A reabertura do mercado externo para captações de empresas brasileiras e também os programas emergenciais oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com juros mais baixos reduziram o peso das contratações tradicionais de financiamentos no banco para os maiores grupos econômicos. De janeiro a julho, tanto os desembolsos de recursos quanto as contratações de novos financiamentos para essas empresas mostram queda em relação ao mesmo período do ano passado.
Nos primeiros sete meses do ano, os desembolsos para os 30 maiores grupos atingiram R$ 16,5 bilhões, 15,8% abaixo dos R$ 19,6 bilhões do mesmo período de 2009 - excluindo a operação de R$ 25 bilhões para a Petrobras. Se ela for incluída, os desembolsos de janeiro a julho de 2009 somam R$ 44,6 bilhões. Na comparação com esse valor, o desembolso aos grandes grupos neste ano é 63% menor. Do início do ano até o fim de julho, as micro, pequenas e médias empresas e as pessoas físicas ficaram com 35% do total dos desembolsos do banco, percentual que foi de 15% em igual período do ano passado, incluídos os empréstimos à Petrobras - sem eles, o percentual foi de 23%, ainda inferior ao deste ano. Criado em julho de 2009, um programa emergencial - o Plano de Sustentação do Investimento (PSI) - ajuda a explicar a desconcentração das operações, embora ele também seja alvo dos grandes grupos. De seu início até 10 de agosto, o programa contratou quase R$ 80,7 bilhões, destinando cerca de 30% aos 50 maiores grupos econômicos, segundo números do BNDES. Com a retomada dos negócios nos mercados internacionais, grandes tomadores no BNDES em 2009 já captaram recursos neste ano, o que ajuda a entender a desaceleração nas contratações. Vale, Votorantim, Petrobras, Marfrig, Braskem, JBS e OSX tomaram cerca de US$ 6,7 bilhões no mercado externo com emissão de bônus, empréstimos ou pré-pagamento de exportações. Esse montante chega a quase R$ 12 bilhões. Enquanto as grandes empresas têm um espaço expressivo nas operações do banco, nem sempre é fácil identificar qual o peso da instituição no conjunto dos investimentos dos maiores grupos. Para a Petrobras, ele foi de 2,5% em 2008 e alcançou 38% em 2009. Para a Vale, a participação foi de 4,2% em 2008 e de 8,3% no ano passado.
BNDES reduz desembolsos para grandes grupos em 2010
Autor(es): Angela Bittencourt e Sergio Lamucci |
Valor Econômico - 08/09/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/8/bndes-reduz-desembolsos-para-grandes-grupos-em-2010 |
As operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os maiores grupos econômicos estão em desaceleração. De janeiro a julho de 2010, tanto os desembolsos de recursos quanto as contratações de novos financiamentos para essas empresas mostram uma perda de fôlego em relação ao mesmo período do ano passado. Além da queda em valores absolutos, também há um recuo da participação relativa desses grupos no total de operações do banco de fomento.
Nos primeiros sete meses deste ano, os desembolsos para os 30 grandes grupos atingiram R$ 16,5 bilhões, 15,8% abaixo dos R$ 19,6 bilhões de igual período de 2009 - excluindo a operação de R$ 25 bilhões para a Petrobras. Se ela for incluída, os desembolsos de janeiro a julho de 2009 somam R$ 44,6 bilhões. Na comparação com esse valor, o desembolso aos grandes grupos neste ano é 63% menor. A trajetória dos desembolsos e das contratações não representa queda no ritmo dos investimentos no país, mas pode indicar que a demanda desses grupos, com projetos engatilhados, foi atendida recentemente pela instituição, no ano anterior, ou está sendo atendida por outras fontes. O mercado externo, por exemplo, reabriu, voltando a garantir funding às empresas brasileiras, ainda que as condições não sejam tão favoráveis como no pré-crise. A expectativa dos analistas é de que o total investido na construção e em máquinas equipamentos - a formação bruta de capital fixo - vai crescer cerca de 20% neste ano, quase três vezes mais que a expansão na casa de 7% esperada para o Produto Interno Bruto (PIB). As estatísticas do BNDES revelam que a fatia dos 30 grandes grupos correspondeu a 23% do total de desembolsos feitos pelo banco nos primeiros sete meses de 2010. Essa participação é um pouco maior que