte desse resultado será atribuível às suas escolhas. Decisões políticas erradas privaram o Brasil, por exemplo, de uma presença maior no mercado americano e de acordos vantajosos com parceiros do mundo rico. Nossos concorrentes se beneficiaram desse equívoco.

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