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Importado substitui insumo local em Manaus | ||||||||||
Autor(es): Marta Watanabe | ||||||||||
Valor Econômico - 03/09/2010 | ||||||||||
Criado para fortalecer a produção nacional com incentivos fiscais, o polo industrial de Manaus está substituindo insumos regionais e nacionais por importados. Os insumos vindos do exterior, que de janeiro a junho de 2008 somaram 48,6% do total comprado pela indústria local, passaram no primeiro semestre deste ano a 59%. O polo industrial de Manaus está substituindo insumos regionais e nacionais por importados. Os insumos vindos do exterior, que de janeiro a junho de 2008 representaram 48,6% do total comprado pela indústria de Manaus, passaram, em igual período deste ano, para 59%. Em consequência, o fornecimento doméstico perdeu dez pontos de participação - a parcela regional caiu de 27,6% para 22% e a nacional, de 23,8% para 19%. As compras de peças, componentes e matérias-primas feitas no mercado brasileiro também perderam espaço no faturamento. Em 2008, cada R$ 100 de vendas das empresas do polo industrial geraram encomendas de R$ 26,20 entre os fornecedores regionais e nacionais de insumos. Nos primeiros seis meses de 2010, o faturamento do polo foi recorde, mas cada R$ 100 faturados só resultaram em R$ 20,50 em pedidos. Com base nesses números, representantes de indústrias, do governo e economistas concordam com a avaliação de que os importados tomaram lugar do fornecimento regional e nacional na região. Para alguns, essa situação está provocando desnacionalização justamente no polo criado para fortalecer a produção nacional com incentivos fiscais. Oldemar Ianck, superintendente-adjunto de projetos da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), assume a avaliação de que a produção local está passando por "desnacionalização", embora considere o fenômeno transitório. Um dos fatores para o avanço dos importados, diz Ianck, é a maior competitividade do insumo originado no exterior, em razão da valorização do real frente ao dólar. O uso de mais insumos importados também está associado à rápida mudança tecnológica dos produtos que desde o fim de 2009 passaram a sair das linhas de produção das indústrias de bens finais estabelecidas na Zona Franca. Enquanto produtos como televisores de cristal líquido, notebooks e celulares repletos de funções saíram da lista de desejos para entrar efetivamente no carrinho de compras dos consumidores brasileiros, as indústrias da Zona Franca mexeram na sua linha de produção para atender essa demanda, sob pena de perder mercado. Caiu a parcela da produção dedicada à fabricação de TVs de tubo, desktops e telefones celulares que só servem para fazer e receber ligações. Em um primeiro momento essa mudança, diz Ianck, ainda causa um impacto na cadeia produtiva integrada do polo industrial de Manaus. Os novos produtos demandam componentes com componentes tecnológicos que ainda não são fabricados no país ou que até começaram a ser produzidos, mas em oferta ainda insuficiente. No segmento eletroeletrônico, que representa cerca de 45% do faturamento total da indústrias da Zona Franca, os importados, que representavam 72,5% do valor dos insumos usados no polo, passaram a pesar mais, 80,2%. Ianck acredita, porém, que o polo caminha para a recomposição da fatia perdida pelo fornecimento local. A indústria de componentes da região deve, aos poucos, tornar-se apta a fornecer os novos insumos necessários, ao mesmo tempo que as empresas devem elevar o nível de agregação local mínimo para manter os benefícios da Zona Franca. Os fabricantes de TVs de LCD, por exemplo, diz o superintendente, precisam hoje agregar no país 50% na composição das placas de circuito impresso. Em 2011, o percentual passa para 60%. Entre a renovação tecnológica da indústria de componentes e o aumento dos níveis mínimos de agregação local, há, porém, um bom caminho para a recomposição da cadeia. "O fornecimento regional deve voltar à fatia de 30% que tinha em 2005. Isso vai acontecer em três anos", prevê o executivo da Suframa. A desnacionalização, acredita, não deve ser definitiva. A maior participação dos importados nos insumos do polo industrial, diz, não feriu o Processo Produtivo Básico (PPB) que cada produto deve seguir para que o fabricante continue na Zona Franca. Segundo o superintendente, o atual avanço dos importados também não irá motivar nenhuma flexibilização nas regras de agregação local mínima. O economista Gilmar Freitas, consultor da presidência da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), acredita que ainda não se pode falar em desnacionalização da produção local, exatamente porque ele acredita que essa substituição é transitória. Para Freitas, o avanço dos insumos estrangeiros deve-se à grande competitividade, não somente em função do câmbio, mas também da queda de preços em dólar. Para ele, ainda há no mercado mundial grande estoque de produtos, o que fez despencar os preços dos componentes. O fenômeno começou em 2009 e continuou este ano. "Houve uma concorrência maior nos preços e a indústria está aproveitando