os 20% observados em igual período de 2009 se não for incluída a megaoperação para a Petrobras. Com ela, o percentual sobe para 44%. Criado em julho de 2009, um programa emergencial - o Plano de Sustentação do Investimento (PSI) - ajuda a explicar a desconcentração de operações. Com a retomada dos investimentos na economia, um número maior de empresas tem recorrido ao banco, aproveitando as taxas de juros atraentes do PSI. O programa também tem sido alvo dos grandes grupos. As operações do PSI para os 30 maiores totalizaram R$ 6,2 bilhões de janeiro a julho. No mesmo intervalo de 2009, a parcela do PSI para os 30 maiores foi de R$ 2,1 bilhões, mas o programa começou apenas em julho. O limite de exposição do BNDES nessa linha de crédito é de R$ 1 bilhão por grupo econômico. A queda das contratações para os 30 maiores grupos neste ano foi mais intensa que a dos desembolsos. Nos primeiros sete meses do ano, elas foram de R$ 21,5 bilhões, 31,7% menores do que os R$ 31,5 bilhões de igual período de 2009, excluindo a operação da Petrobras. Se incluída, o total dos primeiros sete meses de 2009 vai a R$ 56,2 bilhões. Em relação a esse valor, as contratações de janeiro a julho de 2010 são 61,7% menores. Com a retomada dos negócios nos mercados internacionais, grandes tomadores no BNDES em 2009 já captaram recursos neste ano, o que pode ajudar a entender a desaceleração nas contratações. Vale, Votorantim, Petrobras, Marfrig, Braskem, JBS e OSX já tomaram cerca de US$ 6,7 bilhões no mercado externo com emissão de bônus, empréstimos ou pré-pagamento de exportação. Esse montante chega a quase R$ 12 bilhões. O frigorífico Marfrig, que contou com investimento em capital pelo BNDES em 2008 e 2009, captou US$ 500 milhões no mercado externo com emissão de bônus com prazo de dez anos em operação concluída no primeiro semestre deste ano. Ricardo Florence, diretor de Planejamento e de Relações com Investidores da Marfrig, informa que a companhia não tomou financiamentos no banco de fomento, mas considera o BNDES "uma fonte de recursos importante no desenvolvimento da indústria brasileira e sempre deve ser considerado como alternativa para o financiamento de novos projetos". Sinal de que o mercado segue favorável, no fim de agosto, a Braskem confirmou estudos para uma emissão de títulos perpétuos ainda este ano para refinanciar papéis emitidos em 2005 com juros de 9,75%. O objetivo da nova emissão seria reduzir o custo da dívida, de US$ 150 milhões, aproveitando as condições de mercado e a opção de recompra que a empresa tem em dezembro deste ano, além de manter o relacionamento com os investidores desse tipo de bônus. Para o diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, os grandes grupos permanecem importantes nas operações do banco, ainda que tenham perdido participação relativa. O investimento continua a crescer, ampliando o número de empresas que participam desse processo, diz Ferraz. "Isso não significa que os grandes grupos não estão investindo, ao contrário. A participação relativa no total é que diminui." Segundo ele, 2009 mostra uma forte concentração em grande parte devido à operação para a Petrobras. As contratações refletem mais a intenção de investimento das empresas, enquanto os desembolsos correspondem ao dinheiro que chega efetivamente ao caixa das companhias. "O desembolso espelha melhor o esforço do investimento físico das empresas", diz o economista Marcelo Miterhof, do BNDES. |
As 50 maiores empresas recebem quase 30% do PSI
Valor Econômico - 08/09/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/8/as-50-maiores-empresas-recebem-quase-30-do-psi |
