Autor(es): Por Luciana Monteiro | De São Paulo |
Valor Econômico - 21/09/2010 |
Para cada dez fundos de investimento abertos no país de janeiro de 2005 até agosto deste ano, cinco foram encerrados. Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram, além de crescimento vigoroso, a forte renovação do setor. Mas, se os números revelam a capacidade de atualização do segmento, tornam também claro que poucos fundos conseguem manter histórico longo de performance, de pelo menos cinco anos, o que dificulta a avaliação dos gestores pelos investidores. Entre janeiro de 2005 e agosto de 2010, foram criados 9.352 fundos de investimento no país e outros 5.104 foram encerrados. Isso significa um aumento de 4.248 carteiras no período. Já parte dessa "mortalidade" de fundos é reflexo da consolidação do setor financeiro brasileiro. No período, por exemplo, ocorreram as grandes fusões de Itaú com Unibanco, ABN Amro com Santander e Banco do Brasil com Nossa Caixa. Entre 2003 e 2007, o Brasil ganhou bastante destaque no mercado internacional e o setor de gestão de recursos também cresceu, com a criação de várias assets, lembra Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ e economista da Way Investimentos. "Enquanto o mercado estava no oba-oba, houve muita gente entrando no segmento de asset, mas a crise de 2008 trouxe uma seleção natural, uma consolidação, o que também é positivo." Quando um fundo é encerrado, normalmente ele é incorporado por outra carteira e os cotistas migram para essa nova aplicação. Para que isso ocorra, no entanto, é preciso que a operação seja aprovada em assembleia. No caso dos que não são incorporados, o que compreende uma minoria, o gestor vende os ativos e devolve o dinheiro para os investidores. Os números da Anbima mostram ainda que, apesar do crescimento vigoroso do número de fundos no período, o patrimônio líquido do setor registra expansão numa velocidade ainda maior. Enquanto o total de ativos se expandiu em média 18% ao ano entre o início de 2005 até agosto de 2010, a quantidade líquida de carteiras cresceu a uma taxa média de 11% ao ano. Desde 2005, na média, a cada ano cerca de 14% dos fundos existentes são encerrados, mas, em contrapartida, o número de fundos novos cresce 25% todo ano. A alta taxa de lançamentos de fundos pode ser explicada por alguns motivos. Primeiramente, a forte expansão de fundos exclusivos, muito usados por clientes de alta renda e institucionais. Outro fator é a proliferação de gestoras independentes, várias formadas por executivos que deixaram grandes bancos após processos de consolidação. Há também a forte segmentação dos clientes das grandes instituições financeiras. "No fim das contas, os fundos são iguais, têm a mesma política de investimento, mas são criadas carteiras diferentes para receber aportes dos clientes de varejo, de alta renda, dos afluentes ou dos donos de grandes fortunas", lembra o consultor de investimentos Marcelo D"Agosto, autor do livro "Como escolher o melhor fundo de investimento." O ano de 2007 foi o melhor para o setor de fundos no Brasil até agora, com a criação de 2.444 carteiras e encerramento de apenas 717, o que significa um total líquido de 1.727. Naquele ano, os multimercados registraram uma expansão robusta com a abertura de muitas casas de gestão. D"Agosto chama a atenção para o alto número de encerramentos de fundos. "Parece um pouco exagerado visto que o negócio de gestão de recursos é muito calcado na criação de um histórico, e o que se vê é que a maioria dos fundos no país não tem sequer cinco anos", diz. Segundo ele, antes de aplicar em um fundo, é recomendável que o investidor observe o desempenho justamente nos últimos cinco anos. "Isso porque será possível saber como o gestor se comportou em momentos de crise e de bonança, mas poucos fundos conseguem ter histórico." A consolidação do setor contribui para a alta taxa de "mortalidade" de fundos, explica Espírito Santo, da Way. "Os bancos têm produtos parecidos e, ao juntar suas operações, muitas carteiras acabam sendo encerradas, já que são incorporadas naquelas de perfil parecido", diz o professor. Outro motivo para os encerramentos está no crescimento dos fundos de capital protegido. Essas carteiras abrem para captação por um tempo, depois são fechadas e têm data para acabar. No total, o setor contava em agosto com 9.688 fundos de investimento, dos quais 9.596 são domésticos e 92 são voltados ao aplicador internacional (offshore). A grande maioria é de multimercados, que permite maior liberdade ao gestor. E muitas vezes são fundos de renda fixa ou variável, que preferem esse modelo. A expectativa de redução dos juros levou ainda a um maior interesse dos gestores em geral em lançar carteiras diferenciadas. Há um crescimento na oferta de fundos de renda fixa diferenciada, como os de crédito, os de recebíveis (FIDCs) e os imobiliários. Na renda variável, várias assets, inclusive independentes, criaram carteiras de ações de empresas de menor porte ("small caps") ou de dividendos para dar novas opções ao investidor. Os independentes também reforçaram suas carteiras com fundos de previdência privada ou com investimento no exterior. O crescente interesse dos investidores externos, no entanto, tem tudo para elevar a taxa de lançamento de fundos offshore. "A grande maioria dos estrangeiros ainda aplica no Brasil por meio de ETFs (fundos de índice negociados em bolsa) ou via carteiras dedicadas a mercados emergentes, de América Latina ou mesmo de Brasil", diz Ricardo Quintero, presidente da gestora Capitânea. Agora, eles estão percebendo a necessidade de aplicar uma parte desses recursos diretamente em assets brasileiras que usam análise fundamentalista, o que deve contribuir para o lançamento de fundos offshore. |
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