a oportunidade para reduzir custos." A indústria do polo manauara, diz Freitas, prefere o fornecimento nacional. "O importado precisa ter menos da metade do preço do componente nacional, para compensar a burocracia, o frete e a manutenção de estoques." Assim que os preços dos fornecedores do exterior voltarem a subir, a fatia dos componentes regionais deve ser recuperada, avalia. "As indústrias estão usando a folga do PPB. Quem precisa ter 50% de custo local, e estava com 65% a 70%, por exemplo, está aproveitando para aumentar a receita e reduzir os custos." "Não é que a indústria não queira comprar os componentes locais", diz Moacir Alberto Paes, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo). Ele lembra que em outubro de 2008, quando a crise começou, os fabricantes de duas rodas de Manaus assinaram um acordo pelo qual manteriam o total de funcionários em troca de um pacote de incentivos que incluía tributos e taxas. Houve queda de produção e de faturamento, sem redução no custo com folha. Nesse período, conta, houve ajustes de custos, o que afetou a compra de insumos. O fornecedor nacional estava com um componente mais caro que o importado e a indústria de duas rodas passou a comprar mais de fora. "Houve equalização de custos, mas mantendo qualidade técnica e segurança dos componentes." Ele lembra que a troca de modelos de moto também influencia, pois exige desenvolvimento de peças, que demora de seis a oito meses. A efetiva fabricação dos componentes pode levar até um ano. Nesse período, a importação ganha espaço. Paes acredita que o avanço dos insumos importados é passageiro no segmento. "Os indicadores de 2010 já mostram isso." De acordo com a Suframa, a fatia dos importados nos insumos do segmento de duas rodas de Manaus passou de 27,7% em 2008 para 28,6% em 2009 e recuou para 24,8% este ano, mas acima dos 19,8% de 2005. Dados do Mdic mostram forte importação de bens de consumo pelo Amazonas
Exigências de produção local serão mantidas, avisa Suframa
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Brasil ultrapassa China em ritmo de importações
Autor(es): Jamil Chade |
O Estado de S. Paulo - 03/09/2010 |
Com real forte e mercado doméstico aquecido, País registrou no segundo trimestre deste ano o dobro da taxa de expansão de compras da média mundial Com uma moeda valorizada e um mercado doméstico aquecido, o Brasil passa a ser o país com a maior expansão de importações do mundo, superando até mesmo a China. No segundo trimestre do ano, a taxa de expansão foi o dobro que a registrada na média mundial. O Brasil ainda tem a segunda maior expansão de importações no mundo desde que a recuperação da economia mundial começou a ganhar fôlego em meados de 2009. Desde o auge da crise, as importações já aumentaram em 121%. Só a China tem uma taxa superior, de 127%. No segundo trimestre de 2010, o Brasil registrou uma expansão nas compras de 56%, bem superior a todos os demais países. Dados coletados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) indicam que o País praticamente já voltou aos mesmos níveis de fluxo comercial dos meses que antecederam à crise em 2008. Entre as exportações, o Brasil registrou o quarto maior aumento no mundo no segundo trimestre. O resultado é um superávit comercial cada vez menor em um ritmo de crescimento que já supera o da China. Em setembro de 2008, o Brasil importava US$ 18,1 bilhões. Nos meses que se seguiram, a queda foi acentuada. Em fevereiro de 2009, o valor chegou a US$ 8 bilhões. Mas a expansão está sendo agora a mais acelerada do mundo. Hoje, os dados apontam uma importação de US$ 17,7 bilhões. A fase mais intensa foi no terceiro trimestre de 2009, com uma expansão de 60%. Mas naquele momento, a alta na China chegava a 71%. No segundo trimestre de 2010, a taxa brasileira de 56% em comparação ao mesmo período de 2009 foi de longe a mais alta entre as maiores economias. Na China, a alta foi de 44% diante da desaceleração de sua economia, ante 35% no Japão. Na Rússia e Índia, a expansão foi de 33%, ante 32% nos Estados Unidos. Desde o ponto mais agudo da crise em fevereiro de 2009, os demais países emergentes também registraram altas importantes nas importações. Máquina chinesa. Na China, as importações passaram de U$ 51 bilhões em seu ponto mais baixo no início de 2009 para US$ 116 bilhões em agosto. Na Rússia, o volume passou de US$ 10 bilhões no auge da crise para importações hoje de US$ 19,8 bilhões. Já a Índia registrou US$ 28 bilhões em importações, depois de ter o valor em US$ 15 bilhões no início de 2009. A expansão das importações dos emergentes tem sido muito mais acentuada que a dos países ricos. Nos EUA, as importações passaram de US$ 112 bilhões em fevereiro de 2009 para US$ 173 bilhões em agosto. Mas o número ainda é inferior às compras de mais de US$ 200 bilhões que a economia efetuava a cada mês. Na Europa, o fenômeno é similar. As importações caíram de uma média de US$ 600 bilhões por mês antes da crise para US$ 340 bilhões no início de 2009. Hoje, estão em US$ 434 bilhões, longe dos níveis pré-crise. |
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