Programas emergenciais lançados pelo BNDES no ano passado confirmam a ação do banco na crise e o processo de pulverização de recursos. O Programa de Sustentação do Investimento (PSI) contratou, até 10 de agosto, quase R$ 80,7 bilhões, destinando cerca de 30% aos 50 maiores grupos econômicos e o restante aos demais grupos e empresas. No primeiro semestre deste ano, com a normalização dos mercados, ganharam relevância as subscrições de debêntures, que atenderam a um número menor de empresas, mas em volume significativo. Os financiamentos de capital de giro pelo BNDES avançaram no contexto da crise internacional no fim de 2008, a partir do lançamento de um programa de apoio ao fortalecimento da capacidade de geração de emprego de empresas dos setores da indústria, comércio e serviços com receita operacional bruta de até R$ 300 milhões. O programa, com dotação orçamentária de R$ 6 bilhões, visava suprir a escassez de crédito no mercado. Considerando o escopo de atuação do banco de fomento, médias e grandes empresas eram foco desse financiamento emergencial de capital de giro, uma vez que o BNDES classifica como médias e grandes empresas as que têm receita operacional bruta anual ou anualizada superior a R$ 90 milhões e inferior ou igual a R$ 300 milhões. Essa modalidade de financiamento, acionada por empresas até o primeiro semestre deste ano era contratada por 24 meses, incluindo 12 meses de carência. Mas algumas empresas vão quitando operações de giro, o que também indica melhora das condições dos mercados financeiros. A Votorantim, por exemplo, que tomou R$ 400 milhões de capital de giro no BNDES no ano passado já liquidou a fatura em dezembro. Em meados de 2009, no âmbito de outras medidas anunciadas pelo governo preparando o país para a saída do contexto da crise financeira, o BNDES lançou o Programa de Sustentação do Investimento, voltado para a compra de bens de capital. O PSI foi anunciado em 29 de junho de 2009 e entrou efetivamente em vigor em 15 de julho de 2009. Inicialmente, o programa teria vigência até dezembro de 2009, mas foi prorrogado até dezembro de 2010. O PSI já sofreu um reajuste de taxa de juro. Há cerca de dois meses, o juro desse programa emergencial subiu de 4,5% para 5,5% e de 7% para 8% ao ano, no caso de caminhões financiados pela Finame. Desde o lançamento até o início de agosto deste ano, o PSI desembolsou R$ 54,6 bilhões, sendo R$ 19,1 bilhões de julho a dezembro de 2009 e R$ 35,5 bilhões de janeiro ao início de agosto de 2010. Nesse período, as operações contratadas pelo programa somaram R$ 80,7 bilhões. Do total, R$ 22,5 bilhões para os 50 maiores grupos econômicos e empresas e R$ 58,2 bilhões para outros grupos e empresas. A participação dos maiores grupos no PSI, para aquisição de máquinas e equipamentos, é a seguinte: Petrobras, R$ 1 bilhão; ArcelorMittal, R$ 858 milhões; Carso-Telmex/AmericaMov, R$ 856 milhões; MRS Logística, R$ 845 milhões; Oi, R$ 835 milhões; Impsa, R$ 778 milhões; Weg, R$ 668 milhões; ThyssenKrupp, R$ 584 milhões; Gerdau R$ 575 milhões; Embraer, R$ 550 milhões, segundo informações do próprio banco. |
O convívio com déficits nas contas externas
Brasil |
Autor(es): Cristiano Romero |
Valor Econômico - 08/09/2010 |
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/9/8/o-convivio-com-deficits-nas-contas-externas |
No primeiro semestre de 2008, quando se deu o auge do penúltimo ciclo de crescimento da economia brasileira, um grupo de economistas de corte "desenvolvimentista" assombrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com previsões catastrofistas sobre a evolução das contas externas. Segundo eles, a continuar naquele ritmo, Lula entregaria o país "quebrado" ao sucessor em 2011 e, possivelmente, com a economia em recessão. O risco, disseram eles, era o presidente não fazer o sucessor. A profecia, evidentemente, não se materializou. Naquele ano, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 5,14% e o país fechou o ano com déficit em transações correntes de US$ 28,1 bilhões, valor financiado, em grande medida, pelo ingresso de investimento estrangeiro direto (IED), que foi de US$ 24,6 bilhões. Em 2009, por causa da crise mundial, PIB (-0,19%) e déficit (US$ 24,3 bilhões) recuaram, mas o volume de IED foi robusto (US$ 36 bilhões). Superada a crise, a economia brasileira voltou a crescer de forma acelerada, e os mesmos economistas tornam a alertar para o risco de crise nas contas externas. Aproveitando a oportunidade, empresários começam a exigir medidas para conter as importações e alguns analistas passam a defender, uma vez mais, mudanças no regime cambial. O PIB deve avançar este ano a uma taxa superior a 7%, algo que não se via desde 1986. O déficit em conta corrente, segundo estimativa do Banco Central (BC), deve ir a quase US$ 50 bilhões. Já os ingressos de IED devem totalizar, também de acordo com o BC, US$ 38 bilhões. O descompasso entre déficit e IED será financiado, por exemplo, por investimentos de estrangeiros em papéis domésticos e ações - a previsão é que, por esse canal, entrem US$ 35 bilhões em 2010. Debate ainda não assimilou a lógica do câmbio flutuante
Certos aspectos da nova realidade vivida pelo país não entram na avaliação de alguns analistas. Não se considera, por exemplo, o fato de o país conviver, há quase 12 anos, com um regime de câmbio flutuante. Por esse regime, desequilíbrios no balanço de pagamentos são corrigidos por meio da taxa de câmbio. Se num cenário de crescimento elevado (com aumento significativo e simultâneo do consumo do governo e das famílias e dos investimentos), o país alimentar dúvidas quanto ao financiamento das contas externas, haverá maior fluxo de saída do que de entrada de divisas e isso provocará desvalorização da moeda nacional, processo que, em última instância, tenderá a atenuar o desequilíbrio ao estimular as exportações e tornar as importações menos competitivas, além de reduzir a remessa de lucros e dividendos. Nesse cenário, a questão relevante é saber se, num processo inevitável de ajuste da conta corrente, o BC precisará atuar de forma violenta - aumentando a taxa de juros para desacelerar a atividade e controlar a inflação decorrente da desvalorização da moeda -, de forma a interromper o ciclo de crescimento. O grupo de economistas que esteve com Lula em 2008 sustenta que, dado o modelo de política econômica vigente no país, o resultado do ajuste será recessivo. Ignoram-se, nessa avaliação, mudanças importantes ocorridas nos últimos anos na composição do passivo externo do país. Hoje, há um peso menor nesse passivo das obrigações denominadas em moeda estrangeira (por exemplo, pagamento de juros sobre a dívida externa). Em 2002, quando sucedeu o penúltimo e difícil ajuste da conta corrente, empréstimos e créditos de fornecedores representavam 16,2% do total do passivo externo. Em junho deste ano, respondiam por 6,7% do total. A dívida de brasileiros com o exterior, por sua vez, equivalia a 21,3% do passivo em 2002. Agora, a apenas 4,8%. Na atual composição do passivo externo, como bem chama a atenção o economista-chefe do banco Credit Suisse, Nilson Teixeira, é maior o peso de despesas vinculadas ao desempenho da atividade econômica e de gastos definidos em moeda doméstica, como os investimentos em ações e as remessas de lucros e dividendos. Isto significa que o resultado em transações correntes é hoje mais sensível à evolução do PIB e à taxa de câmbio do que foi no passado. Sendo assim, num cenário de interrupção abrupta dos fluxos financeiros para o Brasil, um eventual ajuste na conta corrente demandará uma contração menor da economia. Economistas como Teixeira e Ilan Goldfajn, este do Itaú Unibanco, acreditam que, no ritmo atual de crescimento do PIB, o déficit em transações correntes poderá atingir até 5% do PIB nos próximos quatro ou cinco anos - o dobro do previsto para 2010. Eles acreditam que esse montante poderá ser financiado sem sobressaltos, desde que não haja risco de insolvência fiscal - o que neste momento parece descartado, uma vez que o próximo governo, seja qual for, deve interromper a escalada de gastos públicos promovida pela gestão Lula nos últimos anos. O Brasil é hoje uma economia muito menos vulnerável, tanto do ponto de vista fiscal quanto das contas externas. Essa realidade, apesar da memória dos desastres passados, e eles foram muitos, precisa ser incorporada às análises sobre as perspectivas do país no médio e longo prazos. Não se trata de afirmar que o país é hoje imune a crises, mas, sim, que não deve ser analisado com olhos de 30 anos atrás. |
Efeito de juros no Brasil é maior que em outros países
Autor(es): Renato Andrade |
O Estado de S. Paulo - 08/09/2010 |
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Estudo mostra que alterações na Selic têm efeitos imediatos nos grandes bancos, ao contrário do que ocorre em outras economias
As mudanças promovidas pelo Banco Central na taxa básica de juros têm efeitos mais fortes e imediatos nas grandes instituições financeiras, ao contrário do que se observa em outras economias.
Essa característica peculiar, apurada pela primeira vez por três economistas da PUC do Rio, é provocada pela maior dependência desses bancos aos depósitos à vista de seus correntistas como fonte de recursos para operações de crédito e pode contribuir para o aumento de "potência" da política monetária ao longo dos próximos anos, por causa do processo de concentração do setor bancário.
Crédito e taxas. Assinado pelos economistas Christiano Coelho, João Mello e Márcio Garcia, o estudo foi feito com base em um banco de dados inédito que contabiliza todas as operações de crédito e taxas cobradas pelo sistema financeiro entre junho de 2000 e dezembro de 2006.
O levantamento mostra que aumentos inesperados da taxa básica, a Selic, resultaram em uma queda no volume de novos empréstimos e elevação dos juros cobrados nas operações concedidas pelos grandes bancos.
Uma das explicações para esse movimento é que as instituições de maior porte instaladas no Brasil dependem mais dos depósitos à vista - normalmente a forma mais barata para garantir recursos - para financiar suas operações de crédito do que os pequenos. Instituições de menor porte têm uma presença mais localizada, o que dificulta a captação de depósitos à vista na escala feita por seus concorrentes de grande porte. Por isso, esses bancos acabam garantindo seu "funding" com recursos provenientes de outras fontes, menos suscetíveis a movimentos inesperados da política monetária.
A dependência dos grandes bancos no País também é maior se comparada com seus pares em outros países. De acordo com a avaliação dos economistas, isso ocorre porque em economias como a dos Estados Unidos as instituições têm maior facilidade de substituir as fontes de recursos para sustentar suas operações de financiamento.
Os economistas apuraram que um aumento inesperado de um ponto porcentual da Selic provoca uma queda imediata de R$ 1,24 milhão no valor médio diário de novos empréstimos. No caso dos juros cobrados nos financiamentos das grandes instituições, o efeito é uma elevação de 2,13 pontos porcentuais na taxa. Os pequenos bancos, por sua vez, simplesmente não respondem ao choque de juros.
Política poderosa. Essa reação mais forte dos grandes bancos gera um aumento de "potência" da política de juros do BC porque essas instituições respondem por mais de dois terços do total de operações de crédito na economia brasileira. A redução da oferta de financiamentos e o aumento dos custos das operações remanescentes acabam potencializando os efeitos que o BC procura gerar com um aumento da Selic.
O próprio Banco Central já reconheceu que o poder de sua política tem aumentado ao longo dos últimos anos. No Relatório de Inflação de junho, os diretores do banco dedicaram um capítulo especial para explicitar esse aumento de força e eficiência da política monetária e sua tendência de alta.
Política de juros. Na divulgação do relatório, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton de Araújo, afirmou que o maior poderio significa que, para conter a inflação atualmente, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode pesar menos a mão na taxa de juros do que em 2006 e 2008.
Carlos Hamilton não quis se comprometer com movimentos futuros da Selic, dizendo apenas que "a mensagem que queremos passar é de que há uma tendência de alta do poder da política monetária".
Os economistas da PUC-Rio concordam com a análise do diretor do BC por conta das mudanças na estrutura do setor bancário, cuja consolidação tem aumentado o tamanho dos bancos no País. "Nossos resultados sugerem que a potência da política monetária por meio do canal de crédito vai aumentar ao longo do tempo."
EFEITOS DIFERENTES
Efeitos da política monetária sobre volume de empréstimos:
Nos pequenos: Pequenas instituições não respondem a choques da política monetária
Nos grandes: Um aumento de 1 ponto porcentual na Selic representa uma redução de R$1,24 milhão na média diária dos novos empréstimos.
Efeito da política monetária sobre as taxas de juros:
Nos pequenos Os juros cobrados são insensíveis a mudanças inesperadas
Nos grandes Uma elevação de 1 ponto porcentual na Selic gera um aumento de 2,13 pontos porcentuais nas taxas. |
O dueto Brasil-China
Autor(es): Rolf Kuntz |
O Estado de S. Paulo - 08/09/2010 |
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As contas externas são o ponto mais frágil da economia brasileira neste momento. De janeiro a agosto as exportações de mercadorias foram 28% maiores que as de um ano antes. O valor importado ficou 48,6% acima do registrado nos oito meses correspondentes de 2009. A tendência havia sido observada na fase de rápido crescimento até 2008, foi interrompida na recessão e voltou a manifestar-se com a recuperação da atividade. Embora involuntariamente, o Brasil vem cumprindo o papel proposto para os emergentes pelo Grupo dos 20 (G-20) e pelos principais dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI): os superavitários deveriam depender mais do mercado interno e importar mais. A mensagem foi dirigida principalmente à China, a maior potência exportadora, mas também o Brasil acabou seguindo o caminho recomendado.
No segundo trimestre, as importações brasileiras de mercadorias foram 56% maiores que as de um ano antes, enquanto as exportações ficaram 29% acima das de igual período de 2009. No caso da China, as diferenças em relação ao ano anterior foram, respectivamente, 44% e 41%. Proporcionalmente, a resposta do Brasil ao apelo do FMI e dos países mais desenvolvidos foi maior que a chinesa. Na Índia, as taxas quase empataram: 33% mais para as importações e 32% mais para as exportações.
Só um dos Brics, a Rússia, tomou caminho diferente, faturando 43% mais que no segundo trimestre do ano passado e gastando 33% mais com as compras de produtos estrangeiros. Ninguém pode acusar o Brasil de não colaborar para a recuperação da economia mundial - embora a China tenha sido a principal potência beneficiada pelas importações brasileiras.
Também a conta de serviços tem piorado, principalmente por causa da valorização do real. Essa conta inclui, entre outros itens, as viagens ao exterior, agora mais baratas por causa do dólar barato. No segundo trimestre, a contribuição do setor externo - transações com mercadorias e serviços - foi negativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), com receitas 7,3% superiores às de abril a junho de 2009 e despesas 38,8% mais altas.
O descompasso entre importações e exportações foi apontado como o principal motivo de preocupação pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em seu comentário sobre as contas nacionais do período de abril a junho.
A redução do crescimento econômico para um ritmo equivalente a 4,9% ao ano foi avaliada como boa notícia pelos analistas do instituto, assim como pelos economistas do governo. Embora ainda vigorosa, é uma expansão mais sustentável que a do trimestre anterior. Mas por quanto tempo será sustentável, se o balanço de pagamentos continuar em deterioração?
As projeções do mercado financeiro e das consultorias para as transações correntes continuam sombrias. No último relatório Focus, baseado em pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC), o déficit estimado para este ano aumentou ligeiramente, para US$ 50 bilhões. A previsão estava em US$ 49 bilhões duas semanas antes. Para 2011 o valor projetado foi mantido em US$ 58 bilhões.
De janeiro a julho, o déficit na conta corrente, US$ 28,3 bilhões, superou o de todo o ano passado, US$ 24,3 bilhões. Em 12 meses, o valor chegou a US$ 43,8 bilhões, equivalentes a 2,2% do PIB. Entre 2003 e 2007 a conta havia sido superavitária.
Nos 12 meses até julho entraram US$ 26,7 bilhões de investimento direto estrangeiro. O resto do buraco foi coberto com outros tipos de financiamento - empréstimos e aplicações especulativas -, menos estáveis e menos saudáveis para o País.
Segundo a análise do Iedi, a piora das contas externas é atribuível ao câmbio valorizado e a outros fatores "enormemente" prejudiciais à competitividade da produção nacional.
Não se discutem no texto esses fatores, mas são em geral bem conhecidos e compõem o chamado "custo Brasil". Para eliminar ou atenuar esses problemas, o próximo governo terá de trabalhar duramente. Parte da solução dependerá de inovações legislativas e do aumento da eficiência do setor público. Tudo isso vai exigir muita disposição para negociar, principalmente quando se tratar da alteração de impostos estaduais e da racionalização dos gastos da União. Desse esforço poderão depender também a política de juros e, indiretamente, a evolução do câmbio. O dólar barato tem contribuído para a contenção da alta de preços. Se a situação do câmbio mudar, o governo terá de cuidar de outros fatores inflacionários, a começar pelo desequilíbrio de suas contas. |
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